AUTISMO: UMA ABORDAGEM INCLUSIVA DA LINGUAGEM

Roberto Carlos Bastos da Paixão

Tânia Maria da Conceição Meneses Silva

Josevânia Teixeira Guedes

Este extrato de artigo científico apresenta uma revisão de literatura acerca das síndromes do Autismo e de Asperger. Foram predominantemente consultadas fontes eletrônicas envolvendo livros online, dissertações de Mestrado, teses de Doutorado, Revistas e Periódicos especializados sobre a temática em estudo. Os resultados apontam, de forma geral, para a necessidade de ampliar o debate teórico, vez que ficou evidente a pequena produção no Brasil. Acerca do Autismo foram abordados aspectos clínicos e sociais, além das perspectivas educacionais diante das dificuldades mais acentuadas dos autistas (a comunicação) e, ainda, da aquisição de uma segunda linguagem, neste caso, especificamente a Língua Inglesa.

A novela Amor à vida, exibida na Rede Globo 2013/2014, pôs o autismo na pauta para as discussões cotidianas, mesmo tendo sido criticada por estudiosos que se manifestaram a respeito da superficialidade como o tema foi tratado. Em detrimento das críticas, a exposição do tema na televisão se tornou uma oportunidade que convoca também a responsabilidade de pais e educadores que precisam ser informados quanto às características do autismo que é “[...] uma perturbação neurobiológica global do desenvolvimento que se inicia normalmente antes dos três anos de idade e causa défices marcados na socialização, na linguagem e no comportamento”. (REGO, 2011, p.1).

Cabe explicitar que a busca em sites especializados demonstrou uma sensível diferença entre o Brasil e os Estados Unidos e países europeus quanto ao número de estudos produzidos sobre o autismo, especialmente no campo educacional.

Importante estudo de Kirsten (2012) foi desenvolvido sobre um modelo animal de autismo que utilizou ratos. Esse estudioso confirma que o distúrbio pode ser detectado antes de a criança completar os três anos de idade, “sendo alguns sintomas perceptíveis já aos seis meses de idade. Com relação à prevalência entre os sexos, o autismo é mais prevalente em homens, com uma razão de prevalência homem: mulher de 4,2: 1(KIRSTEN, 2012, p. 25 apud Fombone, 2005/2009).

As conclusões do estudo de Kirsten, uma Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Patologia Experimental e Comparada da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, umexperimento que consistiu em injetar uma toxina extraída da membrana da bactéria E. coli chamada lipopolissacarídeo (LPS) em ratas no nono dia e meio de gestação, apontaram para o fato de que “a exposição pré-natal ao LPS (100 μg/kg no GD 9,5) prejudicou a comunicação, causou comportamentos repetitivos/restritos, inflexibilidade cognitiva e levou a ausência de demonstração de medo em situações potencialmente perigosas na prole masculina de ratas”. (KIRSTEN, 2012, p. 129).

Por sua vez, a definição da Organização Mundial de Saúde define o autismo “[...] como um distúrbio do desenvolvimento, sem cura e severamente incapacitante”. (MANTOAN, 1997, p. 13).

De complexa etiologia, o autismo é caracterizado como um distúrbio heterogêneo, “diagnosticado subjetivamente na base de um grande número de critérios”. Estudos indicam a variedade de fatores genéticos na base do autismo. Além do que, as “condições ambientais, neurobiológicas, neuroanatómicas, metabólicas e imunológicas encontram-se em estudo”. Em virtude de tal complexidade, é continuadamente estudada a “diversidade de biomarcadores, com a esperança de que venham a revelar as suas causas e garantir o diagnóstico e tratamento precoces para alcançar uma abordagem terapêutica mais eficaz nestes doentes” (REGO, 2011, p.1).

Este é o ensinamento da Medicina, trata-se de uma doença sem cura, mas, quanto aos pais e educadores, cabe a atenção devida ao comportamento das crianças dentro de casa e na escola. Essa atenção precisa de um mínimo conhecimento de causa a respeito da síndrome para que as crianças autistas não sejam tratadas de forma exclusiva, preconceituosa e constrangedora e que, geralmente, faz com que educadores se sintam incapacitados desprovidos de recursos apropriados “para lidar com os problemas que surgem no cotidiano escolar no trato com os alunos com autismo, recorram aos serviços de avaliação e psicodiagnóstico, por vezes, para solicitar ajuda, por outras, para buscar cumplicidade na transferência da responsabilidade para outra instância” (BRANDIZZI, 2009, p. 27).

Autismo é um termo de origem grega formado por “autos”, que significa “o próprio” e do sufixo “ismo” que remete para uma ideia de orientação ou estado, o substantivo autismo aponta para uma “condição ou estado de alguém que apresenta tendência para o alheamento da realidade exterior, a par de uma atitude de permanente concentração em si próprio” (PEREIRA, 2006, p. 9).

Segundo Fernandes et AL (xxx, p. 2), existe também a crença de que a origem do autismo se relacione à“anormalidade em alguma parte do cérebro ainda não definida, e provavelmente, de origem genética”. Antigamente, disseminou-se uma hipótese que atribuía a causa do autismo “à frieza ou rejeição materna”.

Alguns eventos peculiares podem ajudar pais e educadores a reconhecerem uma criança autista. O comportamento dessa criança demonstra, entre outras manifestações, que ela não atende pelo nome, quando chamada; geralmente prefere permanecer sozinha e, ainda bebê, gosta mais de estar no berço do que na companhia dos pais ou outros parentes; não é de estar falando, manifestando o pensamento, não fixa o olhar e transmite uma impressão de apatia; a fisionomia é distante, pobre em expressividade e a criança não compartilha e nem interage com outros de sua idade; demonstra alheamento ao que acontece ao seu redor e não se interessa quando os pais voltam para casa; não estranha pessoas e pode trocar de colo sem que isto lhe cause alguma perturbação; na fase da amamentação, não interage com a mãe; organiza objetos de acordo com as cores e o tamanho, adotando atitudes repetitivas e sem um objetivo que se possa identificar; aparentemente demonstra ser uma criança tranquila e aprecia ficar por longo tempo fazendo girar um objeto; balança o corpo repetidas vezes chegando quase a fazer isto de forma brusca; não pede para ser atendida, mas segura na mão do pai ou da mãe, ou de outra pessoa qualquer, por exemplo, e o conduz até o local onde quer algo. Outras manifestações incluem dificuldade de integração com outras crianças.

O autismo, além de ser desconcertante e desafiador, é uma síndrome “considerada de origem múltipla, os pesquisadores, na sua maioria, concordam que os déficits apresentados na interação social e na comunicação são suas principais características”.

Fernandes (2008 apud Gauderer, 1993) apresenta os sintomas do autismo divididos em cinco grupos gerais de distúrbios: do Relacionamento; da Fala e da Linguagem; do Ritmo de Desenvolvimento; da Motilidade; da Percepção. A autora conclui que uma “[...] das maneiras de auxiliar no tratamento do autismo é por meio do corpo, tentando estabelecer uma relação entre o psíquico e o orgânico”.

Sobre a relação autista e corpo, o autor afirma serem muitas as pesquisas a partir de experiências com a educação física, a música e a dança. As metodologias e estratégias para o desenvolvimento de atividades e estratégias educativas utilizadas com crianças e jovens autistas incluem jogos que trabalham a psicomotricidade associando música e movimento, especialmente os circulares; jogos que associam dramatização e música; cênicos-musicais (jogos de teatro associado à música); outros jogos pedagógicos, mas sempre com a inclusão da musicalidade e exercícios de manuseio do corpo; utilização de vídeos e CDs para realização de atividades; produção oral e escrita de textos e sessões de contação de histórias, sempre com a contribuição de música e de figuras/gravuras ligadas ao tema.

López (2010, p. 13), psicanalista, relata a demonstração da importância da escuta psicanalítica na clínica com crianças autistas, a utilização da música e dos resultados positivos que obteve Com a repetição da música, criada com seu nome, Rafael aos poucos foi se aproximando. Ficava atento e permitia ser tocado pela música. Ao longo dos atendimentos, Rafael, cantarolando a melodia, solicitava que as sessões iniciassem e terminassem com a sua música.

O primeiro trabalho científico publicado e reconhecido internacionalmente, descrevendo um conjunto de sintomas recebeu o título de “distúrbio autístico do contato afetivo”e foi realizado por Kanner (1943). Esse autor descreveu os casos de crianças que apresentavam como características em comum, a inabilidade para desenvolver relações interpessoais, extremo isolamento, atraso no desenvolvimento da linguagem e uso não comunicativo da mesma, repetições de simples padrões de atividade com determinado brinquedo e a presença de habilidades isoladas. Kanner reconheceu também que existiam diferenças individuais nos casos descritos, porém dois traços foram sistematicamente encontrados: isolamento e insistência obsessiva na repetição (GOLDBERG, 2002, p. 6-7).

Do ponto de vista legal, mesmo havendo todo um aparato de proteção aos deficientes, foi criada a Lei nº 12.764, de 27 de Dezembro de 2012, específica para os autistas e que “Institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista; e altera o § 3º do art. 98 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990”.

Barbosa e Souza (2013) estudaram o processo de inclusão escolar da pessoa com deficiência. Essas estudiosas traçaram o desenho da trajetória, desde os primórdios da humanidade até o moderno pensamento da inclusão. Entre os destaques feitos pelas autoras, pontua-se o momento mais remoto quando as crianças nascidas com deformações eram condenadas à morte, passando pelos avanços do século XVIII e XIX até a moderna LDBEN 9394/96 que passou a preconizar o postulado de todas as crianças, “sempre que possível” estudando “juntas, independente de suas dificuldades e diferenças, partindo da concepção” de que todas essas crianças “são capazes de aprender”.

Os estudos de David (2012, p. 132) consideraram que a experiência vivenciada no Brasil, em termos de educação inclusiva “é uma antecipação da publicação das leis de inclusão escolar em relação às experiências com o processo de inclusão”. Isto significa que há um movimento paradoxal, inverso ao que acontece em outros países, vez que, no Brasil, a implementação da inclusão escolar está surgindo na condição de imposta pela legislação, e não como resultado de uma nova cultura escolar centrada do papel da educação especial e, ainda,assevera o estudioso que as políticas de inclusão são geralmente entendidas como “solução” para os problemas da educação especial, sem que para tanto se promova uma análise criticados processos de adoção dessas políticas.

Sobre essa relação inclusão/legislação, Costa et al (2013, p. 174) confirmam ser o ideal da educação inclusiva de alunos com deficiência, “uma discussão recente na sociedade brasileira. Embora seja consenso a carência de ações consistentes para efetivá-la, o Brasil possui uma vasta legislação em defesa da inclusão”.

Nesse mesmo tom, inclua-se que leis, decretos, portarias e outros documentos legais existem apenas para oferecer suporte à implementação da inclusão nas escolas regulares, mas, só a lei ‘no papel’ não é garantia de inclusão. A necessidade é a de que “a lei passe a vigorar no interior das escolas regulares, saindo da teoria e se efetivando na prática” (PRAÇA, 2011, p. 111).

As características das crianças com autismo estão condicionadas a um processo de ensino individualizado, no sentido de que o professor possa “responder à heterogeneidade de perfis de aprendizagem”. Esse processo deverá primar por “princípios de uma pedagogia saudável, de onde se baniu a diferença e se procura a igualdade. As escolas devem adaptar-se à criança, às suas diferenças e necessidades” (LOPES, 2011, P, 17).

Esse sentido de igualdade, de variedade de perfis de aprendizagem e as bases do pensamento inclusivo encontraram espaço para a reflexão que conduziu à mudança de mentalidade. O aluno autista, em detrimento do fato de que a síndrome se caracteriza principalmente pelas dificuldades de comunicação, tem garantido o seu direito de também aprender um idioma estrangeiro, sendo considerado “o ensino de LI de suma importância para o aprendizado e desenvolvimento do aluno autista, pois este implica não apenas na aprendizagem linguística, mas também na inserção deste aluno na sociedade globalizada”.

Atualmente, os alunos que ingressam em escolas regulares podem ser diagnosticados com alto grau Autismo ou com a Síndrome de Asperger. A Síndrome de Asperger, descrita por Frith (1991) como “uma pitada” de autismo, é o diagnóstico que, acompanhado de outros critérios específicos, demonstra que a linguagem se desenvolve normalmente, mesmo precocemente, em uma criança. Já o autismo de alto funcionamento é um termo relativo atribuído à minoria das pessoas diagnosticadas como autistas que não têm dificuldades de aprendizagem consideráveis (WIRE, 2005).

O fato de autistas ou de crianças com a Síndrome de Asperger demonstrarem (para mais ou para menos) dificuldades com a linguagem, desperta a curiosidade de pais e educadores sobre se aquelas crianças seriam capazes de aprender uma segunda língua. Novas pesquisas estão surgindo sobre as crianças com uma variedade de dificuldades de linguagem que são expostas a mais de um idioma. A maior parte da pesquisa foi realizada com crianças com "Distúrbio Específico de Linguagem" (SLI), que têm dificuldades com a língua, mas há outras dificuldades de desenvolvimento (por exemplo, as habilidades motoras, habilidades cognitivas / raciocínio e as habilidades sociais estão se desenvolvendo normalmente). Algumas pesquisas também lançaram um olhar para as crianças bilíngues com Síndrome de Down e, mais recentemente, com o autismo (LAUREN, 2013).

Uma das principais áreas afetadas pelo autismo é a da comunicação. Muitas crianças com autismo não conseguem desenvolver a linguagem verbal e a comunicação de suas necessidades é um desafio constante.

A leitura é um processo cognitivo, a base para esse processo é a compreensão de que o que pode ser dito pode ser escrito. Uma vez que os alunos compreendem este conceito básico, devem adquirir uma compreensão de impressão/grafia/desenho da letra (o código pelo qual o discurso é representado como informação visual) e as habilidades para decifrar o código e transformá-lo de volta para o discurso. Em Inglês, esta informação visual é composta das letras do alfabeto, dispostas em padrões e clusters para soletrar palavras de forma sistemática. Cada letra tem suas características visuais próprias e distintas, e cada letra representa um ou mais sons, por si só ou em combinação com outras letras. Leitores iniciantes precisam aprender a associar letras com sons, a fim de acessar as informações representadas pelo elemento impresso e de compreender a mensagem pretendida. Compreender a mensagem do autor é o objetivo da leitura. Leitores, em todos os níveis,trazem o seu próprio conhecimento e experiência para a tarefa de leitura e que lhe é útil para compreender o que lê. A linguagem oral e conhecimento de fundo são importantes recursos que os leitores usam para decodificar o que se encontra impresso e, dessa forma, entender o sentido da mensagem.

As dificuldades de aprendizagem se subdividem de acordo com alguns aspectos. As de consciência fonêmica correspondem à capacidade de perceber, pensar, e trabalhar com sons individuais em palavras faladas. Antes de se tornar um leitor você deve estar ciente dos sons que correspondem às palavras. Leitores entendem que palavras escritas podem ser faladas/codificadas e que para isto eles usam os fonemas/sons da fala quando leem/decodificam uma palavra.

Os aspectos da acústica/sons são a relação entre os sons da língua falada (fonemas) e as letras/grafias da linguagem escrita (grafemas).

A dificuldade relativa à fluência é a capacidade que desempenha o sujeito ao ler um texto com precisão e rapidez. Leitores fluentes decodificam automaticamente e, portanto, são capazes de concentrar a sua atenção sobre o significado do texto, além do que, reconhecem e compreendem as palavras ao mesmo tempo em que as veem ou ouvem.

Quanto ao vocabulário (oral ou escrito), a relação se faz com as palavras que conhecemos e das quais precisamos para nos comunicar socialmente.

O texto com significado depende das palavras e se elas são usadas como parte do vocabulário do leitor. Um leitor precisa conhecer várias palavras e seus significados para que possa ler e compreender o texto.

Compreender os sons articulados em conjunto, formando palavras e orações, exige habilidades para decodificar o texto. Se a palavra não é decodificável pelos alunos, ela não é útil para a compreensão do texto, vez que, como já afirmado, o objetivo da leitura é entender o que é lido.

A compreensão é a capacidade de captar o significado geral e os significados específicos(macrocósmicos e microcósmicos) do texto, o que permite ao indivíduo lembrar-se e comunicar o significado do texto.

As crianças autistas precisam de apoio para a aquisição da leitura e a instrução dada a eles se torna melhor se a atividade é processada de forma simples e visual, uma vez que aqueles com autismo geralmente são aprendizes visuais e conectados ao mundo que a criança conhece/ sua experiência pessoal.Também foi demonstrado que a capacidade do autista para processar informações de idioma é afetada e semelhante ao que ocorre com aquela criança que apresenta problemas de dislexia.

Algumas soluções para o trabalho da leitura com crianças autistas têm sido apresentadas em pesquisas sobre o tipo de ensino da leitura que parece funcionar melhor para as pessoas com esse perfil e/ou com outros distúrbios semelhantes.

Recomenda-se que o material apresentado a essas crianças com dificuldades se utilize de recursos visuais; que sejam oferecidas instruções simples, concisas e mínimas; que também seja utilizada a instrução baseada em fonética e apresentada a partir de um visual simples.

Ensinar as crianças autistas a ler passa por um conjunto muito especial de desafios que requer de pais e professores muita paciência. Os autistas, em geral, têm problemas enormes relativos à capacidade de atenção, falta-lhes qualquer tipo de motivação para aprender a ler e apresentam mais problemas com as regras da leitura e gramática quando comparadas a crianças que não têm autismo.

Aprender a ler deve ser divertido para qualquer criança, mas quando se trata de crianças autistas, o educador tem que tentar alcançá-las em seu nível de compreensão, utilizando a música, os jogos e a fantasia e que, ao utilizar as narrativas, sejam estas escolhidas entre as que contenham elementos como as fadas, as princesas e animais que falam.

Existem vários estudos que trabalham importantes aspectos da realidade do ensino de uma língua estrangeira para os alunos autistas, uma pesquisa que está fazendo falta no contexto brasileiro sobre a mesma temática.

Resultados de pesquisa realizada por Burns (http://www.scilearn.com/alldocs/cp/Science-of-Educating-Children-with-Autism.pdf)demonstraram que Melzer e Poglitsch (1999) 34 profissionais implementaram os Produtos Língua FastForWordcom 100 crianças com o espectro do autismo em todo o país (Estados Unidos) . Eles relataram a sequência de alterações da seguinte maneira:• 81% das crianças que completaram o programa mostraram melhorias na atenção e habilidades para testes, nas atividades com o computador,atividades de terapia estruturadas, ouvir histórias, e / ou atividades de grupo.• 83 % das crianças apresentaram alterações em habilidades de linguagem receptiva e expressiva, de compreensão e humor, inclusive seguindo as instruções, usando o vocabulário novo, treinando o alongamento frases, a fluência verbal e resposta a perguntas. • 60% das crianças mostraram melhorias na inteligibilidade da fala. • 76 % das crianças apresentaram melhoria habilidades pragmáticas, incluindo contato com os olhos, alterando o comportamento ao receber a devida atenção,desenvolvendo a capacidade de negociar verbalmente e da iniciação de comunicação. • 59 % das crianças demonstraram melhorias no desempenho escolar acadêmico.• No geral, 77% das crianças aumentaram uma média de 1,25 anos, em idade/equivalência em linguagem padronizada e após a avaliação da conclusão do programa (Melzer&Poglitsch, 1999).

Acerca da aprendizagem da língua estrangeira por crianças com a Síndrome de Asperger, a Doutora Fabrizia Baso, daUniversità Ca’ Foscaridi Venezia Facoltà di Lingue e Letterature Straniere Corso di Laurea in Lingue e Scienze del Linguaggio, considerou em seus estudos que “si descrive la síndrome autistica, considerandone atentamente e le peculiar tà linguistiche, maci si focalizza principalmente sulle difficoltà, cheil bambino con tale sindrome ha, nell’apprendimento dela língua straniera” (BASO, 2008, p. 123).

Para fechar a presente contribuição teórica à construção do conhecimento sobre a Síndrome do Autismo, menciona-se, de acordo com a pesquisadora Menezes (2012), as duas balizas que marcam a história do Autismo e o documento correspondente ao fato. A primeira baliza é a do ano de 1943, quando Léo Kanner, psiquiatra infantil de origem austríaca (1894-1981), publicou no periódico “Nervous Child” o artigo “Autistic disturbances off affective contact”, em Baltimore, EUA

Kanner indicou a etiologia da síndrome com a presença de fatores ambientais, em específico a indiferença emocional das mães (hipótese teórica apelidada de “mães-geladeira”). Considerou o autismo dentro do grupo das psicoses infantis. A segunda e mais recente baliza é a do ano de 2008, no Brasil, e se refere à Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva – Ministério da Educação, que não apresentou a etiologia da síndrome, mas fez menção aos alunos com Transtornos Globais do Desenvolvimento, pela primeira vez na área da educação, como os que apresentam alterações qualitativas das interações sociais recíprocas, na comunicação e interesses e atividades restritas, estereotipadas e repetitivas, em vigor atualmente. O quadro integral da pesquisadora mencionada se encontra na sua dissertação de mestrado (MENEZES, 2012, p. 37/38).

Este extrato de artigo foi iniciado com uma menção à novela Amor à vida. Percebemos agora, ainda com maior clareza, que as críticas feitas pelos pesquisadores à produção novelística são fundadas. Por outro lado, percebemos também a necessidade de serem considerados os devidos créditos a cada tipo de trabalho. Claro que a novela deve ter um nível de responsabilidade e consultoria técnico-científica para tratar de determinados temas. Entretanto, o gênero novela é ficcional e a isto não se furtaria em favor da abordagem puramente científica. De toda forma, a vantagem que trouxe a novela foi, sem dúvida, colocar o tema aos olhos da sociedade.

O papel social da novela foi cumprido e, talvez, dessa forma, o papel da família venha a ser redesenhado com outros comprometimentos uma vez que influenciada está a sociedade pela história de amor vivida pela personagem autista, Linda, e o advogado, Rafael, seu namorado.

O papel da Medicina tem uma longa história de estudos, pelo menos, desde 1943, com as descobertas de Kanner, além de tantos outros pesquisadores interessados em caracterizar, diagnosticar e tratar, tanto a Síndrome do Autismo, quanto a de Asperger.

Talvez o papel da educação esteja muito aquém de todos os outros papeis e, ainda, mais emaranhado em um cenário complexo de carências de toda sorte, a exemplo do conhecimento de todos os aspectos do tema, da legislação específica, das políticas públicas voltadas para a inclusão de alunos com deficiências e as questões pedagógico-didático-metodológicas que giram em torno das atividades escolares em escolas inclusivas.

A literatura da Medicina sobre o autismo coloca a síndrome como doença mental, seja qual for o grau em que ela se apresente. Os educadores, talvez numa atitude mais subjetiva, tentam experiências que possam auxiliar os autistas a vencerem as barreiras que lhes foram impostas e cujo quadro ainda demonstra áreas escuras, desconhecidas.

Existem diversas experiências escolares, inclusive envolvendo o trabalho docente e os alunos autistas em atividades de aprendizagem de uma segunda língua e, também, com a linguagem da tecnologia assistiva. Esses trabalhos têm apresentado alguns resultados que alegram os professores, mesmo os que sabem das naturais limitações cognitivas de um sujeito com autismo. A maior dificuldade de aprendizagem de um autista está na área da comunicação e aquisição da linguagem materna e, ainda assim, se busca trabalhar uma segunda língua. Entretanto, apesar dos esforços e esperanças, os resultados são ainda muito tímidos.

Sabe-se, inclusive, que a atenção de que necessita um autista requer a assistência direta de equipes multidisciplinares, do que as nossas escolas não dispõem. E, então, aparece em toda a sua precariedade a implementação de um sistema de escola inclusiva que nasce da legislação e não do debate, da reflexão e da vivência, mas, principalmente, da imposição legal. Assim como diz a sabedoria popular, colocando “o carro adiante dos bois”, isto é, trafegando na contramão. A partir deste status quo, forma-se o dilema pedagógico-didático-metodológico que permeia o ambiente escolar diante das diferenças individuais.

REFERÊNCIAS

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