O “ABC” da alienação
Observando os fatos sociais percebi o quanto somos alienados, não por sermos fracos pensadores, talvez sejamos sim, mas o caso vai ainda mais além do que um simples pensamento medíocre. Nossa alienação vem desde o nosso ingresso na vida escolar por exemplo. Digo nossa pois também sofri desta alienação e pode ser que ainda sofro...
Voltemos ao tempo em que pai e mãe estão as vésperas da nossa inserção na escola. Mãe e pai sempre nos incentivando a ir à escola. Uma situação normal até então, sonho de qualquer um familiar que queira uma carreira bem sucedida em qualquer área profissional. Mas eis que a situação é outra. No primeiro dia a professora, familiarizada com os seus alunos, afinal “a escola é a segunda casa do aluno”, é chamada de “tia” e permanece assim até o seu ingresso no ensino fundamental II. A “tia” fornece como material didático uma folha contendo um desenho e pede para que esse seja pintado. Com pouca coordenação, não conseguimos tracejar com destreza, muito menos manusear o lápis de cor ou giz de cera com habilidade. Nos incentivando ela sempre diz estar ótimo, mesmo sabendo que não esteja. No segundo dia, ela traz novamente uma folha contendo um desenho para que seja pintado, mas que dessa vez usemos só os espaços limitados por aquelas linhas estranhas na folha. Frustração de qualquer “pequenininho” da sala da “tia” fulana.
Ou ainda vamos além: a “tia” fornece uma folha em branco e pede para que o aluno faça um desenho do seu gosto, do seu jeito. E cheio de ideias traceja na folha, ainda que ultrapasse o limite da folha. Lindo, como sempre! No segundo dia a “tia” pede novamente para que se faça o desenho, mas na folha contém margem, e ela não pode ser ultrapassada. Percebeu? Mesmo que seu desenho não caiba naquela marcação cercada por aquela margem pois sua imaginação fluiu e te fez querer transcrever mais, você é obrigado a fazer dentro daquele espaço limitado seu desenho. E o desenho é seu? Não, não é. É o desenho que a professora quis que você fizesse. Seu desenho ultrapassaria os limites de um simples pedaço de papel cortado num formato retangular, mas você foi obrigado a enquadrar-se aquele espaço.
Somos tentados desde o início a obedecer regras, sem levar em conta nossa vontade, nossos anseios. Bem verdade que se não houvesse regras seria impossível uma convivência harmônica entre as pessoas dentro da sociedade, pois mesmo havendo regras há tumores sociais que deturpam a conduta seguida pela maioria das pessoas na sociedade. Porém somos tão frustrados ao recebermos, de boca fechada e sem saber, essa alienação que, por passar despercebido, acatamos as rédeas que indiretamente nos são postas e que sem saber carregamos esse traço para o resto de nossas vidas. Vivemos uma alienação generalizada, uma alienação que nos leva ao comodismo, ao sedentarismo intelectual ou quiçá à escravidão, escravidão intelectual. Onde perdemos no meio do caminho, ou melhor, onde não ganhamos nesse caminho a intelectualidade necessária para viver uma vida social injusta como a nossa.