DINHEIRO PRA COPA E EDUCAÇÃO NADA.
`Por Carlos Sena


 
Pode ser simplista. O meu raciocínio pode até encontrar outras justificativas para justificar o injustificável. Refiro-me ao dinheiro que apareceu de sobra para a copa e sempre faltou para a saúde e educação. De um dia pra noite os estádios (prefiro assim a Arena) foram derrubados e outros novos, sofisticados, cheios de “pra que aquilo” se ergue pomposamente. Até parecem ironia, pois alguns deles foram feitos em regiões de pobreza e miséria – dentro deles as pessoas irão rir e torcer, ser feliz, digamos assim. Em volta dele muitos não têm casa nem comida e, geralmente choram por conta da miséria.  Não dá pra entender, acima de tudo, como é que faz um século que o nordeste sofre com a seca e nada de definitivo se fez para acabar ou minimizar seus efeitos. Se existisse uma copa da seca, certamente nós seríamos os campeões. Mas a copa da seca tudo seca: seca a terra, seca os olhos do povo, seca a vaca, seca o boi e tudo o mais seca. A falta de compromisso secular dos políticos não seca, nem cessa. Mas pra copa do mundo o dinheiro fez milagre e tudo está sendo feito. Não só as obras dos estádios, mas os acessos através de novas avenidas, pontes, viadutos, metro, etc. Por isso não dá pra entender nesse meu conversê essa lógica perversa que a tantos anima e exalta, enquanto a grande maioria do povo sofre: pela seca, pela falta de médico, pela falta de justiça ágil, pela descompostura de alguns parlamentares, pela péssima educação pública que também já tá na privada, literalmente. 
A gente fala assim, mas sabe da resposta. O povo gosta de pão e circo. O povo gosta do anestésico que tem o nome fantástico de futebol – fútil bol! Alguma coisa como o bloco anárquico do carnaval do Recife “Nóis sofre mais nóis goza”. Assim, de gol em gol a goela dos mais necessitados vai secando até que ele fique sem voz, posto já não ter vez. Repensando: o povo gosta de pão e circo, mas há os que não gostam do circo, mas precisam do pão: pão da educação, da saúde, da cidadania. Pão que não raro é o pau nas costas do nosso trabalhador para quem as autoridades não “dão bolas”... Elas, as autoridades, nesta copa deram todas as BOLAS para que a copa do mundo seja um sucesso! Independente se na copa da vida não houver bolas, mas, balas perdidas e achadas. Como essa prosa não é nova fico por aqui para não incorrer na cantiga do grilo que é sempre uma só. Mas se você perguntar ao grilo se ele acreditou no que eu escrevi ele dirá: “cri, cri, cri, cri”... Assim, a cantiga do grilo pode ser que um dia não seja uma só.