A escrita como regime de governo

A escrita como regime de governo

Ao imaginarmos um lugar perfeito, onde o povo todo é culto, o governo incentivando a promoção cultural, educacional, social e, sobretudo, onde há transparência orçamentária e fiscalização severa do uso do dinheiro do povo, refletindo em preços justos, por exemplo, dá-se à impressão de que seja um panorama inalcançável, tal como “um país ideal”. Na verdade, quando se investe na educação, promovendo a difusão literária, fazendo da caneta “uma extensão” do escritor e, o papel, instrumento de divulgação aliado do povo por uma alfabetização segura, não há margem alguma de descasos, tal como aconteceram, acontecem e acontecerão no Brasil.

O grande sinal que mostra a ausência de uma educação adequada é o que eu chamaria de “fenômeno da memória curta”, ou, em outras palavras, “criticar só o que os olhos veem e o coração sente”. É mais comum do que se imagina, principalmente em época de eleição. Como todos sabemos, a “especialidade”, seja do governo, seja da oposição, é criticar ferrenhamente o governo atual e/ou anterior, por meio da troca de acusações, sem jamais, ou no máximo, “por obrigação”, reconhecer as coisas positivas feitas. Não precisamos ir muito a fundo para saber que não é de hoje que a corrupção, seja política, econômica e, até mesmo, ideológica, é marca registrada do processo político na história do país. Por essa razão, não faz sentido “querer curar a ferida depois de infeccionada”, sendo que, na verdade, a corrupção já deveria ter sido combatida desde o início.

Um povo bem informado, se interessa pelo que se passa no cenário público, se interessa pelo fim dado à sua contribuição, os retornos de investimentos nas diversas áreas de responsabilidade política. Um governo justo, se interessa pelo desenvolvimento sociocultural, se interessa em prestar contas de seus gastos administrativos, se interessa em, de fato, “mudar o mundo”. Mas, essa mudança do mundo, não é a fantasiada pela imaginação fértil do idealista, é toda mudança significativa, ou seja, que promova resultados diferenciados em benefício de todos, e não da maioria ou de uma minoria. Não dá para querer o desenvolvimento de um país, quando se exclui uma parte de seus cidadãos dos benefícios das melhorias que precisam ser aplicadas. A política segregacionista ao invés de “facilitar”, uma vez que “enxugaria” a sociedade, colocando os infratores na cadeia, é prática ineficiente. Não precisamos enxugar-nos socialmente, precisamos que todos participem das melhorias, pois, só dessa maneira, ter-se-á um país, realmente, de todos, esse processo é a educação.

Marcel F. Lopes

Historiador (UTP)

06-08-2015