EDUCAR PARA ESQUECER

Milton Pires

“Por que só o homem é suscetível de tornar-se um imbecil?” Essa pergunta foi feita por Jean Jacques Rousseau quando escreveu o “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens.” Pensando numa eventual resposta, não posso deixar de partir de alguns pressupostos: o primeiro, e mais óbvio deles, é que na frase o filósofo refere-se à toda humanidade. Nada mais justo, portanto, do que atribuir um sentido profundamente político a sua pergunta à medida que aceito que a educação, ou sua falta, podem mudar toda uma sociedade e, dentro dela, o comportamento de uma espécie.

Imaginem agora a minha dificuldade, atendendo ao pedido de um amigo, em escrever sobre educação numa época e num lugar onde toda politica pública é ditada pelo princípio da igualdade absoluta. Igualdade essa filha de princípios surgidos da herança da Revolução Francesa e do legado de Rousseau que levaram à tragédia de 1917.

Nada mais justo do que a celebração da igualdade, não é mesmo? Nada mais democrático do que pensar que médicos são iguais às enfermeiras, que os políticos são todos iguais..que os policiais e bandidos gozam, em “essência”, dos mesmos direitos humanos..e que enfim, professores e alunos devem pautar sua relação numa discussão “entre iguais”

Afirmo, como petição de princípio, que o ato de educar é, em primeiro, lugar um ato de amor pois digo que amar é, antes de tudo, uma forma de conhecer e de, ao mesmo tempo, ensinar. Romântico, como isso pode parecer a primeira vista, acrescento que é, por parte do educador e do educando, um ato de responsabilidade e digo por último, mas talvez em primeiro lugar, que só pode haver responsabilidade de professores e alunos enquanto houver diferença entre eles.

Inicio agora o corpo do artigo naquela que considero a mais simples das premissas: na igualdade coletiva absoluta nada pode ser responsabilidade individual plena e digo que nada pode ser mais previsível nela do que o fim da relação pedagógica e da própria possibilidade da educação.

Tudo que está acontecendo no Brasil do ponto de vista da educação fundamental é, ao meu ver, consequência daquilo que tentei expor acima. A relação pedagógica transformou-se em relação política. Nada há que ser ensinado de maneira particular....nada há que se individualizar pois não é meta do Partido-Religião transformar pessoas; mas sim a sociedade. O corpo social a ser transformado não é o mesmo daquele do indivíduo a ser educado pois quem educa verdadeiramente uma criança deve fazê-lo para liberdade de pensamento e não para revolução cultural.

Não há proposta de educação fundamental alguma em andamento no Brasil e grave é perceber que a ausência dela é a própria proposta em si. É no sofrimento das crianças sem aula ou das aulas em “escolas de lata”...é da miséria dos professores, das greves e do salário de fome que vai surgir a “tábula rasa”... o “ano zero da educação no Brasil” onde finalmente não haverá de sobrar legado cultural algum a ser transmitido, pois tudo há de ser esquecido. Tudo que ocupa atenção do Partido-Religião nesse momento não é o controle das crianças; mas de seus professores. É na lavagem mental dentro da Universidade Brasileira que está sendo construída a desgraça das crianças que precisam ser alfabetizadas e isso infinitamente mais grave do que aquilo que citei antes sobre a educação fundamental.

Só pode compreender o que está acontecendo com a educação no Brasil aquele que aceitar o pleno andamento da Revolução Cultural e que perceber que não é objetivo algum desse movimento educar ninguém, mas exatamente o contrário: deseducar! Criar uma massa de gigantesca de adultos ignorantes, infelizes e incapazes de se sentirem responsáveis pelo próprio fracasso enquanto indivíduos e permanentemente dispostos a colocar a responsabilidade em outras pessoas..

É do sentimento de abandono...da noção de injustiça e do conceito de exclusão social que o Partido -Religião se alimenta e é na ignorância que toda revolução socialista tem o seu mais potente motor..

A educação brasileira de ensino fundamental no Brasil Petista poderia ser resumida numa só expressão: Educar para Esquecer.

Dedicado ao amigo Samir Schneid.

Porto Alegre, 23 de dezembro de 2013.

cardiopires
Enviado por cardiopires em 24/12/2013
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