A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO
Há algum tempo, eu escrevi um artigo sobre educação, discorrendo sobre a importância de cada pessoa dedicar-se à própria formação. Hoje, eu volto a falar sobre a importância do estudo na vida das pessoas. Mas, quem terá a paciência de ler este artigo? Eis um desafio!
É muito comum a atitude de pessoas colocando toda a culpa da péssima educação brasileira sobre os governantes. É claro que eles têm culpa. Mas, a culpa não é somente deles. Famílias são culpadas; professores são culpados; a direção de determinadas escolas é culpada; os governantes são culpados; determinados estudantes são culpados; grande parte da sociedade é culpada; a culpa é de quase todos. Vou explicar! Vou exemplificar! Eu sempre argumento exemplificando.
As famílias que não exigem que seus filhos estudem com assiduidade e disciplina são culpadas. Os professores que não se preparam ou que não são preparados são culpados. Os professores que não se renovam são culpados. Os professores que querem apenas “dar um show de renovação” são culpados. É importante, como professor, manter o equilíbrio.
A direção de uma escola que deixa uma sala de aula com 45, 50 alunos é culpada. A direção de uma escola que está preocupada somente com o índice de aprovação é culpada. É claro que a reprovação deve ser o último recurso a ser utilizado. No entanto, quando uma escola não reprova um aluno só porque a escola ficará com um alto índice de reprovação, essa escola está agindo errado. O mais importante não é reprovar. Entretanto, o que fazer com um aluno que tem 50% de falta? Com um aluno que vai um dia à escola e passa outro sem ir?
Os governantes são culpados por desejarem mostrar apenas números, não importando a qualidade. Muitos desejam saber se as escolas estão aprovando muitos alunos. Faltam cadeiras, falta boa estrutura, falta bom salário para os professores, falta respeito aos educadores, falta muita coisa. As teorias são muitas; as boas práticas são poucas.
A sociedade pouco valoriza a educação. Muitas pessoas veem o estudo apenas como obrigação. Muitos alunos que, na verdade, não sendo estudantes, não estudam, dizem que vão à escola porque são obrigados. Infelizmente, muitas pessoas não estudam por prazer ou porque veem o conhecimento como algo indispensável para a construção e o exercício da cidadania; muitos indivíduos estudam apenas por obrigação.
Hoje, ser professor é um grande desafio. Os educadores se encontram com pessoas que não querem estudar; que vão à escola “para encontrar novas pessoas; para fazerem novas amizades”. Escutei isso há pouco. É claro que a amizade é fundamental. Até os filósofos que, devido ao momento histórico, se afastaram da sociedade, os epicuristas, por exemplo, afirmavam que a amizade é fundamental para qualquer pessoa. No entanto, eu destaco que, em relação a ir à escola, o principal é ir com vontade de ajudar a construir e a obter conhecimento. A amizade, neste caso, virá como acréscimo.
Há pessoas que se recusam a aprender, a obter novos conhecimentos. Muitas pensam que já sabem tudo. Eis um grande engano! Eis um grande erro! É próprio dos ignorantes acharem que não precisam aprender mais nada. Imaginam que não têm mais nada a aprender. Que pena!
As pessoas que mais estudam são as pessoas que mais reconhecem o valor e a importância do saber, do conhecimento. Quanto mais se estuda, mais se descobre a própria ignorância (o não saber), o saber que não se tem.
Nas redes sociais, por exemplo, e em outros sites, vemos, constantemente, o ataque à língua portuguesa. Muitos dizem que as regras gramaticais deveriam ser banidas. Afirmam que o importante é se comunicar. Defendem que a língua é feita pelo povo. Na verdade, é o povo quem faz a língua. Concordo plenamente. Mas, devemos concordar neste ponto: a vida social é feita de regras. Quando estamos na escola, o comportamento é específico. Quando estamos em um campo de futebol, o comportamento é outro. Na Igreja, nós nos comportamos de maneira diferente. Assim sendo, com a língua portuguesa, o nosso comportamento é e deve ser parecido.
Conversando com um amigo, eu não preciso ficar preocupado com a gramática normativa. Conversando com a pessoa que se ama, com a namorada, com o namorado, com um amigo, uma amiga, a gramática normativa não é o mais importante. Nestes casos, ninguém está preocupado com regras gramaticais; as palavras fluem; a concordância flui de acordo com o nível de conhecimento dos namorados, das pessoas que se amam, dos amigos. O mais importante, nestes casos, é comunicar e se comunicar. Em todos esses momentos, estamos usando a língua portuguesa.
Entretanto, ninguém pode negar a importância da gramática normativa. A variedade popular é muito importante. A norma-padrão também o é. Há momentos em que usamos a variedade popular (despreocupada, espontânea, livre); há momentos em que temos o dever de usar
a norma-padrão. Tudo é questão de saber usar as palavras certas no momento certo. A gramática normativa é parte importante da língua portuguesa.
Quem se opõe à gramática normativa está se opondo à construção do conhecimento e ao exercício da cidadania. Vou provar!
O que dizer de alguém que, ao ouvir o pronunciamento de um
político mal-intencionado, que use palavras desconhecidas pela maioria do povo, que use uma linguagem de um nível muito alto, não entenda o que o político diz e, por isso, elogia o discurso requintado desse político e vota nele sem ter compreendido a hipocrisia presente no discurso? Lamentamos, não é verdade? Eis a importância de conhecermos
a norma-padrão, de termos um nível necessário para interpretar a realidade circundante! Língua portuguesa trabalha também com interpretação!
Agora, o que dizer de alguém que, não sabendo se expressar claramente, com conhecimento da variedade linguística privilegiada pela sociedade em que vive, sem o conhecimento básico sobre seus direitos, na hora de se defender de um advogado, de um promotor, de um juiz que não respeitam os direitos individuais, que cometem abuso de autoridade, esse alguém não saiba se defender, usando as palavras certas, a variedade linguística certa? Lamentamos, não é verdade? O conhecimento nos liberta e nos faz agir com segurança diante de qualquer pessoa.
O que dizer de alguém que, ao tentar uma vaga de emprego, na entrevista, não saiba se comunicar de acordo com o momento? Lamentamos, não é verdade? Saiba que isso acontece frequentemente no Brasil. Muitas pessoas perdem uma vaga por causa da entrevista que não foi boa. Erros gramaticais são uma das causas de muitas perdas de emprego. Os jornais mostram isso.
Afirmo que o conhecimento deve ser amado. Devemos amar o conhecimento, pois ele nos liberta dos preconceitos, das superstições, das falsas opiniões. O conhecimento é a única forma que temos para entender o mundo em que vivemos. Sem conhecimento, ninguém consegue crescer verdadeiramente. O conhecimento e o amor a ele nos ajudam a exercer a nossa cidadania.
Não devemos nos opor ao saber. Estar sempre aprendendo é a forma ideal para estarmos sempre crescendo. Através do saber podemos defender os nossos direitos e exercer bem os nossos deveres. Infelizmente, há pessoas que, mesmo possuindo muitos conhecimentos, praticam o mal. Isso, no entanto, não deve nos desanimar, visto que o conhecimento é indispensável na vida de cada pessoa, ainda que determinadas pessoas não usem bem o saber que possuem.
Comparo o bom uso do conhecimento com a prática do amor. O amor é bom. No entanto, muitas pessoas não amam. O conhecimento é bom. No entanto, muitas pessoas não usam bem o saber que possuem. A falta do amor em muitas pessoas não pode nos fazer perder a confiança no amor, assim como a falta do bom uso do conhecimento por muitos não pode nos fazer perder a confiança no saber.
Engraçado: muitas pessoas consideram estranha até a dedicação de uma pessoa ao estudo. Dizem que essa pessoa vai enlouquecer de tanto estudar. Quem, vivendo numa cidade pequena do Brasil, ainda não ouviu essa grande bobagem, essa grande asneira?
O estudo é a forma que temos para abrir as nossas mentes; não é uma forma de enlouquecer. O que enlouquece é a ignorância. O conhecimento abre caminhos, abre horizontes. O que não devemos fazer é nos dedicar somente ao conhecimento. O lazer é importante. A conversa com os amigos é importante. As festas são importantes. O amor é importante. Muitas outras coisas são importantes. A cada coisa devemos dedicar a atenção devida e merecida.
Lembre-se de que nada nos enlouquece. É a maneira como encaramos as coisas que nos enlouquece. Se alguém, por exemplo, enxerga o seu mundo somente em outra pessoa, querendo essa pessoa de qualquer maneira, considerando essa pessoa indispensável na vida dele, esse alguém poderá enlouquecer. Mas, se alguém enxergar uma pessoa como importante na vida dele, não dando a ela o poder de trazer a felicidade dele, esse alguém poderá ser feliz até mesmo sem essa pessoa. Esse alguém não enlouquecerá. Este foi apenas um exemplo, objetivando mostrar o seguinte: o que enlouquece alguém é a maneira desse alguém encarar ou olhar as coisas.
Portanto, quem se dedica ao conhecimento está se dedicando à construção do seu presente e do seu futuro. Quem se dedica ao estudo está se dedicando à construção do mundo e ao aperfeiçoamento de si mesmo.
Bons estudos!