A MÃE FORA DE CASA

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

"Alguns têm vergonha da situação e não querem falar sobre isso, mas também têm dificuldade de sair dela – não se submetem a 'qualquer emprego', não querem ganhar 'ninharias', não pedem ajuda aos amigos e quando têm não aproveitam, e, dessa forma, se mantém sustentados."

Patrícia Spada

A contemporaneidade tem provocado a ruptura institucional da própria família, levando-se em conta a necessidade da mulher ter que ajudar e ou até manter o próprio lar em sua totalidade, assim sendo a mulher é o seu principal provedor para a sustentabilidade material da prole, tanto é assim que o sociólogo Rogério Baptistini¹, afirma que “a sociedade está caminhando para o equilíbrio dos papeis do casal. E o fato de a mulher ocupar um novo status deixa o lugar do homem no mundo abalado. Pode ser difícil para eles aceitarem, se adaptarem e se conformarem com essa nova situação, mas vamos caminhar para uma realidade cada vez mais igualitária". Desse modo com a mãe e mulher fora de casa porque está trabalhando para sobreviver a si e sua descendência, em muitos casos o próprio companheiro desempregado, surge no seio da família uma vaga que deve ser preenchida ou compartilhada com o companheiro e ou esposo nos trabalhos domésticos enquanto o outro cônjuge trabalha. Assim sendo, a figura paterna passa a ocupar ou preencher tal vaga como sendo simultaneamente, pai, companheiro, esposo, babá, empregada doméstica, instituição pública e ou privada, dentro outras denominações, contribuindo assim diretamente para a educação informal e formal direta e indiretamente dos filhos. Tal compartilhamento entre o marido e a mulher para criar, manter e educar os filhos, isso significa, nada mais nada menos do que um sistema familiar de educação terceirizada. Com tal realidade o processo educacional em que os filhos estão envolvidos se transforma em preocupação diária, tendo em vista a importância que se dá ao desenvolvimento escolar e não escolar, ou seja da educação formal e informal dos filhos, conforme menciona Bronfenbrenner² (1995), tendo em vista que é na família o ambiente propicio para construir o ser humano, de modo que no seio dela encontram as condições mais sólidas e ou importantes, do tipo amor, cuidado especial que a criança para que venha florescer plenamente com todas as potencialidades. Disso não se tem dúvida alguma, pois, em sendo saudável uma criança, o adulto futuro será alguém diante das pessoas a si ligadas e ou devotadas, e até mesmo engajadas para a realização plena em termos vida equilibrada. É aí que a criança precisa mesmo de gente que tome conta dela, que a ame e que gaste tempo para queimar suas energias e bem assim surgirem outras, é o momento importante diante do desafio de tudo que se encontra perto dos olhos e de suas mãos, sempre estará interessada em fazer alguma coisa, quer ter prazer e por isso necessita de gente adulta por perto dela para no seu dia-a-dia se sentir protegida e complementada.

E o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, segundo amostra da síntese de indicadores sociais, nos informa que “em relação aos casais sem filhos, o índice de chefia feminina passou de 4,5% em 2001 para 18,3% em 2011” e “já entre os que têm filhos, subiu de 3,4% para 18,4%, no mesmo período”, de modo que A PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, “aponta que 37,4% das famílias têm como pessoa de referência a mulher. Os números foram divulgados em 2012 e mostram um crescimento de mais do que quatro vezes nos últimos dez anos”, tais informações estão contidas no artigo sobre o número de famílias mantidas por mulheres, da autora Diniz³. Por analogia, isso é o reflexo dos processos industriais e culturais implantados no mundo todo há mais de sessenta anos. E Baptistini enfatiza ainda que "toda a dinâmica da humanidade e os fenômenos culturais foram dissolvendo a família tradicional e favoreceram a mulher a assumir a linha de frente da família. Em alguns casos, para mulheres de classes mais baixas, esse papel se deu quase 'à força', com a ciência de seus valores e de serem o verdadeiro arrimo de família, por não terem em quem se apoiar e, muitas vezes, estarem sozinhas". É o dinheiro interferindo diretamente no relacionamento do casal e no projeto de futuro para os filhos. E assim os filhos vão sendo criados nas creches e escolas por terceiros, o pai, a mãe e ou ambos precisam trabalhar para poder pagar as contas domésticas da família. O filho é o maior bem que uma família tem em sua vida, porém, quando o entrega para o mundo educá-lo os resultados não são tão bons. A família é a principal fonte de educação informal que prepara direta e indiretamente para ser feliz no mundo traiçoeiro em que vivemos o grande espetáculo das vitórias corruptas e existências de poucos em detrimentos de muitos que vivem no ostracismo social, família e educacional, enquanto opção forçada de vida. Foi o que lhe restou de sorte diante de uma sociedade excludente em todos os sentidos, pois, a história registra apenas a história do vencedor e nunca dos milhões de vencidos, derrotados e alienados sociais. Eticamente mortos para a sociedade, não servem para nada.

Diante de tal enfoque, invocamos o pensamento de Bronfenbrenner (1995) que menciona que os contextos da escola e ou da creche, são inevitavelmente importantes para o crescimento em termos de desenvolvimento de crianças, se bem que jamais tais instituições poderão substituir a presença unitária básica do sistema social denominado de família, uma vez que é a mais legitima e humana de todas as outras instituições, inclusive envolvendo ai o sistema econômico familiar para manter em qualquer circunstancia os seres humanos mais humanos.

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¹ Professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.

² BRONFENBRENNER, U. Uma família e um mundo para o bebé XXI: sonho e realidade. In: Gomes PJ, coordenador. Bebê XXI: criança e família na viragem do século. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian; 1995. http://scielo.bvs-psi.org.br/pdf/rbcdh/v17n1/03.pdf

³DINIZ, Thais Carvalho. Relacionamento. Publicado in.: <http://mulher.uol.com.br/comportamento/noticias/redacao/2013/09/30/numero-de-familias-mantidas-por-mulheres-cresce-e-assusta-homens.htm > . Página visitada em 27/03/2015.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 27/03/2015
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