IMPORTÂNCIA DO DESENHO DA CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Ilza Ribeiro Gonçalves

ilza_goncalves@hotmail.com

RESUMO: Este trabalho pretende trazer alguns subsídios que permitam ao educador tornar-se mais sensível e curioso perante uma produção artística infantil, evitando, assim, “diagnosticar” a crianças. Dessa forma é importante saber que o desenho é a manifestação de necessidades vitais pelas quais a criança terá que passar, ou seja, conhecer e agir sobre o mundo e comunicar-se com ele. Diante disso é primordial, que o profissional que atua na área da Educação Infantil tenha a compreensão e o conhecimento das fases do desenho infantil e sua relação com a evolução do desenvolvimento humano. O objetivo do referido trabalho é refletir sobre a importância do educador nessas etapas de desenvolvimento da criança. É compreender, ainda, que a observação é um dos meios que o educador poderá utilizar na construção desse aprendizado para fazer desabrochar na criança um olhar sensível e crítico. Para isso, ele não poderá agir apenas como facilitador desse processo. Permeando informações de natureza mais teórica, o educador poderá desafiar e incentivar a criança, ampliando as experiências, o conhecimento e aprimorando a capacidade de criação e de expressão artística destes indivíduos.

Palavras-Chave: criança; desenho; educação infantil.

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho é de grande relevância para os que atuam na educação infantil, pois é preciso conhecer e compreender a importância do desenho para estes alunos e como isso influencia na aprendizagem destes educandos.

Diante disso, observa-se que o desenho infantil se constitui como um modo de expressão próprio de cada criança, a qual representa as experiências vividas e imaginadas por elas, que buscam a percepção de si próprias e significam a sua realidade. Desse modo, percebe-se que a criança desenha pelo simples prazer, associa-se o prazer da inscrição, à satisfação de deixar a sua marca.

Os primeiros rabiscos são quase sempre efetuados sobre livros e folhas aparentemente estimulados pelo adulto, possessão simbólica do universo adulto, tão estimado pela criança pequena. Essas garatujas refletem, sobretudo, o prolongamento de movimentos rítmicos de ir e vir e se transformam em formas definidas que apresentam maior ordenação, e podem se referir aos objetos naturais, objetos imaginários ou mesmo a outros desenhos. Na evolução da garatuja para o desenho de formas mais estruturadas, a criança desenvolve a intenção de elaborar imagens no fazer artístico.

Toda criança desenha brincando com uma varinha na areia, com pedra na terra, ou caco de tijolo no cimento, com carvão nos muros e calçadas, lápis, pincel com tinta no papel, ela deixa marcas nos mais variados locais e com diferentes materiais, criando jogos e contando histórias.

Segundo Galvão (1992):

Toda criança desenha. Mesmo que não seja adequadamente instrumentalizada para tal, a criança pequena quase sempre encontra uma maneira de deixar, nas superfícies, o registro de seus gestos: se não tiver papel, pode ser na terra, na areia, ou até mesmo na parede de casa: se não tiver lápis, serve um pedaço de tijolo, uma pedra, ou uma lasca de carvão. (GALVÃO, 1992p. 53)

O desenho, portanto é a maneira como a criança organiza e concebe o espaço ao seu redor utilizando-se dos materiais que dispõe no momento de criação. Dessa forma para melhor compreender uma criança é preciso aprender a vê-la, observá-la enquanto brinca e estar atento à maneira como desenha o seu espaço e como escreve ou representa a sua história.

Sendo assim, importante característica do desenho infantil é a de que representa mais o que a criança sabe de um objeto do que o que ela vê. Dessa maneira, reflete a imagem e conceito desse objeto, recortando seu significado, atribuindo-lhe sentido semelhante ao que ocorre com o brinquedo simbólico.

Conforme o que foi exposto pelo autor, o desenho é o registro da representação gráfica da imagem real, constitui-se a característica que se configura como o precursor da escrita, pois a criança percebe o objeto, representa-o através e lhe atribui um sentido, dando-lhe um conceito, expressando verbalmente o resultado de sua ação gráfica.

2. O DESENHO INFANTIL

O desenho é uma atividade que solicita a presença da criança em sua inteireza, pois ao realizar uma produção gráfico-plástica esta favorece a comunicação entre os aspectos afetivos, motores e cognitivos. Portanto mesmo que não seja sua intenção, ao desenhar a criança está contando um pouco de si, expressando seus gostos e suas preferências. Desenhar é registrar o lúdico, o artístico ou o científico por meio de linhas, pontos e manchas. Daí o desenho ser um eficiente meio de comunicação enquanto expressa as ideias graficamente.

Segundo Derdyk, (1994) todos os indivíduos de diferentes origens e valores sociais têm no desenho uma indispensável e importante ferramenta para a comunicação. Nesse sentido, observa-se que o grafismo é o meio pelo qual a criança manifesta sua expressão e visão de mundo, constituindo-se assim uma linguagem artística, na qual a sua elaboração é constituída por fases, conforme o nível de desenvolvimento psíquico infantil que é variável a cada criança e envolve também estados de ânimo e o exercício de uma atividade imaginária, que se relaciona a um processo dinâmico em que a criança procura representar o que conhece e entende.

Luquet (1969) analisa que:

O desenho, uma vez executado ou em plena execução, recebe do seu autor uma interpretação, a intenção era apenas o prolongamento de uma ideia que a criança tinha no espírito no momento de começar o traçado; do mesmo modo a interpretação deve-se a uma ideia que tem no espírito enquanto executa o traçado, ao qual dá o nome (LUQUET, 1969, p.37).

Desse modo, verifica-se que por ser o desenho infantil um meio de compreensão da realidade, é um valioso instrumento da arte educação, pois mostra um produto resultante da imaginação e atividade criadora da criança. Sendo assim, o desenho para a criança é uma continuidade entre o objeto e a representação gráfica. A criança representa o objeto em si, ou seja, a sua criação é diferente da criação do adulto. Ela liberta-se das aparências e, ao mesmo tempo pode representar o objeto como ele é realmente, enquanto o adulto só representa por um único ponto de vista.

Segundo Luquet, apud Merleauponty, (1990), o desenho é uma íntima ligação do psíquico e do moral. A intenção de desenhar tal objeto não é senão o prolongamento e a manifestação da sua representação mental, o objeto representado é o que neste momento ocupará no espírito do desenhador um lugar exclusivo ou preponderante. Para a criança o desenho é uma expressão de mundo e nunca uma simples imitação ou cópia fiel porque ela desenha conforme o modelo interior, a representação mental que possui do objeto a ser desenhado. O desenvolvimento infantil é como um jogo, visto que a criança se desenvolve e se modifica conforme a faixa etária. O mesmo acontece com o desenho, que vai evoluindo e se modificando de acordo com o desenvolvimento da criança.

Diante do exposto, o desenho infantil é um dos aspectos mais importantes para o desenvolvimento integral do indivíduo e constitui-se num elemento mediador de conhecimento e autoconhecimento. A partir do desenho a criança organiza informações, processa experiências vividas e pensadas, revela seu aprendizado e pode desenvolver um estilo de representação singular do mundo. Dessa forma, o desenho infantil pode emergir como uma atividade molar que faz o elo de representação das relações de reciprocidade dos sentimentos afetivo positivo e equilíbrio de poder e de outras vivências significativas para o desenvolvimento social, afetivo e cognitivo.

Duarte (2004) vê o desenho infantil como fator preponderante para construção de novas linguagens e observa que a “palavra e o desenho são equivalentes simbólicos” e acrescenta:

O desenho pode ser considerado a escrita primitiva da criança na primeira infância. (...) O desenho é a primeira maneira de escrever a palavra que nomeia o objeto. Após o aprendizado da escrita, pouco a pouco o desenho infantil deixa de ser esquemático e generalizante como a palavra, para tornar-se cada vez mais comprometido com detalhes que provoquem a ilusão de plena visualidade de um objeto particular. (DUARTE, 2004, p 132).

Conforme o ponto de vista do autor, o desenho está intimamente ligado com o desenvolvimento da escrita, exercendo na criança uma verdadeira fascinação sobre a possibilidade de criar e recriar individualmente formas expressivas, integrando percepção, imaginação, reflexão e sensibilidade, e podem então ser apropriadas pelas outras leituras simbólicas.

Para Derdik (1989) a criança por meio do desenho interage com o meio ambiente, experiencia novas realidades e as compartilha com o mundo. Portanto, o desenho constitui-se para a criança numa atividade total, englobando o conjunto de suas potencialidades, e ao desenhar ela expressa a maneira pela qual se sente existir. O desenvolvimento do potencial criativo na criança seja qual for o tipo de atividade em que ela expresse é essencial ao ciclo inato de crescimento. Similarmente às condições para o seu pleno crescimento (emocional, psíquico, físico, cognitivo) não podem ser estáticos.

O desenho, portanto, faz parte do crescimento, do desenvolvimento infantil, pois além de falar, andar, comer, entre outras habilidades, que são aprendidas desde o nascimento, o desenho é parte integrante deste crescer, deste desenvolver-se. Ao desenhar a criança conta sua história, seus pensamentos, suas fantasias, seus medos, suas alegrias, suas tristezas. No ato de desenhar, a criança age e interage com o meio, seu corpo inteiro se envolve na ação, traduzida em marcas que a mesma produz, se transportando para o desenho, modificando e se modificando. Por meio do desenho conta o que melhor lhe aconteceu, demonstrando, revelando e dominando a situação.

Ao pegar no lápis, a criança descobre seus registros, começa a rabiscar obsessivamente até desgastar toda a ponta do lápis ou quando pega uma caneta esferográfica, o processo é o mesmo. Ao final do seu primeiro ano de vida, a criança já é capaz de manter ritmos regulares e produzir seus primeiros traços gráficos, fase conhecida como dos rabiscos ou garatujas.

Derdyk destaca (1994), que o ato de desenhar impulsiona outras manifestações, que acontecem juntas, numa atividade indissolúvel, possibilitando uma grande caminhada pelo quintal do imaginário. Dessa forma o desenho constitui a expressão da visão de mundo que cada criança possui, pelo desenho ela desenvolve suas potencialidades manifestando suas reflexões.

Segundo esta autora, a forma de pensar o desenho infantil é objeto de estudo por parte de psicólogos, pedagogos, artistas e educadores. Existem muitas teorias e interpretações referentes à produção gráfica infantil, assim como vários são os enfoques que se analisa no desenho infantil, seja pelo aspecto emocional e psíquico, pela análise da linguagem gráfica formal ou simbólica, seja pela demonstração do desenvolvimento mental da criança.

Winnicott, (1982) coloca que o desenho é a manifestação da necessidade vital da criança agir sobre o mundo que a cerca, proporciona-lhes fazer intercâmbios comunicar-se com ele. Segundo o autor a criança projeta no desenho o seu esquema corporal, pois deseja ver a sua própria imagem refletida no papel. Os traços, os rabiscos, as garatujas presentes ali, trazem a tona desejos interiores, comunicados, impulsos, emoções e sentimentos.

De acordo com Ostrower (1978), o desenho da criança é uma atividade do imaginário, pois a representação deste pode estar fortemente aliada a um desejo expressivo dela captar e apropriar-se dos conteúdos escolares por meio dos signos gráficos, reapresentando novos significados. A criança ao agilizar os conteúdos do imaginário, contracenando com os elementos da realidade física e cultural, inventa e repete figurações gráficas.

Para Mamede (1994), o desenho é manifestação de uma necessidade vital para a criança: conhecer e agir sobre o mundo, comunicar-se com ele. Isso significa que desenhar é uma atividade inteligente, pois o indivíduo se apropria das informações existentes em seu ambiente físico e social e constrói conhecimentos sobre elas de maneira pessoal, expressando-os através do grafismo.

Pillar (1996) define o desenho como um sistema de representação, o qual envolve tanto a produção como a interpretação de imagens formadas por símbolos, utilizados para expressar ideias, sensações, fantasias e sentimentos. O potencial perceptivo possibilita que a criança retire informações de seu espaço físico, por meio de suas ações, refletindo sobre ele e reorganizando-o através de seu potencial representativo. De acordo com este autor, o desenho é um registro de tudo que é significativo para a criança, constituindo sua primeira linguagem gráfica na comunicação de experiências, pensamentos e alegrias.

O desenho é, portanto, a construção e a interpretação de um determinado objeto pela criança, que interage com ele, decompondo-o e recompondo-o para conhecê-lo. A percepção da criança em relação ao objeto depende dos esquemas mentais que ela detém. Ao desenhar representa as informações que assimilou de seu meio, integrando-as e organizando-as num todo coerente, estruturando seu pensamento. Essa estrutura se mantém em constante modificação, a fim de poder gerar novos tipos de representação.

3. A CRIANÇA E O DESENHO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

No início de seu desenvolvimento cognitivo, o desenho é para a criança uma atividade lúdica, que amplia suas capacidades imaginativas e representativas. Ao iniciar seus rabiscos ainda na fase da garatuja, a criança vai percebendo as possibilidades daqueles traços, e essa exploração de natureza inicialmente motora vão possibilitando a ampliação de sua representação das coisas.

Segundo Piaget (1998), a evolução da representação gráfica é paralela à evolução do pensamento da criança e é resultado das suas possibilidades de representação simbólica. Portanto, o desenho evolui conforme o pensamento evolutivo da criança. O traçado, o tipo de desenho, e a temática expressam como a criança pensa, como ela vê o mundo, seus sentimentos e sua organização interna. A oportunidade de desenhar é importante para estimular a expressão, a criatividade, o desenvolvimento intelectual e a conquista de outras linguagens, como por exemplo, a escrita que, por ser um sistema de representação, está claramente vinculada com o desenho, sendo este uma preparação para alfabetização, ou seja, o desenho permite à criança o exercício de um tipo de simbolização gráfica que possui uma relação direta com a realidade, e que constituirá a base que, mais tarde, possibilitará a ela a construção da escrita.

Piaget (1998) entende o desenho como uma forma de função semiótica que se inscreve entre o jogo simbólico e a imagem mental, visto que representa um esforço de imitação do real. De início, o desenho não possui um componente imitativo e aproxima-se de um jogo de exercício: são os rabiscos ou garatujas que a criança de até dois anos e meio faz, quando tem um lápis nas mãos.

Meredieu (2006) denomina essa fase inicial, que antecede ao grafismo, de fase da pré-história do desenho infantil ou fase do desenho informal. Nela a criança rabisca incitada pelo prazer do gesto motor e só posteriormente percebe que produziu um traço. No plano gráfico, a evolução começa com esses rabiscos (movimento oscilante e giratório), que posteriormente ganham precisão, acompanhando o progresso motor.

A partir do momento que uma criança tem a intenção de reproduzir graficamente um modelo evocado, o desenho torna-se uma imitação ou imagem, ainda que a expressão gráfica dela não se assemelhe com o objeto que está sendo desenhado. O desenho e a escrita são manifestações significativas que surgem naturalmente no decorrer do desenvolvimento infantil. Através de pequenos traçados, a criança representa a sua imaginação e determina textos, reproduzindo detalhadamente figuras que se assemelham ao que ela afirma estar representando.

Segundo Wechsler, (1996), compreende-se que o desenho é uma das grandes vias de comunicação dos infantes, pois ele aparece muito antes da criança saber ler ou escrever. Através do desenho, ela pode expressar sentimentos, desejos, medos e preocupações que, muitas vezes, em seu comportamento habitual, não é possível perceber. Muito tem sido estudado com relação a esse tipo de comunicação não verbal por parte dos infantes. Alguns autores afirmam que o desenho infantil pode ser uma das maneiras de expressão do mundo interno, refletindo a maneira como a criança percebe a si mesma e as pessoas significativamente.

Dentre as atividades educativas realizadas pelas crianças em sala de aula, encontra-se o desenho como uma das atividades mais constantes, prazerosas e significativas. Assim, muitas pesquisas têm sido realizadas acerca do ato de desenhar, como linguagem única e peculiar, presente na constante interação entre ensinar e aprender, dentro dos mais diferentes eixos epistemológicos e distintas abordagens.

4. A RELAÇÃO ESCOLA/PROFESSORES NO DESENHO DA CRIANÇA

O educador tem um papel importante no processo de construção do conceito artístico, pois enquanto adulto, não é apenas aquele que vai proporcionar um ambiente que favoreça a aprendizagem, mas também aquele que deve estabelecer um ambiente de relacionamento significativo, permeado por um trabalho no qual as propostas não aconteçam apenas para cumprir um currículo formalizado, mas para envolver os alunos com as ideias a serem exploradas, estimulando-os e incentivando-os.

Edwards, Gandini e Forman (1999) demonstram que as crianças percebem quando os adultos se interessam pelo que elas fazem e consideram seus trabalhos expressando juízos de valor sobre eles. Deve-se então valorizar a construção do conhecimento como foco principal da atividade, comunicando um sério e sincero interesse pelas ideias das crianças em suas tentativas de se expressarem.

O maior compromisso do educador é adequar o seu trabalho para permitir o desenvolvimento das expressões e percepções infantis. Com o aprimoramento dessas potencialidades estaremos ajudando na melhoria de sua expressão e participação cultural.

Dentre as propostas que norteiam o trabalho pedagógico, especialmente na educação infantil, o desenho é uma constante no repertório de atividades, já que toda criança desenha e ele é um importante meio de expressão para ela, onde revela seu dialogo com o mundo e suas emoções.

Para Cunha (2002) é na educação infantil que as crianças começam a procurar por formas e cores específicas para cada elemento formal, porém essa busca tende a se esgotar quando as crianças encontram formas mais semelhantes aos elementos observados. É nesse momento que a intervenção do professor se faz mais necessária no sentido de estimular novos olhares, fornecer oportunidades para a criança relacionar e comparar formas espaços e cores, pois se não houver desafios para que elas elaborem novas estruturas, elas se contentarão com aquelas já descobertas fixando-as como modelos que se tornarão estereotipadas.

Segundo Pereira (2004) a observação do cotidiano escolar tem mostrado uma realidade que faz refletir sobre a forma como o desenho vem sendo trabalhado na escola ao longo dos tempos, Percebe-se que o processo criador das crianças muitas vezes é desvalorizado em detrimento de um produto final, produzido a partir de modelos prontos, ou de propostas descontextualizadas, sem significado para as crianças e que não apresentam desafios que levem à exploração do ambiente a sua volta e ao estabelecimento de relações que orientarão seu avanço em termos de desenho.

Essa realidade, no entender de Pereira (2004) é resultado da existência ao longo dos tempos, de práticas inadequadas que consideravam o desenho como apêndices de outras atividades, tais como: passatempo, atividade decorativa (presentes para os pais, enfeitar ambiente e ilustrar datas comemorativas) ou ainda como reforço para aprendizagem de determinados conteúdos (colorindo imagens ou então fazendo exercícios de coordenação motora) e nunca como uma atividade criadora com uma finalidade em si mesma.

Conforme apontado nos Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Infantil, (Vol.3, 1998) o desenho é uma das linguagens visuais, cujo trabalho deve ter como suporte uma tríade: o Fazer Artístico (expressão e produção), a Apreciação (construção de sentido, gosto estético) e a Reflexão (pensar sobre os conteúdos, compartilhar ideias). Na escola ainda o “fazer” tem se destacado, porém um fazer empobrecido, que desconsidera a expressividade do aluno. O professor não vivencia arte e, portanto não estimula os alunos.

Trabalhar com desenho significa trabalhar com o fazer artístico mais consciente dos alunos, propondo que a criança amplie seu universo cultural, e se enxergue como alguém capaz de criar, de atribuir sentido utilizando-se da linguagem visual e simbólica. Apresentar ao educando modos e procedimentos capazes de caracterizar diversidade pode ser uma forma eficiente de combater os desenhos estereotipados, ou quem sabe possibilitar a busca de novos olhares para o gato, sua casa e assim por diante.

O desenho é um ótimo material para ser usado como meio de comunicação, veículo para a exposição de ideias, pensamentos, emoções, e até mesmo como registros de aprendizagens. Quando a escola se propõe a desenvolver trabalhos para que a criança amplie suas possibilidades expressivas, é importante apresentar ao educando modos e procedimentos capazes de caracterizar a diversidade para combater os desenhos estereotipados possibilitando novos olhares.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenho infantil é uma linguagem social por meio da qual a criança representa experiências vividas e imaginadas, buscando perceber a si e significar a sua realidade. Desenhar para elas é mais que aprender a habilidade em si mesma, ou apenas representar o que se vê, mas a forma com que se vê, e também os sentimentos que podem ser expressos. Isso é um ato de liberdade, que é preciso incentivar para que cresçam desenhando, e não percam o incentivo à criatividade. Desenhar para as crianças é sempre uma forma de registrar, de contar, de explicar, enfim, de comunicar graficamente coisas que poderiam ser comunicadas com palavras, com letras, com gestos ou com sons.

Diante do que foi exposto e refletido espera-se que os professores, diretores e coordenadores que atuam nas instituições de educação infantil estejam atentos ao desenho infantil e que este trabalho venha contribuir para que possam compreender os elementos intelectuais e elementos formais, que são evidenciados nos desenhos das crianças dentro de suas próprias linguagens, e possam a partir desse conhecimento instigar sua capacidade criadora.

Espera-se também que estas leituras forneçam base para facilitar o ensino-aprendizagem, contribuindo assim para que os envolvidos no processo ampliem sua capacidade perceptiva, cognitiva, assim como o seu fazer e pensar artístico e estético. Durante a pesquisa bibliográfica foi possível entender que os conteúdos e métodos de ensino devem estar vinculados a um projeto educativo na área, associado a experiência individual de cada aluno e com a sua própria realidade sociocultural.

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