AFLIÇÕES DE PROFESSOR V
ESCRITA E COMUNICAÇÃO
Quando vemos os resultados vergonhosos do Brasil no PISA e em outras avaliações, é impossível não nos entristecermos, é impossível não nos perguntarmos como isso poderá ser revertido. Acredito que essa mudança vai além de investimentos e criação de leis. Tem que ser um compromisso de todos. Plantando essa pequena semente desde cedo em minúsculos gestos de contribuição.
Tenho incentivado minhas alunas do 6º ano a me escreverem cartas, substituindo os bilhetes extremamente carinhosos, mas desajeitados e repetitivos. Acredito que essas correspondências possam melhorar sua escrita, sua compreensão na leitura, melhorar a caligrafia e, o mais importante de tudo, a comunicação já que são muito tímidas.
Vi cada avanço, pouco a pouco, na estrutura, no uso de uma vírgula, no fechamento da carta. Foi impossível não notar a reprodução de minhas saudações, mas foi maravilhoso vê-las aprendendo, timidamente, como se inicia uma carta e que respostá-la é mais que escrever uma carta após outra, é um diálogo entre duas pessoas.
Quantas vezes tirei um tempinho para ler as cartinhas, buscando as resposta para as perguntas que fiz sem sucesso. Então, nessas últimas semanas de aula, se aproximando as férias, recebi uma carta que dizia: “... dos 7 erros já achei 3 professora”. Recebi uma surpreendentemente linda: “... você sabia que o eclipse solar acontece quando...”. A outra cartinha me desejava Feliz Natal e me fazia uma pergunta: “- o que você acha do Natal?”
Fiquei emocionada com aquelas cartinhas, não só porque continuavam a me escrever depois de tanto tempo, mas porque elas, de fato, estavam entendendo a mensagem, estavam aprendendo o sentido de se escrever uma carta. E eu estava provando um pouquinho do gosto bom de fazer o que faço.
Quem sabe essa pequena semente possa germinar, crescer e dar bons frutos?