As Relações Sociais das Crianças com Dificuldades de Aprendizagem
Antes de abordar a qualidade das relações sociais de uma criança que tem dificuldades de aprendizagem, precisamos salientar que essa dificuldade não é um retardo mental, uma incapacidade permanente e tampouco uma perturbação emocional. A ignorância dos verdadeiros motivos da dificuldade de aprendizagem de um aluno tem levado até mesmo educadores a rotularem os seus alunos das maneiras epigrafadas acima; rótulos estes que maioria dos leigos também utiliza, inclusive familiares do aluno. Estes rótulos são atentados a auto-estima de quem quer que seja!
A dificuldade na aprendizagem pode estar ligada a diversos fatores que vão desde uma disfunção no sistema nervoso periférico e central a fatores psicológicos. Uma análise responsável visando descobrir as reais dificuldades que impedem consideravelmente o aluno de aprender deve ser feita. É necessário envolver profissionais qualificados para identificar essas dificuldades e superá-las: fonoaudiólogos, pedagogos, psicólogos, psicopedagogos, todos devem intervir quando detectado dificuldades de aprendizado em um aluno. Rótulos não resolvem. Criticas não resolvem. Cobranças não adiantam. É necessário conhecer as verdadeiras causas da dificuldade para sanar os efeitos.
Mas a pergunta é: as escolas estão preparadas para ajudar os alunos que possuem dificuldades de aprendizagem? Os professores são capacitados para, de fato, identificar essas dificuldades e ajudar o aluno a superá-las? É obvio que não!
As escolas estão superlotadas, os professores desmotivados, os recursos pedagógicos beiram a escassez, os ambientes escolares não possuem condições adequadas, as praticas e métodos pedagógicos estão, por vezes, ultrapassados; e ainda existem professores, familiares e outros que atribuem a dificuldade de aprendizagem exclusivamente ao aluno, como se este estivesse diante de um júri popular em constante condenação. Isso é um absurdo!
Segundo a Lei de Diretrizes Básicas da Educação - LDB-, a Educação é dever do Estado e também da família. Mas quando nos deparamos com casos de dificuldade de aprendizagem, vemos (na maioria das vezes) que nenhuma das partes está disposta a cumprir suas responsabilidades, pois é mais fácil fazer “discursos” do que tomar atitudes.
O artigo de número 13 (treze) da mesma lei reza (nos incisos III e IV) que os docentes incumbir-se-ão de:
III – Zelar pela aprendizagem do aluno;
IV – estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento;
Atentemo-nos: isto é Lei, não é um favor dos professores aos alunos! E assunto encerrado.
Quanto às relações sociais destes alunos, estas são alteradas como conseqüência da dificuldade de aprendizagem.
Considerando o fato de que a escola é (para grande maioria) o primeiro grupo diferente da família no qual a criança será inserida, e de que é neste grupo que ela vai aprender a assumir novos papéis, a interagir com outras pessoas, a ter mais noção de sua própria identidade, a ter contato com o ambiente (o mundo), além de ser neste grupo que ela vai adquirir conhecimentos fundamentais para o bom convívio social, sendo assim, não é surpresa afirmar que a dificuldade na aprendizagem vai trazer -como conseqüência- dificuldades na interação social desta criança.
Uma criança com dificuldades de aprendizagem já terá dificuldades para interagir com seus próprios colegas e professores, ou seja, não terá relações sociais satisfatórias, poderá ser retraído, preferir o isolamento, e, até mesmo, ser agressiva como um mecanismo, às vezes inconsciente, de defesa. A aprendizagem é um processo de construção social do conhecimento que ocorre na interação do sujeito com seu meio, é por isso que é razoável supor a existência de relações entre dificuldades de aprendizagem e déficits em habilidades sociais.
Pesquisas nesta área (Del Prette & Del Prette, 2003; Gresham, 2002; O'Shaughnessy, Lane, Gresham, & Beebe-Frankenberger, 2002; Romero, 1995) têm mostrado que as crianças com distúrbios ou dificuldades de aprendizagem apresentam características interpessoais que incluem, entre outros aspectos, tendência a serem mais agressivas, a apresentarem interações mais negativas com companheiros, a terem mais problemas de personalidade, menos comportamentos orientados para tarefa e a apresentarem um repertório menos elaborado de comportamentos interpessoais apropriados e desejáveis socialmente. Daí vem à necessidade urgente de docentes capacitados para atender esse público que possui estas dificuldades, de uma remodelação no sistema de ensino, de práticas pedagógicas que rompam com estas limitações, de métodos flexíveis que trabalhem individualmente o aluno; só assim poderemos transmitir mais do que informações e conteúdos, mas a transformação do ser humano e do meio no qual ele convive.