Fome na alma, comida nenhuma acalma
Adriano Lima de Magalhães, famoso Fino, meu primeiro sobrinho, me desafiou para o debate e eu aceitei a ideia para dialogar com os meus colegas professores.
Sabemos que saber e sabor têm a mesma raiz etimológica. Para sentir o desejo de saber é preciso que haja a falta, a fome, assim como querer saborear um alimento só nos é possível quando temos fome. Quando tentamos saborear, comer algo sem fome, podemos até regurgitá-lo.
Por isso, o professor deve ser um leitor de faltas e desejos. Muito além de ensinar, o professor precisa ser um leitor de faltas, de desejos, identificador da fome e de que tipo de fome sofre o seu aluno.
O professor tem de ser aquele que oferece o que o outro deseja e precisa para saborear e se nutrir intelectualmente. Ele deve ser aquele que descobre as dramáticas, emoções, sofrimentos,enfim, tudo o que pode abrir o apetite do sujeito para os saberes e sabores.
Metáfora da fome de saber e de sabor parece ser apropriado para estabelecer certas analogias : nos alimentamos da leitura, devoramos livros quando nos emocionamos, quando estamos com fome, salivamos ao ler a descrição de uma cena, podemos até sentir o cheiro das gostosuras da Dona Benta.
Lembrei-me que o meu filho Lucas Vicente, aos 7 anos, participando de um lançamento de livro na minha sala de aula na UNIDF, pediu o microfone e disse às alunas do curso de Pedagogia : «comam livros, comam muitos livros, muitos, muitos livros».
Lamentável é que de dez mil pessoas dedicadas à educação, muitas vezes, não se encontrará uma só que tenha lido um quarto das obras sobre o assunto. É difícil ensinar a desejar, quando não se deseja, desse modo os professores não conseguem que os seus alunos desejem saber e, menos ainda, saber desejar.
Para Roland Barthes, não basta ensinar a desejar porque para ele «desejar é a primeira etapa, mas saber desejar é refinada atitude ». E prossegue : « Entre um e outro vai a distância entre um canibal e um gourmet ».
Assim, feliz, aceitei o desafio de Adriano para refletir sobre o prazer quase palatável que é o processo de aprendizado, de aquisição de saberes.