O QUE PENSO DA “EDUCAÇÃO” MILITAR
Particularmente, nunca fui adepto da ideologia consistente em passar uma imagem de que uma sociedade é mais bem servida e bem mais competente quando conduzida ou norteada por conceitos incorporados na cultura, na doutrina ou no sistema militar.
Cresci ouvindo militaristas sustentarem que a segurança é a mais alta prioridade social e afirmarem insistentemente que o desenvolvimento e a sustentação da grandeza militar garantem essa segurança à sociedade ao mesmo tempo em que assistia - e continuo assistindo - o apogeu da insegurança social, na qual o infrator está cada dia mais livre e o cidadão de bem aprisionado no seu lar, pior ainda, nem mesmo dentro do seu lar está seguro. Nunca concordei com essas ideias defendidas por militares, primeiro por entender que o militarismo busca a convergência a ampliar a cultura e os ideais militares às áreas fora da estrutura militar, principalmente a negócios privados, política governamental, educação e divertimento, depois porque eu nunca gostei desse regime como função educadora. Desse modo, concordo que a função de educar a criança cabe à família, aos professores com instrução em pedagogia ou psicologia infantil e à igreja, um em pleno acordo com o outro e de maneira plena e flexível ao mesmo tempo. Defendo que a educação deve ser adquirida de modo prazeroso e jamais de maneira imposta ou repressiva. O conhecimento, bem como a experiência, deve ser adquirido por vontade própria e com incentivo e nunca por medo. Não ousarei cansar o leitor com discussões mais aprofundadas, em relação a esse regime propriamente dito, uma vez que o ponto-chave é discutir o porquê do meu desagrado para com esse sistema de ideias, no sentindo de essa instituição comandar uma linha de uma suposta educação, a qual eu prefiro chamar aqui de adestramento.
Ressalto que, em parte, eu até concordo com essa ideologia militar no sentido de resguardar a sociedade, de maneira responsável, mas me coloco totalmente contrário a esse sistema de ideias no sentido de querer adestrar nossas crianças. É inadmissível que o mesmo indivíduo treinado e armado para capturar ou mesmo matar bandido nas ruas, penetre numa instituição para adestrar nossas crianças. Se tivermos que termos unidades de ensino militar que deixemos o bombeiro educar nossas crianças e não a polícia. O bombeiro ensina salvar vidas e a polícia, o que faz?
Verdade é que a história tem nos mostrado que a sociedade militarista como instituição adestradora surgiu na Grécia Antiga, sendo que o maior exemplo deste fenômeno foi Esparta, uma cidade de espírito guerreiro que nada mais era que um verdadeiro acampamento militar. Sabemos que desde muito cedo, na verdade, ao completar sete anos de vida, os meninos espartanos eram, obrigatoriamente, entregues ao governo pelos pais. Daí seguia uma disciplina extremamente rígida imposta pelo Estado de Esparta e dedicava todo o tempo aos exercícios e atividades guerreiras. De modo que como meio de educá-los era, todo o tempo, obrigados a se dedicarem aos longos e pesados exercícios físicos e aos preparativos para a guerra. Nessa sociedade qualquer ato de demonstração de fraqueza das crianças era visto como uma falha, um ato de covardia e, por conta disso, era bravamente repelido pela sociedade. Para corrigir possíveis desvios de conduta ou qualquer indecisão pueril, os adestradores se apoiavam no aplicador de chibatadas e suplícios rigorosos. Com o propósito de encorajar as crianças os legisladores espartanos estimulavam os adolescentes a caçarem sozinhos ou em grupo e suas presas eram os escravos que eventualmente se desgarravam ou devido à resistência oferecesse perigo ao grupo de caçadores mirins. Quando localizados, os escravos eram alvos das espadas e das lanças dos jovens guerreiros espartanos.
Claro que em momento algum passou pela minha cabeça equiparar as atuais políticas de ensino militar com o sistema educacional espartano que, na verdade, era um adestramento para as armas, motivado pelo conservadorismo e tradicionalismo espartano que se juntava a um gigantesco patriotismo de tamanha cegueira, mas é do meu ver que de certo modo, nossas crianças desse tipo de ensino sofrem outro tipo de adestramento. Não aprendem manejar armas, tampouco se submetem às rigorosas atividades físicas, porém se estatelam com uma forte pressão psicológica. Como essa força energética negativa precisa ser gasta, o indivíduo vai buscar suas válvulas de escapes em outros setores da sociedade.
Não é inteiramente concordável que aluno que devia está em escola de pedagogia liberal, a qual devia criar o entusiasmo no educando para a aprendizagem prazerosa seja educado em um estabelecimento de regime militar.