AMOR NÃO SE FAZ ( parte I )
“Você é isso: uma beleza imensa,
toda recompensa de um amor sem fim...” (L.Vieira)
- Que imensa beleza é essa que inda sugere um amor perene?
Amor é um sentimento dos mais nobres, que distingue o nosso existir, nosso relacionamento com o outro, nossas ações, reações e intenções.
Faz parte do ser – feto e afeto – desde a fecundação.
Se amostra no primeiro consolo, no primeiro abraço, no primeiro acalanto depois do primeiro choro.
Reaparece no dengo de um sorriso inocente e jamais desaparece, porque é oxigênio imprescindível ao se aspirar o belo.
Como patins imaginários, leva-nos longe pelas trilhas, calçadas, estradas e veredas da vida.
Sinal de que o amor não depende de teclados ou downloads, mas, essencialmente, do nosso equilíbrio vital.
Por estar desconectado de quaisquer equipamentos da automação, não se o deleta, nem se o descarta, porque é inextinguível.
Essa beleza imensa é fonte e ponte para outros amores que construímos, cada vez maiores, enquanto existimos.
. . .
E como dói escutar de alguém certo reclamo:
- “Ah, eu o amava tanto, mas agora o detesto!”.
Ledo engano. O verbo amar não fica bem nessa sentença. Que amor é esse, que não admite o perdão, o “levanta-te!” ou a reconciliação?
Sejamos sinceros:
“Você é isso?" ou melhor: "O amor é isso?"
Não. Pelo visto, não existe amor nessa relação.
O ódio, o asco, o repúdio, o rancor... jamais substituirão o amor puro, o amor autêntico, o amor sublime, o amor sincero, o amor de verdade.
Se e quando um verdadeiro amor declina, mesmo a despeito de muito sofrimento, no mínimo ele vira saudade . . .
Vira, sim, logo ali, na virada da primeira esquina ! . . .
Perguntemos a quem ama.
Quem ama, sabe.
. . .
- E em que campo fértil se pode colher esse amor perfeito; aliás, na visão de alguns: esse amor utopia?
Ah, o terreno desse amor é vasto!
Ora é plano, ora é íngreme.
Vez ou outra, caminhando por esse campo, somos feridos por algum espinho, mas até relevamos esse sofrimento.
Sabemos das “pedras no caminho”.
Sim, sofremos, mas é o melhor dos terrenos para sufocar as dores: amplo, bem amanhado, aconchegante e belo.
Apesar dessa pujança, todos os que nele se inserem – os que morar nele preferem – estão conscientes das múltiplas barreiras que ainda precisam ser plainadas ou ultrapassadas.
E é nessas barreiras que alimentamos a esperança de construir grandes amizades, justo no momento do apoio que ao outro se oferece – ou quando se o recebe.
São momentos em que mãos calejadas nos cumprimentam, dissecam nossas origens e depois nos ensinam o melhor atalho.
Atalho palmilhado entre matagais, sobre os montes, aberto por nossos ancestrais.
Descobrimo-nos, nesse caminhar, sementes e semeadores, plantas tenras muitas vezes replantadas.
Aí, olhos mais abertos, nos engajamos por inteiro na transformação do mundo que nos criou e nos transformou.
É quando nos sentimos seiva de uma árvore frondosa, cuja cepa se transmutou em raízes, tronco, galhos, ramas, folhas, flores e frutos, moldados pelo tempo numa alternância hierárquica infinita.
Todos, elementos do nosso pretérito, presente e futuro do presente – ancestrais e descendentes – ali, plantados e replantados, no arranjo mutável que só a natureza propicia.
Sob a fronde dessa árvore miraculosa, forma-se uma sombra acolhedora para onde são atraídos: nossos amigos de infância, nossos companheiros de adolescência, nossos amigos íntimos, nossos amigos secretos, nossos pares – namorados, namoradas – nossos filhos, nossos netos . . .
Todos, solidariamente próximos e de mãos dadas, dispostos e preparados com dignidade para as melhores colheitas nas incansáveis jornadas da vida.
Todos, familiarmente juntos, utentes do melhor dos terrenos onde só o amor se planta - ou onde a tudo o amor suplanta.
“Quem ... usa, ... cuida!”
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