A docência, a discência e a indecência
A docência, a discência e a indecência
Luiz Eduardo Corrêa Lima
Enquanto alguns professores (docentes) e alunos (discentes) trabalham e lutam arduamente para tentar garantir escolas boas e ensino de qualidade, formando alunos dentro dos padrões esperados pela sociedade, de acordo com a decência, com a moralidade e com a ética das instituições escolares, visando a melhoria da qualidade das pessoas e garantindo um futuro próspero para o Brasil. Por outro lado, outros professores e alunos fazem exatamente ao contrário e somam com o governo brasileiro nesse descalabro indecente que emperra o cenário educacional do país.
O Governo Brasileiro garante que está tudo bem, pois estamos melhorando nossos índices na área da Educação. Eu queria entender que índices são esses que terminantemente não condizem com a realidade daquilo que se observa diretamente nas escolas. Aliás, está precisando que os membros do governo visitem mais às escolas para conhecer as suas respectivas realidades.
Considerando que aceitem o meu convite, certamente ao visitarem as escolas, será possível identificar: administração inoperante; professores ausente; alunos ausentes; aprovação compulsória; desinteresse pela escola e pelo aprendizado; desrespeito quase total às pessoas, mormente aos professores; analfabetismo funcional até o nono ano do ensino fundamental; excesso de evasão escolar, tanto de alunos, quanto de professores; perda da autoridade dos professores, violência contra os professores, abusos e desmandos por parte de alunos e seus responsáveis; péssimas condições de infraestrutura funcional das escolas; instituições de ensino superior totalmente ineficientes e incapazes; salários vexatórios e vergonhosos em todos os níveis de ensino, tanto para os professores quanto para todo pessoal que atua na educação.
Enfim, o quadro é cada vez mais tétrico, desagradável e desanimador, mas os governos insistem em tentar demonstrar outra realidade, ainda que fictícia e mentirosa, contrariando, além dos números e os dados internacionais, a realidade visual explícita. Até quando vamos permitir esse absurdo e vamos continuar “brincando de faz de contas” com a educação brasileira?
Nesse 15 de outubro quero parabenizar aos professores de fato e de direito, aqueles que acreditam e que fazem efetivamente da educação uma maneira de tentar crescer os seres humanos e de tentar fazer com que transformem a realidade a sua volta, levando progresso moral e intelectual a sua comunidade próxima, bem como toda a sociedade. Aqueles que entendem, sobretudo, aquele velho chavão que diz clara e objetivamente que: “sem educação não há solução”. Aos demais professores que infelizmente nada fazem em prol da educação e que só enriquecem as estatísticas furadas do governo, espero sinceramente que possam refletir bastante sobre o têm feito ou sobre o que não têm feito, em prol da educação.
É claro que, além dos governos e dos maus professores, também há grande parte da culpa na irresponsabilidade dos pais e no desinteresse dos alunos, porém o professor é o agente principal e cumpre a ele, antes dos demais, se manifestar em prol de uma educação de qualidade. Aliás, cabe ressaltar que cumpre ao professor, como profissional, principalmente a obrigação de exercer o seu trabalho com esmero, seriedade e competência. Lutar por uma educação de qualidade é trabalho de todos, mas é função primária e fundamental do professor.
Quanto aos alunos, quero dizer que aqueles que sabem que a educação é para eles e que fazem bom uso da educação que recebem, devo também parabeniza-los, porque são eles que justificam o trabalho dos bons professores e da verdadeira docência. Aos demais alunos, quero pedir para que caiam no mundo real e que entendam que somente com educação poderão ser indivíduos livres e capazes de crescer como pessoas melhores.
A educação é a única maneira de mudar a realidade e somente com a decência nas instituições de ensino, tanto nos governos, quanto na docência e na discência, será possível obter uma educação de verdade. Em suma, quero dizer que é necessário acabar com a indecência que impera na educação brasileira, a começar pelos números inverídicos e propagandas falaciosas divulgados pelo governo, para que se possa estabelecer uma educação profícua no Brasil.
Acabamos de passar por mais um ENADE (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) e o resultado novamente foi pífio e frustrante, tanto dos universitários como consequentemente das instituições de ensino superior do país. No Programme for International Student Assessment – PISA (Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes), também recém ocorrido, que avaliou alunos na faixa dos 15 anos de idade, ficamos em 53° lugar, entre os 65 países avaliados, bem atrás de Uruguai, México, Chile e Argentina, só par citar os latinos.
Caramba! Se não bastasse esses números assustadores, ainda temos coisa pior. Somos um país com a quinta população, a sexta economia do planeta e a nossa principal Universidade não está nem entre as 220 primeiras do mundo. Alguma coisa está muito errada na Educação do Brasil. Como dizia o saudoso Cazuza: que país é esse? E eu pergunto: que educação é essa?
Acredito que já passou da hora de pararmos de brincar com a educação brasileira. Pense nessas coisas, antes de escolher o seu candidato a Presidente e a Governador, já que daqui a exatamente um ano, em outubro de 2014, estaremos elegendo novos dirigentes Nacionais e Estaduais. A indecência na educação precisa acabar ou quem acabará será o Brasil.
Por enquanto, parabéns a todos aqueles que também lutam pela educação de verdade que o Brasil merece e, em especial, Feliz dia 15 de outubro para os verdadeiros professores desse país, que embora lindo e rico, até aqui tem carecido de bons administradores, ou pelo menos de administradores efetivamente envolvidos em mudar a cara do Brasil.
Luiz Eduardo Corrêa Lima (57) é Biólogo e Professor de Ensino Superior, Médio e Técnico; Pesquisador, Escritor e Ambientalista; foi Vereador e Presidente da Câmara Municipal de Caçapava.