Arroubos da Juventude
Costumo dizer que ninguém acorda às cinco horas da manhã e vai beber num bar. Se a essa hora ele lá está é porque virou a noite. Tenho visto, com frequência, grupo de jovens nos barzinhos por onde passo em direção à praia, nas minhas caminhadas matinais. Alguns até muito respeitosos, saudando-nos com um atencioso bom dia e desejando-nos uma boa caminhada, ao tempo em que nos chamam de “coroa, tio ou avô”. Outros, ignorando os nossos hábitos matutinos, chegam a dizer: “Vai para casa Padilha, isso é hora de acordar”?
Ali estão, segundo seu modo de ver, “aproveitando a vida”. Nada contra que eventualmente qualquer pessoa possa tomar “seu porre”. O que não é normal é que isto se constitua numa rotina. Já dizia Rui Barbosa, em “Oração aos Moços”, que é exatamente nessa fase que eles devem se preparar para o futuro. E adiantava que era até os 30 anos que eles deveriam completar a sua formação escolar ou profissional, quando sua juventude lhe permitia maior facilidade de assimilar o conhecimento. Entretanto, muitos deles, “na ânsia de aproveitar a vida”, desperdiçam-na.
A propósito dos jovens nos barzinhos, vi, esta semana, quando retornava da caminhada, um “descontrolado” garotão, recém-saído do bar, ainda conduzindo um litro de whisky debaixo do braço, dizendo: “a minha saúde que vá para os quintos do inferno, o que eu quero é viver agora”. Pode ter sido uma indireta para nós, coroas, que nesse hábito diário, buscamos uma melhor qualidade de vida. Coroas ou velhos, como queiram, ali estamos com a nossa lucidez e fisicamente saudáveis, por não termos estragado a vida na nossa juventude.