IDENTIDADE E ADOLESCÊNCIA

“A adolescência é um período de formação dos próprios valores, da identidade, período onde as escolhas devem ser tomadas [...] se caracteriza pelas transformações [...]” (profissional de Consultório Particular)¹

IDENTIDADE – ADOLESCÊNCIA

A PSICOLOGIA COMO ALIADA NAS DEFINIÇÕES

Acadêmica: Juliane Andréa Soares kirch

Professor- tutor externo: Elieser Pandolfo da Silva

Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI

Curso (ARTO 126) – Prática do Módulo I

10/11/12

RESUMO

O presente texto pretende ser uma revisão dos conceitos de: adolescência, identidade e maturidade intelectual no processo de contribuição do desenvolvimento cognitivo dos adolescentes em idade escolar. Partiremos da noção de adolescência nos vários olhares no espaço social. Corroborando com a definição de identidade no sentido de que esta é, única, diferenciada em cada indivíduo. Finalizando que nesta etapa da vida, o ser humano passa por grandes conflitos e estes podem ou não interferir na maturidade intelectual dos adolescentes diante do mundo das ciências e suas totalidades. Espera-se que o trabalho possa contribuir no aprendizado e na docência em sala; constatando que cada indivíduo carrega suas individualidades em contraponto com a coletividade a sua volta, fundamentadas na importância do homem/ser humano no processo/desenvolvimento do pensamento.

Nossa ação no mundo se reflete em nós pelas consequências de nosso ato de agir que provoca em nós novas concepções e também pelas transformações que provocamos no mundo, fazendo-o diferente para nós, ampliando assim como fonte de novo estímulos [...] o mundo externo que percebemos é sempre um mundo nosso particular. (TAVARES, 2003, P.23)

Palavras-chave: adolescência, desenvolvimento, identidade.

1 INTRODUÇÃO

Tratar ou dissertar sobre identidade e maturidade intelectual na adolescência sugere muitas abordagens, pois a fase da adolescência em alguns períodos da evolução da Psicologia não era tratada de forma diferenciada ou mesmo alguns autores sequer citavam essa fase na vida do ser humano em constante desenvolvimento.

Foi no início do século XX que Stanley Hall sintetizou este período da vida “como uma etapa marcada por tormentos e conturbações vinculadas à sexualidade” (Aguiar, Back & Ozella, 2011: 163).

O presente artigo busca dissertar sobre como a formação da identidade nos adolescentes interfere na sua maturidade intelectual e no seu desenvolvimento cognitivo.

2 DESENVOLVIMENTO

Diante de uma sociedade, que nas últimas décadas vem passando por inúmeras transformações, caracterizadas por fortes contradições econômicas e sociais, redefinição de empresas em destaque, modernização econômica, influências religiosas e políticas no panorama mundial, e exigência de especialidade através do conhecimento e demais condições que asseguram a efetiva participação das sociedades organizadas no cenário da Globalização.

Ainda há desequilíbrios herdados de uma história que contribuiu para que a concentração de renda estivesse nas mãos de poucos e os órgãos governamentais não dão conta de promover o bem-estar social.

O papel da escola e do educador são o contributivo da ciência onde as elites educacionais devem mobilizar o conhecimento.

A biotecnologia deverá encarregar-se para melhorar a segurança alimentar, os cuidados da saúde e a produção da energia. E por sua vez, as ciências humanas devem contribuir para uma melhor leitura e uma interpretação mais justa da organização social, em que o atributo maior deve ser o de lançar os fundamentos da consciência moral do ser humano e não simplesmente transmitir a limitação dos elementos da comunicação ou de um trabalho de utilidade pessoal ou pública.

Nesse sentido apoderar-se ou aprimorar-se no conhecimento e estudo do desenvolvimento comportamental do nosso educando, embasados pela Psicologia, garantirá a nós educadores estratégias de como trabalhar na sala de aula as diferentes maturações intelectuais, as variadas identidades e sobre tudo compreender a fase da adolescência, esta conceituada como a fase das inquietações e autoafirmação diante de si e do outro:

“[...] o jovem não é algo ‘por natureza’. Como parceiro social, está ali, com suas características, que são interpretadas nessas relações; tem, então, um modelo para sua construção pessoal. Construídas as significações sociais, os jovens têm então a referência para a construção de sua identidade e os elementos para a conversão do social em individual” (Aguiar, Bock & Ozella, 2001:168-0).

Primeiramente é preciso compreender e definir a adolescência perpassando os vários olhares de estudiosos da Psicologia. Citamos de início Erickson, que nos seus relatos afirma que todo ser humano- indivíduo no decorrer de seu desenvolvimento enfrentará crises ou conflitos que o ajudarão a moldar sua personalidade e identidade.

Para ele a fase da adolescência é a mais crítica, pois nesse período as inquietações sobre “quem sou”, tornam-se mais evidentes. É nessa fase que o mesmo tende a revelar-se, mostrar-se confuso diante do mundo e suas implicações. É como se o adolescente fosse ele em um corpo estranho cheio de dúvidas e aflições.

Erickson ainda defende que o meio sociocultural histórico, os indivíduos e suas relações, onde estão inseridos tem grande influência na formação da identidade dos adolescentes e contribui dizendo que “há necessidade de o adolescente fazer uma integração de seu passado e futuro, através de um processo de recapitulação e antecipação”.

Por outro lado Freud na Psicanálise – teoria dos processos inconscientes, que apresenta um conceito ampliado de sexualidade, seus relacionamentos com os eventos mentais e seu reflexo no sociocultural.

Para ele a fase da adolescência define-se como:

“estágio genital; com as mudanças biológicas da puberdade, os impulsos reaparecem e a libido é reativada. A sexualidade adquire agora a genitalização própria da fase adulta e, superadas as fases exclusivamente autoeróticas, volta-se para a relação heterossexual.” (et al PEREIRA,2009:53-54)

Ainda nesse sentido, de acordo com o livro Adolescências Construídas – Organizado por Sergio Ozella o que está arraigado na hegemonia da Psicologia é de que “a adolescência como etapa natural, inerente e própria do desenvolvimento do homem, marcada por conflitos e crises naturais da idade”:

“entender a adolescência como constituída socialmente a partir de necessidades sociais e econômicas dos grupos sociais e olhar e compreender suas características como características que vão se constituindo no processo [...] Os modelos estarão sendo transmitidos nas relações sociais, através dos meios de comunicação, na literatura e através das lições dadas pela Psicologia” (Aguiar, Bock & Ozella, 2001:171).

Já a Psicologia Sócio Histórica fundamentada em Vygostky, Luria e Leonteve defende e não nega a existência da fase da adolescência, mas a considera como não natural no desenvolvimento do homem e sim uma criação da humanidade no decorrer da sua evolução:

“o homem como ativo, social e histórico. A sociedade, como produção histórica dos homens que, através do trabalho, produzem sua vida material. As ideias, como representações da realidade material. A realidade material, como fundada em contradições que se expressam as ideias. E a história, como o movimento contraditório constante do fazer humano, no qual, a partir da base material, deve ser compreendida toda a produção de ideias, incluindo a ciência e a psicologia” (Bock, 2001:17-8).

Depois da sequência de conceitos acerca da adolescência, apresentando outros olhares sobre ela, pode-se inferir que essa fase apresenta grandes conflitos, mudanças, aceitação de si mesmo, posicionamento diante do mundo, ou seja, a busca constante de autoafirmação no seu meio e grupos sociais.

Outro fator que a educação e educadores necessitam conhecer e que a Psicologia contribui de forma precisa é a questão da identidade. É possível conferir-lhe um papel importante no desenvolvimento cognitivo dos adolescentes? Uma identidade bem construída permite ao adolescente em fase escolar uma facilidade maior na aquisição e internalização das ciências e suas totalidades?

A partir disso, faz-se necessário um exercício de construção do significado da “identidade” expresso ao longo da história pelos que se dedicam ao estudo do tema em questão.

Segundo a Psicologia, no sentido mais amplo, a identidade seria um conjunto de características/jeito próprio e exclusivo de uma determinada pessoa. Já para a psicanálise, “o sujeito só pode se definir a partir da sua relação com os pais”.

Aprofundando na definição, cita-se Freud em 1923, quando discorre que no “ID encontra-se a nossa herança filogenética, ou seja, que somos a história de nossas escolhas. E que nosso ID pode-se modificar no contato com a realidade e o externo” (Freud, 1923, p, 43).

Na sequência, Heimann(1942) afirma que a identidade seria o conjunto de habilidades, talentos, desejos, impulsos, fantasias, emoções possuídos pelo individuo.

Então todas as manifestações psíquicas realizadas pelo ser humano de forma integrada seriam próprias da identidade de cada um.

Pelos idos de 1950, Hartman discorre sobre a distinção entre o eu – auto – e o outro, ou seja, a identidade seria muito mais do que se refere si mesmo, mas um sistema organizado, oposição entre o sujeito e objeto. No que se refere ao citado acima, pode-se inferir que toda identidade pode ser formada a partir do que o indivíduo tem internalizado no seu âmago juntamente com as influências que recebe do meio ou do “outro”, através de sua história de vida.

Essa imprecisão conceitual e divergências nas definições da identidade vêm desde os primórdios e segue na atualidade. Jacques (1988) parte da noção de que a identidade é formada em estágios de crescimento e autonomia nas relações sociais e individuais de cada indivíduo:

Jurandir Freire Costa emprega a qualificação “identidade psicológica” para se referir a um predicado universal e genérico definidor por excelência do humano em contraposição e apenas um atributo do eu de algum eu como é a identidade social, étnica ou religiosa, por exemplo. Habermas (1990) refere-se a “identidade do eu” que se constitui com base na “identidade natural” e na “identidade de papel” a partir da integração dessas através da igualdade com os outros e da diferença em relação aos outros. Com base no pressuposto inter-relacionar entre as instâncias individual e social, a expressão “identidade social” vem sendo empregada. (Neto, 1985) buscando dar conta dessa articulação. (Jacques, 1998, p.161)

Outro ponto importante dentro da Psicologia são os estudos relacionados sobre a importância do emocional no desenvolvimento cognitivo e intelectual. Segundo a psicóloga Alexandra Borges, pré-vestibular do colégio Ari de Sá Cavalcante, é preciso fortalecer a maturidade, pois os processos de ensino estão começando mais cedo. A pergunta que fica é válida essa diminuição de idade para se ingressar no mundo letrado? Não estamos contribuindo para “o pular” de fases de nossos educandos? Têm eles maturidade afetiva e cognitiva?

Outra profissional, Tânia Toscano, psicóloga do ensino médio do colégio Faria Brito, destaca que nossos jovens podem até ter o conteúdo das disciplinas em dia, mas podem não estarem preparados para as escolhas da vida. Enfatiza, “é preciso responsabilidade para corresponder à liberdade”.

É importante ter conhecimento sobre os caminhos da Psicologia, pois desta maneira poderemos compreender as várias individualidades, no coletivo de sala de aula. No conhecimento encontram-se os subsídios e formulações de estratégias para trabalhar com as múltiplas identidades e graus de maturidade cognitiva.

Aos observarmos essas sutis diferenças, destacamos que a formulação do indivíduo na fase da adolescência tem em si uma relação sócia histórica, ou seja, o meio social fornecerá condições que moldarão às múltiplas e variadas facetas de identidade:

Os acontecimentos da vida de cada pessoa geram sobre ela a formação de uma lenta imagem de si mesmos, uma viva imagem que aos poucos se constroem ao longo de experiências de trocas com outros: a mãe, os pais, a família, a parentela, os amigos de infância e as sucessivas ampliações de outros círculos de outros: outros sujeitos investidos de seus sentimentos, outras pessoas investidas de seus nomes, posições e regras sociais de atuação (Brandão, 1990, p.37).

Se voltarmos nossos olhares para os educandos, e concebermos que a identidade é a soma de suas funções e manifestações psíquicas, compreenderemos que é uma fase natural, e ao mesmo tempo significa o “crescer” de cada um num ritmo que seu meio cultural, social e até biológico ditará nas suas relações cotidianas. Nesse sentido, Maria Aparecida Melo, fundamentada nas Concepções de Adolescência em Piaget argumenta que:

O adolescente exercita ideias no campo do possível e formula hipóteses, tem o poder de contribuir à sua vontade reflexões e teorias. Com estas capacidades, o adolescente começa a definir conceitos e valores: neste sentido, caracteriza-se a adolescência por egocentrismo, pois acredita que é capaz de resolver todos os problemas que aparecem, considerando as suas próprias concepções como as mais conditas. (MELLO, 2009)

A partir das considerações e vozes dos autores pode-se estabelecer um paradigma entre a influência da identidade na adolescência e seu desenvolvimento cognitivo.

Essas concepções sucessivas, reformuladas, analisadas e condicionadas aos estudos, e tratam de descentralizar os pontos de vista e consequentes releituras a cerca dos termos adolescência, identidade e maturidade, possibilitando diversas interpretações, ou seja, abre um leque de possibilidades para nós educadores reconstruirmos nossos paradigmas e nos adaptarmos a nova conjuntura sócio/cultural – reafirmando que a adolescência “é simplesmente uma crise passageira” e que este indivíduo realizará uma integração da sua fase anterior com conturbações do hoje – reformulando um “eu adulto” pleno e consciente de si mesmo.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Então conhecer sobre Psicologia, ou mesmo psicanálise, possibilita aos educadores entender e promover formas diversas de trabalhar com os adolescentes em sala de aula. Ao interagir com este ou aquele adolescente é preciso que conheçamos essa fase, como ocorre e quais são suas principais inquietações. O principal objetivo desse artigo (estudo) não é responder de uma vez as indagações a cerca do desenvolvimento cognitivo na adolescência, mas sim contribuir para que haja um diálogo necessário entre o que os educadores estão trabalhando em sala e sob que forma está atingindo, influenciando na formação da identidade e consequentemente na maturidade cognitiva e aprendizagem do educando nas ciências e suas totalidades.

Nesse sentido nós, educadores, nos tornamos mediadores nas atividades educativas e de construção do desenvolvimento intelectual dos adolescentes em fase escolar, ou seja, realizamos de certa forma uma ponte entre o jovem e a sua relação com as ciências e o mundo. Devendo então trabalhar, na escola, com o seguinte postulado nas palavras de Hegel, “a verdadeira realidade é o devir, não é o ser nem o não ser, mas a tensão entre ambos”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

KRAMER, Sonia. Dilemas Dois pontos de Prática. Rio de Janeiro, 1986.

OZELLA, Sergio. Organizador. Adolescências Construídas. A visão da Psicologia sócio histórica. São Paulo: Cortez, 2003.

Disponível em: http://www.uel.br/ccb/psicologia/revista/textov2n13.htm, acesso dia 08 de novembro de 2012.

Disponível em: http://psicob.blogspot.com.br/2008/06/identidade-em-crise.html, acesso dia 08 de novembro de 2012.

Disponível em: http://artigos.psicologado.com/psicologia-geral/desenvolvimento-humano/adolescencia-e-formacao-da-identidade-em-erik-erikson, acesso dia 08 de novembro de 2012.

Disponível em: http://psicopsi.com/pt/adolescencia-e-pos-modernidade-a-maturidade-intelectual/, acesso dia 08 de novembro de 2012.

Disponível em: http://www.ita.br/online/2009/itanamidia09/fev09/diarionordeste2fev09.htm, acesso dia 08 de novembro de 2012.

TAVARES, Maria G.C.F. Imagem Corporal: conceito e desenvolvimento. Barueri, São Paulo: Monole, 2003.

ERIKSON, E.H. Identidade, juventude e crise. Rio de Janeiro: Thex, 1992. P.27.

Disponível em: http://artigos.psicologado.com/psicologia-geral/desenvolvimento- humano/concepcoes-de-adolescencia-em-jean-piaget, acesso dia 8 de novembro de 2012.