A Guerra do Paraguai (1864-1870) /ᐠ。‿。ᐟ\

A Guerra do Paraguai (1864-1870) permanece como o mais devastador conflito armado da história da América Latina, um evento que não apenas remodelou as fronteiras políticas da região, mas deixou cicatrizes profundas nas sociedades envolvidas. Iniciada com a audaciosa invasão do Mato Grosso pelo marechal Francisco Solano López em dezembro de 1864, a guerra colocou o pequeno Paraguai - com cerca de 400 mil habitantes - contra a poderosa Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai), que somava aproximadamente 11 milhões de pessoas. Este texto busca revisitar suas causas complexas, desdobramentos cruciais e lições permanentes, rejeitando mitos persistentes e propondo uma visão progressista para a compreensão deste marco histórico na região.

CONTEXTO E A ORIGEM DO CONFLITO

O cenário pós-independência na América do Sul era marcado por tensões geopolíticas latentes e fronteiras mal definidas. O Paraguai, independente desde 1811, apresentava características únicas: um país duplamente enclausurado, sem acesso ao mar e isolado por políticas protecionistas. Sua economia dependia fundamentalmente da exportação de erva-mate e madeira, produtos de baixo valor agregado. Durante o governo de Carlos Antonio López (1841-1862), o país iniciou um tímido processo de modernização, com investimentos em infraestrutura militar como a construção de uma pequena ferrovia e uma fundição de ferro em Ybycuí, além da contratação de técnicos estrangeiros, muitos deles britânicos.

Contudo, esta modernização era limitada e desequilibrada. Enquanto o Estado paraguaio investia em defesa, a economia permanecia essencialmente agrária, baseada em técnicas rudimentares e numa estrutura social profundamente desigual. O campesinato era explorado para sustentar os projetos de elite, sem benefícios significativos. Quando Francisco Solano López assumiu o poder em 1862, herdou não apenas o governo, mas também as ambições expansionistas de seu pai. Sua obsessão pelo controle do estratégico estuário do Rio da Prata - dominado por Argentina e Brasil - levou a uma série de decisões catastróficas que culminariam na declaração de guerra ao Brasil e na invasão do Mato Grosso em dezembro de 1864.

DESCONSTRUINDO O MITO BRITÂNICO

Uma das narrativas mais persistentes sobre a guerra, especialmente difundida durante o regime militar brasileiro (1964-1985), atribuía o conflito a uma suposta conspiração imperialista liderada pela Grã-Bretanha. Segundo esta versão, os ingleses teriam instigado a guerra para destruir um Paraguai industrializado que ameaçava seus interesses econômicos. Pesquisas recentes de historiadores como Francisco Doratioto e Moniz Bandeira, baseadas em arquivos de múltiplos países, demonstram a inconsistência desta tese.

Documentos diplomáticos revelam que o governo britânico buscava acima de tudo estabilidade na região para garantir seus interesses comerciais. Uma carta do diplomata Edward Thornton, datada de 7 de dezembro de 1864 - apenas cinco dias antes da declaração de guerra - mostra claramente suas tentativas de mediação entre Paraguai e Brasil. Os empréstimos britânicos a Brasil e Argentina durante o conflito, frequentemente citados como "prova" do envolvimento inglês, seguiam a lógica normal do capital financeiro da época, que privilegiava investimentos em governos considerados mais estáveis e solventes.

O CUSTO HUMANO DA TRAGÉDIA

As consequências demográficas da guerra foram catastróficas para o Paraguai. De uma população estimada em 400 mil habitantes em 1864, restavam menos de 190 mil em 1870 - sendo que apenas cerca de 28 mil eram homens adultos. Esta desproporção gerou consequências sociais que perdurariam por gerações. A obstinação de Solano López em continuar a luta mesmo diante da derrota inevitável levou à mobilização de crianças, idosos e doentes, enquanto epidemias de cólera e varíola dizimavam soldados de ambos os lados.

LIÇÕES PARA O PRESENTE

Revisitar a Guerra do Paraguai em perspectiva crítica nos permite extrair lições valiosas para a América Latina contemporânea. O conflito demonstra os perigos do nacionalismo exacerbado, da falta de mecanismos de mediação regional e da visão de soma zero nas relações internacionais. O Paraguai atual, com sua resiliente cultura bilíngue e sua busca por desenvolvimento equilibrado, mostra que é possível superar até os traumas mais profundos.

A verdadeira homenagem que podemos fazer às vítimas desta guerra não está na glorificação do conflito, mas no compromisso com uma integração regional baseada no diálogo, na justiça social e no respeito mútuo. Como historiadores e cidadãos, nosso desafio é transformar o conhecimento do passado em ferramenta para construir um futuro melhor.

MARQUE UM X ABAIXO

1. Substitui-se então uma história crítica, profunda, por uma crônica de detalhes onde o patriotismo e a bravura dos nossos soldados encobrem a vilania dos motivos que levaram a Inglaterra a armar brasileiros e argentinos para a destruição da mais gloriosa república que já se viu na América Latina, a do Paraguai.

CHIAVENATTO, J. J. Genocídio Americano: a Guerra do Paraguai. São Paulo: Brasiliense, 1979 (adaptado)

O imperialismo inglês, “destruindo o Paraguai, mantém o status quo na América Meridional, impedindo a ascensão do seu único Estado economicamente livre”. Essa teoria conspiratória vai contra a realidade dos fatos e não tem provas documentais. Contudo essa teoria tem alguma repercussão.

DORATIOTO, F. Maldita guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo: Cia das Letras, 2002 (adaptado).

Uma leitura dessas narrativas divergentes demonstra que ambas estão refletindo sobre

a) a carência de fontes para a pesquisa sobre os reais motivos dessa Guerra.

b) o caráter positivista das diferentes versões sobre essa Guerra.

c) o resultado das intervenções britânicas nos cenários de batalha.

d) a dificuldade de elaborar explicações convincentes sobre os motivos dessa Guerra.

e) o nível de crueldade das ações do exército brasileiro e argentino durante o conflito.

2. A Guerra do Paraguai, considerada o maior conflito armado da história da América do Sul, além de provocar a morte de inúmeros paraguaios, brasileiros, argentinos e uruguaios, foi a causa do desequilíbrio econômico e do aumento substancial das dívidas externas dos países envolvidos no conflito. Apesar disso, a guerra foi um "bom negócio" para:

a) os paraguaios, que conquistaram territórios estratégicos para seu desenvolvimento na Bacia do Prata;

b) os argentinos, que conquistaram vastas porções do território paraguaio e anexaram áreas do Rio Grande do Sul;

c) os norte-americanos, que aumentaram a sua exportação de açúcar e trigo para o Uruguai e para o Brasil;

d) os brasileiros, que não tiveram grandes prejuízos com a guerra e conquistaram parte do território argentino e paraguaio;

e) os ingleses, que emprestaram milhões de libras para os países da Tríplice Aliança, com juros altos, através de seus bancos.

3. Sobre a Guerra do Paraguai, assinale a alternativa incorreta:

a) O conflito deflagrou-se após uma série de hostilidades entre Paraguai e Brasil, como o caso do sequestro do presidente da província do Mato Grosso pelas tropas paraguaias.

b) As tropas da Tríplice Aliança conseguiram anular a ofensiva do exército paraguaio após cinco anos de conflito, sendo que em março de 1870, na Batalha de Cerro Corá, o Paraguai veio a oficializar a sua derrota no conflito.

c) Criada para enfrentar o forte e bem treinado exército paraguaio, a Tríplice Aliança era composta por Brasil, Argentina e Inglaterra.

d) o presidente paraguaio Solano Lopez buscou dar força a autônoma economia paraguaia com a criação de fábricas e o estímulo à produção agrícola, após as ações de reforma agrária e incentivo à educação pública realizada pelos governos anteriores.

4.A História Oficial apresenta o expansionismo de Solano Lopez como o motivo provocador da Guerra do Paraguai que envolveu o Brasil, o Uruguai e a Argentina. Na realidade, esta guerra ocorreu, sobretudo, devido.

a) À necessidade de crescimento da indústria têxtil argentina que se via limitada ao território nacional;

b) Ao projeto de emancipação econômica e política do Paraguai que contrariava interesses do capitalismo inglês;

c) À necessidade expansionista do Uruguai cujo governo visava apossar-se de partes do território a ser conquistado no conflito;

d) Ao desejo inglês de livrar o povo paraguaio de uma ditadura que contrariava a prática democrática européia;

e) À necessidade do Brasil de aumentar a venda do café para garantir mais divisas para o país.

5.

Filosofiaehistoriafacil
Enviado por Filosofiaehistoriafacil em 26/04/2014
Reeditado em 25/04/2025
Código do texto: T4783749
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