Nem tudo é bullying

Vemos agora surgir um novo termo que assusta os pais, escolas e imprensa, é o chamado bullying, expressão inglesa para designar a prática de ofensas e até mesmo agressões físicas contra colegas.

Na verdade essa prática não é nova como parece, ela sempre existiu em nossas escolas e até mesmo em locais de trabalho, a novidade só se dá no nome usado e na real preocupação pelo assunto, tanto de autoridades quanto de especialistas. Acredito, porém, que haja um erro no entendimento do que seria o chamado bullying.

Às vezes observamos pessoas dizendo que um aluno foi ofendido pelos colegas e isso seria bullying. Pode até ser o “começo” de tal prática. O bullying é uma repetição ou sucessão de atos ofensivos, corriqueiros, contra um aluno que, para os outros ou um determinado grupo, não se enquadra no que seria "normal" para sua idade, ou então difere dos padrões sociais de beleza, aceitação e normalidade impostos pela sociedade. Muitas vezes é o preconceito que se esconde por trás do bullying.

Agressões eventuais ou isoladas não configuram essa prática. Dois alunos brigam por conta de uma disputa no futebol. Isso não é bullying. Para se tornar bullying, esses atos devem ser frequentes, juntar-se a outros, diante de colegas. Desse modo, os que praticam o bullying atormentam a vida escolar da vitima, que poderá ter sérios problemas comportamentais, pois ela é ignorada por amigos numa idade em que se espera a aceitação de um grupo.

Vemos na sociedade um certo "modismo" em relação à palavra bullying, ao classificar todo comportamento indevido ou inadequado ao ambiente escolar como “prática criminosa”. Devemos levar em questão que sempre houve "peraltices" por parte dos alunos, e elas, muitas vezes, não seriam bullying e sim uma infração ao regimento escolar. A direção, lógico, deve estar atenta para coibir todo tipo de infração na escola, pois pequenos problemas, se descuidados, tornam-se grandes problemas. Já a prática tão comentada, é criminosa e não se deve ser vista como um simples desvio comportamental. Para tanto, deve ser analisada cada atitude isoladamente pelo corpo docente e autoridades, para saber se seria um gesto de infração ou uma prática grave e criminosa.

Estudos apontam que, no Brasil, 49% dos alunos já se envolveram em atos violentos e ofensivos contra colegas. Os casos de bullying estão se tornando mais graves com a modernidade, pois as ofensas estão saindo das escolas e se alastrando por meio da internet, onde são postadas agressões diretas, comunidades ofensivas no orkut contra uma determinada pessoa, humilhações de todo tipo tornando público problemas ou situações particulares. Essa prática já tem um nome próprio, é o cyberbullying.

Os verdadeiros atos criminosos contra adolescentes são graves e acarretam prejuízos que serão carregadas por toda a vida da vítima. Não podemos diminuir a gravidade desses atos dizendo que qualquer transgressão à disciplina escolar seja bullying, como vemos por aí. Ofensas, violência e preconc eito devem sim serem combatidos e punidos pela escola e pela sociedade, mas nem tudo é bullying.

professor Alex Sant'anna

contato: alexsantanna@hotmail.com