Resposta ao texto Gustavo Ioschpi "Acordem, Professores!"

Ilustre, senhor Gustavo!

Sem me surpreender ao ler seu texto referente à classe docente do ensino público, publicado através da Revista “Veja”, em 14/05/2014, sob o depreciativo e irônico título “Professores, acordem!”, resolvi – por obrigação – responder-lhe.

Primeiramente, quero começar esclarecendo que qualquer que seja o assunto que denote contrariedade a um grupo de manifestante, sem seu responsável fazer parte do mesmo, sem ter conhecimento da área específica, por si só, é desmerecedor de qualquer crédito, submisso ao recebimento do mais ignóbil repúdio. Vale esclarecer, ainda, que, seguindo o bom-senso do curso da vida em sociedade qualquer manifestação que se faça não se faz pelo simples fazer. Sempre haverá uma motivação que a justifique!

Nobre, senhor! Sim, nobre, senhor! Diante de seu execrável texto, a conclusão a que se pode chegar é que o mesmo parece ter sido produzido por alguém que esteja muito distante do problema enfocado e, consequentemente, que nada ou pouco sabe a respeito do assunto tratado, ou seja, da Educação.

Senhor, não há como negar, em termos, quando disse que está desastrosa a situação da Educação no país. O desastre educacional não é somente um desastre educacional, mas é o caos que está generalizado, predominante em todas as esferas sociais. Em todas elas podem ser presenciadas as graves e catastróficas consequências geradas por uma política fétida produzida por desinteressados e gananciosos dirigentes governamentistas.

Somente para ilustrar essa atual concepção educacional do “promove-se sem saber”, podemos citar alguns casos dramáticos sociais, reflexos do mesmo. Pois, assistimos frequentemente aos noticiários de televisão e nos deparando com determinado médico prescrevendo receitas equivocadas. Tal fato ocorre, quando não amputa uma perna saudável no lugar de outra ruim; outro médico prescreve qualquer aspirina quando o paciente se queixa de febre e dores musculares, constatando-se mais adiante, após a morte do paciente, se tratar de uma grave enfermidade como a temida tuberculose ou a própria epidêmica dengue. O mesmo ocorre com regularidade com o engenheiro, que constrói o edifício e de repente o mesmo cai por terra, desmoronando-se por falta de responsabilidade e/ou mesmo capacidade. O advogado, por sua vez, também formado nessa mesma política da “promoção automática” muitas das vezes é preciso estudar a peça, a causa, a fim de orientar corretamente o orientador, o representante legal que fora constituído. E, por aí se vai o povo emudecido, trilhando timidamente nessa angustiante estrada sem perspectiva de chegar a qualquer lugar. Apenas caminha e segue em frente. Dessa forma, seguindo a lógica de vossa senhoria, qualquer um também pode ser laçado pelas ruas, receitar remédios, construir prédios e pontes e defender o cidadão perante a um tribunal.

E, numa espécie de demência coletiva, alguns ainda acreditam estar fazendo um bem social, montando “Ongs” e outros afins sociais. Porém, estão na verdade promovendo e contribuindo com a perpetuação dessa grande moléstia social. Devessem, antes, aprender a cobrar de quem realmente nos deve, pois os altíssimos impostos pagos pelos cidadãos deveriam ser cobrados, a fim de que fossem convertidos para o bem social, para o bem comum.

Senhor, quando disse que seu texto não me surpreendera, foi pelo fato de já ter absorvido, de forma empírica, o conhecimento dos ideais hipócritas e demagogos de determinados agentes dos setores que ainda detém o poder de comunicação, o poder de alienação. Dentro desse mesmo contexto e falando se seu texto, o mesmo retrata e possui a pretensão de se substabelecer nesses setores de valores negativos e invertidos, enquadrando-se nos parâmetros anormais, característicos de uma sociedade doente onde o que impera e a determina são os desvalores morais e éticos, ditados por esses pérfidos defensores sociais. E, que não passam de infames dominadores e arcaicos alibamas no sentido mais abominável do termo. O que sobra disto tudo é apenas esse sistema de educação: perverso, delinquente e imoral, além de um sistema de saúde público, indigno e sórdido, dentre outros.

É de bom tom saber, ainda, caro senhor, já que estamos tratando especificamente de Educação, que dentro dos muros escolares existem, com muita frequência, apenas tentativas de ensino, pois não há mais respeito para com os professores e os alunos simplesmente não mais ‘aceitam’ as aulas. Em uma sala de aula de, em média possuindo quarenta e cinco alunos, pode-se contar apenas seis – e sem exagero – interessados no aprendizado. Pois, dentro de uma sala de aula os professores se deparam com alunos malcriados e que não respeitam qualquer princípio, além de se utilizarem irregularmente de celulares, ouvindo música e assistindo sabe-se lá o quê. Quando são repreendidos discutem com os professores, os coordenadores e até mesmo com os diretores chegando muitas vezes a ofendê-los com palavras obscenas. Tudo isso ocorre, de fato, quando não partem para a agressão física.

Ainda para o seu conhecimento, ainda dentro dos muros escolares, senhor, nós professores podemos dizer com propriedade que os alunos simplesmente vão para a escola porque alguém de sua residência os envia para a escola. Não vão à busca de conhecimento algum, mas à busca de aventuras juvenis e de um ligeiro lazer. Não possuem compromisso nenhum, uma vez que sabem que aprendendo ou não, irão passar para a série seguinte. Portanto, como fora dito, o professor até que tenta passar sua sabedoria para eles, mas a aprendizagem praticamente é inexistente. Que fique claro! O protagonista dessa maldita e cruel história, senhor, não mais é o profissional em educação, ou seja, o professor, mas o aluno matriculado em uma unidade escolar. Hoje em dia, basta o ser estar matriculado em uma escola que o mesmo passa a ser esse protagonista e, pasme senhor, se puder... Ele não precisa ter limites de disciplina ou ter respeito para quem quer que seja.

É importante saber ainda, fidalgo senhor, que a construção de uma sociedade justa, uma sociedade de bem, somente se faz através de uma Educação forte e digna. Não baseada em uma pedagogia frouxa. E, para consegui-la é necessária uma imperiosa presença: a presença de um responsável chamado, professor. Além disso, é necessária a obediência a alguns itens essencialmente relevantes, conforme elencados abaixo:

Primeiro, devolver ao professor o direito de cátedra e o poder de exigir de seus pupilos o retorno daquilo que lhes fora ensinado; segundo, o desempenho que precisa ser melhorado – conforme o senhor conjecturara - deve ser cobrado dos seus e dos líderes políticos do povo; terceiro, falar de modelos educacionais de outros países é balela, pura demagogia. É preciso se situar em seu próprio território; quarto, na história desse país nunca houve para o professor o chamado, conforme o senhor mesmo declarara, “tempo das vacas gordas”. Esse período até que houve, sim, e ainda está havendo, mas não para nós, e sim, para os Alibamas (no sentido mais abominável de seu significado) que chegaram e ainda chegam a esse país desbravando-o como se ele fosse território de ninguém. Dessa forma, ilude-se, ou quer ser iludido, mal informado senhor Gustavo, quando apoliticamente e sem ter qualquer zelo expressara em seu copioso e sardento texto recorrendo à utilização de termo tão popularesco, pueril e convencional; quinto, uma leve correção: a Educação não é bem um desastre, senhor. Conforme já dissera, ela se encontra em desastre. Contudo, não que ela seja ou esteja um desastre, mas ela já nascera um desastre, bem como as outras esferas dentro do contexto social. Pois, as consequências do descaso dos representantes políticos estão refletidas nitidamente nos semblantes do afligido e padecido povo há séculos; sexto, a sociedade precisa de fato saber como andam as escolas, especialmente, o senhor, já que ousou discorrer sobre o tema. Assim sendo, aconselho-o a informar-se melhor. E, já que o senhor não é professor e, caso tenha a mesma audácia, desafio-o a solicitar a qualquer direção escolar preferencialmente de ordem pública, sua presença a uma sala de aula qualquer como ouvinte e convidado, apenas durante os árduos cinquenta minutos de aula dos quais normalmente o professor é forçosamente a enfrentar; sétimo, quando a Educação começar a dar certo o país se engrandecerá com verdadeiros e leais representantes políticos no Poder, inegavelmente; oitavo, a cova a que o senhor se referira já fora cavada para o povo há mais de quinhentos anos por esses líderes que ainda estão nesse mesmo infame poder, mas que já estão começando a sentir o reflexo negativo a que isso proporcionara; nono, é uma comédia infantil e sem graça pensar que politicamente Educação possa ser um assunto discutido com leigos, que nada conhecem da área. Seria como se o dentista tolerasse discutir sua situação, seus problemas profissionais juntamente com engenheiros, publicitários, economistas e etc.; décimo, reivindicar salários e melhores condições de trabalho sempre foi e sempre será um direito do cidadão pagador de impostos, de altíssimos impostos.

Mas, atenção! Não bastará simplesmente valorizar o professor aumentando seu salário e/ou formulando um plano de carreira, o qual ainda não há para os professores da rede pública estadual. Será necessária a implantação destemida de deveres, regras austeras e audaciosas, segundo as mesmas os discípulos ter-se-ão de rigorosamente cumprir. Regras essas que sejam soberanas no seio escolar, independentes de quaisquer outras leis que se possam ser encontradas fora da fortaleza educacional. Pois, sem disciplina não há assimilação alguma.

Diante do exposto, reforçando, somente haverá uma saída. Pode parecer utópico, mas somente com essa combinação de estratégia, ou seja, valorização do professor na questão salarial e declaração de regras disciplinares severas é que resultarão fins satisfatórios na Educação. De fato, seria utópico caso aqueles que estejam pretendendo destinar os tais dos 10% de ‘royalties’ do pré-sal à educação, em dez anos, não pensarem nesse binômio de tamanha relevância. Ainda retornando ao item anterior, para sua informação, a primeira greve ocorrida no país de que se tem notícia aconteceu em Mucuripe, sertão do Ceará, no século XVIII, onde muitos trabalhadores das plantações de milho, sob escaldante calor, reivindicavam por melhores condições de trabalho. Pasme! Reivindicavam apenas chapéus de palha, já que somente o patrão é quem o utilizava; décimo primeiro, deve-se exigir dos representantes legais os amplos direitos de cada cidadão e fazer com que eles cumpram o seu fundamental dever. Vale lembrar que John Locke destituiu um rei de seu poder somente com suas sábias reflexões político-social, baseadas no direito de propriedade/liberdade e consequentemente no cumprimento dos deveres dos líderes para com seu povo. Para finalizar, concluo esse acanhado e humilde texto oferecendo gratuitamente a tão procurada receita para que se obtenha a sonhada Educação de qualidade. Tome nota, senhor! Para tanto, é preciso que haja apenas o binômio salário digno aos professores e rigorosa lei disciplinar. Ou seja, àqueles que não se adequarem às normas disciplinares dever-se-á ser aplicada a norma de disciplina, de imediato e sem qualquer temor de aplicá-la. Somente com o estabelecimento de severas regras e com punição exemplar aos seus infratores é que realmente haverá o verdadeiro ensino-aprendizagem. Portanto, senhor, instrua-se melhor com um professor antes de expor opiniões vazias e decompostas. Pois, sem ter a consistência da justa razão, elas serão irracionais. E, quem quiser ser racionalista não pode se deixar levar por conclusões infundadas, sem possuir o devido teor científico da questão. Procure um professor. Leia mais! Eduque-se melhor!

B. F. Silva

Professor e escritor – Ferraz de Vasconcelos/SP - 20/05/2014

B F Silva
Enviado por B F Silva em 28/05/2014
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