A Era do Conhecimento

Por: Eugênio Gioppo

A Era do Conhecimento.

Alegremente, Dona Inês tirava o pó dos livros da biblioteca do colégio estadual em que trabalhamos. Armário por armário, prateleira por prateleira, livro por livro, todos os dias pacientemente ela ia agilmente movendo como um malabares o abanador de pó e limpando tudo. Primeiro os didáticos de matemática depois os didáticos de português, história, geografia, passava pelos livros técnicos, literatura em geral, filosofia, pedagógicos, CD´S, DVD´S, periódicos, revistas, dicionário, atlas, mapa, gibis, jornais, monografias, quadrinhos até chegar à literatura infanto juvenil.

Certa tarde logo após o intervalo da aula D. Inês me procurou assustada, falava rápido e descompassadamente, estava atônita, nervosa. Não se podia entender nada do que ela falava. Tinha deixado alguns livros caírem no chão. Tentei acalma-la e como não conseguia convencê-la, a se restabelecer na normalidade me prontifiquei a ajuda-la. Ela me puxava pela camisa demonstrando pressa e a atitude curiosa chamou a atenção de vários professores que estavam na sala. Prontamente fomos todos até a biblioteca para ver o que tinha acontecido.

Quando chegamos vimos uma cena espantosa era a maior bagunça as letras dos livros que haviam caído estavam todas espalhadas pelo chão procurando-se entre si. Ao cair as letras se desprenderam e esparramaram-se, então via-se erre minúsculo correndo atrás de bê maiúsculo, pê dizendo para aga que antes dele somente eme, i fugia da junção de letras umento dizendo que deviam procurar um jota, e umento protestava falando que se tinha um ponto em cima era jota. A discussão estava formada. E a dificuldade aumentou depois que a palavra vivente conseguiu se reunir e percebeu que tinha tipos diferentes entre ela a palavra estava certa porem um pedaço era times outro arial e outro calibri, e alem disso tinham tamanhos diferentes.

Acharam num canto jogado um livro de romance policial do Sherlock Holmes. E imaginaram que todos os problemas tinham terminado. As letras bateram cuidadosamente na capa que ainda estava intacta e pediram ajuda para a personagem policial. O caso era grave estava fora do seu alcance então ele teve uma ideia mandou que procurassem a enciclopédia ela teria todo o conhecimento e sendo assim acharia uma solução. A enciclopédia, porém disse que estava desatualizada que era uma grafia antiga anterior à data de 1972 e que pouco poderia ajudar. As letras olhavam-se e sentiam-se atraídas entre si. Uma misteriosa força as impelia umas para outras sentiam necessidade de pegar uma na mão da outra para formar alguma coisa. A letra A muito perspicaz disse: para fazerem uma fila em ordem alfabética respeitando tamanho, tipo, maiúscula e minúscula desta forma poderia rebater esta estranha força que os fazia ser atraídos formando palavras. A providencia da letra A chegou em boa hora porque via-se de longe frases de letras formadas sem nenhum sentido. Misturando sequências inteiras de vogais e consoantes sem sentindo algum.

Neste momento D. Inês pegou a vassoura e a pá de lixo dizendo que ia por fim naquela bagunça toda e acabar já com essa folia descontrolada. Pegou um livro pela orelha deixando-o de castigo deu uma vassourada em outro dizendo que não adiantava ter uma capa dura. Brochura ora convenhamos meu caro comporte-se. Um passou com a lombada inchada de tanto levar vassourada. As biografias de generais já estavam se reunindo em conselho de guerra para atacar a mulher da limpeza. Enquanto as traças estavam felizes porque os livros tinham só papel e não mais letras toxicas para atrapalhar.

Vendo que o conhecimento humano estava misturando-se todo de maneira desordenada os livros de filosofia que ainda estavam na prateleira resolveram tomar uma atitude e começaram a gritar até que as letras prestassem atenção. Diziam eles. Corram, para, atrás, das prateleiras não tentem se abrigar dentro dos livros, pois vocês podem entrar no livro errado e mudar tudo. Que sabemos.

Os livros de matemática riam de tudo achando-se superiores, tinham certeza que com as suas equações e lógica matemática poderiam resolver tudo chamaram os livros de física e iniciaram junto com os livros de engenharia os cálculos. E foram logo conseguindo algum resultado até que passou por eles um livro de poesia. Ai a lógica perdeu a razão e tudo ficou sem proporção, ou grandeza.

Calmamente o bom e velho sábio dicionário pediu apoio aos livros pedagógicos que consultaram os livros dos professores e estes reunidos começaram a arrumar tudo. Em poucas horas todo o conhecimento estava arrumado novamente e a normalidade fazia-se presente.

Dona Inês estava feliz não tinha nenhuma letra caída pelo chão e nós também estávamos felizes poderíamos voltar para sala de aula e continuar ensinado. Imagine se todo o conhecimento se perdesse?