FALTA INVESTIMENTO?

Alunos do Maranhão têm o pior resultado em Língua Portuguesa. Para educadores, isso acontece por falta de investimento na educação. Eu discordo. O que falta é dedicação de quem vai à escola. Eu não defendo nenhum governo. No entanto, é preciso ver que o governo não é o único responsável pela educação de um povo.

Há quem culpe os professores. Há quem culpe as escolas. Faz-se necessário, porém, começar a pensar diferente. Caso contrário, a educação nunca vai melhorar. Enquanto eu ficar culpando os outros, eu nunca melhorarei. Deve-se começar por si mesmo.

Eu, por exemplo, na minha infância e adolescência, não tive a oportunidade que os alunos de hoje têm: bibliotecas nas escolas (livros à vontade), internet, revistas, jornais. Sabe o que eu fazia? Caminhava mais de cinco quilômetros para chegar até uma casa onde havia Literatura de Cordel. Na Barra, Dona Maria da Guia, esposa do Raimundinho da Branca, emprestava-me seus livros para eu ler. Esses livros eram a minha única fonte de leitura.

Quando meu irmão não deixava a bicicleta em casa, porque ele ia ao trabalho, eu caminhava 7 quilômetros, ao meio-dia, até chegar à escola, na Boa Esperança, onde o professor era o Elias Gomes de Castro. Era eu quem enchia os potes de água de minha casa, carregando da Barra até o Mosquito. Eu ia ao mato caçar o jumento. Se não o achasse logo, eu devia voltar imediatamente para casa, para ir buscar água na Barra. Sabe de quê? Na cabeça, no ombro, se o jumento não fosse logo encontrado. Pois não podíamos ficar sem água.

Eu ia ao mato colher bacuri e pequi. Com tudo isso, eu ainda estudava. Eu nunca tive o incentivo que as pessoas têm hoje. O meu incentivo era ouvir as pessoas me chamando de louco e de preguiçoso, pelo fato do meu amor aos estudos. Eu lutei contra a corrente; eu lutei contra todos; eu lutei contra o meu destino, contra o meu fracasso. Mesmo criança, eu desejava, ardentemente, estudar. A minha mãe nunca me mandou estudar. A iniciativa foi sempre minha. O que a minha mãe fez foi sempre me apoiar, o que já foi muito. Certo dia, após muito tempo sem estudar, porque não havia mais o que estudar no Mosquito, eu disse à minha mãe: ou eu vou estudar ou eu vou cortar cana no Mato Grosso. A minha mãe não queria que eu fosse embora. Decidiu conversar com uma tia minha em Pastos Bons, a esposa do Antônio Lampião, a Marilza. Esta me aceitou em sua casa, no ano de 1997, exatamente no dia 10 de março. Comecei a 5ª série com 17 anos de idade. Tudo isso por causa da dificuldade para estudar, da falta de condições financeiras, da falta de oportunidade.

Hoje, as pessoas têm todas as chances de estudar, de ler, de crescerem, mas não querem, com raras exceções. As pessoas não imaginam o que eu sofri de crítica para poder estudar.

Hoje, o que muitos querem é apenas brincar; é apenas lazer. Desse jeito, investimento, professor e escola jamais conseguirão melhorar a educação deste País.

Quem é o aluno que estuda em casa? Os professores só mostram o caminho. É a pessoa quem deve buscar mais. Cada pessoa deve buscar o conhecimento do qual precisa para viver com dignidade.

Domingos Ivan Barbosa
Enviado por Domingos Ivan Barbosa em 18/12/2014
Reeditado em 18/12/2014
Código do texto: T5074093
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