O DIRETOR ESCOLAR

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

Basicamente, a Gestão significa influenciar a ação. Gestão é sobre ajudar as organizações e as unidades fazerem o que tem que ser feito, o que significa ação.

Henry Mintzberg

Por mais ingênua que seja a população de um país, de uma cidade e ou de uma povoação, urbana e ou rural de qualquer região do mundo, se sabe que hierarquicamente, o administrador, gestor e ou diretor escolar ocupa dentro e ou fora da escola uma posição peculiar distinta das demais funções escolares, uma vez que pode legitimar e ou não para os pais e ou responsáveis pelos discentes muitas e ou quase todas das medidas e ou decisões da instituição escolar em sentido coletivo e individual, mesmo adotando a democracia participativa de legitimação dos atos escolares, que não são seus e sim da instituição educacional como um todo, evitando conflitos de tomadas de decisões em nome da maioria, assim como legitima para as instâncias superiores institucionais as próprias e comuns iniciativas das ações do professorado (ou do professorado em ação conjunta com a comunidade, sem sentido coletivo, porque o Projeto Político Pedagógica da escola envolve o mundo e o imaginário de todos envolvidos direta e indiretamente). Por outro lado, tal posição também o coloca na função especial de mediador das relações entre o professorado e os órgãos normativos e fiscalizadores do sistema educacional interno e externo. E isso não pode ser feito do dia para a noite como um mero exercício de mágica circense. O pensador Max Weber tem razão ao afirma que “regra é, em primeiro lugar, gestão da vida quotidiana”. Quem é organizado na vida tem tudo para que em sua profissão também o seja, com raras exceções. O ambiente escolar deve ser harmonioso em todos os sentidos, uma equipe hegemônica, o que Paulo Freire chama de autonomia para sonhar. Não existe formula pronto para uma gestão escolar ou não ter sucesso, tudo vai depender do planejamento e da equipe executora do que foi planejado ou sonhado.

Tudo tem que ser pensado, planejado e ouvido as partes envolvidas: coordenadores, professores, funcionários, supervisores, pais, alunos e a comunidade em geral, levando-se em consideração de que do ponto de vista do microssistema, entendendo-se de que a Escola é nada mais nada menos do uma Unidade Escolar, onde o poder de pensar e repensar para criar algo novo para a escola é uma dentre as inúmeras funções do Direito Educacional, pois, por mais democrático que ele seja o diretor dentro do princípio de poder criar, permitir criar e ou até mesmo de tolerar a abertura formal e informal de novos espaços necessários à transformação do cotidiano escolar, atendendo assim as exigências e ou sonhos de sua comunidade acadêmica. Somente assim, a ação do diretor escolar mostra-se fundamental, igualmente, na constituição em sentido positivo e na desconstituição em sentido negativo da rede de relações e ações que constitui o tecido formal e informal sócio-institucional no qual o aluno e sua família vivem e convivem. É evidente que essa teoria e ou corrente de conhecimento seja pouco considerada nos estudos de cunho psicológico sobre o desenvolvimento cognitivo do indivíduo na instituição, entendemos de que esta rede de informações e ou de conhecimentos tem implicações significativas no processo de construção do conhecimento e/ou do saber de ser em si, conforme revelam os estudos e/ou pesquisas que se tem conhecimento na área de orientação sociológica e antropológica, especialmente nos os estudos etnográficos. Devemos definir a etnografia enquanto método: um modo de entender as culturas (escolares) locais. E até porque Spradley (1979) nos informa que a etnografia deve ser entendida como a descrição de uma cultura, que poder ser a de um pequeno grupo tribal, numa terra exótica, ou a de uma turma de uma escola dos subúrbios, sendo a tarefa do pesquisador enquanto investigador etnográfico visando compreender a maneira e ou modo de viver do ponto de vista dos nativos da cultura em estudo. Por analogia, citamos a obra, “Padrões de Cultura”, de Ruth Benedict (s/d, p. 15), onde a autora afirma que “a história da vida individual de cada pessoa é acima de tudo uma acomodação aos padrões de forma e de medida tradicionalmente transmitidos na sua comunidade de geração em geração” e que afirma ainda que “desde que o individuo vem ao mundo os costumes do ambiente em que nasceu que o individuo vem moldam a sua experiência dos fatos e a sua conduta”, e acrescenta ainda que “quando começa a falar ele é o frutozinho da sua cultura, e quando crescido é capaz de tomar parte nas atividades desta, os hábitos dela são os seus hábitos, as crenças dela as suas crenças, as incapacidades dela as suas incapacidades”.

São exatamente estes últimos (etnográficos) que mostram, também, como, de certa forma, ainda que por analogia, o diretor escolar, enquanto gestor da escola de qualquer nível e grau imprime um estilo de funcionamento e/ou pelo menos o afeta direta e indiretamente, determinando, muitas vezes, os limites e a flexibilidade (possível e não possível) das normas que regulam o comportamento das pessoas dentro das paredes da escola enquanto academia. Por outro lado, identificamos em a obra “Logo Casebook”, de Weir (1987, p. 223), em a autora enfoca que “a cultura atual da sala de aula baseia-se num cacho de coisas quem andam juntas: uma teoria de aprendizagem, métodos de prática educacional e métodos para avaliar o progresso dos alunos”, e se não bastasse menciona ainda que “da cultura, o professor retira um conjunto de crenças sobre o seu papel, sobre o que se considera que vale a pena aprender e como isso deve ser aprendido e ensinado”, portanto, trata-se de uma linguagem que envolve todos os atores da atividade gestacional e docente, via o planejamento administrativo e didático pedagógico, tarefa a ser constituída em cada período letivo coletivamente. Ser diretor escolar é ser dinâmico e saber o que está fazendo e ou querendo fazer em sua escola. O diretor escolar é o carro chefe de sua instituição educacional e necessita de planejamento comprometido com o coletivo, a participação de toda comunidade interna e externa a sua escola. Somente assim o fracasso de sua escola será evitado em cada período letivo. Aqui devemos entender o termo “etnografia” como sendo termos metodológicos, investigação social que comporte as mais diversas funções da pessoa e ou do grupo estudado, no dizer de Hammersley (1990).

Temos que levar em consideração as especificidades de cada cultura e de cada realidade social, pois, a presença na escola, de uma figura com definição funcional chamada de diretor escolar está na unidade escolar para dirigir e fazer funcionar em sua totalidade e trata-se de uma trabalho de equipe que envolve professores, funcionários, alunos e pais.

Não temos duvida de correr o risco da imprecisão devido a generalização grosseira, que o papel do diretor escolar, ao longo do processo, foi-se definindo cada vez mais como o de um gestor responsável pela burocracia institucional da escola inserida em um contexto complexo mais amplo, que é aquilo que atualmente chamamos de Rede Pública de Educação: federal, estadual e municipal, em um país continental como é o Brasil e suas realidades regionais e locais. É importante que o diretor escolar conheça o estudo publicado por Jesus Maria Souza (2000), onde arrola antecedentes que julga importantes para a etnografia da educação através de diversos questionamentos, querendo obter respostas para os questionamentos: “Terá a etnografia da educação raízes angl o-saxónicas? Raízes germânicas? Ou francófonas? Caberá dentro da Fenomenologi a Sociológica (por ex., cf. Schutz. 1987)? Terá a ver com a Análise Institucional (por ex., cf. Lapassade, 1991)? Radica-se no Interaccionismo Simbólico (por ex., cf. Mead. 1963)? Ou na Etnometodologia (por ex., cf. Garfinkel. 1967, ou Coulon. 1993)?”.

O diretor escolar deve continuar sua observação permanente para está preparado para receber avaliação interna e externa, após a execução de cada etapa do planejamento coletivo (envolve todos os atores diretos e indiretos da realidade de cada escola) para sua escolar, pois, os resultados pouco animadores do ensino aprendizagem desenvolvido na Escola Pública em termos de Brasil, por exemplo, trouxeram de volta a questão didática e pedagógica, sugerindo a necessidade de mudanças profundas e urgentes para que o objetivo final da escola como instituição acadêmica (qual seja, o de instruir o corpo discente) se concretize realmente, pois, e a partir de tal necessidade de compreender a como local privilegiado de ensino e aprendizagem, no qual todos os indivíduos que nele adentram possam efetivamente aprender eficazmente, daí ser preciso a presença motivadora e facilitadora do gestor enquanto diretor para em conjunto com sua equipe de docentes e coordenadores, seja possível atingir os objetivos planejados e desejados para seus discentes. O mundo vive de comparações entre as realidades do passado e do presente visando o futuro.

REFERÊNCIAS

Benedict, R. (s/d). Padrões de Cultura. Lisboa: Livros do Brasil.

Hammersley, M. (1990). Reading Ethnographic Research: A Critical Guide. London: Longman.

Sousa, Jesus Maria (2000), O olhar etnográfico da escola perante a diversidade cultural, in Psi 2.1 Junho de 2000 <http://www2.uel.br/ccb/psicologia/revista/textov2n16.htm>.

Spradley, J. (1979). The Ethnographic Interview. New York: Holt, Rinehart and Winston.

Weir, S. (1987). Cultivating Minds - A Logo Casebook. New York: Harper & Row.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 26/06/2014
Código do texto: T4859523
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.