FORMAÇÃO CONTINUADA

Há alguns séculos antes de Cristo, o filósofo grego Heráclito chegou a uma conclusão interessante: “o conflito é o pai de todas as coisas”. Muitos traduzem esta frase de Heráclito de forma equivocada, afirmando que “a guerra” é a origem de todo progresso. Isto não corresponde ao que Heráclito quis dizer. Para Heráclito não são as guerras assassinas que geram o progresso, pois elas geram morte, confusão e caos. No entanto, o progresso é fruto dos conflitos inerentes à própria natureza humana. O ser humano está em constantes conflitos. Estas situações conflitantes geram tensões e problemas que exigem soluções. Permanentemente, nos encontramos entre a paz e a guerra, a saúde e a doença, a vida e a morte, o conhecimento e a ignorância, a pobreza e a riqueza, a juventude e a velhice, a justiça e a injustiça, a verdade e a mentira, a liberdade e a opressão, a democracia e a ditadura, o finito e o infinito, Deus e o diabo, o bem e o mal, o temporal e o eterno, o corporal e o espiritual.

Não posso aqui fazer uma reflexão sobre todos estes conflitos e suas propostas de solução. Vou me ater, apenas a um destes conflitos: o conflito entre o conhecimento e a ignorância. Todos entendem que este conflito a humanidade, desde a antiguidade, tenta resolver através da educação, aprendizagem, ensino e pesquisa. Em tempos, não muito remotos, pensava-se que a educação e a aprendizagem estavam completas ao final dos estágios escolares, divididos em ensino fundamental, médio e superior. Este conceito estático de aprendizagem já não é mais suficiente para resolver os conflitos em nosso tempo. É convicção generalizada que a educação e a aprendizagem nunca podem ser finalizadas.

O ser humano é um eterno aprendiz, constantemente surgem novos problemas e conflitos que precisam novas soluções. E estes conflitos exigem novos conhecimentos, provenientes de mais aprendizagem, de constantes pesquisas e estudos. Por isto, quem não se dedica a uma formação continuada durante toda a vida, em pouco tempo estagna e não consegue mais resolver as situações conflitantes das novas exigências do mundo em que vivemos. Disto se conclui que, tanto os indivíduos, como as instituições, necessariamente, devem buscar, e incentivar, a formação continuada.

Felizmente, também no Brasil, muitas instituições acadêmicas incentivam esta formação continuada, através de mestrados, doutorados e pós-doutorados. Mas isto não deveria ser apenas preocupação de instituições acadêmicas ou de empresas que buscam a melhoria de seus produtos. Todos aqueles que se dedicam a resolver os conflitos na sociedade, como juízes, promotores de justiça, médicos, etc... deveriam receber, de tempos em tempos, licenças e incentivos substanciais para cuidarem, de forma sistemática, de sua formação continuada.

Infelizmente, as instituições que abrigam estes profissionais ainda oferecem poucos incentivos para o aperfeiçoamento mais especializado de seus membros. Os conflitos são novos que exigem soluções novas. E estas somente se descobre com novos conhecimentos e novas pesquisas.

Inácio Strieder é professor de filosofia- Recife