JESSIKA A CORTEZÃ VIRGEM - Cap. I
REVISÃO DOS TEXTOS JESSIKA
A CORTEZÃ VIRGEM
Capítulo I
Numa manhã fria de Junho, lá pelo fim do mês, sem que ninguém a esperasse na estação daquela pequena cidade; JESSIKA chegou como desafiando a si mesma. Poderia sobreviver com sua desilusão, pensou ela, apesar de tudo. Mas provaria a sua inocência; e resgataria sua dignidade.
Línguas felinas estavam cortando em pedacinhos sua vida; desfigurando sua imagem outrora tão querida e respeitada.
- Jessika, quando desceu do trem de ferro; a desolação foi grande. Começou descortinar diante dela o perfil amargo da vida que com certeza haveria de viver.
Na estação; nem família, nem amigos, nem mesmo conhecidos partilhavam daquele momento com ela.
Na sua cabeça só um pensamento “Vou ficar aqui, por que aqui é meu lugar!”
A mala quase que atirada para fora do trem, serviu-lhe como assento enquanto colocava suas idéias em ordem. Por que ninguém a estava esperando, pensou!
Absorta e presa nos próprios pensamentos, Jessika não percebeu a figura estranha que á distância, observava com cuidado seus movimentos. Com um olhar quase que descuidado, vislumbrou uma figura encapuzado, que disfarçou ao perceber que ela o havia visto.
Levantou-se quase instintivamente e se dirigiu para a porta de saída da estação, deixando a mala e os outros objetos. Então ela ouviu uma vós forte que pronunciava seu nome. “Jessika”Ela voltou-se como não acreditando no que estava ouvindo!
Aquela vós! Não podia ser! Ele outra vez, não! Ficou parada enquanto a figura estranha se aproximou dela com sua mala numa mão, e os outros objetos na outra mão, meio sem jeito disse: - Sua mala. Por certo não ia deixá-la aí!
Jessika não acreditava nos seus próprios olhos. Ele perguntou: - Está de volta, por fim!...Seja bem vinda, se isso for possível disse o homem retirando o capuz, deixando aparecer aquele rosto, que um dia tão querido e desejado por ela (motivo da sua saída da cidade).
- Pôr que? Isso o incomoda tanto?
- Incomodar-me?! Absolutamente. O problema vai ser só seu. Mas isso não me desagrada nada, nada. Ao contrário, esta cidade está monótona e você poderá dar para nós também os espetáculos!...
- Espetáculo?! De que você está falando?
- Ora meu bem. É só no que se fala por aqui. Você dar espetáculos em São Paulo. E não queira fazer de inocente! Eu só tenho pena dos seus pais! Eles eram os únicos que não sabiam!
- Jonathas, eu continuo não entendendo uma só palavra do que você está falando. Quem andou falando estas coisas ao meu respeito? - Quanto tempo você está aqui na cidade?
- Um mês!
- Um mês?
- Um mês. Pôr que?
- Nada. É que me passou um pensamento pela cabeça! E meus pais, o que pensam desta barbaridade? Por que eles não vieram me esperar? Aconteceu alguma coisa com eles? Eu estava preocupada com as coisas que soube, por isso vim!
Preocupada?! Você preocupada com seus pais? Não me faça rir, Jessika. Você teria tempo para se preocupara com alguém? Com alguma coisa, a não ser com a vida que... Que vida? De qual vida você está se referindo? O que está se passando realmente por aqui? Eu estava achando esquisitas aquelas cartas! Elas não eram do tipo que meu pai escreve!
- Cartas?! Que cartas Jessika? Como você queria que ele lhe escrevesse, se os coitados só recebiam aquelas notícias!...
- Jonathas, pelo amor de Deus; conta-me o que está acontecendo por aqui. Creia que não estou entendendo nada mesmo!
- Olha, Jessika, eu não sei. Mas o melhor seria para todos, principalmente para os seus pais, você voltar daqui. Nem entrasse na cidade. Nem visse seus pais! Por favor, Jessika, poupe os velhos deste encontro!
_ O que? Você está me pedindo para eu não ir a minha casa? Não entrar na cidade? Não enfrentar esta gente? Ou melhor, a minha gente? Não Jonathas, eu vou para minha casa, e quero saber direitinho com todas as vírgulas o que eu fiz, e é você que vai me contar tudo na frente dos meus pais!
- Quanto as minhas cartas, o que foram feitas delas?
- Jessika, que cartas? Você teria coragem de falar sobre elas com seus pais?
- Meu Deus Jonathas! Por que eu não teria coragem de ler as minhas cartas; cujas eu mesma as escrevi, e as enviei?
- Que falta de vergonha da sua parte, minha cara. Eu nunca pensei que você se tornasse uma pessoa tão insensível, tão má! Todas as pessoas do mundo, menos você!
- Má, eu?! Por escrever para os meus pais dando as minhas notícias?!
- E que notícias, Jessika! Seria melhor que as quais fossem da sua morte! -
- Deus!...Então a coisa deve ser muito mais séria do que eu pensava; mais um motivo para que eu esclareça tudo. Você acha que eu devo voltar deixando a minha imagem atolada dentro deste lamaceiro?
- Mas você mesma quem se atolou nele, não foi?
Não, não foi. E vou provar o contrário, ou não me chamo “JESSIKA”; e creia que alguém pagará muito caro por isso. Muito caro mesmo. Você pode ter certeza disso!
- Muito bem, Jonathas, então suja ou limpa voou para minha casa. Vou me limpar, e dentro desta sociedade podre; ou simplesmente alguém!
- Você não pode falar assim. Não foram eles que a perverteu. Foi você quem escolheu quem criou esta situação!
- Está bem. Você me acompanha até minha casa, ou tem medo de se sujar falando comigo?
- Não seja tola, eu a acompanho!...
- Mas não seria melhor eu prevenir seus pais da sua chegada?
- Absurdo! Claro que não. Vamos indo!
A chegada de Jessika na casa dos pais provocou grande espanto para seus pais e parentes. Ninguém podia imaginar que ela tivesse coragem; o descaramento de entrar na sua casa. Ter coragem de encarar os rostos sofridos e envergonhados dos seus pais!
Quando ela entrou, o velho a olhou com um olhar indescritível. Seria impossível descrevê-lo. O semblante de, um misto de ódio; pena; saudade; desespero; e desprezo! Os olhos rasos d’água. Lábios trêmulos, como trêmulas estavam as suas mãos, e o corpo todo!
- Toda a família estava ali, como se estivessem vendo um fantasma. Não estavam esperando-a. Na realidade eles não sabiam da sua chegada. a sala encontravam-se: Além dos seus pais e sua irmã. Alguns parentes que acorreram para lá quando souberam da chegada dela.
Numa cidade como aquela, sem ter o que fazer as pessoas tem tempo para tudo. Principalmente para um acontecimento deste.
Jessika ficou no meio daquela sala; cercada pêlos parentes que pareciam nunca tê-la visto. Ou ela fosse á maior criminosa da face da terra.
Jessika não acreditava que aquilo estivesse acontecendo com ela!
Com sua família tão unida, tão maravilhosa, e principalmente com ela que sempre fora o principal membro. Respeitada, querida e admirada por todos!
Seu pai a olhava como já disse, quase chorando. Sua mãe debulhava-se em lágrimas. Os irmãos, como se á odiasse, ou que ela tivesse cometido um crime hediondo.
Apenas dona Agda, “avó” querida; rompeu o silêncio. Aquele silêncio que estava incomodando a todos!
Alguém teria que rompê-lo! Teria que iniciar um diálogo. Se Isso pudesse chamar de diálogo o que seguiu!
Por que minha filha? Perguntou á velha Agda. Como você teve coragem de fazer uma coisa desta? E depois vir aqui nos afrontar!
Vovó!...
- Não se atreva disse seu Pai; chamar alguém aqui de seus parentes. Você não pode ter parentes decentes como nós; e você sabe que somos. Na nossa família não tem lugar para pessoas como você!
- Papai!...
Papai?!... Eu não sou seu pai. Esta pobre mulher aqui não é sua mãe. Estes aqui não são seus irmãos, seus parentes!... omo você pôde fazer uma coisa desta comigo, com a sua família?...Disse o pobre velho deixando a emoção tomar conta inteiramente dele, e dar vazão as lágrimas! Aquelas que estavam retidas á muito tempo sufocando-o. Por mais que ele tentasse, não conseguiu dizer nem mais uma palavra. Só depois de muito corre, corre para socorrê-lo de uma crise de bronquite, é que conseguiu dizer apenas: - Por favor, deixe-nos. Vai embora não queira aumentar mais o nosso sofrimento!
Mas papai! Por que vocês estão fazendo isso comigo? O que eu fiz de tão ruim, para procederem desta maneira?
- Cale-se Jessika! Não basta o sofrimento que você já causou aos nossos pais? Ainda quer continuar com esse cinismo?
- Cinismo? Sofrimento? De que sofrimento você está falando, Gustavo? Pelo amor de Deus! Alguém me fale alguma coisa. Por que, desde que cheguei à estação, osso acusações e mais acusações. Por que alguém não tenta me dizer do que me acusam! Algo substancial! Para que eu possa entender pelo menos uma palavra do que vocês estão falando.
- Por favor, Jessika! Pelo amor de Deus! Não complique mais as coisas... Vai embora!... – Olha, as l2:45 horas tem um trem. Tome-o e nos deixe em paz. Tenha pelo menos um pouquinho de vergonha. Aquela que você aprendeu ter quando pertencia a nossa família!
- Quando pertencia a nossa família? Vocês estão ficando loucos, ou querem me enlouquecer?
- Ouçam aqui, vocês todos. Eu não vou tomar trem nenhum. Não vou sair daqui enquanto não me explicarem tudo o que está acontecendo.
- Vocês me acusam de coisas horríveis. Pelo menos é o que parece, dado a atitude que vocês estão tomando. Mas agora chega! Eu quero saber de que me acusam! - Ela quer saber de que a acusamos! Que ironia, que falta vergonha, que cinismo!
-Falta de vergonha?! Vocês não acham que já me torturaram demais?
- Pôr favor Jessika vamos embora disse Jonathas. Eu a acompanho até a estação.
- Nem pensar! Nem arrastada arredo o pé daqui. Eu tenho o direito de pêlo menos entender por que estão me tratando assim. A minha própria família. Eu preciso me defender. Não vou deixar ser enxovalhada. Mesmo que seja pela minha própria família!
- Vamos lá Gustavo! Você que parece saber de tudo! Eu exijo que você me diga o que fiz de tão terrível, para merecer de toda família esse verdadeiro desterro.
- Como se você não soubesse!
- Realmente, eu não sei mesmo de nada! Não entendo uma só palavra destes absurdos que vocês estão falando.
Muito bem, Jessika. Leia esta carta, e se tiver coragem encare a sua família.
- Carta?
Jessika pegou a carta e começou ler. Seu semblante ia se desfazendo. Não conseguia ficar mais em pé. Seus joelhos foram dobrando, perdendo o equilíbrio. Foi se arrastando até uma cadeira mais próxima. E com muita dificuldade caiu sobre ela pesadamente. Seus olhos iam arregalando a cada
frase que lia na carta. E com vós trêmula repetia a cada frase: “Absurdo”! Absurdo! Meu Deus que horror!
Quando terminou de ler a carta sem conseguir dizer uma só palavra, debulhou-se em lágrimas!
- Não, não é possível que alguém possa fazer uma maldade desta. Possa prejudicar uma pessoa desta maneira! Pôr que?
- Maldade?! Maldade é o que você fez com papai, com a mamãe! Eles não merecem isso e você sabe disso.
- Vocês não acreditam realmente que eu tenha feito isso. Que eu tenha escrito esta carta!
- Esta não. Estas cartas!
- Eu quero vê-las.
- Não é possível. Você não queria que nós ás conservasse.
Na realidade nós íamos devolvê-las a você com os nossos agradecimentos pelo mal que você nos causou. Principalmente ao papai e a mamãe.
- Não acredito, disse Jessika meneando a cabeça. Não acredito que vocês tenham acreditado nesta infâmia, disse quase num murmúrio.
Naquele momento aquela pobre menina não sabia se estava delirando, ou se estava tendo um terrível pesadelo. Mas o pior é que não é um pesadelo. É realidade! E aquelas pessoas que estão ali a acusando são os seus entes queridos, e que naquele momento estão tratando-a como uma criminosa.
Acreditando que ela tenha escrito tal absurdo. E pior é que acreditam também que ela tenha feito aquilo. Que ela seja uma desclassificada, uma prostituta!
Mas quem teria feito tal maldade? A quem poderia interessar desmoralizá-la desta maneira?
- Meu Deus, pensou Jessika. Eles estão com razão de estar assim diante de tantas evidências. Pobre papai! Como deve estar sofrendo. E como desfazer este incidente? A quem recorrer? Alguém deve saber de alguma coisa que possa me ajudar! Mas quem? Jonathas! Não! Jonathas não! Ele chegou a pouco na cidade, e o que sabe foi contado por alguém que queria envenenar-me! Mas ele deve saber de alguma coisa.
Jessika olhou para ele como se pedisse socorro. Então o rapaz ficou olhando para ela penalizado. Não sabia também o que fazer diante de uma situação tão delicada como esta, mas ele ia ser padre, e por certo iria se encontrar muitas vezes nesta mesma situação, e terá que ajudar, principalmente se houver injustiça. E agora, pensou ele: Apoiá-la seria romper com a família. Deixá-la nesta situação seria contra o seu ministério. Não poderia deixá-la sem oportunidade de se defender, se isso fosse possível! Se ela tinha alguma coisa substancial para dizer em sua defesa. Contudo ela tinha o direito! Precisava ser ouvida!
- Eu acho!... Ia dizer Jonathas.
- Você não acha nada Jonathas! Isso é um assunto de família, disse Magda.
- Sabe menina, que o padre pertence a todas as famílias da sua comunidade? Só se for aqui que eu não pertenço. Sendo assim eu me desligo inteiramente dela. A não ser que vocês não me aceitem mais como futuro padre. Mas mesmo assim, como amigo da família, me dar o direito de orientá-los, ajudá-los numa hora desta tão difícil, que pode ser cometido uma injustiça, o que espero em Deus que não.
- Não, não é isso! Eu pensei que você...
- Pensou errado; Magda.
- Eu não estou aqui para por panos quentes, e sim para ajudar. Mas não é justo que uma pessoa seja acusada de uma coisa sem poder se defender!
- Por acaso ela tem como se defender diante das circunstâncias?
- Não sei. Não sabemos! É por isso; para não cometermos injustiça; deveremos ouvi-la.
- Eu não concordo, disse Magda. Preferia evitar para o nosso pai este...
- Este o que Magda?
- Este sofrimento para ele.
- Mas não seria melhor sabendo a verdade? E se for um engano?
- Engano? E as cartas? Elas não existem?
- Sim, elas existem! Acudiu Jonathas, e é por isso mesmo que devemos ouvir dela, o pôr que destas cartas! O que há de verdade nelas?
Num canto Dona Lucrecia ouviu tudo sem dar uma palavra. Não acreditava que sua filha querida tivesse a coragem de tal procedimento. E não era justo ver sua filha ali acusada. E não estava mais tentando se defender. Pobre querida! Ela que sempre nos ajudou em tudo. Nos momentos mais difíceis da nossa vida, ela estava sempre presente. Mesmo com sua ausência; de longe, ela nos socorria. Não só com dinheiro, mas com palavras e atenção. Visitava-nos mesmo sem poder. E agora ela está aqui sendo condenada, mesmo sem ser julgada sem lhe darem uma oportunidade de se defender. E eu não posso ajudá-la agora. Não quero criar um caso com Juventino. Ele não está em condição de ser contrariado. Mas eu acredito no seu senso de Justiça... Mas as cartas! Meu Deus, quem fez esta maldade, soube fazer muito bem. Não deixando dúvidas; mas a letra é de Jessika, ou uma imitação perfeita. E as cartas vieram da capital. O que também não seria difícil alguém tê-la postado. Isso dar entender uma coisa. Não é uma pessoa só envolvida nisso! Mas quem, meu Deus? E por que fariam esta perversidade com minha filha!
Dona Lucrecia não queria acreditar que fosse Jessika que escreveu aquelas cartas; mas como provar ao contrário?
Dona Agda, a avó de Jessika falou: - Filha, não seria melhor você voltar para o seu lugar? Não vê que não é o momento propício para desfazer esta calúnia?
- Calúnia?! Remocou Magda. Não se trata de calúnia. As evidências falam por si só. Não temos as cartas? Ela que prove ao contrário!
- Sim, temos as cartas. Mas quem pode provar que foi ela quem as escreveu?
- Nós provamos. Olha esta letra, não da Jessika? Pergunta para ela se não é sua letra!
- Por certo que é, pelo menos parece, disse Jessika. Ou igual a minha. Mas creia pelo amor de Deus; eu não escrevi estas cartas. Não fui eu quem as escreveu!
- Não? E quem as escreveu, perguntou Magda acintosamente. Olha Jessika, você deveria ter vergonha, e ir embora logo desta casa e desta cidade. Não queira enxovalhar mais o nosso nome, mas do que já está. Tenha um pouco de dignidade. Se ainda lhe resta alguma. Toma o primeiro trem e livre-nos da sua presença. É melhor, antes que o povo da cidade a veja aqui!
Dona Lucrecia não suportava mais aquela acusação contra Jessika. Logo ela sua filha querida, a mais ajuizada de todos os seus filhos. Sempre primou pelo bom comportamento deve haver algo de podre nesta história e que Deus me perdoe mas temo que Magda esteja envolvida nestas história. Pensou; o melhor mesmo era que Jessika voltasse para São Paulo; em outra oportunidade quando Juventino se recuperasse desta crise ela voltaria e esclareceria tudo se isso for possível. O senhor Juventino no quarto repousando, não sabia o que fazer ou pensar. Ver a filha querida assim arrasada com expressão de abandono e que está sendo injustiçada. Mas as cartas, e ela não nega que a letra é sua; e que vieram da capital de São Paulo.
Só Dona Agda avó de Jessika rompeu aquele silêncio que estava incomodando a todos mas com cuidado porque