A função social e epiritual da palavra
Jean Piaget, psicólogo infantil, nascido em 1806, na Suiça, verificou que a linguagem egocêntrica da criança não tem função de comunicação. Segundo ele, a criança apenas brinca com as palavras.
A palavra é um instrumento de comunicação exclusivamente humano. Sem ela, a humanidade não teria garantido a sua sobrevivência, não teria chegado aonde chegou, e viveríamos ainda hoje como animais, brincando como crianças, sem nada acrescentar a nossa espécie humana. Cada homem é um ser novo no mundo, chamado a realizar a sua peculiaridade e, portanto, a comunicar com palavras um ser singular, absoluto e inédito. Onde quer que se chegue – acordo ou assentimento no trato dos negócios humanos – disse Benjamin Lee Whorf – esse acordo se alcança por processos linguísticos ou então não se alcança.
O mundo não é uma evidência, mas algo que exige de nós uma atitude crítica, sistemática, permanente e desinteressada na busca de suas verdades e da verdade. E o homem não é um animal racional, mas um animal que também crê. Para Eduardo Prado de Mendonça, o homem não se firma no chão onde pisa, mas naquilo que crê. Sua fé é seu ponto de apoio. Com esse raciocínio percebemos, então, que o texto também não é uma evidência, e na sua leitura, qualquer que seja ele, devemos procurar sempre o entendimento das coisas, nem sempre aparente, que as palavras escondem.
O filósofo, por exemplo, pode discorrer sobre a tênue e frágil linha que separa a vida e a morte. O poeta, ao seu tempo, tem uma atitude imprevisível com as palavras. Tanto pode escrever um longo poema lamentando a morte de milhares de homens como pode expressar todo o seu sentimento em apenas dois versos, lacônicos e fulminantes: "Os aviões abatidos são cruzes caindo do céu" (Mário Quintana).
Para o filósofo, ler corretamente é ler e pensar logicamente com ordem e unidade, análise e síntese; ler e pensar epistemologicamente, a palavra como conhecimento científico nos diversos ramos das ciências; ler e pensar a cultura como criação especificamente humana do ser hstórico do homem, como universo de significações, sentido e valores pelos quais o homem compreende, transforma e significa o mundo, como mediação dialógica da comunicação das conciências, no tempo; ler e pensar eticamente o significado do existir livre da pessoa na visão científico-tecnológica do mundo moderno.
"A fim de abrir caminho, entrar e molhar a terra de nossos corações, a palavra de Deus precisa enfrentar, também, verdadeira aventura. Superfiicialidade, distração, aversão e inconstância são os maiores obstáculos.que ela precisa superar".
Francisco, filho de rico comerciante de Assis, abdicou das vaidades humanas e temporais para servir aos pobres, e memo não sendo teóico e nem filósofo, não deixou de compreender muito bem a verdadeira realação que se deve estabelecer com as palavras; usou-as com devoção e seriedade, de tal forma que a realidade avassaladora de seus sons e a admirável e abrasadora fé de sua vida serviriam de alicerces a uma nova ordem religiosa que se fez prezene no mundo inteiro. O siêncio contemplaivo dos pássaros que o ouviam, e o de todos os seres vivos do universo fazem presumir um espetáculo como não se registra na história de nenhum outro santo da igreja. Dos pássaros, ele recebeu mais respeito do que de muitos teólogos da época. Os homens usam as palavras, disse S.J. Haylawa, e as palavras usam os homens – tese que São Francisco de Assis, admiravelmente, estabeleceu como regra sagrada.
Roberto Gonçalves
A palavra é um instrumento de comunicação exclusivamente humano. Sem ela, a humanidade não teria garantido a sua sobrevivência, não teria chegado aonde chegou, e viveríamos ainda hoje como animais, brincando como crianças, sem nada acrescentar a nossa espécie humana. Cada homem é um ser novo no mundo, chamado a realizar a sua peculiaridade e, portanto, a comunicar com palavras um ser singular, absoluto e inédito. Onde quer que se chegue – acordo ou assentimento no trato dos negócios humanos – disse Benjamin Lee Whorf – esse acordo se alcança por processos linguísticos ou então não se alcança.
O mundo não é uma evidência, mas algo que exige de nós uma atitude crítica, sistemática, permanente e desinteressada na busca de suas verdades e da verdade. E o homem não é um animal racional, mas um animal que também crê. Para Eduardo Prado de Mendonça, o homem não se firma no chão onde pisa, mas naquilo que crê. Sua fé é seu ponto de apoio. Com esse raciocínio percebemos, então, que o texto também não é uma evidência, e na sua leitura, qualquer que seja ele, devemos procurar sempre o entendimento das coisas, nem sempre aparente, que as palavras escondem.
O filósofo, por exemplo, pode discorrer sobre a tênue e frágil linha que separa a vida e a morte. O poeta, ao seu tempo, tem uma atitude imprevisível com as palavras. Tanto pode escrever um longo poema lamentando a morte de milhares de homens como pode expressar todo o seu sentimento em apenas dois versos, lacônicos e fulminantes: "Os aviões abatidos são cruzes caindo do céu" (Mário Quintana).
Para o filósofo, ler corretamente é ler e pensar logicamente com ordem e unidade, análise e síntese; ler e pensar epistemologicamente, a palavra como conhecimento científico nos diversos ramos das ciências; ler e pensar a cultura como criação especificamente humana do ser hstórico do homem, como universo de significações, sentido e valores pelos quais o homem compreende, transforma e significa o mundo, como mediação dialógica da comunicação das conciências, no tempo; ler e pensar eticamente o significado do existir livre da pessoa na visão científico-tecnológica do mundo moderno.
"A fim de abrir caminho, entrar e molhar a terra de nossos corações, a palavra de Deus precisa enfrentar, também, verdadeira aventura. Superfiicialidade, distração, aversão e inconstância são os maiores obstáculos.que ela precisa superar".
Francisco, filho de rico comerciante de Assis, abdicou das vaidades humanas e temporais para servir aos pobres, e memo não sendo teóico e nem filósofo, não deixou de compreender muito bem a verdadeira realação que se deve estabelecer com as palavras; usou-as com devoção e seriedade, de tal forma que a realidade avassaladora de seus sons e a admirável e abrasadora fé de sua vida serviriam de alicerces a uma nova ordem religiosa que se fez prezene no mundo inteiro. O siêncio contemplaivo dos pássaros que o ouviam, e o de todos os seres vivos do universo fazem presumir um espetáculo como não se registra na história de nenhum outro santo da igreja. Dos pássaros, ele recebeu mais respeito do que de muitos teólogos da época. Os homens usam as palavras, disse S.J. Haylawa, e as palavras usam os homens – tese que São Francisco de Assis, admiravelmente, estabeleceu como regra sagrada.
Roberto Gonçalves