ACELEREM A EDUCAÇÃO
Fiz no último dia quatorze, vinte e três anos de exercício no magistério, e ao invés de comemorar, resolvi hoje escrever esse artigo como forma de desabafo. Primeiro, vamos recordar a época em que entrei, ano de mil novecentos e oitenta e seis. Governo Leonel Brizola, os CIEPS estavam a todo vapor, sendo inaugurados e funcionando com um número razoável de pessoal para formação de equipes pedagógicas e para planejamentos palpáveis de acordo com as necessidades locais. Os diretores indicados tinham autonomia para remover professores que desejassem trabalhar nos CIEPS mais próximos de suas residências, eram também contratados funcionários de apoio, de preferência, das próprias comunidades. A pedagogia era baseada no Sócio-Construtivismo, abrimos as portas para os nossos meninos e meninas com vários problemas sociais, e esse modelo de escola de horário Integral, era uma proposta desafiadora aos educadores. O Programa Aluno Residente consistia em abrigar durante a semana, alunos que não tinham condições de frequentar a escola por motivos de riscos na comunidade ou alguns problemas sociais, como por exemplo, a mãe precisando trabalhar e que não tinha com quem deixá-los e também situação de pobreza extrema na família. A criança ou adolescente dormia na acomodação existente na residência, acompanhada de um pai ou mãe social que eram rigorosamente avaliados pela SME, todo o trabalho acompanhado por equipes específicas. Os meninos retornavam todos os finais de semana para casa acompanhados pela família que ia buscá-los. Cabe ressaltar que não sou, nem nunca fui "Brizolista", nem tenho qualquer ligação partidária, nem pretendo. Sou apaixonada apenas pelas idéias de Darcy Ribeiro e do meu querido Paulo Freire. Não sou adepta do paternalismo, não. Nunca fui. Sei que programas sociais são extremamente necessários para que aconteça um possível equilíbrio na sociedade e para que se acabe com a injustiça social. Não é nada agradável para um cidadão que paga impostos altos, saber que tem tanta gente ainda morrendo de fome e sem condições dignas de sobrevivência. No ano de mil novecentos e noventa e seis foi implantada a nova LDB, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que veio com propostas inovadoras a todos os educadores, baseada também nos princípios e ideais construtivistas, propôs a Construção de Projetos Políticos Pedagógicos em cada instituição de ensino para que atendessem às realidades locais. Foi considerada também, a possibilidade de organizar as séries em Ciclos de Formação, baseando-se nos novos estudos antropológicos e sociológicos. Cada indivíduo tem um ritmo diferenciado de aprendizagem, isso é fato. Seguindo então esta linha filosófica, investiu-se milhares de reais nos Cursos de Formação Continuada para que Coordenadores e professores da Rede Pública Municipal entendessem este processo. Nos debruçamos horas a fio em livros de Elvira Sousa de Lima, assistimos palestras com Carrilho, Danilo Gandim, Celso Vasconcellos, até Mário Sérgio Cortella! Tiveram filósofos, pedagogos e especialistas em avaliação. Grandes, bons e atuais educadores. Aconteceram Seminários, Mesas Redondas, Amostras de Monografias, Projetos bem sucedidos de vários colegas competentes. Deglutimos homeopaticamente as ideias, as metodologias e levamos para sala de aula o que havia de essência. O que o médico faz quando vai ao Congresso? ele leva aos seus pacientes a nova metodologia da Ciência. Leva as últimas ideias e medicamentos para um melhor resultado, que muitas vezes, não vêm imediatamente. Tudo na vida precisa de tempo. O que a atual gestão municipal está fazendo com a educação? Colocando a política no meio e acima de tempo e de espaço, que são dois fatores relevantes em qualquer situação. É uma pena. Deveria colocar antes de tudo, o bom senso, e considerar que nós professores, assim como os médicos, merecemos respeito. Qual Secretário de Saúde recolheria vacinas atualmente utilizadas e mandaria um procedimento padronizado para combater uma moléstia? ele arriscaria tal desastre? Não. Isso é respeito. O que estão fazendo com os professores? estão mandando cartilhas de "revisão". Revisão de quais conteúdos? Nossa escola pública não é conteudista, há muitos anos. Isso é fato. Defeito? não sei. Mas o erro de alguns analfabetos funcionais não está na falta de conteúdos. Está também, e não só unicamente, repito, "também" na injustiça social de anos a fio. De políticos irresponsáveis que não levam a sério os programas educativos que funcionam, e não dão continuidade pura e exclusivamente por vaidade e oposição ao gestor anterior, fazem da educação uma flâmula partidária para discurso eleitoreiro e fazem do professor um ser desrespeitado socialmente, chacoteado de todas as formas. Não divulgam a quantidade de alfabetizadoras excelentes como a professora de minha escola que alfabetizou a Grace, uma menina muda. Não divulgaram o progresso de Jefferson, nosso menino cadeirante que agora corre com andador sorrindo pelas rampas do CIEP, não divulgaram também o esforço de tantos profissionais competentes que tristes cumprem ordens e ficam desesperadamente contando nos dedos a hora de se aposentar. É triste. É desumano o que estão fazendo conosco. Não divulgaram quantos ex alunos dos CIEPS estão trabalhando, e estão bem sucedidos. Não divulgam. Querem resultados positivos. Metas. Aceleração. Como se nossos meninos e meninas fossem peças apenas. Precisam se enquadrar numa cartilha padronizada e precisam se submeter a provas bimestrais também padronizadas. Ateiem fogo Nos PPPs!!! Queimem todos aqueles que nos falaram do Desenvolvimento Humano. Acelerem, por favor, acelerem! o IDEB precisa subir. Me perdoem os otimistas, mas estão passando por cima da educação, com tratores. Não vou falar tanques, porque isso nos lembra ditadura, e esta já passou não é mesmo? Quem viver verá. Boa noite.
1ª publicação em: 15/03/2009 09:57:40