FILOSOFIA
                                            Mãe e Mestra
 
   A função da filosofia é eminentemente crítica. O poder de reflexão é, antes de tudo, um poder de crítica. Aos filósofos, a sociedade promove-lhes a formatura, mas nem sempre os tolera. Esses eternos questionaradores do obivio, discutidores do indescutível e pensadores do que é proibido pensar. A filosofia tem também os seus mártires...
   A época da técnica deixa entrever a total submissão da natureza aos poderes do homem. A liberação do trabalho servil deixou de ser um sonho e se anuncia como realidade. No entanto, nunca foi maior a nossa derrilição, abandono, desamparo. Trocamos a liberdade pelo conforto e pela segurança material, nos eximimos de pensar e nos deixamos iludir pela propaganda dos bens de consumo. Na era da comunicação perdemos o uso da linguagem. Dizemos e pensamos o que é veiculado pelos canais de comunicação; pensam por nós.
   As ciências sociais descobrem meios sutis de manipulação e controle; a psicologia torna-se uma técnica de apartamento e correção de desvios; a ciência política permite calcular os riscos e os limites de todo conflito. Nunca o homem enfeixou em suas mãos tanto poder.
   Conhecemos, sem dúvida, a vigorosa denúncia de Heidegger contra a decadência do homem moderno e sua falta de autenticidade. A decadência, que se acompanha da perda da comunicação, entrega o homem ao domínio do pensamento inautêntico, ao qual falta a coragem da decisão, coloca-o à mercê do impessoal, esvaziando-o de toda vida interior."Pensa-se", "Diz-se", "Fala-se" — um pensamento se sujeito, sem nome e sem raízes profundas se introduz em nossa existência nos impedindo de pensar. A inautenticidade não é senão o encobrimento da angústia, é o cuidado da distração. Pior do uma igreja vazia é uma igreja cheia de gente vazia. È para essa realidade humana que nos desperta a a filosofia. Cumpre pensá-la, assumí-la na sua precariedade e na sua finutude. A filosofia não é apenas um projeto de pensamento, é um projeto de vida. Sua função não se esgota na descrição da realidade: obriga-a a revelar-se, a descobrir o que está oculto, manifestá-la em sua verdade, tranformá-la.
   Nunca foi tão premente a necessidade da filosofia. No seu escrito sobre a Diferença entre o sistema de Fiche e de Schelling, Heguel a expressou nos seguintes termos: "Quando poder de inificação desaparece da vida dos homens e as contradições perderam a sua relação vital e sua ação recíproca, adquirindo independência, é que surge a necessidade da filosofia". A missão da consciência intelectual é introduzir "claridade e distinção" no que é de início indefinida penumbra.

                                             Roberto Gonçalves
RG
Enviado por RG em 04/10/2014
Reeditado em 29/03/2015
Código do texto: T4986837
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