Disopia de uma realidade

Resumo

Tão logo o fato ocorrido no dia 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos da América, nos preocupamos em investigar a realidade presente. Este fato é considerado por nós como o primeiro acontecimento a nível internacional com possibilidades de uma possível guerra que, no nono mês do século XXI, provocou alternativas de mudanças na realidade em que vivemos. Os Estados Unidos da América foram agredidos naquilo que o mundo considerava o símbolo do poder econômico mundial. Agredidos por quem? A partir desta questão, como em outros tempos, o Islã tornou-se o maior símbolo de discriminação que a história pôde testemunhar, pois é apresentado pela mídia como o agressor, a única resposta plausível, mas não convincente. Mas, o que é o Islã?

Palavras-chave: mídia – religião – islamismo

Considerações Iniciais

“... Quando me desespero, vejo que através da História a verdade e o amor sempre triunfaram. Houve tiranos e assassinos que sempre venceram. Mas, nos fim, sempre tombaram.” (Mahatma Gandhi).

O momento atual é marcante. Vivemos uma realidade que nos exige profundas reflexões. O fato ocorrido nos Estados Unidos da América em setembro/2001, por um lado, assombrou o mundo com imagens jamais vistas em decorrência do choque dos aviões no World Trade Center, símbolo do poder econômico mundial, vitimando milhares de pessoas representantes de, aproximadamente, 42% dos países do planeta. Por outro, o referido fato, além de nos tornar testemunhas oculares de um momento histórico ímpar, faz de nós, educadores responsáveis que somos, elementos importantes no processo formador de consciências, com vistas a esclarecer dúvidas que, aliás, são muitas tanto por parte da população quanto por parte da maioria dos educandos, cujas dificuldades de entendimento são proporcionadas pelo excesso de informações desencontradas oriundas dos meios de comunicação de massa: rádios, tv’s, jornais, etc., onde, todos, ao mesmo tempo, procuram ganhar o maior índice de audiência possível.

Em primeiro lugar, conforme já dissemos, temos que perceber que o momento é histórico e esse excesso de informações desencontradas confunde o ouvinte, o telespectador e o próprio leitor assíduo de jornais. A maioria dos educandos como seus pais e, até mesmo muitos educadores, desconhecem a realidade atual ficando impossibilitados de a analisarem cientificamente. Isto porque temos mais conhecimentos de um dos contendores do que de outro.

Enfatizamos que a maioria da população ouve mais sobre Estados Unidos da América do que sobre o Afeganistão e sabem menos ainda sobre o que vem a ser o Islã. O que se ouve falar destes últimos revela verdadeiramente uma grande falta de conhecimento. Vejam: dias atrás, tivemos a oportunidade de ouvir um educador passando a seus alunos que Maomé conhecera a Jesus Cristo pessoalmente, o que consideramos um grande absurdo. Através dessa infeliz colocação pudemos comprovar, de fato, uma grande falta de conhecimento por parte de muitos educadores que, talvez, não cheguem a esse ponto, mas que, certamente, se deixam vitimar pelos meios de comunicação assim como a maioria da população brasileira.

Nesse sentido, sugerimos que a busca do conhecimento, em relação ao assunto em voga, se proceda nos livros, pois eles nos dão melhores condições de entendimento. Infelizmente, ler é algo que dá prazer a poucas pessoas.

Disopia de uma realidade.

“O poder é invisível, esconde-se em sociedades anônimas... o poder permanece. Para ele, a política é a arte de preservar sua hegemonia”. (Frei Beto)

Os Estados Unidos da América pertencem a uma nação cuja mentalidade colonizadora prima pela propriedade e prosperidade. Esta, aliás, tornou-se o mandamento número um do homem norte-americano que não mede esforços para ascender-se política e socialmente, nem que para isso seja preciso subjugar outras nações: a América Latina, o continente africano e grande parte da Ásia, atualmente, está à mercê da política econômica globalizada e neoliberal. Tal política é geradora da fome, da pobreza e da miséria de muitos povos e nações. O F.M.I., por exemplo, é uma organização mundial que tem por principal objetivo defender os interesses de países membros, como os E.U.A., em detrimento da maioria população mundial, subjugando várias nações.

Como exemplo, citamos o Brasil, detentor de uma realidade extremamente assoladora: 65 milhões de analfabetos, 40 milhões de famintos onde 300 mil crianças morrem de inanição por ano. Milhões de pessoas sem terra e sem teto habitando os porões da humanidade; um sistema de saúde que aos poucos vai se privatizando e que morosamente vai revelando que ela tornar-se-á um privilégio das elites; uma Educação falida e tendendo, fortemente, à escravização mental, revelando-a como um dos principais aparelhos ideológicos do Estado e seguidora das determinações impostas pelas grandes potências.

É difícil reconhecermos que somos povos subjugados. Todavia, há povos que não se deixam escravizar, como é o caso do Afeganistão que se localiza, geograficamente, no Sudoeste da Ásia a norte-noroeste do Paquistão. Essa localização corresponde a uma região de cadeias montanhosas, grandes desertos e a água é uma raridade. Neste país, a vida é vivida a cada dia e se manter vivo é um desafio do cotidiano, portanto, sobreviver lá, é um privilegio de poucos, pois a natureza em si tornou-se o grande inimigo dos afegãos de modo geral. Nesse ínterim, quem provê forças ao povo para que ele supere tais agruras é a religião: o Islamismo, fundado por Maomé, em 622, quando o profeta unificou as tribos árabes. Daí em diante a religião espalhou-se pelo mundo, vindo alcançar o sudoeste asiático um século mais tarde no auge do expansionismo islâmico que perdurou até o século XV.

O fundador dessa religião, quando a criou, fundamentou-se em elementos do Judaísmo e do Cristianismo e, após a sua morte, um livro sagrado foi legitimado, segundo a doutrina islâmica, o Alcorão ou Corão que, em suma, é portador de leis e preceitos que, de acordo com a crença, foram transmitidos por Deus a Maomé. Os principais seguidores deste livro são os radicais xiitas. Todavia, existe um segundo livro que é a Suna, cuja redação deixa transparecer os feitos de Maomé. Seus defensores são denominados sunitas, também radicais ao extremo. Maomé foi denominado “único profeta de Alá” e, tendo morrido, ambos os livros foram sacralizados. Xiitas e Sunitas, na verdade, foram os responsáveis de transformar o Islã numa religião o que, na verdade, contraria os princípios de Maomé. Destacamos abaixo alguns trechos do Alcorão:

“Quando vos dispuserdes à oração, purificai antes o rosto, as mãos até os cotovelos, a face até as orelhas, e os pés até os tornozelos. O asseio é a chave da oração.”

“Socorrei vossos filhos, vossos parentes, os órfãos, os pobres, os peregrinos; o bem que fizerdes será conhecido do Onipotente. Daí esmola de dia, à noite, em público ou em segredo; sereis recompensados pelas mãos do Eterno e ficareis isentos dos terrores e tormentos. Aquele que dá por ostentação é semelhante a um rochedo coberto de pó; vem a chuva e não lhe resta senão a dureza.”

No mês de Ramada, comer e beber só vos é permitido até o momento em que a claridade vos deixar distinguir um fio branco de um fio preto: jejuai então do começo do dia até a noite e passai o dia em oração.”

“Deus não deixará perecer as obras dos que tiverem sucumbido em seu caminho. Ele os dirigirá e tornará retos seus corações. E os introduzirá no paraíso.”

Grande parte dos povos que habitam a região da Palestina e do Afeganistão, são descendentes da tribo de Ismael, primeiro filho de Abraão. Após a expulsão de Agar, a escrava com quem Abraão gerara Ismael, ela e seu filho foram habitar a região que hoje compreende a Arábia, dando origem a esses povos. Isso, a partir de 1850 a.C. Seus descendentes, no ano 1250 a.C., acolheram a Moisés, quando da sua expulsão do Egito. Este, por sua vez, se casa com uma das descendentes dos ismaelitas: Séphora, e ambos se unem para a libertação dos hebreus que estavam cativos no Egito por mais de 400 anos.

Diante disso, afirmamos que os seguidores do Islã e do Judaísmo provêm da mesma extirpe: Abraão, e eles têm algo em comum: a necessidade da terra para a sobrevivência de seus povos e, por isso não admitem que invasores venham tomá-las. A terra é, para eles, algo sagrado. Desta forma, são portadores de culturas milenares, portanto, não aceitam a imposição de países prepotentes que objetivam novas maneiras de ser, pensar e agir, de forma a subjugar suas leis, tradições, costumes e ordem. Destacam-se como fiéis defensores da pátria, pois a compreendem como a terra que lhes foi dada por Deus. Para os entendermos melhor é preciso mergulhar em suas culturas. Por este motivo, afirmo que os meios de comunicação passam informações desencontradas que, em verdade, desinformam mais do que informam.

Nenhum afegão dobrará os seus joelhos diante dos E.U.A. e de qualquer país que seja, mesmo por intermédio daquilo que a mídia está denominando de guerra, ou ainda, por intermédio das informações que nos inculcam o suposto extremo radicalismo islâmico. É, de fato, uma grande guerra. Mas, não podemos vê-la assim, pois, não estamos nos tornando testemunhas oculares de uma guerra. Fazemos parte de um grupo de espectadores que assistem à ópera da vida cujo momento nos apresenta o terceiro ato, ou seja, o ato de violência que uma nação ofendida, radicalmente apoiado pela Inglaterra, está cometendo com crianças e velhos desprotegidos: assassinam seus pais e alimentam os filhos através dos aviões militares – fabricados com o dinheiro obtido por intermédio da espoliação, do sangue, do suor e das lágrimas geradas pela fome, pobreza e miséria de povos latino-americanos, africanos e asiáticos –, que bombardeiam e jogam rações, capazes de alimentar uma única pessoa por um dia, que caem de pára-quedas em regiões isoladas ou em campos minados.

O que faz a política dos dominadores?

“É tempo de lembrar, contra os excessos de um comparativismo intelectual hoje muito em moda, que as idéias não passeiam nuas pela rua; que elas são levadas por homens que pertencem eles próprios a conjuntos sociais” (Jacques Lulliard)

Não buscamos aqui justificar o ataque ao World Trade Center. Queremos dizer que muitos povos agredidos na sua integridade física e moral, não suportam mais serem violentados em suas dignidades, o que os fazem utilizar os recursos que julgam ser os mais propícios para notificarem que ainda estão vivos e com forças suficientes para defender o que lhes pertence.

É justo que façamos um minuto de silêncio pelas vítimas do fatídico dia 11 de setembro. Um setembro negro para o mundo. Mas, se recorrermos à História, as vinte e quatro horas do dia não seriam suficientes para dedicarmos minutos de silêncios em prol das vítimas mundiais que tombaram diante da geoestratégia e geopolítica exercida ao longo do século XX pelos norte-americanos.

Para ilustrar, podemos citar, dentre muitos e bizarros exemplos, a espoliação do povo mexicano e a conseqüente aquisição de suas terras por uns míseros dólares, o Texas; as duas bombas atômicas disparadas pelos estadunidenses, através do avião Enola Gay, contra Hiroshima e Nagazaki que, até hoje, 56 anos depois, continuam a produzir vítimas: crianças que nascem malformadas ou com graves problemas de saúde; os mais de 130 mil afegãos mortos na década de 1980 durante a guerra para expulsar o Exército Vermelho do Afeganistão na qual os Estados Unidos financiaram os guerreiros afegãos e os que se dispunham a lutar pelo Afeganistão como Ozama bin Laden, que, sem dúvida alguma, pratica atualmente o que foi ensinado pelos próprios norte-americanos; analogamente, milhares de iranianos e iraquianos mortos na guerra Irã x Iraque na qual Sadan Hussein também recebeu recursos do Tio San; os milhares e milhares de vietnamitas, os milhões de africanos, as centenas de milhares de indianos, os milhares de brasileiros no período da Ditadura Militar... E, percebam, não queremos mencionar as vítimas da América Central. Quantos foram martirizados! Tudo isso em um curto espaço de tempo.

Temos que ser solidários aos parentes dos que morreram em conseqüência dos choques daqueles aviões nos prédios americanos, mas, não podemos esquecer as milhões de pessoas violentadas, que padeceram no passado, e dos milhões que ainda padecem no presente. A paz não será justificada pela guerra. A paz só será alcançada quando as grandes potências aprenderem a respeitar os direitos dos povos que hoje são menos favorecidos e compreenderem que devam reembolsá-los pelo fato de os terem explorados e os esbulharam num passado não muito distante.

Qual seria, então, a verdadeira razão pela qual os E.U.A. se disponibilizaram a destruir, de vez por todas, o Afeganistão? Somos convidados a refletir sobre este questionamento!

Encontramos na região afegã, além de desertos e montanhas, regiões ricas em minério: carvão, ferro, gás natural, lápis-lazúli, chumbo, zinco, cobre, manganês, cromo, berilo, enxofre e salitre; e, ultimamente, registra-se a descoberta de petróleo. Obviamente, não nos será muito difícil deduzir porque os norte-americanos e ingleses desejam não somente destruir bin Laden, mas, também, a toda uma nação. Os depósitos petrolíferos dos norte-americanos, que controlam o mercado mundial, têm reservas que durarão somente até o ano 2050.

Desta forma, se eles não procurarem uma forma de preservarem a hegemonia sobre tal recurso energético, correm o risco de terem de enfrentar uma situação econômica típica dos países que hoje estão à sua mercê. Para evitar este caos, os norte-americanos contam com o apoio dos ingleses que dominaram, por séculos, os continentes anteriormente citados.

Como podemos ver, atrás da máscara de combate ao terrorismo, esconde-se uma ação de terror ainda maior. Essa ação norte-americana utiliza recursos que lhes são propícios, de forma disfarçada e avalizada pelos meios de comunicação que buscam desviar a atenção da população mundial para a realidade nua e crua, intrínseca que se revela à nossa frente. Como era de se esperar, um dos recursos utilizados pelos senhores da guerra e que fará parte de um outro ato, será, por sua vez, a guerra bacteriológica: o bactéria antraz já começou a se espalhar pelos Estados Unidos.

Quem levará a culpa? Os soldados da morte do Taliban e Ozama ou a Sadan Hussein? Num futuro próximo saberemos, pois a mídia está aí para cumprir o seu papel em favor da ideologia das grandes potências e em detrimento das pequenas e massificadas. Infelizmente, nossos olhos são vendados e nossas mentes manipuladas pelo desencontro das informações que nos são passadas.

Outras questões que nos açulam a minudenciar tal realidade é: por que a maioria dos países que repudiaram o fato ocorrido no dia 11 de setembro, se colocaram favorável a qualquer ação norte-americana no combate ao terror e, depois, lentamente foram revendo suas posições. E ainda, por que os Estados Unidos da América demoraram basicamente 30 dias para revidar ao ataque ao World Trade Center?

A primeira questão, a nosso ver, de um lado, revela uma estratégia política: a maioria dos países do mundo, principalmente os mais desenvolvidos, possuem órgãos oficiais de inteligência que ao se fazerem presentes em outros países atuando ilegalmente em favor de seu país de origem, se identificados podem ser considerados espiões ou propagadores do terror. Isso representou um grande obstáculo para a ação norte-americana que não considerou viável expor seus agentes; e de outro, os Estados Unidos da América mediante as manifestações de apoio não podiam deixar que esse quadro que lhe era favorável se revertesse, ou seja, que os países que os apoiaram naquele contexto histórico mundial que se desenrolava viessem rever a posição tomada naquele fatídico dia 11.

Posteriormente àquela realidade, a gama de informações obtidas via satélite não foram suficientes para favorecer sua ação num curto espaço de tempo. Deste modo, os norte-americanos foram obrigados a fazer uso de seu serviço diplomático, ou seja, da competência das Relações Internacionais para assegurar o apoio manifestado pelos demais países, incluindo os que professam a fé islâmica. Enquanto isso, os países manifestantes houveram por bem esperar as conclusões dos Estados Unidos da América.

A segunda vem nos revelar que a maior potência do mundo enfrenta grandes dificuldades para identificar grupos terroristas por eles criados, treinados e financiados para espalharem o terror pelo planeta. E o pior: esses grupos resolveram rebelarem-se, notoriamente por acordos secretos não cumpridos, contra àqueles que os partejaram. Isto obrigaram os norte-americanos a refletirem e, enquanto assim o faziam, a mídia ocupava-se de manobrar as opiniões populares mundiais. Qual dos terroristas mundiais criados pelos norte-americanos poderia representar o perigo mais iminente? Uma pergunta que trinta dias não foram suficientes para respondê-la. De qualquer forma, o financiado norte-americano que mais poderia ameaçá-los, vinha de uma região árida, seca, desértica e montanhosa.

Mas, ameaçá-los de que forma? Como seria possível a pastores de cabras e cabritos famintos e miseráveis e detentores de uma vida desgraçada pelo sol causticante do deserto e pelas intempéries da noite virem a ameaçar os norte-americanos? É bem verdade que encontramos lá, também, pessoas extremamente ricas e detentoras de fortunas invejáveis. Apesar do contraste bastante presente que representa um enorme abismo entre a riqueza e a pobreza que é comum entre esses povos, eles possuem um dom que não é comum as demais nações, ou seja, a paciência, porém, não podemos esquecer das bacias petrolíferas teoricamente inexploradas.

Islã: amor rejeitado e paz discriminada pelo mundo. Uma outra disopia.

“Se um relato é aprendido automaticamente, então as palavras pertencem à tradição. Se a forma de apresentação é fixa, então a estrutura pertence à tradição”. (Peter Burke: A escrita da História)

Tudo o que diz respeito aos islâmicos torna-se muito curioso e para nós, extremamente difícil, se não procurarmos pesquisá-los através do que eles possuem de mais sagrado: o Alcorão ou Corão que se constitui numa espécie de código moral e justiça, definindo também normas de comportamento moral, jamais aprenderemos sobre a sua cultura e seu modo de vida.

Contudo, afirmamos que eles são passíveis e portadores da paz, embora podemos encontrar, ao manusear o seu livro santo, palavras cujos significados são transmitidos por muitos educadores de forma errônea, como, por exemplo, a palavra jihad. Para muitos professores, tem o significado de guerra santa, quando, na verdade, significa “paz”. Não os podemos culpá-los, tendo em vista que a maioria dos livros didáticos de História que estão disponíveis nas bibliotecas das escolas de nosso país e, por conseguinte, são utilizados em grande parte pelos educadores, referenciam em páginas, que discorrem sobre essa temática, este erro.

Nos vemos também obrigados a dizer que grande parte dos conhecimentos, que hoje são dominados pelo mundo ocidental, advêm do mundo oriental e, particularmente, da nação que criou a religião islâmica: a ciência: a astronomia, a matemática, medicina, filosofia e botânica; às vezes também eram poetas e escritores. Assim foi, por exemplo, Avicena (980-1037), o príncipe dos filósofos. Destacam-se também nas Artes.

Em contribuição para o aprimoramento de nossos conhecimentos, eles foram os conquistadores da Espanha por oito séculos e nesse período, a terra dos espanhóis tornou-se ponto de convergência para os países cujos governantes empreendiam longas viagens na busca do saber. Pensamos, ainda, que jamais seria possível a portugueses e espanhóis alcançarem a América se não fizessem uso de instrumentos náuticos pesquisados, experimentados e construídos pelos árabes.

Fazemos uso neste momento, de um trecho escrito por Mohamed ibne Mozaine no século XI, em decorrência da conquista da Espanha pelos muçulmanos:

“Conquistada a Espanha, Muça... dividiu o território da Península entre os militares que vieram à conquista, da mesma maneira que entre eles distribuíra os cativos e os demais bens móveis arrecadados como presa. Então deduziu o quinto das terras e dos campos cultivados, do mesmo modo que deduzira antes o dos cativos e objetos móveis... Quanto aos outros cristãos que estavam em lugares inacessíveis e nos montes elevados, Muça... deixou-lhes os seus bens e o uso da sua religião, mediante o pagamento de um tributo...”

Diante do exposto, resta-nos um outro questionamento: que vem a ser o Islamismo? Em busca de uma resposta convincente para tal pergunta, em nossas investigações, encontramos um artigo intitulado “E se o Islã fosse outra coisa?” De Emílio Galindo, na Agenda Latino Americana de 2002, do qual nos referenciamos e que vem somar às nossas reflexões.

“E se o Islã fosse outra coisa, bem diferente do que já nos foi dito e repetido tantas vezes, com tantos preconceitos contra o que foi um grande presente de Deus à humanidade, para que nós pudéssemos recordar algo de que nos havíamos esquecido?

O Islã é um dos temas mais importantes, se verdadeiramente quisermos estar atentos ao que se passa no mundo. Gostemos ou não gostemos, o Islã é uma das fortes raízes do futuro da humanidade.

Os muçulmanos são atualmente aproximadamente 1,2 bilhão de pessoas, uma quinta parte da humanidade. Diante do mundo ocidental, considerado um mundo de idosos, o Islã possui muitos seguidores jovens. Falham todos os planos de desenvolvimento, porque a demografia se impõe ao planejamento, E ale, disto é um mundo de profunda e riquíssima cultura e de grande religiosidade. Com freqüência, a religião do Islã é a mais ignorada.

Pode-se afirmar que o Islã tem sido historicamente, ao menos em nosso mundo ocidental cristão, a religião mais desprezada, caluniada e maltratada na história; sem falar de seu fundador, Maomé, considerado pelos ocidentais de maneira negativa.

Como todos os grandes e autênticos movimentos da humanidade, os movimentos religiosos da história, o Islã tem sua origem na experiência ardente de um místico, chamado Maomé, nascido em Meca no ano de 570 d.C. Todos os que o conheceram foram unânimes em afirmar que era um homem piedoso, honesto e caridoso, todos recorriam a ele para pedir orientações. Era conhecido pelos qualificativos de “o piedoso”, “o justo, o amigo do necessitado e defensor do oprimido”, e até mesmo de “um homem pleno de Deus”.

Maomé começou pregando, não uma doutrina, não o Alcorão, mas o Islã, uma “postura”. Todo o Islã é um comportamento, uma vida nova, um entregar-se totalmente sem condições nem dúvidas a Deus, é a entrega total de alguém a Deus.

Se, em sua origem, o Islã é fruto de uma experiência, em sua mensagem dinâmica tem como tarefa principal o recordar. A palavra-chave que melhor define o Islã como missão é “a recordação”. Se é recordação, isto quer dizer que o Islã nunca quis ser uma religião, como tampouco Jesus. Quem faz uma verdadeira experiência de Deus não funda religiões. Isto farão aqueles que vêm depois, os que perceberem que o nome de Deus é “útil”.

O Islã nunca quis ser uma religião. Por isso, um de seus grandes representantes, o místico Rumi disse: “O homem de Deus, quer dizer, aquele que fez a verdadeira experiência de Deus, está além da religião”. Maomé não quis criar outra religião ao lado do Cristianismo e Judaísmo. Talvez tivesse sido a conjuntura, a não-recepção, a rejeição de seu valor profético que fizeram com que pouco a pouco fosse distanciando delas. Este distanciamento cada vez maior do Judaísmo e do Cristianismo terá sido mais um acidente conjuntural que uma verdadeira razão de fundo.

O fundamentalismo que atribuímos ao Islã, é uma palavra que não a conhecem os muçulmanos nem os árabes. Mas foi aplicada de tal forma que, quando se fala de fundamentalismo, todos pensam no Islã. Em todas as religiões, em todos os partidos políticos, em que encontramos a mão do ser humano, acha-se fundamentalismo, a exclusão. Nunca se pode ser fundamentalista em nome de Deus.

A concepção de Deus no Islã, é a de um Deus que é infinitamente parcial, comprometido e comprometedor, tal é o Deus da experiência de Maomé, um Deus que ajuda a descobrir o caráter sagrado, único do ser humano, sobretudo dos menores, dos fracos, órfãos, viúvas, pobres...

É necessário ler o Alcorão, não para encontrar pontos fracos – que também podemos encontrar até no Evangelho – mas a mensagem, a interioridade, a experiência, o otimismo.

O Islã foi um movimento revolucionário, como também o Cristianismo. E aconteceu com ele a mesma coisa: quando se acomoda e se expande no mundo, perde o espírito e se converte numa religião. Seguem-no um grupo de fiéis, cujo movimento desenvolveu-se pela pregação de Maomé, que recorda a submissão total a Deus e a solidariedade e justiça, com os mais pobres, apresentando-se diante de uma sociedade classista e materialista a Meca e Arábia, como revolucionário.

Este movimento revolucionário, esta luta contra a opressão religiosa trouxe conseqüências constantes ao Islã. A mais característica é a iconoclastia, a rejeição das imagens. Isto é algo fundamental, a rejeição das imagens fabricadas, diante das quais os fiéis fazem adoração e, de modo mais geral, a desconfiança para com toda a representação religiosa. Daqui nasce o fato de que, na mesquita, não há imagens. Quando Maomé retornou triunfante de Medina e ocupou a Meca, entrou na Kaabah e tirou todas as imagens, com exceção (algo que até é curioso), das imagens de Jesus e de Maria.

Outra curiosidade deste aspecto revolucionário do Islã é a prioridade do ético sobre o cultural. O Islã julga os poderes estabelecidos em nome dos valores de justiça e de pureza. O Islã não admite intermediários, hierarquias, pessoas que julguem a consciência dos demais, porque Deus é o absoluto e somente o ser humano é que livremente deve se submeter a ele.

Com um golpe único, elimina o clero, hierarquias, instituições... Mesmo que depois, na história, tenha caído também na tentação, e tenham aparecido os aiatolás, os ulemás...

Esta preocupação ética tem uma dimensão social e coletiva, que não limita sua perspectiva a uma salvação individual. A primeira comunidade muçulmana foi perseguida, como foram os primeiros cristãos, porque perturbavam a ordem estabelecida. Foram obrigados a fugir da Etiópia, porque Negus era cristão. Até que finalmente fizeram a grande hégira (emigração) com todo o povo, como fez Moisés.

Dizia Maomé, que a busca de Deus é um exílio, Abraão também tinha recebido a mesma ordem: abandona a tua terra e vai... Buscar a Deus é se exilar, estar certo de haver encontrado Deus é sempre caminhar.

Em Medina, Maomé se sente responsável pela comunidade que ele convocou, organizou e que o seguiu. Prega, convoca, forma a comunidade, mas o faz sem ser protagonista de nenhuma maneira, por isso os muçulmanos sentem-se ofendidíssimos quando são chamados de maometanos e o movimento religioso, de maometanismo.

Isto deve ser dito, porque podemos cair no mesmo erro sem percebermos. É como prostituir a mais autêntica de sua mensagem, só e exclusivamente, na submissão radical a Deus. Não seguem a Maomé, não são seus seguidores, como os budistas de Buda e os cristãos de Cristo. Seguem única e exclusivamente a Deus.

O Islã é fundamentalmente aberto ao recrutamento universal. O Islã quis ser – como o Cristianismo “quis ser”, não uma religião nova, mas a recordação do de sempre, não doutrina, mas atitude nova, novo desejo de entregar-se incondicionalmente a Deus, como fez Abraão, esta é a grande obsessão do Islã.

O Deus do Islã não é alguém que se explica, mas alguém com quem nos comprometemos. Não é sistema religioso de poder, mas comunidade de irmãos iguais, plenamente leigos ou seculares, guiados pela vontade de Deus. Não é um grupo de puritanos, sectários e fanáticos.

O importante na vida, é que todos, muçulmanos, budistas, judeus e cristãos convertamo-nos verdadeiramente, de uma vez por todas, a Deus. Porque uma coisa é “convertermo-nos a Deus” e outra é “mudar de religião”.

Os caminhos não têm importância, porque todos levam ao mesmo lugar. O missionário que só se preocupa em converter as pessoas, mudando-as de religião não é nada mais que um funcionário da religião, da mesma forma que pode ser um partido. Se nos convertemos a Deus não estamos preocupados em fazer guerras, em amaldiçoar e em destruir o outro...”

Como nós, Galindo também faz uso de um texto do grande Múrcia, Espanha, mas universal, Ibn Arabi do século XIII, que também foi perseguido pelos sábios. O que diz, cremos que vale como programa de vida a todos os católicos, ortodoxos, anglicanos, protestantes de forma em geral, budistas, hinduístas, xintoístas, etc., que temos que realizar, assim pensamos que deveria ser colocado em todas as universidades, faculdades, educandários de Ensino fundamental e Médio, escolas de Teologia, no Santo Ofício...

“Houve tempo em que eu rejeitava meu próximo, se sua religião não fosse como a minha. Agora, meu coração se converteu no receptáculo de todas as formas religiosas, o prado das gazelas e o claustro dos monges cristãos, templo de ídolos e Kaabah de peregrinos, tábuas da lei e livros do Alcorão, porque professo a religião do amor e vou aonde quero ir, pois o amor é meu credo e minha fé”.

São as duas etapas que, cremos, temos que percorrer todos. Oxalá o façamos.

Considerações finais

“As questões fundamentais são aquelas que dizem respeito à origem e à natureza última do homem, em todos os seus aspectos e nas suas relações com o mundo”. (Nicola Abbagnano)

Como vimos, este pouco conhecimento, o qual nos preocupamos transmitir-lhes, possa, de certa forma, ser somado ao de vocês e novos entendimentos sobre a temática da nossa realidade atual, venham a ser apresentados. Cremos, de modo muito particular, que todos se permitam, através da investigação, serem produtores de conhecimentos, no entanto, que sejam produzidos de maneira científica, ou seja, organizada, ordenada e metódica.

Devemos reconhecer que não somos portadores do conhecimento absoluto pois o saber absoluto é inimigo do conhecimento profundo. Todos nos temos condições e a obrigação de contribuir para a construção do saber. Todavia, é preciso embrenhar-se nos livros, pesquisá-los profundamente e decifrar, não o que dizem as suas linhas, mas, o que eles nos revelam em suas entrelinhas.

Portanto, devemos também ter sabedoria diante dos meios de comunicação os quais devam ser encarados de forma cética, pois nem tudo que se apresenta como é, o é da forma como se apresenta. Nem tudo que lemos expressa a verdade que supomos ser. Com certeza, tais meios buscam fazer de nós o que não somos e o que não queremos ser, fazendo valer o pensamento do filósofo que assim disse: “o homem não é o que é, mas é o que não é”.

Estejamos atentos, novos dias virão. Um erro não justifica o outro e a guerra jamais irá trazer a paz. A realidade atual exige de nós mais do que podemos imaginar, não devemos nos comportar apenas como meros espectadores da realidade que nos cerca. É preciso que nos tornemos seus protagonistas, para tanto, faz-se necessário que a transformemos para que outros possam ser beneficiados. Antes, porém, é preciso que transformemos em primeiro lugar o nosso interior: no ser, pensar e agir. Somente assim poderemos compreender a dura realidade na qual estamos inseridos.

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