Os Fundamentos do Historicismo.

Dilthey.

É importante entender o conceito epistemológico do historicismo, do ponto de vista da História, sendo que a referida etimologia apresenta sempre embate entre o positivismo e o marxismo.

O historicismo é uma corrente filosófica específica que, a priori, não é idêntica ao marxismo do mesmo modo o positivismo.

Ambos aproveitam seu caráter geral com a finalidade de fundamentar aspectos particulares das formulações referidas.

No entanto, o historicismo serve de base para a construção de uma análise marxista, no mesmo sentido como substância aos procedimentos do positivismo, o caso especificamente da teoria de Max Weber.

Podemos observar no marxismo uma vertente historicista, muito comum em outras Ciências.

Existe uma epistemologia em que se usa a teoria historicista como apoio para substanciar a Ciência, seja ela Social ou da Natureza.

O historicismo fundamenta-se em três teorias básicas as quais serão explicitadas nesse artigo. O primeiro pressuposto é determinado do seguinte modo: qualquer fenômeno ou fato social, seja cultural ou político, só poderá ser compreendido na sua perspectiva histórica, a História é o centro de análise de toda explicação epistemológica. Fora do tempo histórico, não há possibilidade de objetivar a análise.

A respeito da segunda definição há uma diferença necessária entre fatos históricos sociais em relação aos fatos naturais. Em consequência as Ciências que estudam esses fatos, sociais e naturais, são de ordens diferentes.

Na terceira formulação, não apenas o objeto em pesquisa é histórico, está inserido na perspectiva da própria realização da História, compreendem-se os fatos sociais.

O próprio sujeito que pesquisa não é apenas produto da mesma, está mergulhada em si própria, o sujeito é fruto da mesma evolução, ambos produtos culturais.

Não se separa o sujeito da análise. Objeto e sujeito possuem igual identificação, nessa lógica reside a dificuldade de entender a objetividade da compreensão de qualquer fato fenomenológico.

Com efeito, não existe conhecimento fora da História. Tudo se desenvolve dentro das suas circunstâncias, o que é interessante essas teses do movimento historicista são formulações também do marxismo.

O primeiro questionamento desenvolvido pelo historicismo foi formulado por um grande pensador, Droysen, um grandioso historiador que escrevera um texto em 1873, o primeiro a colocar a questão epistemológica como uma hipótese relativa.

A relatividade do conhecimento por intermédio da História refere-se à análise, o sujeito como produto do fato social.

Droysen ataca a ideia de que a Ciência histórica possa ser uma Ciência completamente objetiva. Considerava que o historiador verdadeiro não é neutro. A ideia da objetividade é simplesmente absurda.

Para o filósofo, um cientista realmente sério, jamais poderá buscar a realidade pura, crua e nua, simplesmente porque esse procedimento não é possível ser realizado pelo sujeito.

Tudo é de certo modo relativo no ponto de vista como produto da cultura local, do senso dessa cultura.

Difícil alguém superar o próprio senso e compreender a realidade com outras mediações a não ser da produção cultural do mundo em que está inserido.

Aqui se chega a primeira grande verdade a respeito da História e do relativismo. Não há de fato uma História objetiva, como nenhuma explicação a respeito das Ciências, sobretudo, quando se refere às Ciências do Espírito.

Encontramos verdades que resultam de convicções particulares, políticas e religiosas. O que é o entendimento a não ser o reflexo do modo particular da compreensão de uma projeção do processo de síntese individualizado. Conhecer é tão somente particularizar.

Droysen reconhece que esse método só pode levar a conhecimentos parciais, unilaterais. A Ciência desse modo tem de necessariamente reconhecer que é essencialmente unilateral.

A análise não é a verdade significando que não é possível chegar ao conhecimento absoluto nas Ciências do Espírito por nenhum caminho.

É fundamental reconhecer tal limitação, seja qual for a metodologia da interpretação ou compreensão, é impossível o saber total.

Esse é o grande preceito do historicismo. É importante o entendimento desse limite, isso não traz problema à Ciência do Espírito.

No final do século XIX a Filosofia historicista começa adquirir corpo científico e assume caráter relativista, uma razão lógica, natural. Então o historicismo que, inicialmente tinha uma tendência conservadora, começa a perceber que tudo na História muda, inclusive as concepções da mesma.

Aos poucos essa corrente vai entendendo a necessidade que se tinha da História de desvincular-se das suas próprias tradições que justificavam antigos domínios, assim a História absolutista justificava poderes inadequados.

Com o desenvolvimento do capitalismo, a sociedade burguesa e, sobretudo, com a industrialização, não dava mais para se afirmar que as interpretações das velhas instituições eram de fato verdadeiras para entender o próprio desenvolvimento coerente sintético como mediação do social.

O processo histórico inicia-se dissolvendo certezas. Sociólogos tradicionais começam a entrar em crise, verificando que suas formas de análises não correspondiam mais com a verdade do entendimento da História.

Surgem conceitos novos para interpretação, inicia-se um período de transição, incertezas e dúvidas nesse contexto cultural. O historicismo adquiriu definitivamente uma dimensão relativista que representa um avanço do ponto vista científico.

O primeiro representante e mais importante desse movimento em que se deu no historicismo foi o grande filósofo e sociólogo Wilhelm Dilthey que iniciou suas obras no final do século XIX, continuando até princípio do século XX.

Dilthey foi um grande pensador que provocou uma enorme influência na distinção fundamental entre Ciências do Social e Ciências da Natureza. Fundamental entender o que escreveu a respeito dessa distinção no uso das duas Ciências em referência.

Seu primeiro critério é que nas Ciências do Espírito, Ciências culturais ou ideológicas o sujeito e o objeto são idênticos.

Significa que o homem se analisa ao tentar compreender o objeto e do mesmo modo o espírito estuda a si próprio. Objeto, cultura e sujeito se identificam.

O que é diferente nas Ciências da Natureza é que o homem estuda o que está fora dele mesmo, o objeto é exterior como os astros, os animais, enfim, tudo que não é especificamente parte da cultura.

Quanto ao estudo referente ao Espírito, ou seja, Ciências Sociais, o homem quando apreende o objeto de certa maneira estuda si próprio.

O sujeito como ser cultural investiga a cultura. Essa é a diferença fundamental entre as duas Ciências, o que é do campo da interpretação ou, contrariamente, do outro modo da compreensão.

Nas Ciências do Espírito existe uma identidade recíproca entre sujeito e objeto que coloca o problema da objetividade em condições completamente diferentes em relação a outra Ciência da Natureza.

Quando a Ciência foca o objeto em relação ao sujeito como fator de identidade, existe dificuldade em distanciar o mesmo em relação ao sujeito. Nas Ciências do Espírito os juízos de valor e os juízos de fato são inseparáveis, em função de o sujeito ter seus valores que são inevitavelmente valores da cultura.

Dilthey formula uma explicação diferente a respeito do critério da metodologia historicista, que é a necessidade de não apenas explicar os fatos, pois isso seria muito difícil, dada a não possibilidade de chegar à objetividade.

Portanto, é necessária a interpretação, nesse caso específico, tratando não apenas a explicação empírica, típica da metodologia indutiva.

Entende-se que as Ciências do natural podem apenas dar uma explicação exterior empírica, no entanto não podem entender o significado do fenômeno no aspecto da referência do Espírito. Exemplo, dois pedaços de madeira presos no seu centro por um prego, que significa o que não está sendo descrito, segundo as leis da Física,.

Jamais nos valores da cultura o cientista do Espírito compreenderia o significado da cruz na visão da Física, o que significa para os padrões culturais, além do que é simplesmente exposto pelas leis da natureza.

O Espírito através da interpretação dá o significado da descrição, que é o entendimento cultural do objeto e, não da natureza daquilo que constitui materialmente. Essa é diferença fundamental entre as duas Ciências em entendimento.

Com essa formulação Dilthey chega à seguinte conclusão que as Ciências Sociais são produtos da História e só podem ser entendidas na historicidade limitada. A verdade não é absoluta, exemplo, as proposições da Matemática.

Dois mais dois são quatro. Então as verdades produzidas pelo Espírito são historicamente relativas, valem para o conjunto das produções coletivas produzidas pela sociedade.

Dilthey, um grande filósofo, entende a História do mundo como um tribunal quando cada sistema teórico é apenas relativo, passageiro. A transitoriedade faz parte da essência da História, a objetividade é apenas uma ilusão.

O saber absoluto não existe para a Ciência do Espírito. Como chegar à verdade quando a mesma não é possível, entender o quê? Resta-nos a dificuldade de compreender a realidade em questão.

A História é tão somente um imenso campo de ruínas. Cada sistema exclui o outro e nenhum consegue provar definitivamente a verdade. Tudo o que aparece são apenas sinais da subjetividade, seja qual for o momento em análise dos conteúdos históricos.

Na multiplicidade dos sistemas das Filosofias, diversas teorias se estendem até nós, de forma ilimitada e caótica, sem perspectiva para solução.

Significa que essas teorias não têm valores epistemológicos, mas todas condicionadas ao tempo, com efeito, limitadas ao próprio conhecimento relativo a uma situação histórica determinada.

Cada um desses sistemas revela uma dimensão do universo, sendo verdadeiros, mas também unilaterais, refletem apenas um pedaço, um aspecto da realidade. Torna-se impossível ter uma visão completa.

Dilthey percebe então que a Ciência do social está envolvida numa profunda contradição sem saída, procura atingir o conhecimento objetivo, o que é impossível para a própria Ciência.

Deseja um conhecimento válido, mas como? Cada obra é vinculada a uma visão de mundo. Dessa forma funciona a Ciência do Social com diversas ideologias. O conhecimento está determinado ao limite do mecanismo do próprio saber.

Karl Mannheim, outro sociólogo, procura dar uma solução a essa questão, refere-se epistemologicamente, sucintamente, ao dizer que todo conhecimento reflete apenas a uma situação de classe.

A verdade é uma relação do desejo de domínio. Procura dar uma visão social do entendimento da análise apenas política e, consequentemente, marxista. Entretanto, não resolve também a questão da objetividade do saber a respeito das Ciências do Espírito.

O pensamento, nessa perspectiva, defende que o entendimento está necessariamente ligado a uma condição de classe social. Essa é uma tese também do relativismo. O importante é que se coloca certa referência como dependência do marxismo.

O fato de entender as doutrinas, as ideologias a uma posição de classe dá-se num grande desenvolvimento dessa formulação, pois tudo antes era visto apenas na perspectiva de tempo histórico e da relatividade da cultura.

Mannheim introduz a Filosofia materialista como análise e percebe que não basta o tempo histórico, mas os interesses de classes sociais. A formulação é essencialmente dialética, nasce dos pressupostos das contradições.

A visão do mundo tem interesses particulares. É desse modo que funciona o mundo, a política, particularmente a História. Com efeito, existem diversos saberes a respeito das verdades e dos interesses.

Qual seria o caminho para encontrar a objetividade das análises? Dependeria da equalização das diferenças sociais, na medida em que através de uma revolução política e econômica houvesse uma sociedade mais justa.

Com a diminuição da distância das classes sociais diminuiriam as ideologias e, com isso as análises sociais seriam mais objetivas.

Com efeito, Mannheim propõe a Filosofia Marxista como solução da questão relativista e historicista da análise. Desse modo coloca como solução a política para que o historicismo alcance as proposições relativamente objetivas.

Com certa igualdade coletivista do Estado, o capitalismo não seria um sistema econômico propulsor da verdade. Isso estava de certa maneira muito claro para nova leitura historicista.

Autor: Edjar Dias de Vasconcelos...

Edjar Dias de Vasconcelos
Enviado por Edjar Dias de Vasconcelos em 29/05/2014
Reeditado em 29/05/2014
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