DA EDUCAÇÃO CIENTÍFICA.

Duas grandes ilusões dos educadores: o continuísmo dos conhecimentos comum e científico e a crença de se conhecer a partir do nada.

Bachelard

Alberto Passos Guimarães Filho, presidente do Instituto Ciência Hoje, aponta, em entrevista, algumas veredas para impulsionar o crescimento do Brasil. Em primeiro lugar, a “popularização da Ciência”. Este trabalho há de se iniciar ainda na infância. Dois são os caminhos sugeridos pelo mestre: atividades realizadas no ambiente escolar e a utilização de outros espaços como Institutos Científicos, Museus, Parques, dentre outros.

Com crianças, devemos explorar sua curiosidade natural. Com jovens, além de instigar esse potencial, convém mostrar que a Ciência é uma aventura sem fim. Aliados a isto, Guimarães Filho menciona a necessidade de se melhorar a qualidade do ensino em disciplinas que servem de base para a carreira científica, investirmos na qualificação dos professores, dotar as escolas de infraestruturas apropriadas, criar Laboratórios e implementar Bibliotecas.

Faz ele um alerta crucial: “Ciência não é apenas aquilo que está nos livros, já pronto, mas sim é uma atividade que se constrói com a observação e a experimentação”. Nada, entretanto, acontecerá sem que o professor esteja motivado, com instrumentos para o Fazer e sempre buscando Qualificação.

Trabalhar Ciência exige uma transformação mental através do exercício crítico permanente. Ela, no fundo, precisa de Consciência. Antes de tudo, não há conhecimento fora da prática de Pesquisa, de modo que não apenas o professor, mas o próprio aluno, não importa o nível, precisam vivenciar a Pesquisa.

Concordamos, claro, com Alberto Guimarães Filho. Aliás, Demétrio Delizoicov é contundente a este respeito: “estar em sintonia com a produção científica contemporânea – para além daquela que tradicionalmente é abordada – e com os resultados da pesquisa em ensino de Ciências é algo imprescindível para uma atuação docente consistente”. Assim, o pontapé inicial consiste na “superação do senso comum pedagógico”. Ciência deve ser algo ao alcance de todos, não é um saber extraordinário cujo domínio se concentra nas mãos de poucos iluminados.

Se o sujeito do conhecimento (aluno) e o objeto do conhecimento (o que se quer conhecer) estiverem alicerçados em metodologias adequadas, sérias e profundas, não será outro o resultado senão um despertar prazeroso deste paradigma de Verdades, sobretudo, por romper com aquela visão positivista que redunda, abrenúncio, no mito da neutralidade científica. Ora, a Ciência é Viva, é Ato Político e, destarte, carrega limites.

Uma das práticas pedagógicas possíveis é a Abordagem Temática. Agindo assim, não só mostraremos a força dinâmica da Ciência, mas também suas várias ramificações, inclusive, suas conexões com as Tecnologias. Defendemos que cada escola construa um projeto do trabalhar Ciências se estribando na Pedagogia Libertadora de Paulo Freire, especialmente, partindo-se dos chamados “temas geradores”. Neles, enfim, o compreender, o fazer, o pensar, o agir, o refletir, a teoria e a prática emergem de situações históricas. Suporte teórico-prático à altura é o livro “Ensino de Ciências: fundamentos e métodos”, de Demétrio Delizoicov, José André Angotti e Marta Maria Pernambuco.