Sala de aula e geração net – vendo o mundo e vendo o outro

Em recente matéria jornalística, o noticioso Tribuna de Minas – de Juiz de Fora, Minas Gerais – informou que um colégio tradicional da cidade proibira terminantemente o uso do celular em sala de aula, punindo severamente os jovens infratores, uma vez que os aparelhos – certamente sofisticados, pois se trata de uma instituição cujos alunos têm alto poder aquisitivo – prejudicavam o curso das aulas.

É possível que pelo Brasil afora situações semelhantes ocorram, marcando lamentável descompasso entre a educação e as novas formas de ver o mundo protagonizadas pela geração net.

A partir das últimas três décadas, a simbiose entre o jovem e a tecnologia arraigou-se a tal ponto que quaisquer tentativas de coibi-la radicalmente terão efeitos inócuos. Os jovens não mais se separam de seus apetrechos eletrônicos e privá-los dessa convivência seria como amputar-lhes parte dos corpos.

Nada mais interdisciplinar do que um telefone móvel conectado à internet. Ali, todos os saberes – inclusive os pedagogicamente destrutivos – se acumulam e estão à disposição do jovem. Se é indiscutível verdade que a primeira situação requer orientação e, em certos casos, intervenção da escola, também não é menos verdadeiro que o saber ali acumulado pode ser desfrutado no ambiente escolar.

Assim, em vez de proibir, o caminho mais adequado seria o da orientação e o da incorporação do celular à prática pedagógica, em alguns (muitos, talvez) momentos do cotidiano escolar, transformando, sabiamente, proibição em restrição. Naquela janelinha, os estudantes têm o mundo e, consequentemente, o currículo escolar. “O proibido é desejado”, diz a sabedoria popular, ensinando, com singeleza, àqueles gestores imprevidentes.

Em recente programa de televisão, o “Na moral”, da rede Globo, o cronista Arnaldo Jabor mencionou que a geração net é mais sábia do que a juventude do seu tempo. Diríamos que é mais eclética, mais rápida, enxergando mais do mundo. A função da escola, hoje, neste contexto de exposição do mundo, talvez seja a de subsidiar o poder de análise e síntese, no universo das múltiplas informações.

Ao contrário do que se possa pensar, a geração net é também uma geração solidária, que compreende as limitações alheias. Na escola magistrocêntrica, por exemplo, não raras vezes ocorriam confrontos entre a exposição do mestre e a inquirição do discente, que procurava desconcertar o saber instituído, desconfortando o mestre, cujo saber se colocava em xeque. Creio que, na geração da tecnologia, não haja muitos registros de alunos que fiquem a todo momento confrontando o saber do mestre com os conhecimentos que a internet lhe passa em tempo real. Minha prática pedagógica registra exatamente o contrário. Os alunos – quando me ocorrem dúvidas – mostram-se pesquisadores espontâneos e apresentam sua contribuição. O discente – com todo aquele saber às mãos – assimila tacitamente a mensagem de que o professor, mesmo em aulas expositivas, é facilitador da aprendizagem e não detentor do saber. Este mundo das tecnologias da comunicação não mais abriga os sabe-tudo.

Eis, pois, algumas razões por que aqueles que simplesmente proibirem os celulares em sala de aula estarão fadados ao insucesso.