A TECNOLOGIA E A DESUMANIZAÇÃO

Desde os primeiros anos em que iniciamos o trabalho docente nas áreas de Literatura e Língua Portuguesa, viemos insistindo na prática da leitura.

EsTa insistência deve-se ao fato de se pretender ver, ouvir e sentir o educando como um cidadão emancipado. Nessa emancipação está aquele cidadão crítico e atuante, isto é, indivíduo que consegue ler (compreender) o seu mundo.

Busca-se também no educando o seu enriquecimento, não de forma econômica, mas cultural. Para isto, faz-se necessário o seu acesso ao saber acumulado com prazer. Ler com prazer significa prazerosamente compreender o mundo, tanto o seu, quanto aquele com o qual convive.

Além da cultura e da sua emancipação política, a leitura traz também ao cidadão leitor possibilidades de ordem econômico-social, quando profissionalmente, qualifica-se e socialmente, ascende.

Pode-se ver e sentir tanto a ciência quanto a tecnologia buscando o futuro de forma acelerada, então, se não nos auto-educarmos permanentemente, a educação que recebemos no passado torna-se insuficiente, deixando-nos também cidadãos alienados e este progresso.

Até mesmo nossos avós já buscam os computadores. E os nossos jovens, o que fazem?

Em pesquisas recentes tem-se observado que, ao lado deste progresso dos idosos, está a preguiça da juventude. Quanto aos pais, pode-se afirmar que o seu amor ao ato de ler mesclou-se às suas responsabilidades com a família, mas que, em horário selecionado, procuram a leitura por sentirem ser ela uma forma de contribuição às soluções dos seus problemas de coexistência com os filhos.

Observando-se o programa Fantástico, da rede Globo de Televisão, não recordo a data, um arrepio de desumanização passou-se neste pensamento.

Observou-se a tecnologia sendo repassada aos avós, mas será que nesta valorização ao talento técnico, já não estava a massificação do elemento humano e a individualidade do ser?

Acredito nos talentos do ser humano, mas não quero aceitar a desumanização do homem em relação à era tecnológica em que está.

A leitura, especialmente a literária, por trabalhar situações conflitantes do relacionamento humano, poderá despertar emoções ao leitor e auxiliar no desenvolvimento da personalidade do jovem, ajudando-o a ver com clareza a sua individualidade e o seu papel na sociedade, como ser humano, e não apenas como ser tecnológico.

Suspira-se muito sobre a aparente inferioridade do livro em relação a outros meios de comunicação, como o cinema e a TV, atacadas pela superstição do novo (uma das palavras mágicas da publicidade); coisas antigas como a escrita e o livro teriam de parecer-nos um tanto obsoletas. É o que a tecnologia deseja: esquecer os sentimentos contidos em um livro. Esquecer o próprio ser humano.

Atualmente, o homem que a tecnologia já envolveu, esqueceu que somente um livro, um jornal, uma revista, etc., apresentam-se abertos à reflexão e à consulta, bem como lhes permite que volte, confirme, discuta. Oferece-lhe condição que o seu pensamento seja criticado, avaliado e sentido, o que os meios de comunicação de massa (TV, cinema, computadores, internet) não lhe dá condições de avaliação.

Homem só é considerado homem quando sabe que existe o seu pensamento, quando sabe pensar, criticar e avaliar não somente o seu, mas um outro pensamento.

Alienação é o oposto.

E a principal tendência da tecnologia é isto: alienação.

Qual seria, portanto, a principal função humana?

Acredito que seria partir em busca de uma leitura que enriquecesse seus pensamentos e suas formas de criticar e avaliar o pensamento com o qual convive, e do mundo do qual faz parte.

Ivonete Frasson
Enviado por Ivonete Frasson em 06/02/2014
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