A QUEM INTERESSA O FRACASSO ESCOLAR?

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

Se não morre aquele que escreve um livro ou planta uma árvore, com mais razão, não morre o educador, que semeia vida e escreve na alma.

Jean Piaget

Ao longo de mais de cinqüenta anos de pleno exercício do magistério de Educação Básica, temos a visão de que o fracasso escolar do aluno serve como instrumento especial para classificá-lo como cidadão de segunda ou terceira categoria na vida social, bem como castigo anunciado para definir a curso e longo prazo durante sua vida física, seu destino de exclusão da sociedade como um todo, segundo as normas escolares: leis, portarias, resolução, regimentos, etc. Entendemos de que a avaliação escolar tem servido unicamente para selecionar, e isso já faz muito tempo que é assim, voltada para a função especifica de exclusão dos cidadãos que costumeiramente são rotulados com a pecha de que são menos capazes, tem problemas familiares os mais diversos possíveis, tem problemas crônicos de ensino-aprendizagem, nunca tem vontade de estudar e que também alegam que não tem e ou não tiveram assistência familiar, dentre inúmeros outros termos pejorativos e de exclusão. São inúmeros dos autores e teóricos que corroboram com esse nosso pensamento, é isso que vislumbramos diante de nossas observações envolvendo a teoria e a prática educacional, principalmente entre as classes menos favorecidas pelo poder econômico e político nas grandes e pequenas localidades deste imenso país. Assim sendo, Luckesi¹ (1999), afirma de que a avaliação praticada na sala de aula brasileira é a avaliação da culpa, bem como enfoca que os conceitos e notas usadas para aprovar e ou reprovar, são usadas meramente para fundamentar as mesmas necessidades de classificação de alunos, comparação de desempenhos e nunca os objetivos pretendidos. Infelizmente, o currículo escolar vem sendo proposto única e exclusivamente para atender os interesses massificadores do ensino público nacional. Jamais aconteceu em qualquer escola pública: federal, estadual e ou municipal, um planejamento voltado para atender as necessidades precípuas do aluno, pois, todo planejamento que se tem conhecimento é voltado para atender as necessidades de inúmeras turmas de alunos através da hierarquização de séries, por idades, quando na realidade esperamos ter atendido a uma classe com 40 ou mais alunos e que todos terão uma única resposta certa e nada mais. É isso que se chama de planejamento educacional? Salvo melhor juízo, e tal planejamento acontece em um menor número de escola pública, o planejamento é ridículo e estagnado. Muita farofa e pouca carne como nos ensinaram nossos antepassados.

E ainda mais se não bastasse, podemos invocar o pensamento de Perrenoud² (2000), onde menciona que se define o fracasso escolar como sendo a conseqüência de dificuldades de aprendizagem e bem assim como a expressão de uma falta objetiva de competências e conhecimentos. E através desse pensamento e visão de mundo se naturaliza o fracasso escolar, impedindo assim a compreensão de que o fracasso escolar é o resultado de formas e de normas de excelências, instituídas no ambiente escolar, através do uso cotidiano em sua execução de arbitrariedades pedagógicas, ficando assim ampliado a qualquer preço o nível de exigência que separa aqueles que não tem êxito daqueles que tem êxitos no ensino-aprendizagem. É a fabrica de cidadãos excluídos da sociedade pela falta de instrução avançada. Victor Hugo, menciona que "quem conduz e arrasta o mundo não são as máquinas, mas as idéias”. A escola pública se apóia no principio e ou forma da excelência, vem daí sua axiologia de valor, somente o cidadão aprovado é assim valorizado, isso se torna critério e ou categoria incidente para a aprovação e para a reprovação do aluno. O Padre Antônio Vieira ensina que: "a boa educação é moeda de ouro, em toda parte tem valor”. É essa política ainda remanescente do tempo da Ditadura Militar de 1964. Avaliação escolar aí é uma tortura para o aluno em cada bimestre letivo. Diante de tais fatos, tais classificações escolares, direta e indiretamente refletem em muitos casos as desigualdades de competências efêmeras, o que vale dizer que não podemos acreditar de maneira alguma em avaliação da escola, enquanto instituição acadêmica formal.

Os professores antigos e atualizados sabem de que o fracasso escolar do alunado só existe em uma escola que o poder de julgar, classificar e declarar um aluno fracassado, através de sua reprovação escolar. Sabemos que é a escola que avalia os alunos e chega a conclusão de que um certo determinado número fracassaram, sendo isso visualizado através da reprovação em cada período letivo. O sábio Confúcio tem razão quando afirma: “Contaram-me e Esqueci. Vi e Entendi. Fiz e Aprendi”. Seria muito bom que o fracasso escolar representasse na vida do aluno a lógica das desigualdades reais. O tema fracasso é muito mais profundo do que isso, tendo em vista que o fracasso escolar representa a relatividade cultural definida pela escola e bem assim reflete as desigualdades de conhecimento e competência para a vida toda, haja vista que a avaliação da escola determina a hierarquia de excelência, justificando assim a cultura do serviço de suas decisões, o que equivale mencionar de que o fracasso escolar é o julgamento institucional, como se fosse um câncer de que se nasce, se vive e se morre com ele. Tudo isso é desigualdade real tendo em visa a cultura da mensuração.

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¹ Cf. LUCKESI, Cripriano Carlos. Avaliação da Aprendizagem Escolar. São Paulo: Cortez, 2003.

² Cf.: PERRENOUD, Philippe. Dez Novas Competências para Ensinar. Porto Alegre, Artmed Editora.2000.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 03/02/2015
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