Aplicabilidade do Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil - Vol. 3
Resumo:
Atendendo às determinações da Lei 9.394/96, que estabelece que a Educação Infantil é a primeira etapa da educação básica, o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil surge no intuito de auxiliar na realização do trabalho educativo diário junto às crianças pequenas, pretendendo apontar metas de qualidade que contribuíssem para o desenvolvimento integral da identidade das crianças e tornando-as capazes de crescerem como cidadãos cujos direitos à infância fossem reconhecidos. Contribuindo para que se pudesse realizar, nas instituições, o objetivo socializador dessa etapa educacional, em ambientes que propiciassem o acesso e a ampliação, pelas crianças, dos conhecimentos da realidade social e cultural, de maneira a servir como um guia de reflexão de cunho educacional sobre objetivos, conteúdos e orientações didáticas para os profissionais que atuam diretamente com crianças de zero a seis anos, respeitando seus estilos pedagógicos e a diversidade cultural brasileira.
Em uma coleção de três volumes que o compõem, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil está organizado da seguinte forma: Introdução, Formação Pessoal e Social e Conhecimento de Mundo. Este trabalho estará focado no terceiro volume, objetivando verificar sua aplicabilidade dentro do cotidiano escolar da Educação Infantil.
Palavras-Chave: RCN, Prática Pedagógica, Pedagogia, Geografia, Referencial Curricular, Educação Infantil.
Introdução
Atualmente, falar em educação infantil no Brasil implica fazer uma retrospectiva desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, do Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/1996. Isso porque foi a partir das deliberações encaminhadas nessas duas leis e das suas consequências para a área que os desafios que as perspectivas têm sido colocadas.
Vale destacar que a LDB foi construída tendo por base a Constituição de 1988 que reconheceu como direito da criança pequena o acesso à educação infantil – em creches e pré-escolas. Essa lei colocou a criança no lugar de sujeito de direitos em vez de tratá-la, como ocorria nas leis anteriores a esta, como objeto de tutela.
A crítica em relação às propostas de trabalho com as crianças pequenas, que se dicotomizavam entre educar e assistir, levou à busca da sua superação em direção a uma proposta menos discriminadora, que viesse atender às especificidades que o trabalho com crianças de 0 a
6 anos exige na atual conjuntura social – de educar e cuidar –, sem que houvesse uma hierarquização do trabalho a ser realizado, seja pela faixa etária (0 a 3 anos ou 3 a 6 anos), ou ainda pelo tempo de atendimento na instituição (parcial ou integral), seja pelo nome dado à instituição (creches ou pré-escolas).
Essa compreensão da especificidade do caráter educativo das instituições de educação infantil não é natural, mas historicamente construída uma vez que ocorreu a partir de vários movimentos em torno da mulher, da criança e do adolescente por parte de diferentes segmentos da sociedade civil organizada e dos educadores e pesquisadores da área em razão das grandes transformações sofridas pela sociedade em geral e pela família em especial, nos centros urbanos, com a entrada das mulheres no mercado de trabalho.
Com relação às profissionais da educação infantil, a lei proclamava ainda que todas devessem até o final da década da educação ter formação em nível superior, podendo ser aceita formação em nível médio, na modalidade normal. É importante ressaltar o desafio que esta deliberação coloca uma vez que muitas dessas profissionais não possuem sequer o ensino fundamental.
O volume aqui analisado é relativo ao âmbito de experiência Conhecimento de Mundo que contém seis documentos referentes aos eixos de trabalho orientados para a construção das diferentes linguagens pelas crianças e para as relações que estabelecem com os objetos de conhecimento: Movimento, Música, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade e Matemática.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
É dentro do contexto das reformas educacionais em andamento acima delineadas que situamos o RCNEI. Em fevereiro de 1998 a versão preliminar do documento foi encaminhada a 700 profissionais ligados à área da educação infantil, sendo devolvido um mês depois ao MEC com um parecer final. Em outubro de 1998 a versão final do RCNEI foi divulgada sem que os apelos dos pareceristas, por mais tempo para debates e discussões, fossem atendidos.
A versão final do RCNEI foi organizada em três volumes: Introdução; Formação pessoal e social e Conhecimento do mundo. A leitura do primeiro volume do RCNEI, denominado “Introdução”, permite constatar a ênfase em: criança, educar, cuidar, brincar, relações creche-família, professor de educação infantil, educar crianças com necessidades especiais, a instituição e o projeto educativo. Fala ainda em condições internas e externas com destaque para a organização do espaço e do tempo, parceria com as famílias, entre outros aspectos.
É possível perceber que a versão final do volume l do RCNEI pretendeu seguir as indicações feitas pelos pareceristas da versão preliminar do documento, de ter como referência a criança e não o ensino fundamental, com ênfase na criança e em seus processos de constituição como ser humano em diferentes contextos sociais, suas culturas, suas capacidades intelectuais, artísticas, criativas, expressivas em vez de articulações institucionais que propõem uma transposição, de cima para baixo, dos chamados conteúdos escolares que acabam por submeter a creche e a pré-escola a uma configuração tipicamente escolar.
Os dois outros volumes denominados âmbitos de experiência são: Formação pessoal e social, que contempla os processos de construção da identidade e autonomia das crianças, e Conhecimento do mundo, que apresenta seis sub-eixos: música, movimento, artes visuais, linguagem oral e escrita, natureza e sociedade e matemática.
Esses volumes foram organizados em torno de uma estrutura comum, na qual são explicitadas as ideias e práticas correntes relacionadas ao eixo e à criança e aos seguintes componentes curriculares: objetivos, conteúdos, orientações didáticas, orientações gerais para o professor e bibliografia. Esta forma de organização e o conteúdo trabalhado evidenciam uma subordinação ao que é pensado para o ensino fundamental e acabam por revelar a concepção primeira deste RCNEI, em que as especificidades das crianças de 0 a 6 anos acabam se diluindo no documento ao ficarem submetidas à versão escolar de trabalho. Isso porque a “didatização” de identidade, autonomia, música, artes, linguagens, movimento, entre outros componentes, acaba por disciplinar e aprisionar o gesto, a fala, a emoção, o pensamento, a voz e o corpo das crianças.
A leitura da versão final do RCNEI reafirma o quanto foi prematura a elaboração deste documento, uma vez que ainda persiste a necessidade de um amadurecimento da área, inclusive para saber se cabe dentro da especificidade da educação infantil um documento denominado Referencial Curricular, em função dos sentidos que o termo ‘currículo’ carrega.
Dentro desse contexto o RCNEI deve ser lido como um material entre tantos outros que podem servir para as professoras refletirem sobre o trabalho a ser realizado com as crianças de 0 a 6 anos em instituições coletivas de educação e cuidado públicos. Além disso, vale reforçar que ele não é obrigatório ou mandatório. Ou seja, nenhuma instituição ou sistema de ensino deve se subordinar ao RCNEI a não ser que opte por fazê-lo. Como orientação nacional a área dispõe das “Diretrizes Curriculares Nacionais” que de forma clara apresentam as diretrizes obrigatórias a serem seguidas por todas as instituições de educação infantil. Essas diretrizes definem os fundamentos norteadores que as Propostas Pedagógicas das Instituições de Educação Infantil devem respeitar:
A. Princípios Éticos da Autonomia, da Responsabilidade, da Solidariedade e do Respeito ao Bem Comum;
B. Princípios Políticos dos Direitos e Deveres de Cidadania, do Exercício da Criticidade e do Respeito à Ordem Democrática;
C.Princípios Estéticos da Sensibilidade, da Criatividade, da Ludicidade e da Diversidade de Manifestações Artísticas e Culturais.
ENTENDENDO OS OBJETIVOS
As crianças, desde muito pequenas, interagem com o meio natural e social no qual vivem, com isso aprendem sobre o mundo, fazendo perguntas e procurando respostas as suas indagações e questões. Vários são os temas pelos quais as crianças se interessam: pequenos animais, bichos de jardim, dinossauros, tempestades, tubarões, castelos, heróis, festas da cidade, noticias de atualidade, historias de outros tempos etc. As vivencias sociais, as historias, os modos de vida, os lugares e o mundo natural são para as crianças parte de um todo integrado.
A intenção é que o trabalho ocorra de forma integrada, ao mesmo tempo em que são respeitadas as especialidades das fontes, abordagens e enfoques advindos dos diferentes campos das Ciências Humanas e Naturais. Na maioria das instituições, esses conteúdos estão relacionados à preparação das crianças para os anos posteriores na sua escolaridade.
Com relação ao tempo e espaço, normalmente os conteúdos são tratados de forma desvinculada de suas relações com o cotidiano, com os costumes, com a História e com o conhecimento geográfico construído na relação entre os homens e a natureza. Em algumas práticas, tem sido priorizado o trabalho que parte da idéia de que a criança só tem condições de pensar sobre aquilo que esta próximo a ela e, portanto, que seja materialmente acessível e concreto; e também da idéia de que, para ampliar sua compreensão sobre a vida em sociedade, é necessário graduar os conteúdos de acordo com a complexidade que apresentam.
Dessa forma, desconsideram-se o interesse, a imaginação e a capacidade da criança pequena para conhecerem locais e historias distantes no espaço e no tempo e lidar com informações sobre diferentes tipos de relações sociais. As crianças refletem e gradativamente tomam consciência do mundo de diferentes maneiras em cada etapa do seu desenvolvimento. Quanto mais se desenvolve e sistematiza conhecimentos relativos à cultura, a criança constrói noções que favorecem mudanças no seu modo de compreender o mundo.
Conteúdos de 0 a 3 anos
Participação em atividades que envolvam histórias, brincadeiras, jogos e canções que digam respeito às tradições culturais em geral;
Exploração de diferentes objetos e suas propriedades;
Contato com pequenos animais e plantas;
Conhecimento do próprio corpo por meio do uso e da exploração de suas habilidades.
Objetivos de 0 a 3 anos
Explorar o ambiente, para que possa se relacionar com pessoas, estabelecer contato com pequenos animais, com plantas e com objetos diversos, manifestando curiosidade e interesse.
Orientação didática de 0 a 3 anos
A observação e a exploração do meio são as principais possibilidades das crianças aprenderem. As crianças devem ter liberdade para manusear e explorar os diferentes tipos de objeto.
Avaliação de 0 a 3 anos
A criança deve participar de atividades que envolvam a exploração do ambiente imediato e a manipulação de objetos;
Nessa fase, o método de avaliação é a observação. O registro é a fonte de informação sobre as crianças, em seu processo de aprender, e sobre o professor, em seu processo de ensinar.
Conteúdos de 4 a 6 anos
Sugere-se organização dos grupos e seu modo de ser, viver e trabalhar;
Os lugares e suas paisagens;
Objetos e processos de transformação;
Os seres vivos;
Os fenômenos da natureza.
Objetivos de 4 a 6 anos
Interessar-se e demonstrar curiosidade pelo mundo social e natural, formulando perguntas, imaginando soluções, manifestando opiniões próprias e confrontando idéias;
Estabelecer algumas relações entre o modo de vida característico de seu grupo social e de outros grupos;
Estabelecer relações entre o meio ambiente e as formas de vida que ali se estabelecem.
Orientação didática de 4 a 6 anos
O professor deve partir de perguntas interessantes, em lugar de apresentar explicações, considerando os conhecimentos das crianças sobre o assunto;
As crianças também apresentam mais facilidade de aprendizado quando fazem coleta de dados com outras pessoas e/ou têm experiência direta com o meio.
Avaliação de 4 a 6 anos
O professor deve desenvolver atividades variadas relacionadas a festas, brincadeiras, músicas e danças da tradição cultural da comunidade;
Devem ser promovidas situações significativas de aprendizagem para que as crianças exponham suas idéias e opiniões e devem ser oferecidas atividades que as façam avançar nos seus conhecimentos.
3º VOLUME: CONHECIMENTO DE MUNDO
No volume três enfatiza-se o âmbito conhecimento de mundo, que contém os seis eixos de trabalho facilitadores à construção das diferentes linguagens pelas crianças e para as relações que estabelecem com os objetos de conhecimento. Estes eixos são: Movimento, Música, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade e Matemática. Assim, descreve individualmente a concepção de cada eixo e os objetivos, conteúdos e orientações didáticas.
1. Movimento
O movimento está presente desde a vida intra-uterina, a cada movimento desenvolvemos controle sobre nosso corpo e percebemos possibilidades de interação com o mundo, através deste, expressamos sentimentos, emoções e pensamentos.
Ao brincar, jogar, imitar e criar ritmos e movimentos, as crianças também se apropriam do repertório da cultura corporal na qual estão inseridas. Nesse sentido, as instituições de educação infantil devem favorecer um ambiente físico e social onde as crianças se sintam protegidas e acolhidas, e ao mesmo tempo seguras para se arriscar e vencer desafios.
O trabalho com movimento contempla a multiplicidade de funções e manifestações do ato motor, propiciando um amplo desenvolvimento de aspectos específicos da motricidade das crianças, abrangendo uma reflexão acerca das posturas corporais implicadas nas atividades cotidianas, bem como atividades voltadas para a ampliação da cultura corporal de cada criança.
1.1 Objetivos: Crianças de quatro a seis anos
Ampliar as possibilidades expressivas do próprio movimento, utilizando gestos diversos e ritmo corporal nas suas brincadeiras, danças, jogos e demais situações de interação.
1.2 Conteúdos
Selecionar conteúdos que possibilitem as múltiplas experiências corporais é fundamental, por isso, os conteúdos estão organizados em dois blocos: 1o bloco: expressividade do movimento e 2o bloco: equilíbrio e coordenação
1.3 Orientações didáticas
1o bloco: Expressividade do movimento O espelho possibilita a construção da identidade e da imagem corporal, através de brincadeiras que as crianças podem fantasiar-se e representar personagens.
Brincadeira de roda, possibilitar a percepção do ritmo comum e a noção do conjunto, além do caráter de socialização.
2o bloco: Equilíbrio e coordenação – caráter instrumental Propor brincadeiras que componham aspectos ligados à coordenação do movimento e ao equilíbrio. Exemplo: empinar pipa, correr, jogos motores de regra, estátua.
2. Música
A música é a linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio da organização e relacionamento expressivo entre o som e o silêncio. Conforme consta no RCNEI a música uma das formas de expressão dos sentimentos, pensamentos e comunicação, que está presente em nossa cultura (em formas de cantigas passada de geração a geração), na educação esta deve ser cultivada por proporcionar a integração e interação.
A integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de interação e comunicação social, conferem caráter significativo à linguagem musical. É uma das formas importantes de expressão humana, o que por si só justifica sua presença no contexto da educação, de um modo geral, e na educação infantil, particularmente.
Pesquisadores e estudiosos vêm traçando paralelos entre o desenvolvimento infantil e o exercício da expressão musical, resultando em propostas que respeitam o modo de perceber, sentir e pensar, em cada fase, e contribuindo para que a construção do conhecimento dessa linguagem ocorra de modo significativo12. O trabalho com Música proposto por este documento fundamenta-se nesses estudos, de modo a garantir à criança a possibilidade de vivenciar e refletir sobre questões musicais, num exercício sensível e expressivo que também oferece condições para o desenvolvimento de habilidades, de formulação de hipóteses e de elaboração de conceitos.
2.1 Objetivos – crianças de quatro a seis anos
- Explorar e identificar elementos da música para se expressar, interagir com os outros e ampliar seu conhecimento do mundo.
- Perceber e expressar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio de improvisações, composições e interpretações musicais.
2.2 Conteúdos
Este conteúdo está dividido em dois blocos “o fazer musical” e “apreciação musical”.
2.3 Orientações didáticas
O trabalho com música nesta faixa etária deve ser conduzido de maneira a possibilitar à criança o enriquecimento e crescimento dos diversos aspectos referentes à produção musical.
É fundamental a apreciação de música sem textos, para que a criança perceba, sinta os diversos sons e possibilidades de melodias.
3. Artes Visuais
As artes visuais são linguagens relevantes na formação do indivíduo, pois integra os aspectos sensíveis, afetivos, intuitivos, estéticos e cognitivos com os de interação e comunicação social.
As Artes Visuais expressam, comunicam e atribuem sentido a sensações, sentimentos, pensamentos e realidade por meio da organização de linhas, formas, pontos, tanto bidimensional como tridimensional, além de volume, espaço, cor e luz na pintura, no desenho, na escultura, na gravura, na arquitetura, nos brinquedos, bordados, entalhes etc. O movimento, o equilíbrio, o ritmo, a harmonia, o contraste, a continuidade, a proximidade e a semelhança são atributos da criação artística.
As Artes Visuais estão presentes no cotidiano da vida infantil. Ao rabiscar e desenhar no chão, na areia e nos muros, ao utilizar materiais encontrados ao acaso (gravetos, pedras, carvão), ao pintar os objetos e até mesmo seu próprio corpo, a criança pode utilizar-se das Artes Visuais para expressar experiências sensíveis.
Tal como a música, as Artes Visuais são linguagens e, portanto, uma das formas importantes de expressão e comunicação humanas.
3.1 Objetivos – crianças de quatro a seis anos
- interessar-se pelas próprias produções, pelas de outras crianças e pelas diversas obras artísticas (regionais, nacionais ou internacionais) com as quais entrem em contato, ampliando seu conhecimento do mundo e da cultura.
- Produzir trabalhos de arte.
3.2 Conteúdos
O conteúdo de Artes visual está dividido em dois blocos:
Fazer artístico e Apreciação em artes visuais
3.3 Orientações didáticas
Fazer artístico
Ao desenvolver as atividades referentes o fazer artístico, deve-se possibilitar o contato, uso e exploração de materiais. Podem ser desenvolvidas com sucatas.
Ao utilizar o desenho possibilitar à criança ter liberdade de utilizar os mais variados tipos de lápis ou recursos experimentando e construindo.
Outra atividade é propor a criança fazer leitura de uma cena, figura pedindo que observem e desenhem o que perceberam, construindo uma situação ou história.
Leitura de imagens
Apresentar gravuras ou cenas, fazer questionamento, o que observou, o que mais gostou como o artista constitui estas cores, quais os instrumentos utilizados para executá-lo. Assim, descobriremos o que a criança conhece, percebe, portanto, perceberemos a estrutura cognitiva da percepção e da sensibilidade de observação.
4. Linguagem Oral e Escrita
A linguagem oral e escrita é uma das formas de inserção e de participação do indivíduo na sociedade e nas variadas práticas sociais existentes que necessite de leitura e escrita.
Aprender uma língua28 não é somente aprender as palavras, mas também os seus significados culturais, e, com eles, os modos pelos quais as pessoas do seu meio sociocultural entendem, interpretam e representam a realidade.
Em relação ao aprendizado da linguagem escrita, concepções semelhantes àquelas relativas ao trabalho com a linguagem oral vigoram na educação infantil.
4.1 Objetivos – crianças de quatro a seis anos
- Ampliar gradativamente suas possibilidades de comunicação e expressão
- Familiarizar-se com a escrita por meio do manuseio de livros, revistas.
- Reconhecer seu nome escrito, sabendo identifica nas diversas situações do cotidiano.
4.2 Conteúdos
O trabalho através do oral, leitura e escrita, deve ser de forma integrada e que se complementem, partindo deste pressuposto, os conteúdos ficaram organizados em três blocos: “falar e escutar”, “práticas de leitura” e “práticas de escrita”.
4.3 Orientações Didáticas
Falar e escutar
O trabalho do educador neste eixo enfatiza-se saber escutar, dar atenção e demonstrar compreensão à criança.
Possibilitar as crianças ouvir historia, recontar e representar no papel.
Práticas de leitura
Neste o professor pode possibilitar aos alunos situações em que participe de leituras de variados tipos de textos pelos adultos, proporcionando assim a criança situações em que percebam o que está escrito e o falado.
Apresentando fichas com os nomes dos colegas da turma, e solicitar a leitura do próprio nome dentro os colegas, de variadas formas e maneiras.
Práticas de escrita
O texto deve esta presente em sala de aula de forma constante, através de escrever para não esquecer uma informação, enviar mensagens, identificar um objeto apresentando em sala, quanto estão presentes hoje, a data do dia, e outros.
O ditado em pares para as crianças maiores também é uma forma de proporcionar a escrita, pois ambas se ajudam. E principalmente criar um clima de integração e cooperação na turma para se ter êxito em qualquer atividade proposta.
5. Natureza e Sociedade
O mundo onde as crianças vivem se constitui em um conjunto de fenômenos naturais e sociais indissociáveis diante do qual elas se mostram curiosas e investigativas. Desde muito pequenas, pela interação com o meio natural e social no qual vivem, as crianças aprendem sobre o mundo, fazendo perguntas e procurando respostas às suas indagações e questões. Como integrantes de grupos socioculturais singulares, vivenciam experiências e interagem num contexto de conceitos, valores, idéias, objetos e representações sobre os mais diversos temas a que têm acesso na vida cotidiana, construindo um conjunto de conhecimentos sobre o mundo que as cerca.
O eixo de trabalho denominado Natureza e Sociedade reúne temas pertinentes ao mundo social e natural. A intenção é que o trabalho ocorra de forma integrada, ao mesmo tempo em que são respeitadas as especificidades das fontes, abordagens e enfoques advindos dos diferentes campos das Ciências Humanas e Naturais.
5.1 Objetivos – crianças de quatro a seis anos
- interessar-se e demonstrar curiosidade pelo mundo social e natural, formulando perguntas, imaginando soluções para compreende-lo, manifestando opiniões próprias sobre os acontecimentos, buscando informações e confrontando idéias.
- Estabelecer algumas relações entre o modo de vida característico de seu grupo social e de outros grupos.
- Estabelecer algumas relações entre o meio ambiente e as formas de vida que ali se estabelecem, valorizando sua importância para a preservação das espécies e para a qualidade da vida humana.
5.2 Conteúdos
Os conteúdos estão organizados nesta faixa etária em cinco blocos:
“Organização dos grupos e seu modo de ser, viver e trabalhar”; “Os lugares e suas paisagens”; “Objetos e processos de transformação”; “Os seres vivos” e “Fenômeno s da natureza”.
5.3 Orientações didáticas
Ao trabalhar este eixo o educador, deve sempre possibilitar a formulação de perguntas, com participação ativa ao apresentar problemas e solicitar solução.
Possibilitando, que as crianças confrontem suas idéias com as de outras.
Manipulação de objetos e instrumentos para buscar informações, como fotografias, documentos, livros lupas, binóculos.
Agindo assim, o professor permitirá a criança ampliar o conhecimento de acontecimento e fatos sociais e fenômenos naturais.
6. Matemática
A matemática está presente no cotidiano da criança, desde o conferimento de figurinhas, divisão de balas e brinquedos com os colegas até a mostrar com os dedos a idade, possibilitando a elaboração de conhecimentos matemáticos. A educação infantil irá ajudar a criança a elaborar as suas informações e estratégias e adquirir novos conhecimentos.
Portanto, o trabalho com a Matemática pode contribuir para a formação de cidadãos autônomos, capazes de pensar por conta própria, sabendo resolver problemas. Nessa perspectiva, a instituição de educação infantil pode ajudar as crianças a organizarem melhor as suas informações e estratégias, bem como proporcionar condições para a aquisição de novos conhecimentos matemáticos.
6.1 Objetivos – crianças de quatro a seis anos
- Reconhecer e valorizar os números, as operações numéricas, as contagens orais e as noções espaciais como ferramentas necessárias no seu cotidiano.
- Comunicar idéias matemáticas, hipóteses, processos utilizados e resultados encontrados em situações-problema relativas a quantidades.
- Ter confiança em suas próprias estratégias e na sua capacidade para lidar com situações matemáticas novas, utilizando seus conhecimento prévios.
6.2 Conteúdos
Os conteúdos estão organizados em três blocos: “Números e sistema de numeração”, “Grandezas e medidas” e “Espaço e forma”.
6.3 Orientações didáticas
Jogos de “esconde-esconde” ou “pega” onde a criança tem que contar, e cantigas como a da “galinha do vizinho bota um, bota dois...” podem ser trabalhado para desenvolver o conteúdo de números e sistemas de numeração.
Quanto a grandezas o professor deve partir de exemplos práticos, propondo situações problemas, como o comparar o litro, quilograma, colher, xícara e a pitada de sal fazendo análise, questionando e expondo as idéias.
A matemática na educação infantil é abordada em variedades de brincadeira e jogos. Exemplos de brincadeiras são: as cantigas, brincadeiras da cadeira, quebra-cabeça, dominós, dados, jogos de encaixe, jogos de cartas.
Considerações Finais
O Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil - RCNEI surgiu da discussão de novas propostas para o ensino de crianças pequenas, a partir da inserção da mulher ao mercado de trabalho e dos novos olhares lançados em direção a mulheres, crianças e jovens pela sociedade.
Dentro das diretrizes sugeridas, dividiu-se o documento em três volumes, sendo o terceiro volume o objeto de nossa observação, por estar mais diretamente relacionado aos alicerces educacionais para o desenvolvimento do pensamento e do conhecimento geográfico.
É no terceiro volume, intitulado Conhecimento de Mundo, sub-dividido em seis outras linhas de atuação e atividade que se apresentam orientações aos docentes da Educação Infantil quanto ao desenvolvimento de Movimento, Música, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade e Matemática.
Apesar de não ser obrigatória a adesão das instituições ao RCNEI, alguns benefícios criados pelo Governo Federal estão diretamente vinculados a ele e só recebe os recursos a escola que adota as orientações do RCNEI em seu Projeto Político Pedagógico. Apesar disso, são poucas as instituições educacionais nas quais se evidenciam trabalhos e atividades orientados pelos objetivos do Referencial Curricular Nacional, sendo muito mais visível uma atuação tradicionalista e dissociada da realidade nas práticas docentes.
Tomando por objeto de análise os sub-grupos identificados no terceiro volume do RCNEI, percebe-se um distanciamento considerável entre a teoria e a prática de docentes e escolas.
Referente ao Movimento, o que se propões é ampliar as possibilidades expressivas do próprio movimento, utilizando gestos diversos e ritmo corporal nas suas brincadeiras, danças, jogos e demais situações de interação. Percebemos possibilidades de interação com o mundo, através deste, expressamos sentimentos, emoções e pensamentos.
No tocante à Música, propõe-se o desenvolvimento de atividades que objetivem não apenas o contato com músicas e instrumentos, mas principalmente da musicalidade da criança, mediante o contato com sons diversificados e com o próprio silêncio. A criança deve estar em contato com músicas já prontas, mas também familiarizar-se com a construção e improvisação de sons e melodias.
A Arte Visual deve desenvolver-se proporcionando um contato amplo com formas, cores e materiais, permitindo à criança desenvolver sua criatividade, imaginação e a visualização do mundo que a rodeia, sendo capaz de reproduzir essa realidade no desenho, na pintura, escultura, colagem, modelagem, etc.
A Linguagem Oral e Escrita deve primar pelo desenvolvimento da criticidade, da curiosidade da criança, da expressão de sentimentos, idéias, análises, temores e, principalmente na valorização de sua crença e cultura.
O tópico referente à Natureza e Sociedade insere as primeiras noções de Geografia e História, devido ao desenvolvimento das noções de tempo e espaço através do contato com o meio social e natural no qual a criança está inserida. As Ciências também começam a se desenvolver nele por objetivar-se o contato com seres vivos diversos e de paisagens.
O desenvolvimento da Matemática se deve realizar valorizando o conhecimento prévio do aluno, suas curiosidades, questionamentos, indagações e opiniões diante de situações-problema cotidianas, incentivando o descobrimento dessas situações e a busca de soluções, assim como também problematizando questões diárias que estejam diretamente ligadas ao contexto social e familiar do aluno.
O que se percebe é uma intensa e total preocupação na preservação do contexto individual da criança e na manutenção dos conhecimentos que ela obtenha. A cultura, a diversidade e o meio familiar devem ser preservados, garantindo uma forte ligação entre a escola e o meio externo.
Prima-se pelo surgimento de um ser muito mais preparado para a sociedade, capaz de reconhecer-se, superar-se, analisar, criticar e transformar a realidade na qual está inserido, através de um contato direto e constante com objetos, ambientes e seres vivos de seu espaço. Da comparação entre o seu meio e outros ambientes e, principalmente, participativo e construtor das relações interpessoais que configuram a sociedade.
Se compararmos o que se propõe com a prática docente e a atuação escolar, percebemos que a realidade é outra, notamos que pouco se explora do movimento corporal dos alunos; pouco se desenvolve da música e das artes visuais; que a linguagem oral e escrita exclui o contexto social propiciando muito mais a evasão do que a inclusão; que os alunos de modo geral estão pouco familiarizados com paisagens e seres vivos que compõem o meio ao seu redor e, principalmente, que a matemática continua sendo desenvolvida desprezando a curiosidade e a capacidade de superação dos alunos, não propiciando sua interação com o mundo. A prática docente insiste em guardar a mesma postura ao longo dos anos: o aluno encontra-se sentado para copiar, decorar, efetuar exercícios.
BIBLIOGRAFIA
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. 3º vol.: il.
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