Os Atrasos Maturativos e as Dificuldades de Aprendizagem
A aprendizagem do aluno está relacionada com a maturação do mesmo, assim como a maturação do aluno progride com a aprendizagem.
E para abordar este tema torna necessário citar Jean Piaget, que foi um dos grandes estudiosos da inteligência da criança. Piaget defendia o princípio de que o desenvolvimento ocorre em etapas ou fases. Segundo ele, há quatro estágios bem definidos no desenvolvimento intelectual da criança.
O primeiro estágio é denominado sensório motor, pelo fato da percepção estar intimamente ligada aos movimentos. Este período vai do nascimento aos dois anos e se caracteriza pelos seguintes comportamentos: a criança aprende a diferenciar seu corpo dos demais objetos. Não há linguagem ainda e os objetos são definidos (conceituados) através do seu uso ou manipulação. Eles só existem enquanto estão à vista. Nesta fase a criança busca e necessita ser estimulada.
O estágio seguinte é denominado pré-operacional e se processa dos dois aos sete anos. Nesta fase o pensamento da criança é egocêntrico, incapaz de ver o ponto de vista do outro. Os objetos são classificados por uma única característica, assim, se duas bolas tem a mesma cor elas são percebidas como iguais.
Aos quatro anos inicia-se o pensamento intuitivo através do qual a criança começa a perceber relações e pensar em termos de classe. Então, ela já manipula os conceitos numéricos. É nesse estágio que se desenvolve o conceito de conservação, primeiramente conservação de peso, após, conservação de volume: a quantidade (massa) não muda quando sua forma muda ou quando dividimos um todo em partes. O peso total dos objetos permanece o mesmo independente de como são distribuídas ou arranjadas as suas partes. Os líquidos não mudam de volume por mudar o recipiente e, conseqüentemente, a forma. Comumente uma criança de quatro anos de idade a quem se apresenta duas bolas iguais e se solicita para que indique qual é a maior, reconhece a igualdade de ambas.
O terceiro estágio é das operações concretas. Esta fase vai dos sete aos onze anos, e nela a criança se torna capaz de pensar logicamente, mas sempre fazendo referências ou tendo por base fatos e objetos concretos. Ela não é capaz ainda de abstrair. Mas a criança agora, já é capaz de entender o princípio da reversibilidade, é capaz de classificar os objetos em hierarquias ou classes e realiza também a seriação, ordenamento de objetos em ordem crescente e decrescente.
O último estágio do desenvolvimento cognitivo vai dos onze aos quinze anos e denomina-se período das operações formais. A característica básica deste estágio é o pensamento lógico formal, a abstração e a generalização. Agora o jovem adolescente elabora conceitos, hipóteses, leis e passa a testá-los. É a maturidade intelectual.
Enfim, após essa breve exposição da teoria do desenvolvimento cognitivo da criança proposta por Piaget, e que julgamos ter ampla sustentação e ser de grande utilidade para o mundo da educação, tanto é que é utilizada por diversos profissionais da área, de maneira a lançar luz sobre as propostas pedagógicas adequadas aos alunos; resta-nos salientar que o processo de aprendizagem deve caminhar junto com o de maturação.
Piaget descreveu o processo de desenvolvimento da inteligência da criança, o processo intelectual, mas podemos acrescentar que esse processo ocorre também com o desenvolvimento físico, biológico, emocional e social da criança. Isto deve nos nortear como educadores: a transmissão do conhecimento educacional ao aluno deve estar adequado a idade própria do mesmo (visto que a idade cronológica é o indicador fundamental do grau de maturação alcançado), adequado as capacidades como um todo que o aluno tem em absorver e aplicar este conhecimento, do contrário, obviamente, haverá dificuldades de aprendizagem por conta da falta de maturação -como um todo- do aluno. Muitas vezes ouvimos pais e professores dizerem que os alunos “não estão preparados” ou que apresentam um “atraso” para iniciarem esta ou aquela aprendizagem. Esta situação costuma ocorrer, sobretudo na aprendizagem da leitura e da escrita.
Realmente, algumas aprendizagens não são possíveis antes de certos estados de maturação, certas aprendizagens também não possíveis (ou são deficientes) se forem ultrapassados esses períodos. O vínculo entre maturação e facilidade/dificuldade de aprendizagem é um fato. As propostas pedagógicas atuais devem contemplar cada vez mais esta questão e também trabalhar com as dificuldades individuais de cada aluno, pois nem todos seguem o mesmo padrão maturativo e, conseqüentemente, de aprendizagem.