Os Fenômenos da Variação Linguística: O que é correto e incorreto na língua?
Aprendemos a linguagem oral desde o nascimento ouvindo os outros falarem, já para aprender a escrever é necessário que alguém ensine. A norma culta defende que cabe á escola ensinar as convenções ortográficas e as características da variedade linguística de prestígio por ser valorizada no mundo do trabalho da produção científica e cultural.
Sem dúvida as variações linguísticas são fenômenos inerente a todas as línguas vivas.
Um falante de português, independentemente de sua escolaridade, sabe e usa a língua materna para interagir em várias situações comunicativas nos grupos sociais com quem convive.
Entretanto, uma sequência por exemplo como: “os menino” cuja pronúncia sabemos ser variável( Uzmininu, Ozminino, Ozmenino) que seria claramente um erro do ponto de vista da gramática normativa, por desrespeitar a regra de concordância,não é um erro do ponto de vista da gramática descritiva, porque construções como essa ocorrem sistematicamente numa das variedades do português ( a marca da pluralidade só ocorre no primeiro elemento da sequência nessa variedade).
Seria considerado erro a sequência “dois menino”, “essas meninos” que só ocorreriam por engano com falantes nativos, ou então na fala de estrangeiros com conhecimento rudimentar da língua.
Segundo Marcos Bagno é preciso reconhecer que tudo o que a gramática tradicional chama de “erro” é na verdade um “fenômeno” que tem uma explicação científica perfeitamente demonstrável.
Com certeza a ideia de correto e incorreto no uso da língua deve ser substituída pela ideia de uso adequado e inadequado dependendo da situação comunicativa. Quando há conhecimento das muitas variedades da língua é possível escolher a que melhor se encaixa a um contexto comunicativo.
Por outro lado, Sírio Possenti, professor associado no departamento linguístico (IEL-UNICAMP) em seu livro, Porque [não] ensinar gramática na escola(2008) afirma que é fundamental considerar a distinção entre linguística e erro linguístico: “diferenças linguísticas não são erros, são apenas construções ou formas que divergem de um certo padrão”. “São erros aquelas construções que não se enquadram em qualquer das variedades de uma língua”.
Ainda nas palavras de Marcos Bagno: [...] Do ponto de vista sociocultural, o “erro” existe, e sua maior ou menor “gravidade” depende precisamente da distribuição dos falantes dentro da pirâmide das classes sociais que é também uma pirâmide de variedades linguísticas.
Quanto mais baixo estiver um falante na escala social, maior o número de “erros” as camadas mais elevadas atribuirão a sua variedade linguística a diversas outras características sociais dele.
Além disso, o erro é uma moeda e como toda moeda tem duas faces: uma linguística e outra sociocultural.
Mas como explicar os desvios ( Fenômenos linguísticos) da língua?
Do ponto de vista linguístico não existe erro, uma vez que é possível explicar cientificamente toda e qualquer construção linguística divergente daquela que a norma tradicional cobra do falante.
Mas do ponto de vista sociocultural “o erro existe, sim e não podemos fingir que não sabemos do peso que ele tem na vida diária dos falantes”.( fonte: artigo: os dois lados do erro de português).
“Nunca ninguém deteve a evolução de uma língua a não ser deixando de fala-la” Marina Yaguenello (2001).
Portanto, trabalhar a variedade linguística em sala é um dos maiores desafios do educador que deve respeitar as diversidades linguísticas e socioculturais que existe na sua sala de aula colocando a língua como um grande objeto de estudo e observação.
Referências:
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é como se faz. São Paulo: Edições Loyola, 1997
BAGNO, Marcos. A Língua de Eulália. Novela Sociolinguística. Ed.Contexto.1997.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Mercado das Letras. Campinas, SP: Associação de Leitura do Brasil, 1996. (Coleção Leituras no Brasil).
YAGUELLO, M. Alice no país da linguagem. Para compreender a linguística. Lisboa: Ed Estampa, 1990.