O que é Dialética?
O filósofo Nietzsche escreveu que Sócrates usou a dialética para corromper os instintos e ludibriar o intelecto dos gregos antigos que agiam através de seus instintos mais naturais. Os gregos pré-socráticos, para Nietzsche, compartilhavam, de igual para igual, a verdade, os mitos e seus instintos, até porque a ideia de verdade não era muito clara.
A partir do século IV a.C, Platão, além de descrever o pensamento socrático, diz que quando usamos o nosso intelecto, poderemos organizar o ethos. Ainda, para Platão, vivemos no mundo sensível: em que o pensamento está fadado à alienação.
Infelizmente, o pensamento de Platão tornou-se, a partir da Idade Média, não como um pensamento filosófico, mas como religião, trazendo a ideia de que a vida que estamos inseridos perdeu seu valor para uma outra Vida após a morte, constituída da Verdade Divina e do Paraíso.
No Iluminismo, com o nascimento da Ciência, a dialética começou a se fortalecer, pois foi uma época em que o diálogo científico e político começou a encontrar espaço.
Foi no Iluminismo que Descartes e Newton começaram a fazer suas descobertas científicas que, até na Idade Média, não poderiam ser realizadas por haver, além da perda da dialética, um pensamento dogmático de que “Deus fez o mundo e todas as coisas em que nele há”. Foi quando Copérnico mostrou que a Terra não era o centro do universo.
No mundo feudal houve um retrocesso na dialética: as pessoas nasciam, trabalhavam e morriam, sem que houvesse um sentido para a vida. A igreja, além de dominar o sistema feudal, não queria que as pessoas fizessem outra coisa além de trabalhar e ter as suas vidas baseadas na fé cristã.
Diderot diz que o homem é fruto da ampla mudança da sociedade e que essa mudança deveria ser uma ferramenta capaz de organizar o próprio meio social.
Diferentemente do pensamento de Diderot, Rousseau dizia que a organização social não era tranquila e se daria sob desigualdades. Tanto Diderot quando Rousseau contribuíram para o entendimento dialético de como a sociedade seria melhor organizada.
Dois outros grandes filósofos iluministas postularam suas dialéticas: Hegel e Kant. Para Hegel, o pensamento está contido no sujeito e esse pensamento é infinito, real e racional. O sujeito, para Hegel, conhece o mundo e o organiza socialmente a partir do ponto de vista intelectual, e não propriamente físico. Para Hegel, o homem é capaz de mudar o rumo de sua vida, não apenas pelo trabalho físico, mas por uma construção de pensamento que pudesse organizar a si mesmo e o ambiente em que esteja inserido.
O mundo em Kant não é um mundo em si mesmo, mas um mundo universal, transcendental. Kant pergunta “como é possível o conhecimento?”, mas também pergunta “como a sociedade está organizada?”. Diferentemente de Hegel que acreditava que o espírito é infinito, Kant acreditava que o pensamento é limitado a pensar.
A organização social pode ser compreendida pela dialética platônica, onde Platão diz que há dois mundos: o mundo sensível e o mundo inteligível. Nós vivemos no mundo sensível, no mundo alienado e aparente.
Marx colocou-se na posição de Hegel em que aborda o sujeito como organizador das relações de trabalho para chegar a sua filosofia materialista que mostra o próprio sujeito sendo o objeto. Ou seja: o próprio sujeito, que antes era o mediador e organizador de seu meio, passou a ser escravo da sociedade que ele mesmo criou. O que Marx quer nos dizer, usando a sua filosofia materialista, é que as relações de trabalho, criada pelo próprio homem e dirigida pelo capitalismo, tornaram o sujeito escravo e alienado. Tudo que havia no sistema feudal veio à tona: o homem passou a ser escravo de um trabalho desumano criado pela força de trabalho. Trabalhar muito e ganhar pouco: eis a máquina estatal criada por essa mesma “organização” social.
Marx viu as relações de trabalho de forma desigual quando percebeu que o trabalhador vende a sua força de trabalho ao empregador. Daí o salário pago ao trabalhador é consideravelmente menor do que o capital acumulado nas mãos do empregador. O que chamou de Mais Valia.
Hegel afirmou que a consciência-de-si torna-se alienada quando a relação entre o escravo e o senhor é desigual, ou seja, o escravo trabalha intensamente sem saber que o que produz faz parte de sua sobrevivência. O mesmo se dá a alienação do senhor quando não percebe que o escravo é essencial na produção e na qualidade do trabalho.
Marx trabalhava com a Dialética Materialista (o homem não como sujeito das relações de trabalho, dominador do que produzia, mas como objetivo do que produzia), enquanto que Hegel trabalhava com a Dialética Idealista (o homem como sujeito intelectual capaz de organizar o meio em que estivesse socialmente inserido).
A dialética deve ser contraditória no sentido de diálogos diferentes com amplos sentidos coerentes. De maneira nenhuma, o diálogo deve ser dogmático; a dialética é heraclitiana.