A VERDADE E A POLÍTICA

Ainda que eu discorde de grande parte do pensamento de Nietzsche, eu concordo com esse filósofo alemão quando, no livro “O Anticristo”, ele diz: “Não querer ver o que se vê, não querer ver como se vê, isto é quase condição primordial para todos os que são de tal ou qual partido: o homem de partido é necessariamente mentiroso”.

Essa realidade reconhecida por Nietzsche, eu observo nos grupos políticos do Brasil. No dia em que um homem começa a defender incondicionalmente um partido, esse homem fecha os olhos para a verdade e perde até a vergonha. Os homens de partido não buscam a verdade, mas a prevalência do que o seu partido defende como sendo a verdade. A verdade, porém, não é exclusividade de um partido.

Imaginemos que eu pertença ao grupo político A. Enquanto estou nesse grupo, o grupo A me defende, e o grupo B afirma para todo mundo que eu não sou digno de confiança. Se, porém, eu mudo do grupo A para o grupo B, eu passo a ser condenado pelo grupo A, e defendido pelo grupo B. Isso já aconteceu e continua acontecendo com muitos políticos no Brasil. Faz parte da política que temos, infelizmente.

O homem de partido tenta justificar até a corrupção do seu partido. “Tirar o corpo fora” é uma falácia usada por integrantes e/ou simpatizantes do PT, para tentar justificar a corrupção (o roubo, a falta de vergonha desse partido). “Para não levar a culpa por algo, argumenta-se que as coisas sempre foram feitas daquela maneira ou o rival cometeu o mesmo deslize”, como é mostrado pela revista “LÍNGUA Portuguesa”, ano 9, número 107, setembro de 2014, na página 40. Mais claro: para “justificar” a corrupção de seu grupo político, as pessoas dizem que a corrupção sempre existiu. Eis uma falácia usada para “tirar o corpo fora”, como se o fato de outro partido ser corrupto justificasse a corrupção do partido que se defende. Os inocentes caem nessa falácia.

“Atacar a pergunta” é outra falácia usada por políticos. Um governo, diante de um pedido de CPI feito pela oposição, afirma “que se trata de manobra eleitoreira”. A oposição faz a mesma coisa. Neste caso, questiona-se a pergunta, em vez de responder ao que se pergunta. Na última campanha presidencial, os dois principais grupos políticos usaram uma falácia chamada “contra o homem”. Nesta falácia, “ataca-se diretamente a pessoa, ou a circunstância em que a pessoa se encontra, com a finalidade de rebater sua posição ou afirmação”, como mostra o livro “Para Filosofar” e outras obras de Filosofia.

O “populismo” foi e continua sendo outra falácia muito usada no Brasil. Esta falácia, como mostra o livro “Aprendendo Lógica” (2004), de Vicente Keller e Cleverson L. Bastos, “tenta atingir a massa. Busca conseguir a concordância da multidão para o que intenta, valendo-se de outras falácias como o elenco irrelevante, falsa causa, apelo à piedade, causa comum... principalmente jogando com a vaidade, sentimentos de patriotismo (ou bairrismo), autoestima, status”.

Eu, portanto, prefiro não ser defensor de partido, ainda que eu tenha a certeza de que, numa democracia, os partidos são necessários. No entanto, eu prefiro deixar que os partidos sejam representados e defendidos por aqueles que não buscam, em primeiro lugar, a verdade.

Eu só quero viver até o dia em que eu permanecer defendendo a verdade. Enquanto eu for um homem verdadeiro, eu serei capaz de enxergar o positivo e o negativo que existem em cada partido.

Cheguei a esta conclusão: os homens mais prejudiciais à sociedade não são os homens desprovidos de instrução, mas os homens que usam a sua instrução para manipular a mentalidade do povo. Muitos homens instruídos também se deixam manipular por interesses partidários. A paixão é tão grande, que esses homens se tornam incapazes de enxergar a realidade circundante. Podem ser comparados com alguém movido pelo ódio ou raiva: incapaz de usar o bom senso.

Domingos Ivan Barbosa
Enviado por Domingos Ivan Barbosa em 31/10/2014
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