AS BENDITAS FESTINHAS ESCOLARES

Educar é uma ação, antes de tudo, política.

Estamos em junho, mês dos namorados, dos folguedos religiosos e, este ano, da copa do mundo no Brasil.

Nesse período, o que esperar da escola pública em uma região marcada por sua origem preponderantemente mítica e presa ao seu recente passado feudal como é a Amazônia em grande parte?

Tendo como pano de fundo o fortalecimento do patrimônio cultural e imaterial do povo, as famosas festinhas organizadas e realizadas pela escola desempenham, em sua essência, um papel político-ideológico bem mais profundo do que o ingênuo e superficial senso comum é capaz de identificar.

Quando os professores se reúnem e planejam as tais festinhas comemorativas e, posteriormente, saem ao comércio mendigando brindes, vendendo rifas, bingos, etc. e ainda induzem e atraem a sociedade incauta para suas quermesses para, com o apurado, ajudarem a climatizar a escola, comprar um bebedouro ou consertar a impressora, por exemplo, estão fazendo exatamente o inverso do seu dever, o contrário daquilo para o que são pagos exatamente pelos indivíduos os quais atraem para as tais quermesses.

Não é esse o papel que se espera (e, principalmente, se necessita) do professor. Não é pra isso que ele se forma, muito menos que é pago. Ao contrário, o professor se forma, ingressa no serviço público e é pago para ser, antes de qualquer coisa, um agente político. Quando ignora ou deixa de assumir tal postura, não apenas se alheia do seu verdadeiro papel, como ainda – o que é mais grave – coloca-se como instrumento de alienação da sociedade a qual deveria instruir, esclarecer e contribuir diretamente para sua emancipação política, ideológica e econômica.

Agindo dessa maneira, além de alienar, o professor contribui para a dupla exploração da sociedade proletarizada. Uma vez que tanto a construção quanto todo o funcionamento da escola pública são mantidos pela sociedade através dos impostos, induzir esta a participar de quermesses para ajudar na manutenção daquela é levar o povo a pagar duas vezes pelo mesmo serviço. O professor deveria sentir-se constrangido ao fazer isso.

Ao invés de arquitetar e desenvolver mecanismo que alienam e exploram duplamente a população, os professores da escola pública seriam mais úteis e mais coerentes com a imagem que pretendem vender à sociedade se usassem o seu conhecimento e as inúmeras possibilidades que sua função oferece para politizar tal sociedade, tão alienada, tão cerceada e tão marginalizada de seus direitos básicos.

Ao invés de aliciar a comunidade para as tais festinhas beneficentes da escola, por que os professores não a incentivam e a instrumentalizam para a organização e funcionamento autônomo, independente e eficaz do Conselho Escolar? Por que, ao invés de saírem mendigando no comércio para angariar recursos para o funcionamento da escola, não acompanham devidamente a aplicação das verbas recebidas por esta e, quando necessário, denunciam os descaminhos e exigem a reparação dos danos?

O papel [político] do professor da escola pública é instrumentalizar a comunidade escolar para exigir do mantenedor da escola (o Estado) que assuma suas responsabilidades para com a mesma; e não tentar substitui-lo, se sobrecarregando com atribuições que nunca foram suas e, ainda por cima, cooptar a já tão explorada massa para arcar com o que é de competência do poder público.

Enquanto isso, fica o alerta de Gustavo Ioschpe: “Professores, acordem!”.