O PERFIL DO "MESTRE"
FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
O Alfa e o Ômega, o primeiro e o último e o princípio e o fim.
Apocalipse, 22:13
O educador Luckesi (2001, p.30) tem razão quando afirma que "a educação é um típico 'que-fazer' humano, ou seja, um tipo de atividade que se caracteriza fundamentalmente por uma preocupação, por uma finalidade a ser atingida. A educação dentro de uma sociedade não se manifesta como um fim em si mesmo, mas sim como um instrumento de manutenção ou transformação social". Assim sendo, temos professores e ou “mestres” com diversos perfis, dentre os quais: lamuriante, tiozinho, bonzinho, livresco, desorganizado, ditador, arrogante, oba-oba, to-fora, inseguro, dez questões e educador, dentre inúmeros outros perfis igualmente interessantes e ilariantes.
Podemos definir como sendo um professor lamuriante aquele que reclama de tudo o tempo todo, inclusive consigo próprio. Vive a reclamar da situação do país, do estado, do município, da escola, da falta de participação dos alunos, da falta participação dos pais, da falta de material... e assim sempre transmite a impressão que está a escola que ele trabalha está arrasada e não encontra prazer no que faz, é a cultura do fracasso em pessoa esse tipo de profissional.
É evidente que conceituamos como sendo professor “tiozinho”, termo esse usado em sentido depreciativo, aquele profissional que gasta a carga horária semestral e ou anual, usando o horário de aulas para dar conselhos ao alunado. Assim seus discentes são seus verdadeiros sobrinhos. Quer saber a vida diária de seus alunos dentro e fora da escola, informações do tipo: o que fazem depois da escola, que lugares freqüentam habitualmente, onde estão sempre presentes e além do mais emite opiniões a respeito de tais assuntos da vida privada, falta de ética pessoal e profissional porque isso não compete a ele direta e ou indiretamente... Os alunos não são sua propriedade.
E os conceitos em termos de definições continuam. Todo cuidado é pouco com o chamado professor bonzinho, figura bem diferente do professor ditador, pois, o professor bonzinho a todo custo força mesmo em fazer amizade com seus alunos e além do mais abre a boca e declara que ama e ou estima o alunado. É uma declaração de amor a primeira vista. E mesmo assim ainda oferta presentes, concede notas máximas indiscriminadamente. Abre mão de escolher o tipo de prova ou avaliação para seus alunos, pois, são esses que escolhem se será com ou sem consulta, individual e ou coletiva. Ainda pede desculpa aos alunos quando o conteúdo da matéria é difícil e por aí vai essa santidade histórica. Por fim faz amizade demais com os alunos, via tal processo de conquista, de modo que o professor bonzinho em síntese termina sendo direta e indiretamente motivo de chacota de seus alunos e colegas educadores no chão da escola.
Para o professor oba-oba, tudo que ele faz, termina em festa. E assim sendo, com esse perfil sempre adora fazer dinâmicas em sala de aula. Tem em mente uma relação enorme de filmes, novelas, sempre tem algumas reportagens a falar, além do mais tira os alunos da sala de aula para observar algum acontecimento e ou fenômeno na rua, no bairro e ou até mesmo no espaço (céu), fala de quebrar modelos e ou paradigmas, etc., porém, nunca tem qualquer tipo de amarração e ou objetividade em seu falar e fazer pedagógico. Nada temos contra a dinâmica de grupo, ao contrário, porém é preciso que o alunado saiba realmente o porque está participando ou fazendo tal atividade
É importante lembrar que ao contrário do professor oba-oba, o perfil do professor livresco é que o mesmo é detentor de vasta cultura no sentido pleno da palavra. É isso mesmo, ele tem profundo conhecimento da matéria que leciona, porém, nunca consegue relacioná-la com a vida e seu dia a dia. Até que esse tipo de professor entende de livros, porém, do chão diário da escola nunca se situa com a sua realidade. E até porque não usa qualquer tipo de dinâmica: grupal e ou individual, a tonalidade da voz é sempre a mesma, vive o tempo todo apenas no recanto da sala e suas ações e atitudes são absolutamente previsíveis. A aula dele é sempre a mesmice do princípio ao fim. Nada de novo. E finalmente ele não quer saber se o aluno está ou não acompanhando seu raciocínio lógico e ou ilógico. Ele apenas diz tudo que preparou para aquela aula e ponto final.
A grosso modo podemos conceituar o professor desorganizado como sendo aquele que tem o perfil de aparecer em sala de aula sem o menor conhecimento e ou ideia do assunto necessário para ministrar a aula. Assim sendo, isso acontece porque esse tipo de professor não lê, não pesquisa, não se preocupa em preparar suas aulas, de modo que não sabe a matéria e durante sua trajetória profissional se transforma em um verdadeiro enrolação, de modo que não tem o ministrar para seus alunos, se põe a conversar e a discutir banalidades vistas em programas de televisão, etc. Em síntese o verdadeiro professor precisa e deve ter método, pois, a organização de seu trabalho é a prova cabal, in loco, do compromisso que ele tem visando o futuro de seus alunos. Improvisar, significa enriquecer, porém, nunca prescinde do planejamento. Sem planejamento, nada feito.
É importante saber definir a figura do professor ditador como sendo aquele que diz que sabe tudo e não respeita a autonomia do aluno dentro e fora da sala de aula. Assim sendo, trabalha em síntese como se fosse um comandante na força máxima do quero, posso e mando em batalha, se sente feliz ao exigir disciplina a todo custo e a todo momento. E além do mais grita e ameaça seus pupilos. Não aceita ouvir ninguém, o que vale dizer não quer ouvir um pio, sua atitude é sempre a de zelar pela sala como se fosse um verdadeiro presídio na Idade Média. Daí porque esse tipo de professor está perdido plenamente na necessidade de poder, tendo em vista que poder e respeito se conquista ouvindo o outro em suas dúvidas e necessidades e jamais se impõe.
Esse tipo de professor tem medo em sentido amplo e restrito de seus próprios alunos, teme a todo instante em ser rejeitado e daí não conseguir mais dar suas aulas e muito menos ser ouvido pela comunidade dentro e ou fora do chão da escola.
Esse tipo de professor resume tudo que lecionou durante um bimestre, semestre e ano letivo em apenas dez questões, favorecendo assim sua segurança própria quando for indagado pelos alunos em qualquer questionamento. Não importa que sejam dez, oito, quinze, vinte e ou trinta questões e por aí vai.... Durante suas aulas transcreve tudo no quadro de giz e ou então ditado tudo para seus alunos copiar letra por letras. É o famoso ditado sua principal técnica de ensinar. Por fim quando existe livro na sala de aula para manuseio dos alunos, ele pede que leiam determinado texto e em seguida façam o resumo e ou respondam as questões por ele formuladas e ou as constantes no final do referido texto. Procura sempre corrigir se preciso for as questões e ainda avisa aos discentes que das dez questões, fará uso apenas de cinco questões para sua avaliação em termos de prova bimestral e ou anual. Por sua vez o alunado procura decorar as dez questões e aperfeiçoam suas técnicas de colagem, dependendo apenas das astucia de cada aluno...
O perfil do professor “tô-fora” é definido quando ele jamais se compromete com o sucesso e ou insucesso de seus alunos. Ele corre com medo de reunião dentro e fora da escola, assim como o diabo corre da cruz. E por analogia corre também da preparação de projetos comuns, de vida comunitária, da escola, etc... É o tipo de professor que dar a sua aula e vai embora. Às vezes não diz nem até amanhã aos seus confrades e alunos. Pode até ser um bom professor, porém, nunca evolui em sua relação social e muito menos o conteúdo interdisciplinar, porque nunca está presente no chão da escola, física e espiritualmente falando. É uma lamparina sem azeite, mesmo estando posta na parte mais alta do monte, não tem luz própria. Se bem que tem professor com esse perfil que além do mais, são arrogantes ao ponto de achar que nada têm o que aprender no chão da escola e que se acha acima dos saberes dos demais professores, alega ainda que jamais vai ficar conversando ou discutindo bobagens e ou asneiras com colegas, pais, alunos, comunidade...Em regra esse tipo de profissional está preocupado apenas com sua própria sobrevivência e o resto que se exploda.
E os adjetivos qualificativos em termos profissionais no tocante ao perfil do professor arrogante, é assim compreendido como sendo aquele que se acha detentor do conhecimento, sempre fala de si o tempo todo e coloca os discentes em um patamar sempre de inferioridade.
E por fim o professor educador é aquele que tem um perfil profissional e ético em sua cultura e práxis no chão da escola, "assim como não posso ser professor sem me achar capacitado para ensinar certo e bem os conteúdos de minha disciplina, não posso, por outro lado, reduzir minha prática docente ao puro ensino daqueles conteúdos. Esse é um momento apenas de minha atividade pedagógica. Tão importantes quanto ele, o ensino dos conteúdos, é o meu testemunho ético ao ensiná-los", segundo nos ensina Freire (1997).
É evidente de que "ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender e ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação", no dizer de Brandão (1985, p. 7. ) e assim sendo todos indistintamente em sendo encaminhado para o chão da escola, enquanto academia estarão sujeitos direta e indiretamente a tais perfis e ou práxis profissionais, pedagogicamente falando, é como se fosse uma disputa entre o bem e o mal na fala bíblica do “alfa” e do “ômega”, em termos instrucionais e educacionais, ainda que por analogia aplicada na área educacional.