A notícia do ano, será?

Há algum tempo tenho ouvido comentários de jornalistas brasileiros sobre o primeiro grande prêmio científico do Brasil, uma Medalha Fields de matemática, considerada o Nobel da categoria. O premiado, um jovem matemático carioca que trabalha em Paris, França. O que me chamou atenção não foi o fato de o cientista ter ganhado o prêmio, segundo professores e colegas de profissão, ele é um gênio, mas o fato de o tema ter sido desconsiderado pela mídia nacional. Algo como o país ganhar uma Copa do Mundo e a notícia ter sido preterida.

Não é à toa que o país está ao mesmo tempo na lista das 10 maiores economias do mundo, e no fim da fila no ranking do IDH mundial, quando o assunto é investimento em educação, ciência e tecnologia, bem estar social, entre outros. Sem valorizar o conhecimento, o país perde tempo, dinheiro, e ao que parece, oportunidade. Que país veria um cidadão ganhar tal prêmio e o deixaria em segundo e até terceiro plano em propaganda pessoal? Quem pensou no Brasil, acertou!

A medalha foi entregue no dia 12 de agosto em Seul, Coréia do Sul, durante um congresso internacional de matemáticos. De lá para cá, poucas matérias, tímidas citações e alguns ganchos políticos – campanha pura –, nada comparado ao furor de uma divulgação de mais uma Taça de Copa do Mundo de Futebol. Para piorar, o governo brasileiro em plena campanha pela reeleição “esqueceu” de incluir na agenda da presidenta aqueles fatos de última hora, deixando o encontro com o célebre matemático para exatos 24 dias após a premiação.

O pouco caso não é por acaso, com perdão da pobreza de rima. Não temos grandes nomes da ciência em destaque no momento, isso porque o país nunca foi tão carente de descobridores, em razão da falta de incentivo à pesquisa, e em grande parte, pelo total desinteresse dos jovens com a sala de aula. Mesmo em escolas precárias, jovens que se dedicam costumam se destacar, vejam o quadro popular na TV, do Programa do Hulk, Jovens Inventores . Meninos e meninas de escolas públicas, alguns sem apoio algum até dos professores, revelando criações impressionantes.

O Brasil mudou, em tempos onde estudar era status, o país revelou notáveis como o bacteriologista Carlos Chagas, que descobriu a doença que leva seu nome; o geneticista Clodowaldo Pavan, um dos primeiros pesquisadores em genética do Brasil; Warwick Estevan Kerr, geneticista e biólogo, e o maior especialistas em abelhas do mundo. Hoje, quando o valor mudou de formato e agora se transmuta em forma de celulares, carros, joias etc, a notícia também mudou.

A imprensa moderna valoriza o que é notícia para quem (quase) nunca lê, e talvez por isso não saiba que o brasileiro Arthur Ávila de 35 anos – único até agora da América do Sul e Latina - ganhou um “Nobel” de matemática. Agora digam: isso é o não a melhor manchete dos últimos anos? Brasileiro ganha “Nobel” de matemática.