SOBRE O RESSENTIMENTO

A GENEALOGIA DA MORAL

O que caracteriza o ressentimento? Ressentimento é um afeto que não atinge somente indivíduos, mas também países e grupos sociais. Ressentimento é uma magoa que não se supera, ressentimento é um ecesso de memória que tem como função o esquecimento primordial.

Ressentimento como afeto declarado ele é mal visto, tem sinal moral negativo. O ressentimento é alguem que não vai para frente, que é amargo, que é rancoroso.

Então ninguem gosta de ser reconhecido como ressentido. Mas quando o ressentido aparece camuflado, quando você não percebe que aquele personagem é ressentido, mas aparece uma queixa de alguem que se ve injustiçado por uma situação.

Ressentimento não é um afeto único, pois o ressentimento é composto de mágoa, raiva, inveja e desejo de vingança. O ressentimento é uma especie de mágoa que não se supera.

Nietzsche nos diz que o ressentimento é a má consciência. E por que na modernidade? Porque é no momento que a sociedade passa a ter a promessa de igualdade entre os homens que uma pessoa pode se ressentir. O ponto aqui, é mostrar como tais pessoas não conseguem "ver com nitidez" nem com precisão a realidade diante dela, no aqui e agora. No ressentimento o sujeito preserva o ideal indivídualista, mas se ele fracassa, a culpa é do outro, ele não tem que se espelhar na sua incompletude.

Como diz Netzsche :

" É bom todo aquele que não exerce violência sobre ninguém, todo aquele que não ofende nem ataca ninguém, não usa de represálias e deixa para Deus o trabalho da vingança, todo aquele que como nós se mantém escondido, evita o encontro com o mal e, de resto, liga pouco às coisas da vida, como nós, os pacientes, os humildes, os justos".

Não busco aqui á origem das chateações e fracassos das pessoas, mas diagnosticá-las como ressentidas se estes discursos todos são falas de sujeitos que, culpando um acontecimento passado, se eximem de terem feito escolhas que os levaram àquela perda ou dor. Sujeitos que passam a viver falando desse mal do passado, sem tentarem sair dessa posição, enunciando uma vingança que nunca chega.

É que preciso discutir a relação com Nietzsche, chamá-lo para uma conversa franca, reler seus livros. Ao ser atraído por pessoas ressentidas acaba por se fazer ressentido também – todos somos em alguma medida. Pois vincular-se a alguém que se faz de vítima é aceitar passivamente essa postura no mundo, é se identificar com a posição cômoda da vítima do mundo – “a culpa é sempre do outro!”

O escravo e o senhor não são o burguês e o proletário, o opressor e o oprimido. O escravo é aquele que tem força para se arriscar, querer se vingar, ingressar numa faculdade, ser feliz ou o que for, mas prefere o conforto do ressentimento, da pessoa que nunca se coloca na berlinda e que por isso pode falar tudo que ela poderia ter sido.

Diz Nietzsche:

"Esse gênio que criou um não a todos os movimentos ascendentes da vida, para tudo o que é bem nascido, poder, beleza, afirmação de si na terra, o qual inventou um outro mundo, e que fez tais movimentos para a afirmação da vida parecerem como o mal ,a coisa reprovável em si."

"O sacerdote é aquele que põe em forma o ressentimento, aquele que conduz a acusação e vai sempre mais longe na empresa de vingança, aquele que ousa a inversão dos valores.

É ele que começa a dizer: Só os miseráveis são bons, os pobres, os impotentes, só os pequenos são bons; aqueles que sofrem, os necessitados, os doentes, os disformes são, do mesmo modo, os únicos piedosos, os únicos benditos de Deus; e só a eles que a beatitude pertencer. "Pelo contrário, vós outros, vós que sois nobres e poderosos, vós sois para toda a eternidade os maus, os cruéis, o ávidos, os insaciáveis, os ímpios e, eternamente, permanecereis também os réprobos, os malditos, os condenados".

Para terminar: os ressentidos podem ser pessoas passivas, que desejam se vingar e nunca se vingam. que dizem sim à vida e não com as vítimas, que, se forem vítimas, o são tanto quanto eu e o resto do mundo.

joao pereira lima da silva
Enviado por joao pereira lima da silva em 10/07/2013
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