Em devesa da emoção e da vida
 
   Dídimo Paiva, estribado em seus talentos de pensador e jornalista, doou-nos, através da Opinião de domingo, 17/07/96, um denso texto "em defesa da razão e da vida". Persuadido de que o auto-de-fé na ciência, feitichismo iluminista, legou ao homem conforto e tecnologia, mas encarcerou-o na escuridão ética. Dídimo, em seu artigo, convida a que todos nós repensemos o mundo. Diz ele: "As novas tecnologia resolvem alguns problemas, mas não fazem o essencial – dar uma resposta para o coração de cada ser humano".
   Solução: De minha parte, creio que tal resposta não será encontrada no campo do espírito racional. Não se pode extrair da razão aquilo que ela não tem. Ou seja, respostas para o coração, busquemo-las no coração. Contudo, para se fazer esse exercício , torna-se visceralmente necessário romper com parte de nossa cultura, aquela que se alicerça no idealismo e no pensamento clássico, o qual ex-agora na valorização do espírito (razão). Adverte-nos o prof. Gerson de Brito Mello Boson em sua "Filosofia do Direito" (Ed. Del Rey) que "devemos ter uma ideia mais modesta acerca do espírito e da vontade humana no curso dos acontecimentos históricos. O espírito (razão) e a vontade do homem não podem significar nada além de direção e condução".
   Corroborando com a tese, assim se expressa Daniel Golemanm (em lnteligência emocional, Ed Objetiva): "há crescentes indícios de que posições éticas fundamentais na vida vêm de aptidões emocionais subjacentes. Por exemplo, o impulso é o veículo da emoção, a semente de todo impulso é um sentimento explodindo para se expressar em ação. E, continua – "o fato de que o cérebro pensante se desenvolveu a partir das emoções muito revela sobre a relação entre pensamento e sentimento; havia um cérebro emocional muito antes de um racional". O que quero dizer é que temos nos dedicado muito pouco à pesquisa científica em torno do papel dos sentimentos na vida mental. Sei, também, que a tarefa não é fácil, é hercúlea! Diz Goleman, com a precisão de uma balança de farmacêutico, "que levar a cognição  (conhecimento) ao campo do sentimento tem o efeito meio parecido com o impacto do observador no nível do quantum na física, que altera o que observa". Entretanto, se não o fizermos, certo é que nesse vazio haverá um campo extremamente fecundo para as "crendices", para os livros de auto-ajuda, cartomantes, bruxos e anjos. Consequência – creio eu – não da pobreza de nosso espírito racional, mas, sobretudo, da miséria de nosso espírito emocinal. Assim, aquele que, como Dídimo Paiva, sai em defesa da razão deve – penso eu – fazêlo defendendo um melhor estudo de nossas emoções, área inexplorada de nosso ser há séculos. Como diz dr. Damásio (em "O Erro de Descartes); "Nosso cérebro emocional está tão envolvido no reaciocínio quanto o cérebro pensante". Em meu travesso "O Velho Testemunho Segundo a Poesia", Ed. Del Rey), escrevo: "Se encontrares o amor, bebe-o com teus lábios sem receios. Ignore o ritmo da razão, Sua função é instrumental. Preste-se, como o arado é útil ao lavrador, para sulcar o terreno dos sonhos posto diante dos olhos pela audácia amorosa. A razão não cria sonhos, ao contrário, apaga-os, se lhe permitirmos supremacia. Afirmo-te que a "vida somente está  filosoficamente correta quando o amor cria os sonhos e a razão os resolve para que Deus espalhe as sementes" Quem tiver olhos, escute!

                                    Luis Carlos Gambogi
Advogado, prfessor de Filosofia do Direito na FUMEC