Efeito Reverso no Aprendizado

Adaptação do texto original sobre “ler” para “estudar” tirado do livro “Aprendendo Inteligência” de Pierluigi Piazzi

Tópico original: Quinto passo: LER MUITO”

“O grande problema é que as pessoas não sentem muito prazer em estudar, o que é causado por dois fatores: um deles é a falta de habilidade de alguns professores que, na tentativa de fazer o aluno estudar, acabam causando ódio pelo estudo.

Como?

Obrigando o coitado a estudar de uma forma que não é a forma dela. Ora, qualquer pessoa que lide com animais conhece o velho ditado: 'Você pode levar o cavalo até a água, mas não pode obrigá-lo a beber'. Se você quiser que o cavalo beba, deve fazê-lo ficar com sede.

E, se você enfiar o focinho do cavalo no balde, ele não só não vai beber como vai ser tomado de uma permanente aversão pelo balde! (Se você levar um coice será mais que merecido)

O outro fator da falta de prazer em estudar é a pura e simples preguiça mental (causada, principalmente, por falta de exercício). "

***

Esta forma de encarar o estudo como algo negativo é a que mais vejo nos estudantes. Porém quando vejo as pessoas aprendendo coisas do próprio interesse, não importa a idade, ela dedicará horas do dia e perderá até a noção do tempo.

É preciso encontrar esse ponto comum da matéria a ser ensinada com o desejo de aprender. Lembro bem o dia que estava vendo uns livros de física em casa e descobri como se 'fazia' eletricidade. O livro apenas explicava a descoberta da energia e como funcionava, porém naquela hora eu havia “lido, compreendido e intuído” (a maior parte das vezes que sabemos algo, porém ainda não nos sentimos seguros é porque o conteúdo ainda não foi ‘intuido’).

Então na mesma hora peguei um fio, enrolei num prego, peguei um imã e liguei para um amigo meu emprestar um multímetro. Comecei a mover rapidamente o imã e deixei o multímetro medindo corrente. O multímetro começou a acusar uma baixíssima corrente bastante instável, mas que foi o suficiente para eu saber que tinha “gerado energia”. E tudo isso estudando a parte “chata” do livro que é a teórica. A partir desse dia descobri que os “exercícios” que tanto dava valor em resolver eram apenas reflexo da intuição da pessoa que fez a descoberta, e que resolver um exercício sem intuir a matéria era apenas uma “dança de números”.

Meu método desde então é gastar muito tempo intuindo a “lógica”, a “prática”, a “realidade” que está muito antes das conclusões cheias de interpretações humanas. O dado bruto é a fonte. Se não estamos na fonte, nosso aprendizado depende de muita leitura de outros autores explicando suas conclusões e que no geral, omitem ou dão pouca ênfase ao experimento, não permitindo assim que cada um tire suas próprias conclusões gerando um real sistema dialético.

A pesquisa que já vem concluída e nos obriga a concordar torna um mundo cheio de “respostas” ensinando o que é “certo e errado” ocultando verdadeiros enigmas que estão na região mais primitiva de todo conceito ou teoria.

Um exemplo de enigma primitivo é a noção de “ponto” da geometria. É por definição uma verdade evidente indemonstrável. E em toda a ciência estes, chamados axiomas, estão em todos os lados.

A maior parte da ciência é evidente e indemonstrável. Podemos medir. Porém podemos estudar as medições e encontrar seus axiomas e ver que medir não é algo tão real quanto parece. Há sempre um humano delimitando o que é e o que não é, tentando se assegurar ao máximo da sua validade, porém esse máximo nunca chega a tocar algo que podemos concluir como definitivo. É como a pintura de Michelando na Capela Sistina em que Deus e o homem estão por quase tocar-se porém não tocam. É a assíntota da matemática que chega absurdamente perto do eixo, mas que insistentemente nunca encosta.

A ciência por si tem esse caráter de ser “falseável”. Isso significa que as descobertas são consideradas verdades até que alguém demonstre algo mais consistente que deflagre uma falha. E isso é um princípio excelente. Permite o avanço. Deflagra nossa falibilidade.

Isso tudo que comentei é um exemplo que na sua espontaneidade aparenta ser conhecimento “vivo”. Mostra a curiosidade em ação querendo expandir seus territórios. Curiosidade que tudo que é vivo tem. Esse desejo de explorar tudo ao seu redor.

Porque o adolescente perde dias jogando vídeo-game? Porque ele deixa de comer por estar jogando? Porque ele perde o sono? Porque ele faz tudo isso de graça e ainda reclama quando alguém pede para parar? Porque recebemos dinheiro para trabalhar e ainda assim vamos ao trabalho reclamando? Como andam as motivações?

Está na hora de reavaliar nossa forma de viver e de ensinar. Os modelos de educação precisam ser revistos. Aprender e viver não são passíveis de separação. Há um novo casamento entre aluno/professor pronto para eclodir. O ensino à distância é uma porta que tende a ganhar força justamente por preencher esta nova forma, porém não a única.

Nem todo aluno se dará bem à distância. Porém o aluno que nasceu com o ímpeto de se auto-desenvolver vai “penar” nos cursos presenciais. Outros que antes deixariam de estudar porque trabalham podem passar o resto da vida estudando.

Todo dia é um bom dia para se pensar no “efeito reverso” que causamos. Quando nossa intenção é uma e estamos na prática atingindo o oposto.

É isso

Hobbert Jász
Enviado por Hobbert Jász em 24/03/2014
Código do texto: T4742437
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.