COMO VIVER SEM ACABAR COM O PLANETA : Manual para jovens inquietos e adultos preocupados

(O texto abaixo foi inspirado, com a devida autorização, no “Manual para Jóvenes inquietos y Adultos preocupados”, elaborado pelo Instituto SETEM, de Madrid).

O planeta terra é o nosso lugar, e o de mais de 7 bilhões de pessoas. Juntos devemos propor objetivos e enfrentar os problemas: diminuir a pobreza, acabar com a miséria, proteger as florestas, evitar a contaminação da terra, da água e do ar que respiramos.

Como agir neste sentido?

2005-2014 é a DÉCADA DA EDUCAÇÃO PARA UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, proclamado pela UNESCO para todos os habitantes da terra.

Vejamos algumas preocupações da humanidade de hoje.

FENÔMENOS PREOCUPANTES:

1. Florestas estão queimando na Amazônia,

na Indonésia, na Austrália...

2. As geleiras estão derretendo na Patagônia, no Polo Norte e no Polo Sul, nos Alpes e na Noruega.

3. Uma “nova espécie” habita nossos mares, nossos oceanos e nossos rios: o plástico.

4. Aumentam os casos de câncer, de alergias e de problemas respiratórios.

5. Expor-se muito ao sol tornou-se perigoso. Com a diminuição da camada de ozônio, os raios ultravioleta nos atingem com mais intensidade.

MUNDO RICO

Somos uma sociedade consumista, e nos esquecemos dos efeitos deste consumismo sobre o planeta. Nem nos lembramos de quem produziu os produtos que consumimos. Muitas vezes pessoas distantes e exploradas.

MUNDO POBRE

- Mais da metade da população mundial vive com menos de R$ 5,00 por dia.

- Um bilhão e duzentos milhões de pessoas não tem água potável.

- Todo ano morrem cerca de 10 milhões de crianças, abaixo de 5 anos, de doenças que seriam curáveis.

Por quê? Por que vivem em países sem recursos?

A África possui petróleo, diamantes, ouro; produz café, cacau, algodão... Suas águas são ricas em pesca... No entanto, é um continente assolado pela miséria. Por quê?

E a América Latina? E o Brasil?

ESPREMENDO O PLANETA

Somos mais de 7 bilhões de pessoas, e todos temos o direito de viver dignamente. Acontece que 20% consome 80% dos bens disponíveis. É preciso que cada vez mais pessoas tenham acesso aos bens da terra.

O que fazer?

O Mundo está em nossas mãos. Sejamos criativos. O planeta possui bens suficientes para todos. Somos parte da solução.

LI X O - Tirar tirar tirar

Nas sociedades desenvolvidas, cada pessoa produz mais de 500 quilos de lixo por ano. Garrafas, latas, copos, bilhões de sacolas de plástico, papel, material orgânico, móveis usados, pneus usados, etc. etc. Para onde vai tanto lixo, donde vem tanta matéria prima para tanto consumo?

É preciso reduzir, reutilizar e reciclar.

Além da civilização do consumo, somos também a civilização do lixo. Para produzir menos lixo é preciso:

. Evitar o excesso de embrulhos, de papel;

. Evitar as sacolas de plástico; exigir que o

comércio cobre pelas sacolas;

. Usar sacolas reutilizáveis;

. Separar os restos de comida para adubo;

. Recolher os móveis, os metais os eletrodomésticos... para reutilizar seus componentes.

CONTEÚDOS DO LIXO

OS PLÁTICOS...

. Nos rios, nos mares, nos oceanos estão nadando toneladas e mais toneladas de plásticos. Peixes, tartarugas, golfinhos engolem estes plásticos e morrem.

. As sacolas de plástico se tornaram símbolo do consumismo. A China já proibiu o uso de sacolas de plástico pelos supermercados; alguns países exigem que o comércio cobre uma taxa pelo uso destas sacolas; no sul do Brasil já existem movimentos para não mais usar sacolas de plástico... E nós?

A Incineração não é solução, pois os incineradores produzem gases tóxicos, deixam cinzas e rejeitos prejudiciais.

Bolsa? Não, obrigado!

Nem sempre se precisa de uma bolsa para as compras.

Por que não levar alguma bolsa de casa quando se vai às compras? Reutilizar bolsas de plástico ou de papel não faz mal!

OLHO NAS PILHAS E BATERIAS

. Pilhas, baterias poluem perigosamente o meio ambiente. Não deveriam fazer parte do lixo comum. Por isto, recolhê-las a lixos próprios, ou devolvê-las aos fabricantes, ou a quem as comercializa. Muita coisa pode ser reciclada.

ENERGIA

. Quantas vezes ao dia movimentamos apenas um dedo para acender a luz, ligar a Tv, o DVD, o rádio, o fogão, o liquificador, o micro-ondas. A luz elétrica ilumina a noite, alegra a vida, preenche o ócio, faz funcionar a indústria e andar os trens... Mas como esta energia é produzida? Por água, combustíveis fósseis, gases, biodiesel, energia nuclear, carvão?

Por que não utilizar mais a energia eólica e solar?

Não seria muito melhor do que a energia nuclear? Energia nuclear não, obrigado!

Alguns truques para poupar energia:

. Desligar o televisor;

. Abrir a geladeira menos vezes;

. Desligar o monitor do computador;

. Comprar lâmpadas elétricas econômicas;

. Comprar eletrodomésticos econômicos;

. Controlar a geladeira conforme a necessidade.

. Somente usar o ar condicionado quando necessário.

ÁGUA

É tão fácil abrir a torneira.

Beber água, tomar banho, lavar roupa, lavar o carro, limpar a casa, regar as plantas... Estamos tão acostumados a dispor de água a todo momento que nem nos lembramos que a água possui um valor muito precioso, e que milhões de pessoas não possuem água suficiente e tratada.

Somente em períodos de seca, ou de racionamento de água, nos lembramos que a água é um bem limitado.

A vida na terra depende da água. Por isto é necessário que aprendamos a dar-lhe o valor que merece para nossa vida e a vida de todo o planeta terra.

COMO DAR À ÁGUA SEU VALOR?

. Evitar sua contaminação.

. Promover seu uso adequado nas moradias, nos colégios, nos edifícios públicos, na indústria.

. Aproveitar água reciclada para limpar as ruas e regar os jardins e parques.

. Manter as canalizações em bom estado, para evitar desperdício.

. Promover seu uso eficiente na agricultura.

NÃO DEIXE A ÁGUA ESCORRER

. Feche a torneira enquanto escovas os dentes; enquanto te ensaboas durante o banho. Assim pouparás vários litros.

. Existem vasos sanitários que permitem utilizar somente a água necessária para cada ocasião.

. Feche o recipiente de água na geladeira.

. Não deixe a torneira pingar.

COMÉRCIO JUSTO

Jogo sujo no comércio mundial!

. Imagina os pais trabalhando o dia inteiro, e não ganhando o suficiente para pagar o colégio dos filhos , ou levá-los ao médico quando necessário.

. Imagina não tendo água em casa, e não podendo alimentar-se bem.

Isto é o que acontece com milhões de famílias nas regiões empobrecidas da África, da América Latina (inclusive Brasil!) e na Ásia.

Por quê?

As regras do jogo do comércio mundial, e dos sistemas de trabalho, são marcadas pelos países ricos e as empresas multinacionais, que marginalizam as famílias da área rural e dos pequenos produtores.

Por isto é preciso pensar numa nova organização do comércio e do trabalho. Famílias, cooperativas, grupos de trabalhadores (homens e mulheres) das regiões empobrecidas devem se unir em redes e sistemas de comércio e de trabalho justos, para que possam viver dignamente.

Para que isto aconteça, é necessário dar oportunidade aos pequenos produtores para que possam vender seus produtos, evitando atravessadores.

Os fornecedores deveriam demonstrar que seus produtos não provêm do trabalho semi-escravo, da exploração do trabalho infantil, ou de ambientes em que as leis trabalhistas não são observadas. Isto são exigências mínimas para um comércio justo.

É necessário que haja uma preocupação com a mudança das regras do comércio internacional.

Quem se preocupa com um comércio justo agrega um valor ético às suas compras, pois, assim, o comércio estará a serviço das pessoas.

Critérios para um comércio justo:

. Salário justo.

. Que os produtores destinem parte de seus lucros para a saúde, a educação, a formação profissional.

. Que os trabalhadores tenham acesso a crédito e possam, assim, planejar o seu próprio desenvolvimento.

. Que não haja exploração do trabalho infantil.

. Que se promova a participação na tomada de decisões.

. Que se promova a igualdade entre homens e mulheres.

. Que se proteja o meio ambiente.

Como se engajar no Comércio Justo?

. Promover atividades e debates nos colégios e nos centros educativos sobre o comércio justo.

. Promover feiras com produtos do comércio Justo.

. Comprar produtos provenientes do trabalho e comércio justos, e incentivar a parentes e familiares a fazer o mesmo.

. Criar redes de informação sobre lugares onde encontrar produtos provenientes do trabalho e do comércio justo.

FAIRTRADE : Existe um símbolo internacional do comércio justo. Na institucionalização e popularização do comércio justo, comprar preferivelmente produtos que tragam o selo, simbolizando o comércio justo.

PAPEL

80% das florestas primárias do planeta já foram destruídas, ou estão muito degradas. E os outros 20% estão ameaçados.

Árvores no lixo?

Cadernos, livros, revistas, jornais, panfletos, publicidade... e mais publicidade. O papel faz parte de nosso cotidiano. O Brasil é um país que gasta enormes quantidades de papel, e produz cada vez mais.

Será que alguma vez já paramos para nos perguntar donde vem tanto papel?

A fabricação de papel é uma das causas do desaparecimento das florestas primárias, embora não a única. A extração de madeira, a criação de gado, a plantação de soja, de cana-de-açúcar, a mineração, etc. são causas fundamentais da destruição das florestas brasileiras. Todo ano são destruídos milhares de hectares da floresta amazônica.

O que fazer para conservar as florestas?

As florestas são imprescindíveis para o equilíbrio da vida no planeta. Sua conservação requer medidas como:

. Evitar o desperdício de papel.

. Usar papel reciclado, e reciclar o papel usado.

. Criar parques florestais protegidos.

. Gerenciar o uso das florestas de forma sustentável.

. Prevenir os incêndios florestais.

. Replantar regiões florestais degradadas.

. Controlar a exploração ilegal e o contrabando de madeiras.

. Filiar-se à rede das “escolas amigas das florestas” do Greenpeace. (Veja: http://archivo.greenpeace.org/escolas).

. Informar-se se a madeira e o papel que consumimos provêm de florestas exploradas de forma sustentável. (Exemplo: A edição inglesa de “Harry Potter e o mistério do príncipe” foi impresso em papel certificado. O Greenpeace promove edições de “livros amigos das florestas”).

O Papel é importante, não o gastes mal:

. Usar papel reciclado, e escrever frente e verso.

. Não usar guardanapos, pratos e outros recipientes de papel.

. Investigar que papel se usa na instituição em que se trabalha. Fazer proposta de usar papel reciclado.

. Ajuntar papel para reciclagem.

. Os papéis de propagandas também são recicláveis.

Lembre-se: uma tonelada de papel reciclado evita que cerca de 15 árvores sejam derrubadas, e se poupa muita energia.

TÓXICOS

Todos os dias estamos expostos a substâncias tóxicas, que se escondem em lugares onde menos suspeitamos. Estes inimigos invisíveis se encontram em:

. Produtos de limpeza.

. Artigos de PVC.

. Plásticos.

. Inseticidas e herbicidas.

. Pinturas.

. Cosméticos e alimentos.

Em muitos alimentos industrializados encontramos substâncias químicas sintéticas prejudiciais para a saúde. São os corantes, os conservantes, os formóis, as águas oxigenadas e as águas sanitárias, os fortificantes, etc., etc.

Muitas destas substâncias são:

. Tóxicas: umas são cancerígenas, outras alteram o sistema imunológico, hormonal ou nervoso, outras produzem alergias...

. Persistentes: ao serem criadas artificialmente , não se degradam facilmente na natureza, permanecendo longo tempo no meio ambiente.

. Biocumulativas: Os seres vivos têm dificuldade em eliminá-las, e vão se acumulando nos organismos.

O desenvolvimento sustentável, suportável e saudável é um desenvolvimento sem tóxicos. Hoje os tóxicos estão por toda parte, é preciso estar atento, inclusive dentro de nosso habitat.

ROUPA

Exijamos ética na etiqueta!

. O que se esconde na roupa?

. Quem a fabrica?

. De que está feita?

. Verificar se contém substâncias tóxicas.

Quando se lê as etiquetas da roupa que se usa, verifica-se que ela foi fabricada em países asiáticos, especialmente na China. Nestas etiquetas não se encontram informações sobre as condições em que estas roupas foram fabricadas: Demasiadas horas de trabalho por dia; salários que não dão para viver dignamente, repressão sindical, exploração infantil, más condições de saúde e de higiene. As fábricas têxteis, muitas vezes, migram para as regiões onde a mão de obra é mais barata.

O mundo da moda, muitas vezes, também não respeita a saúde, nem o meio ambiente. É usual o uso de substâncias tóxicas no fabrico da roupa e nos utensílios esportivos.

Por isto:

. Antes de comprar suas roupas, seus tênis... pesquise sua composição, se foram tingidos com tintas naturais; sua origem, se foram produzidos em condições de trabalho dignas. Não se permita a exploração do trabalhador da indústria têxtil. Exija-se ética na etiqueta.

COMIDA

Será necessário queimar a Amazônia para comer mais hamburgers?

Ou envenenar os solos e a água para cultivar a terra?

Devorando o planeta:

O fogo devora a Amazônia para ampliar pastagens e plantar soja, e agora, mais cana- de-açúcar. A agricultura intensiva, micro e macro, utiliza pesticidas, herbicidas e fertilizantes químicos que envenenam os campos e as águas, e deixam resíduos nos alimentos. A criação de gado parece mais com uma fábrica onde os animais são tratados como peças numa cadeia de montagem. A frota pesqueira arrasa a flora marinha. A forma de produzir alimentos é cada vez mais agressiva.

Por outra parte, a comida rápida, os alimentos pré-preparados possuem um monte de aditivos químicos, que se colam ao nosso prato: colorantes, conservantes, potenciadores do sabor, estabilizantes, etc... Todos estes produtos são úteis para a indústria, mas podem ser prejudiciais à saúde da humanidade.

Em busca da receita perdida:

. Preparar uma base de respeito pela vida no Planeta.

. Comprar pescado capturado de forma sustentável.

. Prestigiar a agricultura e a criação de gado ecológicas.

. Condimentar com um pouco de senso comum.

. Servir uma comida sem aditivos químicos.

O que é saudável para nós e para o Planeta?

. Os alimentos biológicos e orgânicos são mais saudáveis para o homem e para o planeta. Além disto, favorecem o desenvolvimento da pequena e média agricultura e criação de gado, que são mais respeitosas com o meio ambiente, e contribuem para que as comunidades rurais se mantenham.

Alimentar-se é mais do que simplesmente comer. Come-se qualquer coisa, mas procuramos nos alimentar saudavelmente. Por isto, é necessário cuidar do que comemos.

TRANSPORTE : Depressa, depressa...

O carro, o avião, o trem provocam um grande impacto ambiental. O trem é o meio de transporte mais seguro, eficiente e ecológico. Por que, então, no Brasil não temos uma rede ferroviária eficiente?

Quem sabe responder?

Hoje em dia, deslocar-nos tem um alto custo humano, social e ambiental:

. Alto índice de emissão de gás carbônico.

. Enfermidades respiratórias e mortes prematuras, pela contaminação do ar nos grandes centros urbanos.

. Milhares de mortes nas estradas, com acidentes de trânsito.

. Nervosismo e insônias, por causa do barulho.

Hoje, nos deslocamos mais rapidamente, mas não dedicamos menos tempo ao transporte. Simplesmente nos deslocamos mais e para mais longe.

Mudança de direção:

. Investir mais em transporte ferroviário e em transporte público nas cidades.

. Fomentar o transporte de mercadorias por trem.

. Embutir no preço do transporte aéreo os custos do prejuízo ambiental deste transporte.

. Planejar as cidades de forma que não se dependa tanto do automóvel.

. Ampliar as pistas de bicicleta em cidades planas (como o Recife!).

. Melhorar o transporte público.

Habitar a cidade:

. Prover os bairros com os serviços necessários para que a população não se precise deslocar tanto para o centro da cidade.

. Qualificar as escolas de tal forma que os alunos se possam matricular nos colégios mais próximos à sua residência.

. Uma cidade com menos carros é uma cidade mais habitável e mais saudável. Por isto, o transporte coletivo é preferível.

Depois destas considerações, o que se pode fazer por uma educação para um desenvolvimento sustentável, suportável e saudável?

Sem a criatividade que busca fazer alguma coisa, de nada adianta uma pura palavra ou conferência.

Inácio Strieder é professor de Filosofia – Recife/PE