REFORMA DO ENSINO
Em 2009 o Ministério da Educação anunciou um projeto de ampla reforma do ensino. O Ministério, de então, entendia que o modelo educacional do Brasil se esgotara, pois visava mais o sucesso no vestibular do que a formação de cidadãos conscientes, honestos e democráticos. Para esta nova educação, que o Ministério da Educação pretendia implementar, não seriam suficientes intenções e projetos. Seria necessária uma ampla mobilização do ambiente educativo. Mas, entretanto, pouco aconteceu. Pelo lema do novo Governo de Dilma Rousseff parece que tudo está novamente iniciando , pois, “como nunca antes neste país”, nos próximos quatro anos, o Brasil deverá ser, pela primeira vez, uma “Pátria educadora”. Até agora, continuamos a ter um péssimo lugar no ranking dos países que investem em Educação.
No entanto, ao menos desde Platão (IV século a.C.), na Antiga Grécia, a educação dos cidadãos é uma responsabilidade do Estado. E o Estado é formado por todos os cidadãos. Por isto não estranha que, diante do fracasso do Governo Brasileiro para oferecer ensino adequado aos cidadãos, cidadãos particulares, ou grupos de cidadãos, solicitem aos governantes concessões para educarem e ensinarem subsidiariamente, de acordo com as leis civis.
Neste sentido, o Brasil é exemplar, pois um amplo número de cidadãos subsidia o Governo no múnus educativo. A maior parte desta rede educativa subsidiária visa atender ao público brasileiro desatendido. Claro, existem também empresários educacionais que exploraram os cidadãos que não têm acesso ao sistema de ensino insuficiente oferecido pelo Governo.
Parece-me muito estranho que se faça uma distinção entre ensino público e privado. Pois toda a educação se dirige ao público. O estranho é que grande parte das escolas, sob administração direta do Estado, apresenta qualidade inferior àquelas dirigidas por cidadãos comuns. Por que seria? Certamente não pode ser por causa dos professores, tendo em vista que tanto os professores de escolas do governo como de escolas particulares são formados nas mesmas universidades e faculdades, todas instituições controladas pelo poder governamental. A diferença deve estar no fato de se investir mais em umas do que em outras na qualidade de ensino. Constatando isto, a saída para que as escolas particulares e as do Governo se igualarem em qualidade de ensino, seria maior investimento governamental na educação. Não bastam discursos com promessas, sem atacar o verdadeiro problema da educação nacional.
Então, a primeira grande tarefa de uma reforma do ensino seria igualar os investimentos e a qualidade em todas as escolas brasileiras. Será que novo Ministro da Educação, Cid Gomes, tem cacife para tanto? Não acredito!
O segundo passo deveria ser a avaliação da metodologia e da seleção de conteúdos a constarem nos currículos de ensino. Parece que a Presidente Dilma apenas pensa neste segundo passo para melhorar nosso ensino. Quer modificar os currículos escolares! Certo, isto é importante. E, neste nível, gostaria de dar uma sugestão.
Muitos dos problemas brasileiros não são problemas de conhecimento, mas de educação, de boas maneiras, de preconceito, de ética. Se o objetivo da educação é formar cidadãos úteis ao país, não basta exercitar os educandos apenas para o exercício de uma habilidade profissional. É preciso que, em primeiro lugar, se cuide de transformá-los em “gente”, em seres humanizados. E aí está um dos grandes problemas que se verifica no processo educativo em nosso meio. Crianças e jovens que não aceitam disciplina, com total ausência de senso de respeito, que não conhecem hierarquia, que não controlam sua linguagem, que são desonestos, pois colam seus trabalhos retirados da internet, e os assinam como seus (e pior, professores que toleram tal prática sem questionamento!).
Esta situação, em muitas escolas pelo país afora, mostra que muitos estudantes, em vez de se tornarem cidadãos melhores, se transformam em notórios “fora-da-lei”. O professor, muitas vezes, já não tem certeza se está contribuindo na formação de cidadãos melhores, ou na formação de criminosos. Esta situação não é privilégio de escolas do Governo, mas também ocorre em escolas particulares.
Pela orientação do estudo, no grau médio, para o sucesso na seleção para as universidades, e não para a formação de cidadãos melhores, muitos educadores perdem o ideal a partir de uma “mística” educativa.
Frente a esta realidade, penso e sugiro que, entre as novidades e uma reforma do ensino, esteja a preocupação com treinamento de boas maneiras, de honestidade e ética entre os estudantes. A partir disto, seria fundamental que cada estudante, no decorrer de seus estudos, lesse e discutisse, ao menos, um livro de boas maneiras. Boas maneiras na linguagem, boas maneiras na relação e no respeito para com os colegas, os professores e os funcionários de sua escola. Pois, sem boas maneiras não somos nem civilizados, nem éticos e nem tolerantes; não somos “gente”; e o sistema educacional não atingirá seu objetivo. Não é suficiente uma fria formação profissional tecnológica para que o Brasil se torne um país com fama de possuir um povo civilizado. E, sem isto, a Presidente Dilma fracassará com seu lema de Governo: “Brasil, Pátria Educadora”.
Inácio Strieder é professor de filosofia. Recife - PE.