COMO DEVE COLABORAR A FILOSOFIA PARA HUMANIZAR A CIVILIZAÇÃO DE HOJE, EVIDENCIANDO O VALOR DA PESSOA HUMANA E CONTRIBUINDO PARA A PAZ INTERIOR E FELICIDADE DO HOMEM?
I n t r o d u ç ã o
Pesquisa realizada com pessoas de ocupações e níveis sócio-culturais diferentes, temo como indagação central a Filosofia – sua importância, finalidade ou contribuição à vida de cada um.
Tivemos como preocupação inicial a formulação de um quesito que justificasse o propósito da pesquisa e, concomitante, servisse também como questão-tema, figurando como elemento comum e repetitivo a todas as pessoas interrogadas, cuja inestimável colaboração tornou possível a realização desse trabalho.
Deve-se ressaltar ainda que a nossa intenção, cumprindo exigência disciplinar, se fundamenta unicamente no desejo de levar à sala de aula, através da diversidade de opiniões colhidas, material para estudo e reflexão, sem qualquer rigor estatístico ou metodológico, cuja execução submeteu-se apenas à nossa sensibilidade – formulando as questões ou selecionando as pessoas, mas, acerca de um assunto intimamente ligado à humanidade e do qual o homem, ao que nos parece, está virtualmente distanciado.
Entretanto, sabemos que, historiadores, moralistas, biólogos, metafísicos, todos os que pedem à vida, o segredo de suas horigens e de seus fins, procuram, mais cedo ou mais tarde pesquisar porque nós nos identificamos com as obras que manifestam a vida.
Vai-se ao armazém do passado, não apenas para reexaminar questões erroneamente vividas ou não como vencidas, mas também para se nutrir e fazer delas com um instrumento de que se quer levar avante agora.
P E S QU I SA
1 - Questão-Tema: – Como deve colaborar a filosofia para humanizar a civilização de hoje, evidencicando o valor da pessoa humana e contribuindo para a paz interior e felicidade do homem?
Prostituta – Sabe, eu não sei bem o que filosofia, e nem sei também explicar porque filosofia ou a palavra filosofia está associada para mim à alguma coisa boa. Você me entende? "Nessa vida", a gente encontra "homens de todos os jeitos". Acontece, raramente, mas acontece, "pintar" algum diferente, que deixa algo mais do que simplesmente dinheiro.
Motorista profissional – A minha filosofia de vida está baseada no respeito, "respeito por mim mesmo e respeito aos outros".
Bancária – "Na minha opinião, todos têm uma filosofia de vida. A colaboração depende de cada um. No meu caso, ou no meu modo de pensar, devo colaborar para a humanização do homem, sendo completamnte autêntica e mostrando a todos as grandes vantagens da autenticidade".
Poeta – "Não se restringindo à pura teoria para uma elite distante. Assumindo sua função política como tudo o que o homem faz. Abrindo-se para o campo da psicologia onde se fundiriam, principalmente agora que a psicologia, como estudo do homem, e a filosofia estão marginalizadas por representarem a importância do homem".
Economista – "Estaria a "civilização" de hoje disposta a aceitar a colaboração da filosofia, "evidenciando o valor da pessoa humana e contribuindo para a paz interior e felicidade do homem?". Observa-se que, hoje, segundo valores (seja no sistema capitalista, seja no coletivista) que colocam a produção acima de tudo, o filósofo é visto com certo desdém porque é um sonhador, desligado da realidade, é, em suma, um indivíduo improdutivo e como tal tem que ser sustentado pelos demais".
Psicólogo – "A filosofia pode colaborar desde que o homem saia da filosofice e parta para as aplicações dos verdadeiros princípios filosóficos".
Escritor – "A Filosofia compreende o estudo das questões superiores, das verdades comuns a todas as ciências. As verdades primeiras, as leis e normas que estão na origem do entendimento humano. Para ela colaborar na nossa humanização, para que colabore para humanizar nossa civilização é quase que o bastante que seja difundido o seu estudo ao máximo. Quanto maior conhecimento tiver a pessoa das leis constantes e imutáveis que regem a natureza, mais ela aceitará e compreenderá o mundo como ele é. Mais segurança e tranquilidade terá em suas atitudes e em seu relacionamento com o próximo. E a civilização se humanizará cada vez mais".
Sacerdote – "Varios conflitos estão presentes no quadro de nossa civilização. O conflito humanismo-tecnologia é dos mais graves. Outro, a instrumentalização da razão, a serviço da eficácia no sistema capitalista e não comprometida com a verdde. Ainda outro, a degeneração de nossa universidade, sobretudo, no que aqui interessa, das faculdades de filosofia, transformadas em cursos de especialização em vez de serem centros de reflexão e de busca da verdade. Finalmente, um certo obsoletismo da própria disciplina filosófica, enquanto não se liberta de seu passado glorioso, para viver a nova realidade do presente e nela servir à civilização.
a – Como denuncia Max Horkcheimer, nossa sociedade instrumentalizou a razão, tornando-a simples faculdade de coordenação entre os meios e os fins, tendo em vista os interesses dos indivíduos e dos grupos.Tendência à coisificação é como ele a define. Ora, a razão tem de ser restaurada em sua verdadeira essência – poder de conhecimento universal, capacidade de reflexão sobre a realidade global do homem e do universo, inerrogando sobre os fins substanciais (ele fala em metafísica dos fins), sobre os grandes problemas que sempre desafiaram o espírito humano e o levaram, através da argúcia de seus gênios, a construir o mundo em que vivemos e que nós tão loucamente agora deformamos. Assim, a luta do homem para dominar a natureza e colocá-la a seu serviço, o progresso científico/tecnológico, estará marcado por objetivos axiológicos e éticos, dentro de uma visão metafísica, global, tendo por centro o homem.
Evidentemente, por esse eclipise da razão não se exime de culpa nossas universidades, que não conseguiu superar certos vícios. Desenvolta no campo do conhecimento aplicado e da tecnologia, pouco faz em termo de reflexão filosófica e do conhecimento desisteressado. Consequências: este vazio de pensadores que nos cerca.
Cursos, cursinhos, etc, ocupam todo o tempo dos curriculos de nossas faculdades de filosofia (que pouco têm de filosofia), banindo os cursos essenciais, as cadeiras de pensamento puro, que levam à reflexão. Transformam-se nossas escolas superiores em feiras de aulas, visando formar profissionais especializados, através de cursos que devem preencher tais números de horas/aulas. Em tal ambiente, o estudo sério, a reflexão filosófica, uma metafísica de fins, é praticamente impossível.
E deve haver uma conspiração contra as universidades. A pobreza das escolas, a baixa remuneração do corpo docente, etc. tudo faz supor. Afinal de contas, exigem-se escolas técnicas, para impulsionar o desenvolvimento tecnológico, não?
Tornar presente a filosofia, valorizá-la no quadro cultural, instrumentalizá-la, é, pois a primeira emergência.
b – Principalmente, a filosofia deve tratar de problemas hodiernos com o espírito de homem hodierno. A tentativa de debruçar sobre problemas passados ou sobre problemas hodiernos com o espírito do passado é o que faz da filosofia um grande mal".
Filósofo – "Em primeiro lugar, na medida em que a filosofia retome o seu sentido fundamental de fenomenoligia e ontologia da experiência humana total, na descoberta do sentido da existência humana no mundo em relação com os outros compreendendo, transformando e significando a natureza como mediação dialógica da comunicação das conciências no tempo.
Em segundo lugar, na medida em que a Filosofia reconheça a sua missão fundamental de busca desinteressada da verdade, à luz do critério da evidência objetiva, procurando se distinguir com vigor das perspectivas ideológica que tem como critério aferidor não a verdade da realidade mas a utilidade.
Em terceiro lugar, na medida em que a Filosofia se revele não apenas como saber técnico mas como sabedoria da vida, como reflexão sobre o sentido da presença, da palavra e do trabalho do homem no mundo na criação de seu mundo e na autocriação de seu ser livremente feliz".
2 - Questões-Específicas:
Nesta segunda parte da pesquisa, procurou-se obter de cada um, em relação à propria área de atuação individual, ou de inserção humana no contexto social, sua posição ou entendimento face a um questionamento específico, procurando não trair com isso o objetivo essencial da pesquisa, no seu todo, o de surpreender o homem pensando a realidade, e, consequentemente, poclamando essa realidade, seja através de um "saber-desligado-da-coisa", seja através de um "saber-ligado-à-coisa".
Prostituta:
1 – Quais foram os momentos mais felizes de sua vida? E os mais infelizes?
Eu nunca tive momentos felizes, eu nunca fui verdadeiramente feliz, quando muito alguns instantes agradaveis. Quanto aos mais infelizes, posso resumí-los em gravidez, expulsão de casa, o início da prostituição.
2 - Você tem amigos?
– Amigos...? Amigos verdadeiros, não! Digo mais, nem aqui ou fora daqui. Talvez, se eu os tivesse tido, eu não estaria aqui agora.
3 – O que você ainda não fez e que gostaria de fazer?
– Sumir, não sei pra onde.
4 – Se você tivesse o poder de mudar as coisas, o que você mudaria?
– Eu mudaria este "mundo sujo e nojento".
5 - O AMOR existe?
– Às vêzes "penso" que sim, outras vezes "sinto" que não.
Motorista Profissional:
1– A estrada a sua frente, quase sempre longa e lenta, causa-lhe alguma impressão especial?
– A estrada é uma sucessão de imprevistos e emoções. O que mais me impressiona é a natureza, a generosidadse dela.
2 – Carregar o caminhão, descarregar o caminhão; partir ou chegar é apena um ritual à cumprir, sempre igual, ou há diferenças à destacar?
– Sabe moço, eu sou motorista a 30 anos. Gosto da minha profissão. Com ela criei a minha família. Tenho sete filhos, um deles consegui formar (hoje, ele é médico). Os outros trabalham e estudam. Tenho duas filhas casadas e seis netos. Conheço este Brasil todo: "de ponta a ponta". Antigamente era mais difícil - as estradas, quando existiam, eram ruins e poucas eram asfaltadas. Hoje, as coisas mudaram. Temos boas estradas e melhores caminhões. A estrada nunca é a mesma, ainda que a gente conheça até as pedras do caminho, traz ela sempre novidades e emoções, e, nós também, motoristas de caminhão, levamos novidades e transportamos o progresso.
3 - Como motorista, o senhor já viveru algum acontecimento em que o desprendimento, o altruismo, a bondade o tivesse comovido profundamente?
– Certa vez, eu fui acidentado. Fraturei as pernas e por pouco me "escapei". Fui socorrido por alguém que passava pelo local, "bem na hora". Permaneci inconsciente, em estado grave, durante muitas horas, e, ao meu lado, zelosamente, a "criatura de Deus" que me socorreu e me transportou para um hospital, próximo do acidente. Hoje, somos grandes amigos e, ele é padrinho de um dos meus netos.
4 – O que o desagrada em uma viagem?
– A imprudência e a falta de respeito.
5 – O que mais o agrada em uma viagem?
– É o retorno, a volta à minha família,aos meus netos e filhos.
Bancária:
1 – O que é mais importante para você: amar ou ser amada?
– "Amor, foi feito para duas pessoas sentirem. Amar sem ser amada, ou ser amada sem amar, não tem sentido. O mais importante é Amar e ser amada".
2 - Você ama os lugares em razão das pessoas ou estas por motivo daqueles?
– "Eu amo os lugares e as pessoas. Em quase todos os casos, a gente ama os lugares em função do que lá aconteceu e assim sendo, a pessoa vale como tema principal".
3 – Cite algum livro que você tenha lido e que lhe causou forte impressão. Justifique.
– "O "Exorcista". Justifico a forte impressão, apena pelas fortes passagens do mesmo".
4 – Você acha que o analfabeto de amanhã será o homem que não pode ler, mas será o homem que não chegou aprender a aprender?
– "O analfabeto de amanhã não mudará muito, na minha opinião. Ele sempre será aquele que não consegue se predispor a saber, tendo consciência de que isso é uma facilidade natural de todo ser humano".
5 - Vencer na vida ou se feliz. O que lhe parece mais importante?
– "Ser feliz depende ainda de vencer na vida, desde que o pensamento se volte para a filosofia de que ninguém vence na vida sem ser feliz".
POETA:
1 – Só contam para o homem três acontecimentos: nascer, viver, morrer, ele, porém, não se sente nascer, sofre por ter de morrer e esquece de viver". – O que acha você?
– "Ele não esqueceu somente de viver, mas também que é um ser vivo. Para proteger-se desse fenômeno, ele criou a enorme defessa: a falsa segurança de nossa cultura de sentir-se superior à natureza".
2 - O otimista é, para você, um imbecil feliz e o pessimista um desgraçado infeliz?
– "Não, acredito que, tanto o otimista quanto o pessimista estão em posições radicais, estão passando por uma fase ou estão presos a ela".
3 - O mundo é mal e nesta vida o mal predomina sobre o bem?
– "O mundo não é mal nem bem: o mundo, a vida "é", onde tudo desenrola-se em experiências".
4 - Viver é distanciar-se?
– "Distanciar-se é uma ação de vida. Viver é estar".
5 - Qual é o seu conceito de Amor?
– "Amor é aqui/agora na medida do possível".
Economista:
– "Todas as nações modernas mantém uma maquinária complicada para medir a produção econômica. Sabemos, virtualmente, dia a dida, as direções de alteração com respeito à produtividade, aos preços, aos investimentos e aos fatores similares. Por contraste, não temos tais medidas, nenhuma coleção de "indicadores" comparáveis para nos informar se a sociedade, como realidade distinta da economia, acha-se também em bom estado de saúde. Não dispomos de medidas para saber da "qualidade da vida". Não temos indices sistemáticos para nos dizer se os homens se acham mais ou menos alienados uns dos outros; se a educação está em nível mais eficiente; se a arte, a música e a literatura estão florescendo; se a cortesia, a generosidade ou bondade estão aumentanto. "O Produto Nacional Bruto é o nosso Santo Graal", escreve Stewart Udal, antigo secretário do Interior dos Estados Unidos". – O que pensa o senhor a respeito?
– "A moderna Análise Econômica, assim entendida como o conjunto de teorias que nos permite analisar os fatos econômicos é um dos reflexos do progresso material que a humanidade atingiu. Assim entendida, ela é neutra porque muito necessária (para efeito de conhecimento, acompanhamento, planejamento, análise, etc) dentro dos sistemas Econômico-Sociais vigentes. É inegável que o PNB tem crescido, que a produtividade tem aumentado e que o mundo como um todo está em franco desenvolvimento. Em contrapartida, o PIB não esteja talvez crescendo (entenda-se como PIB - Produto Interno Bruto - como sendo o PNB somado à Renda Líquida do Exterior e esta pode ser negativa) na maioria dos países periféricos, já que uns por serem desenvolvidos têm mais condições de se desenvolverem, cada vez a taxas maiores, em detrimeno dos demais que, ou não crescem ou crescem a taxas irrisórias porque trabalham em benefício alheio.
A Teoria Econômica permite constatar e analisar estes e outros fatos sem entrar no mérito da questão: alguns países estão cada vez mais ricos e outros estão cada vez mais pobres. Cada economista, no caso, como ser humano que é, tem soluções próprias a apresentar.
Materialmente, portanto admitindo com válidos os valores vigentes, a "qualidade de vida" nas nações desenvolvidas é, obviamente, superior em comparação com a das nações subdesenvolvidas e isso, em termos econômicos pode ser facilmente medido através de indicadores tais como a renda "per capita". Nas nações pobres (regiões, famílias e pessoas, por analogia) já que a maioria das pessoas sobrevive ao invés de viver, geralmente os valores humanos estão deteriorados; nas nações ricas, ou desenvolvidas, onde as condições de vida, em média são as melhores possíveis também não prevalecem o humanismo.
Conclui-se que a sociedade moderna (qualquer que seja o sistema econômico) entronisa os valores materiasi, deflagando uma disputa desenfreada entre as pessos pelo direito de sobreviver (ou viver melhor, nos países mais desenvolvidos), medindo a "qualidade da vida" através de níveis de consumo. A palavra de ordem é consumir, não importa o que, mesmo artigos supérfluos, porque quanto mais se consumir maior "riqueza" será gerada, maior será o número de empregos (e pessoas só se transformam em consumidores se tiverem renda e a fonte de renda mais comum é o trabalho), maior será a produção, maior o consumo, etc.
Dados os sistemas econômicos-sociais vigentes, cujos valores são eminentemente materiais e dada a subjetividade do conceito de "qualidade de vida" duvida-se perfeitamente que o progresso traga consigo uma melhoria da vida em termos filosóficos".
2 – "Grande parte da humanidade vive em meio à catástrofe e à fome, enquanto um grupo procura satisfazer-se psicologicamente, na busca de prazeres novos e refinados". – O senhor referenda esta proposição?
– "Sim. Dentro dos valores atuais, o que interessa é a capacidade de consumo de cada um, sem que haja preocupação com os outros, desde que os outros se mantenham convenientemente distantes para não causarem incomôdos maiores. As pessoas procuram prazeres novoso e refinados, a maior parte das vezes, por indução e não por necessidade. Desta maneira, sob forte submissão ao "efeito demonstração" muitas pessoas, mesmo que queiram se solidarizar com o próximo, não têm condições e nem oportunidades, aumentando-se por conseguinte a insensibilidade quanto ao que ocorrr com outrem. Um exemplo conhecido dessa insensibilidade é a família moderna que tende a ser estruturada em termos cada vez mais atomizados, ignorando os vínculos de parantesco a partir do segundo grau".
3 – Muito se tem falado do futo, do "choque do futuro". – Isto o preocupa?
–"A longo prazo todos estaremos mortos". O Choque do Futuro deve preocupar a cada um de nós desde que já não consideremos o presente chocante".
PSICÓLOGO:
1 - Afirma-se que o que faz de uma pessoa um especialista numa espécie de crise não é, necessariamente, a educação formal, mas a própria experiência de haver passado por uma mesma crise.
– Qual é o seu modo de ver?
–Discordo desta afirmativa. É diante de uma crise que se mostra a base da personalidade, a qual não é o resultado de uma educação formal, mas de um conjunto de fatores: hereditariedade, experências, inflência familiar e do meio, educação formal. Entende-se por personalidade base uma configuração psicológica particular, que se manifesta por um certo esilo de vida, modo de reagir diante dos acontecimentos ou seja, de comportar-se".
2 - O jovens hoje em dia, muitos deles, tomam o sexo, certo ou erradamente, como um atalho à compreensão humana profunda. Por que?
I n t r o d u ç ã o
Pesquisa realizada com pessoas de ocupações e níveis sócio-culturais diferentes, temo como indagação central a Filosofia – sua importância, finalidade ou contribuição à vida de cada um.
Tivemos como preocupação inicial a formulação de um quesito que justificasse o propósito da pesquisa e, concomitante, servisse também como questão-tema, figurando como elemento comum e repetitivo a todas as pessoas interrogadas, cuja inestimável colaboração tornou possível a realização desse trabalho.
Deve-se ressaltar ainda que a nossa intenção, cumprindo exigência disciplinar, se fundamenta unicamente no desejo de levar à sala de aula, através da diversidade de opiniões colhidas, material para estudo e reflexão, sem qualquer rigor estatístico ou metodológico, cuja execução submeteu-se apenas à nossa sensibilidade – formulando as questões ou selecionando as pessoas, mas, acerca de um assunto intimamente ligado à humanidade e do qual o homem, ao que nos parece, está virtualmente distanciado.
Entretanto, sabemos que, historiadores, moralistas, biólogos, metafísicos, todos os que pedem à vida, o segredo de suas horigens e de seus fins, procuram, mais cedo ou mais tarde pesquisar porque nós nos identificamos com as obras que manifestam a vida.
Vai-se ao armazém do passado, não apenas para reexaminar questões erroneamente vividas ou não como vencidas, mas também para se nutrir e fazer delas com um instrumento de que se quer levar avante agora.
P E S QU I SA
1 - Questão-Tema: – Como deve colaborar a filosofia para humanizar a civilização de hoje, evidencicando o valor da pessoa humana e contribuindo para a paz interior e felicidade do homem?
Prostituta – Sabe, eu não sei bem o que filosofia, e nem sei também explicar porque filosofia ou a palavra filosofia está associada para mim à alguma coisa boa. Você me entende? "Nessa vida", a gente encontra "homens de todos os jeitos". Acontece, raramente, mas acontece, "pintar" algum diferente, que deixa algo mais do que simplesmente dinheiro.
Motorista profissional – A minha filosofia de vida está baseada no respeito, "respeito por mim mesmo e respeito aos outros".
Bancária – "Na minha opinião, todos têm uma filosofia de vida. A colaboração depende de cada um. No meu caso, ou no meu modo de pensar, devo colaborar para a humanização do homem, sendo completamnte autêntica e mostrando a todos as grandes vantagens da autenticidade".
Poeta – "Não se restringindo à pura teoria para uma elite distante. Assumindo sua função política como tudo o que o homem faz. Abrindo-se para o campo da psicologia onde se fundiriam, principalmente agora que a psicologia, como estudo do homem, e a filosofia estão marginalizadas por representarem a importância do homem".
Economista – "Estaria a "civilização" de hoje disposta a aceitar a colaboração da filosofia, "evidenciando o valor da pessoa humana e contribuindo para a paz interior e felicidade do homem?". Observa-se que, hoje, segundo valores (seja no sistema capitalista, seja no coletivista) que colocam a produção acima de tudo, o filósofo é visto com certo desdém porque é um sonhador, desligado da realidade, é, em suma, um indivíduo improdutivo e como tal tem que ser sustentado pelos demais".
Psicólogo – "A filosofia pode colaborar desde que o homem saia da filosofice e parta para as aplicações dos verdadeiros princípios filosóficos".
Escritor – "A Filosofia compreende o estudo das questões superiores, das verdades comuns a todas as ciências. As verdades primeiras, as leis e normas que estão na origem do entendimento humano. Para ela colaborar na nossa humanização, para que colabore para humanizar nossa civilização é quase que o bastante que seja difundido o seu estudo ao máximo. Quanto maior conhecimento tiver a pessoa das leis constantes e imutáveis que regem a natureza, mais ela aceitará e compreenderá o mundo como ele é. Mais segurança e tranquilidade terá em suas atitudes e em seu relacionamento com o próximo. E a civilização se humanizará cada vez mais".
Sacerdote – "Varios conflitos estão presentes no quadro de nossa civilização. O conflito humanismo-tecnologia é dos mais graves. Outro, a instrumentalização da razão, a serviço da eficácia no sistema capitalista e não comprometida com a verdde. Ainda outro, a degeneração de nossa universidade, sobretudo, no que aqui interessa, das faculdades de filosofia, transformadas em cursos de especialização em vez de serem centros de reflexão e de busca da verdade. Finalmente, um certo obsoletismo da própria disciplina filosófica, enquanto não se liberta de seu passado glorioso, para viver a nova realidade do presente e nela servir à civilização.
a – Como denuncia Max Horkcheimer, nossa sociedade instrumentalizou a razão, tornando-a simples faculdade de coordenação entre os meios e os fins, tendo em vista os interesses dos indivíduos e dos grupos.Tendência à coisificação é como ele a define. Ora, a razão tem de ser restaurada em sua verdadeira essência – poder de conhecimento universal, capacidade de reflexão sobre a realidade global do homem e do universo, inerrogando sobre os fins substanciais (ele fala em metafísica dos fins), sobre os grandes problemas que sempre desafiaram o espírito humano e o levaram, através da argúcia de seus gênios, a construir o mundo em que vivemos e que nós tão loucamente agora deformamos. Assim, a luta do homem para dominar a natureza e colocá-la a seu serviço, o progresso científico/tecnológico, estará marcado por objetivos axiológicos e éticos, dentro de uma visão metafísica, global, tendo por centro o homem.
Evidentemente, por esse eclipise da razão não se exime de culpa nossas universidades, que não conseguiu superar certos vícios. Desenvolta no campo do conhecimento aplicado e da tecnologia, pouco faz em termo de reflexão filosófica e do conhecimento desisteressado. Consequências: este vazio de pensadores que nos cerca.
Cursos, cursinhos, etc, ocupam todo o tempo dos curriculos de nossas faculdades de filosofia (que pouco têm de filosofia), banindo os cursos essenciais, as cadeiras de pensamento puro, que levam à reflexão. Transformam-se nossas escolas superiores em feiras de aulas, visando formar profissionais especializados, através de cursos que devem preencher tais números de horas/aulas. Em tal ambiente, o estudo sério, a reflexão filosófica, uma metafísica de fins, é praticamente impossível.
E deve haver uma conspiração contra as universidades. A pobreza das escolas, a baixa remuneração do corpo docente, etc. tudo faz supor. Afinal de contas, exigem-se escolas técnicas, para impulsionar o desenvolvimento tecnológico, não?
Tornar presente a filosofia, valorizá-la no quadro cultural, instrumentalizá-la, é, pois a primeira emergência.
b – Principalmente, a filosofia deve tratar de problemas hodiernos com o espírito de homem hodierno. A tentativa de debruçar sobre problemas passados ou sobre problemas hodiernos com o espírito do passado é o que faz da filosofia um grande mal".
Filósofo – "Em primeiro lugar, na medida em que a filosofia retome o seu sentido fundamental de fenomenoligia e ontologia da experiência humana total, na descoberta do sentido da existência humana no mundo em relação com os outros compreendendo, transformando e significando a natureza como mediação dialógica da comunicação das conciências no tempo.
Em segundo lugar, na medida em que a Filosofia reconheça a sua missão fundamental de busca desinteressada da verdade, à luz do critério da evidência objetiva, procurando se distinguir com vigor das perspectivas ideológica que tem como critério aferidor não a verdade da realidade mas a utilidade.
Em terceiro lugar, na medida em que a Filosofia se revele não apenas como saber técnico mas como sabedoria da vida, como reflexão sobre o sentido da presença, da palavra e do trabalho do homem no mundo na criação de seu mundo e na autocriação de seu ser livremente feliz".
2 - Questões-Específicas:
Nesta segunda parte da pesquisa, procurou-se obter de cada um, em relação à propria área de atuação individual, ou de inserção humana no contexto social, sua posição ou entendimento face a um questionamento específico, procurando não trair com isso o objetivo essencial da pesquisa, no seu todo, o de surpreender o homem pensando a realidade, e, consequentemente, poclamando essa realidade, seja através de um "saber-desligado-da-coisa", seja através de um "saber-ligado-à-coisa".
Prostituta:
1 – Quais foram os momentos mais felizes de sua vida? E os mais infelizes?
Eu nunca tive momentos felizes, eu nunca fui verdadeiramente feliz, quando muito alguns instantes agradaveis. Quanto aos mais infelizes, posso resumí-los em gravidez, expulsão de casa, o início da prostituição.
2 - Você tem amigos?
– Amigos...? Amigos verdadeiros, não! Digo mais, nem aqui ou fora daqui. Talvez, se eu os tivesse tido, eu não estaria aqui agora.
3 – O que você ainda não fez e que gostaria de fazer?
– Sumir, não sei pra onde.
4 – Se você tivesse o poder de mudar as coisas, o que você mudaria?
– Eu mudaria este "mundo sujo e nojento".
5 - O AMOR existe?
– Às vêzes "penso" que sim, outras vezes "sinto" que não.
Motorista Profissional:
1– A estrada a sua frente, quase sempre longa e lenta, causa-lhe alguma impressão especial?
– A estrada é uma sucessão de imprevistos e emoções. O que mais me impressiona é a natureza, a generosidadse dela.
2 – Carregar o caminhão, descarregar o caminhão; partir ou chegar é apena um ritual à cumprir, sempre igual, ou há diferenças à destacar?
– Sabe moço, eu sou motorista a 30 anos. Gosto da minha profissão. Com ela criei a minha família. Tenho sete filhos, um deles consegui formar (hoje, ele é médico). Os outros trabalham e estudam. Tenho duas filhas casadas e seis netos. Conheço este Brasil todo: "de ponta a ponta". Antigamente era mais difícil - as estradas, quando existiam, eram ruins e poucas eram asfaltadas. Hoje, as coisas mudaram. Temos boas estradas e melhores caminhões. A estrada nunca é a mesma, ainda que a gente conheça até as pedras do caminho, traz ela sempre novidades e emoções, e, nós também, motoristas de caminhão, levamos novidades e transportamos o progresso.
3 - Como motorista, o senhor já viveru algum acontecimento em que o desprendimento, o altruismo, a bondade o tivesse comovido profundamente?
– Certa vez, eu fui acidentado. Fraturei as pernas e por pouco me "escapei". Fui socorrido por alguém que passava pelo local, "bem na hora". Permaneci inconsciente, em estado grave, durante muitas horas, e, ao meu lado, zelosamente, a "criatura de Deus" que me socorreu e me transportou para um hospital, próximo do acidente. Hoje, somos grandes amigos e, ele é padrinho de um dos meus netos.
4 – O que o desagrada em uma viagem?
– A imprudência e a falta de respeito.
5 – O que mais o agrada em uma viagem?
– É o retorno, a volta à minha família,aos meus netos e filhos.
Bancária:
1 – O que é mais importante para você: amar ou ser amada?
– "Amor, foi feito para duas pessoas sentirem. Amar sem ser amada, ou ser amada sem amar, não tem sentido. O mais importante é Amar e ser amada".
2 - Você ama os lugares em razão das pessoas ou estas por motivo daqueles?
– "Eu amo os lugares e as pessoas. Em quase todos os casos, a gente ama os lugares em função do que lá aconteceu e assim sendo, a pessoa vale como tema principal".
3 – Cite algum livro que você tenha lido e que lhe causou forte impressão. Justifique.
– "O "Exorcista". Justifico a forte impressão, apena pelas fortes passagens do mesmo".
4 – Você acha que o analfabeto de amanhã será o homem que não pode ler, mas será o homem que não chegou aprender a aprender?
– "O analfabeto de amanhã não mudará muito, na minha opinião. Ele sempre será aquele que não consegue se predispor a saber, tendo consciência de que isso é uma facilidade natural de todo ser humano".
5 - Vencer na vida ou se feliz. O que lhe parece mais importante?
– "Ser feliz depende ainda de vencer na vida, desde que o pensamento se volte para a filosofia de que ninguém vence na vida sem ser feliz".
POETA:
1 – Só contam para o homem três acontecimentos: nascer, viver, morrer, ele, porém, não se sente nascer, sofre por ter de morrer e esquece de viver". – O que acha você?
– "Ele não esqueceu somente de viver, mas também que é um ser vivo. Para proteger-se desse fenômeno, ele criou a enorme defessa: a falsa segurança de nossa cultura de sentir-se superior à natureza".
2 - O otimista é, para você, um imbecil feliz e o pessimista um desgraçado infeliz?
– "Não, acredito que, tanto o otimista quanto o pessimista estão em posições radicais, estão passando por uma fase ou estão presos a ela".
3 - O mundo é mal e nesta vida o mal predomina sobre o bem?
– "O mundo não é mal nem bem: o mundo, a vida "é", onde tudo desenrola-se em experiências".
4 - Viver é distanciar-se?
– "Distanciar-se é uma ação de vida. Viver é estar".
5 - Qual é o seu conceito de Amor?
– "Amor é aqui/agora na medida do possível".
Economista:
– "Todas as nações modernas mantém uma maquinária complicada para medir a produção econômica. Sabemos, virtualmente, dia a dida, as direções de alteração com respeito à produtividade, aos preços, aos investimentos e aos fatores similares. Por contraste, não temos tais medidas, nenhuma coleção de "indicadores" comparáveis para nos informar se a sociedade, como realidade distinta da economia, acha-se também em bom estado de saúde. Não dispomos de medidas para saber da "qualidade da vida". Não temos indices sistemáticos para nos dizer se os homens se acham mais ou menos alienados uns dos outros; se a educação está em nível mais eficiente; se a arte, a música e a literatura estão florescendo; se a cortesia, a generosidade ou bondade estão aumentanto. "O Produto Nacional Bruto é o nosso Santo Graal", escreve Stewart Udal, antigo secretário do Interior dos Estados Unidos". – O que pensa o senhor a respeito?
– "A moderna Análise Econômica, assim entendida como o conjunto de teorias que nos permite analisar os fatos econômicos é um dos reflexos do progresso material que a humanidade atingiu. Assim entendida, ela é neutra porque muito necessária (para efeito de conhecimento, acompanhamento, planejamento, análise, etc) dentro dos sistemas Econômico-Sociais vigentes. É inegável que o PNB tem crescido, que a produtividade tem aumentado e que o mundo como um todo está em franco desenvolvimento. Em contrapartida, o PIB não esteja talvez crescendo (entenda-se como PIB - Produto Interno Bruto - como sendo o PNB somado à Renda Líquida do Exterior e esta pode ser negativa) na maioria dos países periféricos, já que uns por serem desenvolvidos têm mais condições de se desenvolverem, cada vez a taxas maiores, em detrimeno dos demais que, ou não crescem ou crescem a taxas irrisórias porque trabalham em benefício alheio.
A Teoria Econômica permite constatar e analisar estes e outros fatos sem entrar no mérito da questão: alguns países estão cada vez mais ricos e outros estão cada vez mais pobres. Cada economista, no caso, como ser humano que é, tem soluções próprias a apresentar.
Materialmente, portanto admitindo com válidos os valores vigentes, a "qualidade de vida" nas nações desenvolvidas é, obviamente, superior em comparação com a das nações subdesenvolvidas e isso, em termos econômicos pode ser facilmente medido através de indicadores tais como a renda "per capita". Nas nações pobres (regiões, famílias e pessoas, por analogia) já que a maioria das pessoas sobrevive ao invés de viver, geralmente os valores humanos estão deteriorados; nas nações ricas, ou desenvolvidas, onde as condições de vida, em média são as melhores possíveis também não prevalecem o humanismo.
Conclui-se que a sociedade moderna (qualquer que seja o sistema econômico) entronisa os valores materiasi, deflagando uma disputa desenfreada entre as pessos pelo direito de sobreviver (ou viver melhor, nos países mais desenvolvidos), medindo a "qualidade da vida" através de níveis de consumo. A palavra de ordem é consumir, não importa o que, mesmo artigos supérfluos, porque quanto mais se consumir maior "riqueza" será gerada, maior será o número de empregos (e pessoas só se transformam em consumidores se tiverem renda e a fonte de renda mais comum é o trabalho), maior será a produção, maior o consumo, etc.
Dados os sistemas econômicos-sociais vigentes, cujos valores são eminentemente materiais e dada a subjetividade do conceito de "qualidade de vida" duvida-se perfeitamente que o progresso traga consigo uma melhoria da vida em termos filosóficos".
2 – "Grande parte da humanidade vive em meio à catástrofe e à fome, enquanto um grupo procura satisfazer-se psicologicamente, na busca de prazeres novos e refinados". – O senhor referenda esta proposição?
– "Sim. Dentro dos valores atuais, o que interessa é a capacidade de consumo de cada um, sem que haja preocupação com os outros, desde que os outros se mantenham convenientemente distantes para não causarem incomôdos maiores. As pessoas procuram prazeres novoso e refinados, a maior parte das vezes, por indução e não por necessidade. Desta maneira, sob forte submissão ao "efeito demonstração" muitas pessoas, mesmo que queiram se solidarizar com o próximo, não têm condições e nem oportunidades, aumentando-se por conseguinte a insensibilidade quanto ao que ocorrr com outrem. Um exemplo conhecido dessa insensibilidade é a família moderna que tende a ser estruturada em termos cada vez mais atomizados, ignorando os vínculos de parantesco a partir do segundo grau".
3 – Muito se tem falado do futo, do "choque do futuro". – Isto o preocupa?
–"A longo prazo todos estaremos mortos". O Choque do Futuro deve preocupar a cada um de nós desde que já não consideremos o presente chocante".
PSICÓLOGO:
1 - Afirma-se que o que faz de uma pessoa um especialista numa espécie de crise não é, necessariamente, a educação formal, mas a própria experiência de haver passado por uma mesma crise.
– Qual é o seu modo de ver?
–Discordo desta afirmativa. É diante de uma crise que se mostra a base da personalidade, a qual não é o resultado de uma educação formal, mas de um conjunto de fatores: hereditariedade, experências, inflência familiar e do meio, educação formal. Entende-se por personalidade base uma configuração psicológica particular, que se manifesta por um certo esilo de vida, modo de reagir diante dos acontecimentos ou seja, de comportar-se".
2 - O jovens hoje em dia, muitos deles, tomam o sexo, certo ou erradamente, como um atalho à compreensão humana profunda. Por que?
– "Talvez pela importância que se dá ao sexo em nossoa época, agravado pela dificuldade de diálogo. Seria, por assim dizer, um tipo de comunicação que se tornou mais usual devido às facilidades que se oferecem no campo sexual".
3 – Procura-se hoje dar muita enfase à técnica como critério de prazer, mas, o que se tem verificado é que ternura e amor ocorrem na proporção inversa ao número de livros "técnicos" publicados. Em caso afirmativo, justificar sua posição.
– "A psicologia tem contribuido para demonstrar que a falta de prazer é, em sua quase totalidade, resultado de uma educação errônea que leva à não aceitação de sexo, ou seja, um bloqueio psicológico. As técnicas resultantes das pesquisas neste sentido podem contribuir para ajudar, desde que não percam de vista o respeito à pessoa humana".
4 - Segundo Rollo May, psicólogo americano, atribui-se ao sexo mais importância do que em qualquer sociedade desde a Roma antiga. – Esta é também a sua opinião?
– "Concordo plenamente que o sexo tomou em nossos tempos uma importância demasiada, resultado talvez de uma filosofia hedonista, que considera o prazer como valor supremo".
5 - Uma das definições próprias de sanidade é a capacidade de distinguir o real do irreal. – Será que precisamos de uma outra definição?
– "Acho a definição um pouco vaga. É bastante difiícil definir o que seja uma boa saúde mental. Ninguém está absolutamente livre de angústia, conflitos interiores ou de confundir, vez por outra, os limites entre o real e o irreal. A diferença entre aquele que tem boa saúde mental e o que não tem, é mais uma questão de grau do que de qualidade. O normal seria aquele capaz de enfrentar com confiança os problemas que a vida oferece, sem por em perigo o estrutura do ego".
Médico:
1 – Na opinião dos maiores cientistas mundiais o relógio avança rumo a uma "Hiroshima biológica". – Tal consenso o envolve?
–"Fazemos parte de uma sociedade e sofrems os efeitos novivos que sobre ela recaia".
2 – "O Dr. E.S.E. Hafez, biólogo internacionalmente respeitado junto à Universidade Estadual de Washington, sugeriu publicamente, à base de seus próprios trabalhos estarrecedores no campo da reprodução, que dentro de menos de dez a quinze anos a mulher terá a possibilidade de comprar um minúsculo embrião congelado, levá-lo ao médico, tê-lo implantado no seu útero, carregá-lo por nove meses e, em seguida, dá-lo à luz como se o tivesse concebido no seu próprio corpo. O embrião, seria, na verdade, vendido com a garantia de que o bebê que daí resultasse estaria livre de quaisquer efeitos genéticos. A compradora receberia instruções prévias e informações quanto à cor do olhos do futuro bebê e dos seus cabelos, quanto ao sexo, seu tamanho provável no momento da maturidade e seu provável Q.I. – Como conciliar os efeitos desta revolução biológica com as questões éticas, morais e políticas?
– Acreditamos que não haverá dificuldades em conciliar a teoria do Dr. Hafez com as questões propostas, pois, é inegável que caminhamos para o "Admirável Mundo Novo", infelizmente. Perguntamos: o embrião do Dr. Hafez traz alguns rótulos, entretanto, não se falou nas condições de equilíbrio psíquico do futuro indivíduo".
3 - Uma das definições próprias de sanidade é a capacidade de distinguir o real do irreal. – Será que precisamos de uma outra definição?
– "Não. Precisamos sim de generalizar a noção do que é real e irreal".
4 – Grande parte da atividade social dos indivíduos hoje em dia, pode ser descrita como "comportamento de procura"?
– "Atravessamos uma época na qual se procura alguma coisa, só, é que não sabemos o que é. "Se não se sabe onde se vai como se espera chegar lá".
Escritor:
1 – O que é a arte para o senhor? Um meio de reconciliar o homem e a natureza?
– "A arte é uma transmissão de emoções. Cada um procura transmitir suas gamas de emoções através de seu campo de expressão. Quanto mais verdades humanas for transmitida pela arte, mais emoção ela transmitirá. A emoção nos torna mais puros, menos intoxicados e mais libertos das solicitações que nos atingem a cada momento. A arte reconcilia o homem com ele mesmo, com o que de humano e espiritual existe nele. Torna-o menos fera, menos máquina e o reconcilia desse modo com toda a natureza".
2 – O que o senhor acha dos meios modernos de comunicação? o rádio, a televizão, internet?
– "São bons. Maiores recursos para a captação de informações para a mente. O modo como são usados estes meios é que, às vezes, é condenável".
3 - Nelson Rodrigues, disse que "a grande figura de nossa épca é o idiota". – O que pensa o senhor a respeito?
– "Para quem se sente mergulhado dentro da babel em que vivemos, sem recursos ou possibilidades de escapar ao seu cerco, só mantem a integridade mental, refugiando-se em uma atitude de alheiamenteo. Colocando-se o problema neste termo, aquele que se refugia na "idiotice", mantem-se incólume. Mantem-se em condições de sobrevivência mental, e será portanto, um não massificado, um não deglutido".
4 – "O escritor, homem livre que se dirige a homens livres, só pode ter um tema – a liberdade". – Assim se expressou Sartre, qual é a sua opinião?
– "..."
5 – Como é que o senhor chegou à literatura?
– "No início pensei que fosse exclusivamente com o intuito de ganhar mais dinheiro. Agora já não tenho muita certeza se a razão principal foi esta. Parece que a origem mesmo de me ter dedicado à literatura, reside numa compensação pela dificuldade interna que tenho de me comunicar. A literatura representa, então, uma espécie de compensação mental".
Sacerdote:
1 – Kant disse: "Eu tive que destruir o saber para erigir a fé".
– É necessário?
–"Depende do sentido do sentido a se dar ao verbo "destruir". Kant não se tornou nenhum analfabeto, para "erigir a fé". O que se quer dizer, me parece, é silenciar o saber, renunciar às provas de moldes científicos, saltar o abismo de onde cessa a lógica.
É interessante notar que em certas épocas se repetiu o gesto de Kant. Para salvar valores mais altos, tentou-se atirar carga ao mar. E a sacrificada foi sempre a ciência (na sua mais completa expressão). Assim foi na decadência da escolástica com a Imitação de Cristo. Assim se repete em nossos dias com o apoio ao irracional, ao místico. Parece que nossa geração se saturou de racionalidade. A técnica, a ciência, a razão e a própria verdade são acusadas dos descalabros da história atual. A razão entrou em crise, proclama-se a falência do discurso racional. Heidegger apresenta a anti-razão, ressuscitam os místicos, apela-se para a irracionalidade.
Como as outras, esta crise passará. Fé e razão devem coexistir, pois estão a serviço do homem. Para isto, é necessário a redescoberta da razão, restaurar a dignidade da racionalidade, restituindo-lhe o lugar usurpado pela racionalização".
2 – O que vem a ser o "livre arbítrio"?
– "Problema complexo de filosofia medieval, moderna e contemporânea, o "livre arbítrio" é a afirmação da liberdade humana. Para os medievais, o problema era conciliar o "livre arbítrio" e a escolha do mal com a presciência divina. Hoje, o problema é conciliar liberdade com os diversos tipos de determinismos".
3 – Qual é a sua imagem de Deus, e qual é a sua imagem do Homem?
– "O problema da imagem de Deus é profundamente inquietante. Em grande parte, os desvios e aberrações foram a resultante de uma má apresentação de Deus. O próprio ateísmo contemporâneo é ainda uma recusa a um conceito pobre da divindade. Em segundo lugar, a razão sozinha jamais terá condição de compor uma imagem mais aproximada da divindade. O Deus dos filósofos, além de terrivelmente polimorfo, é genericamente insatisfatório, dada a dimensão desproporcional do objeto com a razão – o incomensurável, o impessável e infinito. Deus, entretanto, se deu a conhecer. Creio, pois, que para compormos a imagem de Deus, temos de apelar, ao lado dos dados metafísicos, para a história da revelação.
Entendido como eminentemente sábio e eminentemente bom, será, num esforço para delinear os grandes traços da imagem de Deus, o Deus da compreensão, do amor, da tolerância, e não o Deus do recalque e da vingança. Será o Deus que dirige, com providência sábia e amorosa os caminhos dos homens, segundo o ensinamento de Jesus, corrigindo a afirmação insatisfatória e alienant do filósofo de que "Dus sublunária non curat". O homem, criado livre e inteligente, é chamado por Deus a completar a criação e realizar seu destino histórioco (como conciliar a presciência e onipotência de Deus com a liberdade e historicismo do homem? Questão dois).
O homem, megalomaníaco, jactante de sua grandeza e realeza, lentamente vai compreendendo sua profunda indigência: indigência de inteligência absoluta, de justiça absoluta, de liberdade absoluta; ainda aqui a história da revelação – a perspectiva cristã, vem completar a visão filosófica. A par da sede metafísica de Deus (Fizeste-vos para vós, Senhor, e nosso espírito está inquieto, enquanto não repousa em vós – exclamou o filósofo e santo Agostinho) há ainda a presença do fermento evangélico operando no homem e apressando sua descoberta de Deus (o reino dos céus é como o fermento... até que fique levedada toda a massa – ensinamento de Jesus). O homem, portanto, é conquista. Cada qual deve conquistar-se, para se tornar autenticamente homem. A vida é combate.
Ocorro-me algo interessante que li, não sei onde. Uma associação entre a imagem de Deus e a educação nas crianças. Afirmava o autor que a concepção de Deus se avalia pela quantidade de palmadas nas nádegas das crianças. Cita como exemplo a concepção calvinista e os processos educativos de refinada severidade adotados por certos povos protestantes.
O problema de Deus está intimamente ligado ao problema do homem. Disto nós católicos tivemos farta experiência neste 2000 anos de rica história de nossa instituição religiosa – passando pela inquisição, naturalmente".
4 - São Paulo afirmou: "Tu não serás julgado pela lei escrita dos homens, mas pela lei inscrita do teu coração". Comente.
– "A célebre sentença de São Paulo pode levar, e tevado alguns ao relativismo moral. É preciso, no entanto, evocar o conceito de lei natural, de acordo com o qual cada um tem inscrito no seu próprio ser o que é bom e o que é mal. A natureza é a norma básica de conduta. Modernamente, contudo, pela negação do conceito de natureza humana, principalmente pelo existencialismo, o conceito de lei natural sofreu um abalo.
A "non scripta sed nata lex" aprofundada na Grécia pelos estóicos, em Roma por Cícero e Marco Aurélio, percebida pelos sofistas e Sócrates e antes pela filosofia chinesa tem neste texto de São Paulo uma afirmação lapiadar. É que "o Deus que se revela e nos chama à salvação é também o Deus criador e quer ser reconhecido como tal. A lei natural... é a expressão de sua Palavra, implícita, é verdade, mas não menos real". (René Coste, "Morale pour um Monde en Mutacion", pág. 32).
5 – Para o puritano de onem pecado era ceder aos desejos sexuais; o puritano de hoje crê que pecado é não atingir expressão sexual completa. – O que mudou?
– "O puratanismo é realmente irrecuperável ! Mudou a perspectiva face ao corpo. O "corpo de morte" passou a ser "corpo de vida". Por muito tempo refreado e castigado pelo espírito, hoje o corpo se revela e, diga-se de passagem, não sem justos motivos. O problema é encontrar o meio termo, onde se situa a virtude.
Afinal, creio que a visão tradicional do corpo estava fortemente condicionada por circunstâncias históricas. A luta contra o humanismo pagão e os excessos orgíacos deste, a insegurança por três séculos de perseguição, as escatologias exaltadas então comuns, a par de um conhecimento científico deficiente sobre o corpo humano criam um quadro que justifica tal colocação a partir dos primeiros tempos do cristianismo. Se a isto acrescentarmos o platonismo, então muito popular e influências do maniqueísmo, compreendemos vemos como o ocident chegou à elaboração de uma tão puritana e repressiva moral sexual.
Ainda aqui o home é conquista".
FILÓSOFO:
1 – Qual é a missão do ensino e do estudo da filosofia em relação à vida cultural brasileira hodierna, ou quais são os problemas vitais brasileiros, da atualidade, que aguardam uma contribuição da reflexão filosófica?
– 1.1. – Missão do ensino da Filosofia em relação à vida cultural brasileira:
– 1.1.1. – Criar condições para que o brasileiro pense logicamente com ordem me unidade, análise e síntese, a construção e redução.
– 1.1.2. – Criar condições para que o brasileiro pense epistologicamente a cultura como saber na esfera específica do objeto, método e estrutura das múltiplas e diversas ciências humanas.
– 1.1.3. – Criar condições para que o brasileiro pense ontologicamente a cultura como criação especificamente humana do ser histórico do homem, como universo de significações, sentidos e valores pelos quais o homem compreende, transforma e significa o mundo, como mediação dialógica da comunicação das consciências, no tempo.
– 1.1.4. – Criar condições para que o brasileiro pense eticamente o significado radical do existir livre da pessoa na visão científico-tecnológica do mundo hodierno.
1.2. – Quais sãos os problemas vitais brasileiros, da atualidade, que aguardam uma contribuição da reflexão filosófica?
1.2.1. – Na dimensão cultural: a compreensão, transformação e significação consciente, livre e responsável das estruturas da realidade brasileira.
1.2.2. – Na dimensão social: a formação humana e técnica dos quadros profissionais.
1.2.3. – Na dimensão política: a integração das massas no Estado pela participação da cultura, comunicação nacional e distribuição racional da riqueza.
1.2.4. – Na dimensão econômica: o planejamento econômico fruto de rigor lógico de pesquisa e de imaginação criadora a partir das reais possibilidades dos recursos humanso e materiais.
1.2.5. – Na dimensão jurídica: o modelo normativo nacional que corresponde às exigências psico-sociais do homem brasileiro, à força viva de sua tradição histórica e à sua inserção vigorosa no ritmo da visão científico-tecnológica do mundo atual.
1.2.6.– Na dimensão ética: a consciência da significação da liberdade responsável na convivêncica interpessoal à luz não apenas do bem estar mas do bem comum que inclui e transcende a simples prosperidade material, no plano da justiça social, da unidade nacional e da participação ativa e criadora na solução dos problemas nacionais.
2 - Que métodos deve seguir hoje o ensino e o estudo da filosfia, no plano universitário? E no primeiro e segundo graus?
2.1. – Que métodos deve seguir hoje o ensino e o estudo da filosofia, no plano universitário?
2.1.1. O metódo dilogal: A partir da assimilação objetiva, reflexão crítica e recriação pessoal dos tema, problema, soluções e objeções às soluções históricas aos problemas básicos do pensamento filosófico. Importa ensinar o aluno de filsofia a estudar ativa e dinâmicamente a repensar pessoalmente com objetividade e clareza o pensamento dos outros. Importa criar condições para que o aluno exerça em aula o ato de pensar e de se expressar com clareza e objetividade. Importa criar condições para que o aluno de filosofia perceba realmente – vitalmente o sentido para si do problema filosófico em estudo.
2.1.2. – O método fenomenológico: tanto o professor quanto o aluno devem em aula analizar descritivamene os elementos de um fenômeno, exercer o ato fenomenológico concentrando a sua atenção sobre a intencionalidade específica sobre o seu ato de pensar, de querer, de desejar, de amar, de sentir de criar buscando sempre a evidência objetiva, o sentido real das realidades.
2.1.3. – O metódo dialético: descobrir as oposições dos elementos de um fenômeno ou das posições entre pensamentos e tentar integrar em uma síntese articulada tais elementos e posições na medida em que são evidenciados como aparentes oposições possíveis de reconciliação na unidade e não juxtapô-los em uma aparente síntese ou justaposição eclética.
2.2. – E no primeiro e segundo graus?
2.2.1. – Criar condições para que o aluno perceba o valor do ato de pensar filosoficamente através da reflexão crítica.
2.2.2. – Criar condições para que o aluno descubra problemas realmente filosóficos (universalidade objetiva e necessidade real) no seu processo de aprendizagem de ciências, artes, linguagem, convivência, cultura.
2.2.3. – Na análise de trabalhos revelar a coerência interna do pensamento objetivado do aluno bem como a significação humana do pensamento objetivado em textos.
2.2.4. – Pelo método dialogal e maieutico, criar condições para que o aluno perceba o valor do ato de pensar desinteressadamente na busca da verdade e não apenas de conhecer filosofias.
3 – Quais são as principais correntes filosóficas que hoje atigem as grandes massas populares e a juventude em larga escala?
3.1. – A rigor somente uma pesquisa sociológica poderia revelar o objeto da pergunta. Entretanto, penso que na sociedade de consumo pela comunicação de massas, predomina ainda o Pragmatismo sob diversas formas.
3.2. – A juventude universitária em larga escala tem sido atingida mais por perspectivas ideológicas de que por correntes filosóficas, uma vez que o estudo da Filosofia como tal não tem sido operado na medida do desejável.
3.3. – Entretanto, percebo o interesse da juventude de forma implicita e até mesmo explicita pela Filosofia Oriental (indu), pelas correntes neo-marxistas, neo-positivistas bem como pela Filosofia da Linguagem e pela Filosofia Existencial.
4 – Quais são os dados do progresso, das ciências experimentais e matemáticas imprescindíveis à reflexão filosófica?
4.1. – Entendo que a reflexão filosófica não depende única e necessariamente dos dados do progresso, das ciências experimentais e matemáticas. A Filosofia das Ciências bem como a Filosofia da Natureza devem manter uma íntima correlação com os dados das ciências. A ciência revela uma estrutura hipotético-construtiva ao passo que a Filosofia possui uma estrutura reflexivo-crítica como fenomenologia e ontologia da experiência humana total. Sendo assim a reflexão filosófica inclui como objeto a experiência hisórico cultural do progresso bem como a experência científica experimental e matemática. Mas a reflexão filosófica não se reduz â mera reflexão crítica sobre os dados do progresso e das ciências experimentais e matemáticas.
4.2. – Como dados atuais fornecidos à reflexão filosófica pelo progresso e pelas ciências experimentais e matemáticas reconhecemos a Cibernética, os dados parapsicológicos, a Teoria da Relatividade de Einstein sob o aspecto físico e sob o aspecto matemático.
4.3 – Como tema fundamental para a reflexão filosófica atual entendo que todo o processo histórico-cultural científico contemporâneo de natureza técnico operacional coloca para a reflexão filosófica o problema fundamental ético da significação radical do existir livre do homem na busca de sua realização e felicidade histórica. Vale dizer, a ciência e a técnica pelo domínio da natureza coloca para o homem o problema do sentido radical da compreensão e transformação intencional do mundo ou seja o problema do sentido da história.
5 - Poderia existir (e em que sentido) uma filosofia nacional brasileira?
5. 1. – A vocação da Filosofia é universalizante, por natureza. Mas, a universalização da reflexão filosófica não exclui mas assume o sentido efetivo da presença, da palavra e do trabalho do homem no mundo em relação com os outros no contexto histórico-social-cultural. Porisso enendo que é possivel através de uma reflexão filosófica de caráter inicial fenomenológico por em evidência com o auxílio de outras pesquisas das ciências humanas o modo de pensar, sentir e agir do homem brasileiro, o universo básico de seus valores, significações e sentidos.
5.2. – A Cordialidade, o espírito de reconciliação e o pacificismo que parecem ser características do homem brasileiro podem ser compreendidos filosoficamente tendo em vista a dimensão humana da reciprocidade das consciências, de uma Filosofia da Pessoa e do Amor.
5.3. – Se a realidade brasileira revela a situação dinâmica de uma comunidade em processo de desenvolvimento econômico-social, importa analisar filosoficamente qual o sentido radical deste processo para a realização histórica do homem brasileiro em um contexto de independência e dependência da nação brasileira de outras nações
Creio que os problemas fundamentais do homem brasileiro são problemas básicos do homem da visão científico-tecnológica do mundo contemporâneo. Importa descobrir e analisar a forma destes problema para a consciência nacional bem como a significação das respostas já dadas a estes problemas como abrir-se a um processo inventivo criador de pesquisa de pesquisa sobre a nova civilização humana que está em via de acessso de se revelar como forma nova do homem de se descobrir no tempo.
A Reflexão Filosófica pode prestar ao empenho nacional de construção de uma nova realidade cultural brasileira o seu modo de ser reflexivo crítico na análise e dialético sintético na unificação de sentido dos esquemas de compreensão e transformação intencional do mundo brasileiro aberto ao mundo humano.
Finalizando, gostaríamos de acrescentar ainda, que o homem não tem outra razão para viver sem ser recriando seu poder de amar, na construção das formas que se renovam incessantemente sem aguardá-lo; pois quando o homem consegue retratar a vida da flor, ela já feneceu; o entardecer de seu quadro já é agora noite fechada; a angústia de mãos crispadas no estertor da morte, já é placidez ao lado do Senhor.
3 – Procura-se hoje dar muita enfase à técnica como critério de prazer, mas, o que se tem verificado é que ternura e amor ocorrem na proporção inversa ao número de livros "técnicos" publicados. Em caso afirmativo, justificar sua posição.
– "A psicologia tem contribuido para demonstrar que a falta de prazer é, em sua quase totalidade, resultado de uma educação errônea que leva à não aceitação de sexo, ou seja, um bloqueio psicológico. As técnicas resultantes das pesquisas neste sentido podem contribuir para ajudar, desde que não percam de vista o respeito à pessoa humana".
4 - Segundo Rollo May, psicólogo americano, atribui-se ao sexo mais importância do que em qualquer sociedade desde a Roma antiga. – Esta é também a sua opinião?
– "Concordo plenamente que o sexo tomou em nossos tempos uma importância demasiada, resultado talvez de uma filosofia hedonista, que considera o prazer como valor supremo".
5 - Uma das definições próprias de sanidade é a capacidade de distinguir o real do irreal. – Será que precisamos de uma outra definição?
– "Acho a definição um pouco vaga. É bastante difiícil definir o que seja uma boa saúde mental. Ninguém está absolutamente livre de angústia, conflitos interiores ou de confundir, vez por outra, os limites entre o real e o irreal. A diferença entre aquele que tem boa saúde mental e o que não tem, é mais uma questão de grau do que de qualidade. O normal seria aquele capaz de enfrentar com confiança os problemas que a vida oferece, sem por em perigo o estrutura do ego".
Médico:
1 – Na opinião dos maiores cientistas mundiais o relógio avança rumo a uma "Hiroshima biológica". – Tal consenso o envolve?
–"Fazemos parte de uma sociedade e sofrems os efeitos novivos que sobre ela recaia".
2 – "O Dr. E.S.E. Hafez, biólogo internacionalmente respeitado junto à Universidade Estadual de Washington, sugeriu publicamente, à base de seus próprios trabalhos estarrecedores no campo da reprodução, que dentro de menos de dez a quinze anos a mulher terá a possibilidade de comprar um minúsculo embrião congelado, levá-lo ao médico, tê-lo implantado no seu útero, carregá-lo por nove meses e, em seguida, dá-lo à luz como se o tivesse concebido no seu próprio corpo. O embrião, seria, na verdade, vendido com a garantia de que o bebê que daí resultasse estaria livre de quaisquer efeitos genéticos. A compradora receberia instruções prévias e informações quanto à cor do olhos do futuro bebê e dos seus cabelos, quanto ao sexo, seu tamanho provável no momento da maturidade e seu provável Q.I. – Como conciliar os efeitos desta revolução biológica com as questões éticas, morais e políticas?
– Acreditamos que não haverá dificuldades em conciliar a teoria do Dr. Hafez com as questões propostas, pois, é inegável que caminhamos para o "Admirável Mundo Novo", infelizmente. Perguntamos: o embrião do Dr. Hafez traz alguns rótulos, entretanto, não se falou nas condições de equilíbrio psíquico do futuro indivíduo".
3 - Uma das definições próprias de sanidade é a capacidade de distinguir o real do irreal. – Será que precisamos de uma outra definição?
– "Não. Precisamos sim de generalizar a noção do que é real e irreal".
4 – Grande parte da atividade social dos indivíduos hoje em dia, pode ser descrita como "comportamento de procura"?
– "Atravessamos uma época na qual se procura alguma coisa, só, é que não sabemos o que é. "Se não se sabe onde se vai como se espera chegar lá".
Escritor:
1 – O que é a arte para o senhor? Um meio de reconciliar o homem e a natureza?
– "A arte é uma transmissão de emoções. Cada um procura transmitir suas gamas de emoções através de seu campo de expressão. Quanto mais verdades humanas for transmitida pela arte, mais emoção ela transmitirá. A emoção nos torna mais puros, menos intoxicados e mais libertos das solicitações que nos atingem a cada momento. A arte reconcilia o homem com ele mesmo, com o que de humano e espiritual existe nele. Torna-o menos fera, menos máquina e o reconcilia desse modo com toda a natureza".
2 – O que o senhor acha dos meios modernos de comunicação? o rádio, a televizão, internet?
– "São bons. Maiores recursos para a captação de informações para a mente. O modo como são usados estes meios é que, às vezes, é condenável".
3 - Nelson Rodrigues, disse que "a grande figura de nossa épca é o idiota". – O que pensa o senhor a respeito?
– "Para quem se sente mergulhado dentro da babel em que vivemos, sem recursos ou possibilidades de escapar ao seu cerco, só mantem a integridade mental, refugiando-se em uma atitude de alheiamenteo. Colocando-se o problema neste termo, aquele que se refugia na "idiotice", mantem-se incólume. Mantem-se em condições de sobrevivência mental, e será portanto, um não massificado, um não deglutido".
4 – "O escritor, homem livre que se dirige a homens livres, só pode ter um tema – a liberdade". – Assim se expressou Sartre, qual é a sua opinião?
– "..."
5 – Como é que o senhor chegou à literatura?
– "No início pensei que fosse exclusivamente com o intuito de ganhar mais dinheiro. Agora já não tenho muita certeza se a razão principal foi esta. Parece que a origem mesmo de me ter dedicado à literatura, reside numa compensação pela dificuldade interna que tenho de me comunicar. A literatura representa, então, uma espécie de compensação mental".
Sacerdote:
1 – Kant disse: "Eu tive que destruir o saber para erigir a fé".
– É necessário?
–"Depende do sentido do sentido a se dar ao verbo "destruir". Kant não se tornou nenhum analfabeto, para "erigir a fé". O que se quer dizer, me parece, é silenciar o saber, renunciar às provas de moldes científicos, saltar o abismo de onde cessa a lógica.
É interessante notar que em certas épocas se repetiu o gesto de Kant. Para salvar valores mais altos, tentou-se atirar carga ao mar. E a sacrificada foi sempre a ciência (na sua mais completa expressão). Assim foi na decadência da escolástica com a Imitação de Cristo. Assim se repete em nossos dias com o apoio ao irracional, ao místico. Parece que nossa geração se saturou de racionalidade. A técnica, a ciência, a razão e a própria verdade são acusadas dos descalabros da história atual. A razão entrou em crise, proclama-se a falência do discurso racional. Heidegger apresenta a anti-razão, ressuscitam os místicos, apela-se para a irracionalidade.
Como as outras, esta crise passará. Fé e razão devem coexistir, pois estão a serviço do homem. Para isto, é necessário a redescoberta da razão, restaurar a dignidade da racionalidade, restituindo-lhe o lugar usurpado pela racionalização".
2 – O que vem a ser o "livre arbítrio"?
– "Problema complexo de filosofia medieval, moderna e contemporânea, o "livre arbítrio" é a afirmação da liberdade humana. Para os medievais, o problema era conciliar o "livre arbítrio" e a escolha do mal com a presciência divina. Hoje, o problema é conciliar liberdade com os diversos tipos de determinismos".
3 – Qual é a sua imagem de Deus, e qual é a sua imagem do Homem?
– "O problema da imagem de Deus é profundamente inquietante. Em grande parte, os desvios e aberrações foram a resultante de uma má apresentação de Deus. O próprio ateísmo contemporâneo é ainda uma recusa a um conceito pobre da divindade. Em segundo lugar, a razão sozinha jamais terá condição de compor uma imagem mais aproximada da divindade. O Deus dos filósofos, além de terrivelmente polimorfo, é genericamente insatisfatório, dada a dimensão desproporcional do objeto com a razão – o incomensurável, o impessável e infinito. Deus, entretanto, se deu a conhecer. Creio, pois, que para compormos a imagem de Deus, temos de apelar, ao lado dos dados metafísicos, para a história da revelação.
Entendido como eminentemente sábio e eminentemente bom, será, num esforço para delinear os grandes traços da imagem de Deus, o Deus da compreensão, do amor, da tolerância, e não o Deus do recalque e da vingança. Será o Deus que dirige, com providência sábia e amorosa os caminhos dos homens, segundo o ensinamento de Jesus, corrigindo a afirmação insatisfatória e alienant do filósofo de que "Dus sublunária non curat". O homem, criado livre e inteligente, é chamado por Deus a completar a criação e realizar seu destino histórioco (como conciliar a presciência e onipotência de Deus com a liberdade e historicismo do homem? Questão dois).
O homem, megalomaníaco, jactante de sua grandeza e realeza, lentamente vai compreendendo sua profunda indigência: indigência de inteligência absoluta, de justiça absoluta, de liberdade absoluta; ainda aqui a história da revelação – a perspectiva cristã, vem completar a visão filosófica. A par da sede metafísica de Deus (Fizeste-vos para vós, Senhor, e nosso espírito está inquieto, enquanto não repousa em vós – exclamou o filósofo e santo Agostinho) há ainda a presença do fermento evangélico operando no homem e apressando sua descoberta de Deus (o reino dos céus é como o fermento... até que fique levedada toda a massa – ensinamento de Jesus). O homem, portanto, é conquista. Cada qual deve conquistar-se, para se tornar autenticamente homem. A vida é combate.
Ocorro-me algo interessante que li, não sei onde. Uma associação entre a imagem de Deus e a educação nas crianças. Afirmava o autor que a concepção de Deus se avalia pela quantidade de palmadas nas nádegas das crianças. Cita como exemplo a concepção calvinista e os processos educativos de refinada severidade adotados por certos povos protestantes.
O problema de Deus está intimamente ligado ao problema do homem. Disto nós católicos tivemos farta experiência neste 2000 anos de rica história de nossa instituição religiosa – passando pela inquisição, naturalmente".
4 - São Paulo afirmou: "Tu não serás julgado pela lei escrita dos homens, mas pela lei inscrita do teu coração". Comente.
– "A célebre sentença de São Paulo pode levar, e tevado alguns ao relativismo moral. É preciso, no entanto, evocar o conceito de lei natural, de acordo com o qual cada um tem inscrito no seu próprio ser o que é bom e o que é mal. A natureza é a norma básica de conduta. Modernamente, contudo, pela negação do conceito de natureza humana, principalmente pelo existencialismo, o conceito de lei natural sofreu um abalo.
A "non scripta sed nata lex" aprofundada na Grécia pelos estóicos, em Roma por Cícero e Marco Aurélio, percebida pelos sofistas e Sócrates e antes pela filosofia chinesa tem neste texto de São Paulo uma afirmação lapiadar. É que "o Deus que se revela e nos chama à salvação é também o Deus criador e quer ser reconhecido como tal. A lei natural... é a expressão de sua Palavra, implícita, é verdade, mas não menos real". (René Coste, "Morale pour um Monde en Mutacion", pág. 32).
5 – Para o puritano de onem pecado era ceder aos desejos sexuais; o puritano de hoje crê que pecado é não atingir expressão sexual completa. – O que mudou?
– "O puratanismo é realmente irrecuperável ! Mudou a perspectiva face ao corpo. O "corpo de morte" passou a ser "corpo de vida". Por muito tempo refreado e castigado pelo espírito, hoje o corpo se revela e, diga-se de passagem, não sem justos motivos. O problema é encontrar o meio termo, onde se situa a virtude.
Afinal, creio que a visão tradicional do corpo estava fortemente condicionada por circunstâncias históricas. A luta contra o humanismo pagão e os excessos orgíacos deste, a insegurança por três séculos de perseguição, as escatologias exaltadas então comuns, a par de um conhecimento científico deficiente sobre o corpo humano criam um quadro que justifica tal colocação a partir dos primeiros tempos do cristianismo. Se a isto acrescentarmos o platonismo, então muito popular e influências do maniqueísmo, compreendemos vemos como o ocident chegou à elaboração de uma tão puritana e repressiva moral sexual.
Ainda aqui o home é conquista".
FILÓSOFO:
1 – Qual é a missão do ensino e do estudo da filosofia em relação à vida cultural brasileira hodierna, ou quais são os problemas vitais brasileiros, da atualidade, que aguardam uma contribuição da reflexão filosófica?
– 1.1. – Missão do ensino da Filosofia em relação à vida cultural brasileira:
– 1.1.1. – Criar condições para que o brasileiro pense logicamente com ordem me unidade, análise e síntese, a construção e redução.
– 1.1.2. – Criar condições para que o brasileiro pense epistologicamente a cultura como saber na esfera específica do objeto, método e estrutura das múltiplas e diversas ciências humanas.
– 1.1.3. – Criar condições para que o brasileiro pense ontologicamente a cultura como criação especificamente humana do ser histórico do homem, como universo de significações, sentidos e valores pelos quais o homem compreende, transforma e significa o mundo, como mediação dialógica da comunicação das consciências, no tempo.
– 1.1.4. – Criar condições para que o brasileiro pense eticamente o significado radical do existir livre da pessoa na visão científico-tecnológica do mundo hodierno.
1.2. – Quais sãos os problemas vitais brasileiros, da atualidade, que aguardam uma contribuição da reflexão filosófica?
1.2.1. – Na dimensão cultural: a compreensão, transformação e significação consciente, livre e responsável das estruturas da realidade brasileira.
1.2.2. – Na dimensão social: a formação humana e técnica dos quadros profissionais.
1.2.3. – Na dimensão política: a integração das massas no Estado pela participação da cultura, comunicação nacional e distribuição racional da riqueza.
1.2.4. – Na dimensão econômica: o planejamento econômico fruto de rigor lógico de pesquisa e de imaginação criadora a partir das reais possibilidades dos recursos humanso e materiais.
1.2.5. – Na dimensão jurídica: o modelo normativo nacional que corresponde às exigências psico-sociais do homem brasileiro, à força viva de sua tradição histórica e à sua inserção vigorosa no ritmo da visão científico-tecnológica do mundo atual.
1.2.6.– Na dimensão ética: a consciência da significação da liberdade responsável na convivêncica interpessoal à luz não apenas do bem estar mas do bem comum que inclui e transcende a simples prosperidade material, no plano da justiça social, da unidade nacional e da participação ativa e criadora na solução dos problemas nacionais.
2 - Que métodos deve seguir hoje o ensino e o estudo da filosfia, no plano universitário? E no primeiro e segundo graus?
2.1. – Que métodos deve seguir hoje o ensino e o estudo da filosofia, no plano universitário?
2.1.1. O metódo dilogal: A partir da assimilação objetiva, reflexão crítica e recriação pessoal dos tema, problema, soluções e objeções às soluções históricas aos problemas básicos do pensamento filosófico. Importa ensinar o aluno de filsofia a estudar ativa e dinâmicamente a repensar pessoalmente com objetividade e clareza o pensamento dos outros. Importa criar condições para que o aluno exerça em aula o ato de pensar e de se expressar com clareza e objetividade. Importa criar condições para que o aluno de filosofia perceba realmente – vitalmente o sentido para si do problema filosófico em estudo.
2.1.2. – O método fenomenológico: tanto o professor quanto o aluno devem em aula analizar descritivamene os elementos de um fenômeno, exercer o ato fenomenológico concentrando a sua atenção sobre a intencionalidade específica sobre o seu ato de pensar, de querer, de desejar, de amar, de sentir de criar buscando sempre a evidência objetiva, o sentido real das realidades.
2.1.3. – O metódo dialético: descobrir as oposições dos elementos de um fenômeno ou das posições entre pensamentos e tentar integrar em uma síntese articulada tais elementos e posições na medida em que são evidenciados como aparentes oposições possíveis de reconciliação na unidade e não juxtapô-los em uma aparente síntese ou justaposição eclética.
2.2. – E no primeiro e segundo graus?
2.2.1. – Criar condições para que o aluno perceba o valor do ato de pensar filosoficamente através da reflexão crítica.
2.2.2. – Criar condições para que o aluno descubra problemas realmente filosóficos (universalidade objetiva e necessidade real) no seu processo de aprendizagem de ciências, artes, linguagem, convivência, cultura.
2.2.3. – Na análise de trabalhos revelar a coerência interna do pensamento objetivado do aluno bem como a significação humana do pensamento objetivado em textos.
2.2.4. – Pelo método dialogal e maieutico, criar condições para que o aluno perceba o valor do ato de pensar desinteressadamente na busca da verdade e não apenas de conhecer filosofias.
3 – Quais são as principais correntes filosóficas que hoje atigem as grandes massas populares e a juventude em larga escala?
3.1. – A rigor somente uma pesquisa sociológica poderia revelar o objeto da pergunta. Entretanto, penso que na sociedade de consumo pela comunicação de massas, predomina ainda o Pragmatismo sob diversas formas.
3.2. – A juventude universitária em larga escala tem sido atingida mais por perspectivas ideológicas de que por correntes filosóficas, uma vez que o estudo da Filosofia como tal não tem sido operado na medida do desejável.
3.3. – Entretanto, percebo o interesse da juventude de forma implicita e até mesmo explicita pela Filosofia Oriental (indu), pelas correntes neo-marxistas, neo-positivistas bem como pela Filosofia da Linguagem e pela Filosofia Existencial.
4 – Quais são os dados do progresso, das ciências experimentais e matemáticas imprescindíveis à reflexão filosófica?
4.1. – Entendo que a reflexão filosófica não depende única e necessariamente dos dados do progresso, das ciências experimentais e matemáticas. A Filosofia das Ciências bem como a Filosofia da Natureza devem manter uma íntima correlação com os dados das ciências. A ciência revela uma estrutura hipotético-construtiva ao passo que a Filosofia possui uma estrutura reflexivo-crítica como fenomenologia e ontologia da experiência humana total. Sendo assim a reflexão filosófica inclui como objeto a experiência hisórico cultural do progresso bem como a experência científica experimental e matemática. Mas a reflexão filosófica não se reduz â mera reflexão crítica sobre os dados do progresso e das ciências experimentais e matemáticas.
4.2. – Como dados atuais fornecidos à reflexão filosófica pelo progresso e pelas ciências experimentais e matemáticas reconhecemos a Cibernética, os dados parapsicológicos, a Teoria da Relatividade de Einstein sob o aspecto físico e sob o aspecto matemático.
4.3 – Como tema fundamental para a reflexão filosófica atual entendo que todo o processo histórico-cultural científico contemporâneo de natureza técnico operacional coloca para a reflexão filosófica o problema fundamental ético da significação radical do existir livre do homem na busca de sua realização e felicidade histórica. Vale dizer, a ciência e a técnica pelo domínio da natureza coloca para o homem o problema do sentido radical da compreensão e transformação intencional do mundo ou seja o problema do sentido da história.
5 - Poderia existir (e em que sentido) uma filosofia nacional brasileira?
5. 1. – A vocação da Filosofia é universalizante, por natureza. Mas, a universalização da reflexão filosófica não exclui mas assume o sentido efetivo da presença, da palavra e do trabalho do homem no mundo em relação com os outros no contexto histórico-social-cultural. Porisso enendo que é possivel através de uma reflexão filosófica de caráter inicial fenomenológico por em evidência com o auxílio de outras pesquisas das ciências humanas o modo de pensar, sentir e agir do homem brasileiro, o universo básico de seus valores, significações e sentidos.
5.2. – A Cordialidade, o espírito de reconciliação e o pacificismo que parecem ser características do homem brasileiro podem ser compreendidos filosoficamente tendo em vista a dimensão humana da reciprocidade das consciências, de uma Filosofia da Pessoa e do Amor.
5.3. – Se a realidade brasileira revela a situação dinâmica de uma comunidade em processo de desenvolvimento econômico-social, importa analisar filosoficamente qual o sentido radical deste processo para a realização histórica do homem brasileiro em um contexto de independência e dependência da nação brasileira de outras nações
Creio que os problemas fundamentais do homem brasileiro são problemas básicos do homem da visão científico-tecnológica do mundo contemporâneo. Importa descobrir e analisar a forma destes problema para a consciência nacional bem como a significação das respostas já dadas a estes problemas como abrir-se a um processo inventivo criador de pesquisa de pesquisa sobre a nova civilização humana que está em via de acessso de se revelar como forma nova do homem de se descobrir no tempo.
A Reflexão Filosófica pode prestar ao empenho nacional de construção de uma nova realidade cultural brasileira o seu modo de ser reflexivo crítico na análise e dialético sintético na unificação de sentido dos esquemas de compreensão e transformação intencional do mundo brasileiro aberto ao mundo humano.
Finalizando, gostaríamos de acrescentar ainda, que o homem não tem outra razão para viver sem ser recriando seu poder de amar, na construção das formas que se renovam incessantemente sem aguardá-lo; pois quando o homem consegue retratar a vida da flor, ela já feneceu; o entardecer de seu quadro já é agora noite fechada; a angústia de mãos crispadas no estertor da morte, já é placidez ao lado do Senhor.
Roberto Gonçalves
Escritor
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