OFICINA: TEXTO FILÓSOFICO E LITERÁRIO
Não faz muito tempo, - especificamente no semestre passado, tivemos no departamento de Filosofia da Universidade Federal da XXX, uma matéria chamada de Leitura e Redação de Textos Filosóficos. A professora da disciplina, uma argentina de portunhol pausado (Maria João), chamava atenção para um fator principal na apreensão e compreensão destes textos. Dizia ela que, para se aproximar do que o autor realmente pretende dizer, é no mínimo necessário além de estar bem atento, também se utilizar de repetidas releituras a fim de identificar lacunas antes não percebidas numa leitura rápida; Dizia ainda que, o resultado destas leituras fulminantes, senão acabassem em conclusões precipitadas e superficiais, certamente gerariam confusões que conseqüentemente levariam a um “não-aprendizado” ou um aprendizado pobre. O curioso disso é que, neste tipo de questão (numa leitura iniciativa panorâmica), normalmente somos induzidos a beneficiar nossas próprias identidades, opiniões e posições discordantes que dificultam o entendimento real do texto e nos põe a deriva sobre “O que realmente está em jogo no texto?” e “O que realmente o autor queria nos dizer”
Salvo isso, a vontade por parte dos alunos de não mais repetir o texto e chegar logo a uma conclusão, certamente era imensa, entretanto, o clareamento das idéias que se davam no caminhar do aprendizado era no mínimo, de muito à se agradar o espírito, como o “Thaumatzein³” da filosofia, ou seja, o espanto que se maravilha com as verdades límpidas e transparentes que são postas. Diante daqueles indícios, fui forçado a um amadurecimento vivaz como a de um “aedo” (poeta épico grego) que seduzido pelas musas, tece palavras doces a cantar belamente as aventuras dos heróis e a ordem no universo.
Para minha surpresa, passados um tempo neste rigor de ler repetidas vezes textos de dez páginas ou menos, (considerado um lanchinho em filosofia), me fez refletir positivamente sobre a escuridão que antecede à identificação de passos importantes no texto que dizem respeito a: teses principais, idéias secundárias e artifícios linguístico-literários utilizados pelo autor para o canto e encanto do seu leitor no texto. Num exemplo similar, cito a alegoria da “caverna de Platão²” que perpassa toda uma temática simbólica do não - conhecer e busca respostas nas correntes e opiniões que aprisionam toda falsidade que a alma humana adquire. O ofuscamento da realidade neste caso é velado como numa espécie de sombra que permeia toda a compreensão do homem. Em outro exemplo, Sêneca³ diria que o labor de toda atividade produtiva intelectual se dá na mesma forma como as abelhas, colhendo e fabricando seu próprio mel.