A FAMÍLIA E A DECADÊNCIA EDUCACIONAL

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

“Falar sobre educação a começar pela família demonstra a enorme preocupação com essa instituição. Não se experimentou para educação informal nenhuma célula social melhor do que a família. É nela que se forma o caráter. Qualquer projeto educacional sério depende da participação família: em alguns momentos, apenas do incentivo, em outros uma participação efetiva no aprendizado, ao pesquisar, ao discutir, ao valorizar a preocupação que o filho traz da escola.”

Gabriel Chalita¹

Desde os primórdios de que o ato de educar filhos é uma tarefa doméstica por demais complexa e/ou seja complicada para os pais, mesmo nos tempos tidos como modernistas e ou contemporâneos, levando-se em conta de que as responsabilidades nem sempre são compartilhadas entre pais e mães, pais e pais, mães e mães, segundo o novo conceito ou definição que a sociedade deste inicio de século XXI tem sobre o que convencionamos a chamar de família. Os teóricos nos informam em suas mais diversas pesquisas quantitativas e/ ou qualitativas e/ou em ambas modalidades, onde apontam que as mães costumeiramente se envolvem mais com as tarefas domésticas e até mesmo educacionais de seus filhos em qualquer fase da vida, pelo menos quando crianças, de modo que Gauvín & Huard² (1999) e Stright & Bales³ (2003), enfatizam que as mães geralmente estão mais comprometidas com o chamado planejamento educacional de seus d Diversas pesquisas apontam que as mães tendem a envolver-se mais dos filhos.

Por outro lado, a cada dia que se passa a figura feminina chamada de mãe, vem cada vez mais se distanciando do centro e ou do seio da família, de maneira quase que generalizada, o que vem significativamente colaborando claramente para possibilitar melhores condições de vida pessoal e profissional para servir de fundamento e ou alicerce educacional dos filhos. Assim sendo, se faz necessário refletir sobre a missão do ser mãe na difícil sua própria função doméstica e educativa, tudo isso porque certas vezes a sociedade faz juízo de marcador e em nome da sociedade deixa de reconhecer tal valor, inclusive no seio da família onde ela convive com seu amor e seu trabalho.

Não é acasos que Ferrero4 (1992, p. 71), enfatiza que a presença da mãe é por demais importante no desenvolvimento da criança e de sua aprendizagem. O que significa de que a possibilidade da mãe em estando presente no lar e na vida escolar da criança e do adolescente, o caminho para atingir o sucesso desejado é meio caminho andado direta e indiretamente. Por outro lado, quando a mãe trabalha e por isso fica ausente do lar e da escola e/ou da vida de seu filho, muitas vezes por mais de oito horas diárias, a possibilidade dessa criança de saber menos e ou quase nada é muito maior do que quando a mãe está presente em tais momentos. E isso acontece não é por falta de capacidade e ou curiosidade, mas sim por falta de não ter com quem conversar e perguntar in loco, no mesmo instante em que a curiosidade da criança é despertada em seu mundo familiar e social. Assim fica tudo claro, de que quando a criança pergunta e não tem quem lhe responda, lhe falta à oportunidade de enfrentar conflitos internos e externos, o mesmo acontecendo com o ato de escrever e de leitura nesta fase da vida. Essa falta de orientação e ou de norte na vida da criança....

A criança aqui pode ser comparada por analogia uma pequena planta, uma vez nascida não sendo bem cuidada, a tendência é desenvolver pouco e/ou morrer, desaparecer por falta de cuidado e gotejamento para o caule possa conviver e retirar o alimento necessário para sobreviver diante das intempéries do solo e da natureza em geral. Então é certo afirmar de que se a criança vive sem qualquer tipo de orientação familiar, paterna e materna, por exemplo, em termos de apoio real, em não acontecendo isso, a tendência natural é não desenvolver um comportamento orientado e capaz de enfrentar as diversidades presentes e futuras. E o comportamento arredio de desorientação passa a ser um fato consumado. Aprendizagem e bons costumes, em certos casos, transformam-se em verdadeiros caminhos sem volta. É a desordem da educação diante do fato de crianças desassistidas pelo grupo familiar: pai e mãe, principalmente. É a família ausente do lar e da escola em sentido ideal e real. É esse o resultado que tem levado milhões de jovens com menos de quinze anos de idade as casas de recuperação de menores e ao aumento de sepulturas nos cemitérios pelo Brasil e pelo mundo afora. Somente os valores morais servirão de modelos para transmitir valores inibidores do que é certo e ou errado para a sociedade em desenvolvimento em todos os sentidos, onde o humano é o objeto diário da brincadeira de fazer criança por adultos sem compromisso ideal mínimo para educar e transmitir valores inibidores de tudo que é anti-social, possibilitando desse modo o pleno desenvolvimento da empatia, da generosidade, do senso de justiça, da reparação daquilo que é dano, da valorização do trabalho, além da instalação do que conhecemos como sentimentos de culpa e vergonha, alerta ou inibidor do comportamento que chamamos de anti-social, no dizer de Hoffman5 (1975), Loos, Ferreira & Vasconcelos6 (1999), Comte-Sponville7 (2000). Toda e qualquer prática educativa em sentido negativo tem relação direta e indiretamente com práticas e ou comportamentos anti-social que envolvem crianças e adolescentes, conforme nos informa Gomide8 (2004).

A falta de assistência aos filhos em termos de educação informal por parte da família, o caminho da aprendizagem e do desenvolvimento das práticas sociais por parte de crianças e adolescente ficará ao mercê da sorte e ou do destino. A televisão, a internet via as redes sociais, a sociedade sem princípios modelares, diante da falta de tempo dos pais se dedicarem aos filhos faz parte da jornada solitária das novas gerações.

A criança e o adolescente diante de dos fatos é educada pelos meios de comunicação e tem caráter informal e pelos amigos, que valem mais do que os pais, porque sempre estão juntos e misturados o tempo todo diante do fato que os pais não estão presentes para disciplinarem seus convívios sociais e horários de estudos formais. Através dos tempos “a família é para o homem o que o tronco é para a árvore”, no dizer de Pestalozzi. A família é base celular da educação informal em direção a educação formal da prole.

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¹ Cf.: CHALITA, Gabriel. Educação. A solução está no afeto. 9ª ed. São Paulo: Editora. 2001.

² Cf.: GAUVIN, M. & HUARD, D. R. (1999). Family interaction, parenting style, and the development of planning: A longitudinal analysis using archival data. Journal of Family Psychology, 13(1), 75-92. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Mai-Ago 2005, Vol. 21 n. 2, pp. 181-186

³ Cf.: STRIGHT, A. D. & BALES, S. S. (2003). Coparenting quality: Contributions of child and parent characteristics. Family Relations, 52(3), 232-240. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Mai-Ago 2005, Vol. 21 n. 2, pp. 181-186

4 Cf.: FERRERO, Emilia - Com todas as letras – 4ª. Edição - São Paulo: Cortez, 1992

5 Cf.: HOFFMAN, M.L. (1975). Moral internalization, parental power, and the nature of parent-child interaction. Developmental Psychology, 11 (2), 228-239.

6 Cf.: LOOS, H., Ferreira, S.P.A., & VASCONCELOS, , F.C. (1999). Julgamento moral: estudo comparativo entre crianças institucionalizadas e crianças de comunidade de baixa renda com relação à emergência do sentimento de culpa. Psicologia: Reflexão e Crítica,12 (1), 47-70.

7 Cf.: COMTE-SPONIVILLE, A. (2000). Pequeno tratado das grandes virtudes.São Paulo: Martins Fontes.

8 Cf.: GOMIDE, P.I.C. (2004). Pais presentes, pais ausentes.Petrópolis: Vozes

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 26/03/2015
Código do texto: T5184465
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