HOMOGENEIDADE E HETEROGENEIDADE (A ORDEM VS O CAOS)
Há tempos, vários teóricos vêm discutindo a questão de homogeneidade e heterogeneidade na cultura e consequentemente, na língua. São inúmeras as abordagens e defesas de uma língua pura e padrão que seja dominante na sociedade, como também são inúmeras as abordagens e defesa da existência da heterogeneidade linguística. No texto, Cultura, Língua e Emergência Dialógica, de Lynn Mario T. Menezes de SOUZA, este assunto é apresentado com clareza na voz de vários teóricos que ele infere em seu texto direcionando-os para o ensino e aprendizagem de línguas.
Em nossa atualidade o hábito de usar, em métodos de ensino de línguas, a linguagem de maneira padronizada e homogeneizada ainda é bastante presente. Essa ideia é sustentada devido à grande influência de teóricos linguistas como Bauman, Heder, Briggs, Locke, Hobbes (Todos estes apresentados no Texto de Lynn Mario) e entre outros que também defendem igual posicionamento. Lynn Mario introduz o pensamento de Locke, segundo Baumam e Briggs, onde diz que o teórico defende uma forma de linguagem pura, consciente, reflexiva, clara e rigorosa, “porém, tal capacidade seria limitada por fatores sociais tais como classe social, ocupação e gênero (SOUZA, 2010).
Segundo Lynn Mario (2010), Locke e Herder buscavam, de formas distintas, uma homogeneização da língua e da cultura enquanto nação. Locke almejava a homogeneidade cultural espelhando-se na linguagem e nos valores da elite social. E por outro lado, Herder buscava a padronização e a homogeneização espelhando-se nos poetas e intelectuais, assim, denominando sua proposta de “espírito da nação no povo”. Através destas teorias podemos perceber, no ensino de línguas, que a linguagem ensinada é aquela dominante da elite social, de grandes intelectuais que têm suas marcas registradas em livros de romances e teorias. Ao Folhearmos um livro didático deste ensino, veremos em suas ilustrações um estilo de vida e cultura padronizada da classe de prestígio da sociedade desta língua ensinada: O falante nativo da língua é representado por um homem branco, em sua família todos são brancos e moram em uma casa confortável de padrões financeiros bastante altos.
Para defender a homogeneidade cultural, Arnold (teórico linguista do século 19) e Hobbes afirmam que a existência de uma cultura heterogênea dentro de uma só nação resultaria em uma ameaça a ordem (SOUZA, 2010). Para eles os que não compartilhavam a mesma cultura da alta sociedade eram tratados como seres violentos desprovidos da razão. Outro teórico que seguia essa linha de raciocínio era Geertz, de acordo com SOUZA (2010), Geertz procura mostrar que uma grande parte dos conflitos na comunidade ocorre por causa da co-existência de grupos culturais diferentes dentro de uma mesma comunidade, mas ele não propõe a eliminação da heterogeneidade cultural e sim, entender os conflitos culturais em grupos heterogêneos. Assim Lynn Mario insere a dicotomia ordem versus caos, onde esses teóricos apresentados acima defendem a ideia de homogeneidade como a ordem da cultura nacional e heterogeneidade sendo o caos, que desvirtua a sociedade.
Se analisarmos os livros didáticos do ensino de línguas na forma de linguagem em si do livro (considerando todos os aspectos de linguagem, tais como: verbal e não-verbal) veremos, inserido nela de maneira camuflada, o discurso dos teóricos mencionados acima, levando em conta a teoria de Foucault e Howard-malverde, que diz que todo texto compete um discurso que tende a persuadir o interlocutor à ideologia de seu locutor. Ou seja, quando nos submetemos ao ensino de língua inglesa (suponhamos que seja um livro produzido na Inglaterra), nos deparamos com a mais perfeita forma de língua dela (a língua culta padrão) em seus exemplos de diálogos onde contém imagens de pessoas conversando e essas pessoas são brancas, loiras e com o padrão econômico acima da média. Com isso, eles introduzem a ideia de sociedade padronizada e que todos que querem se relacionar ou participar (em partes) desta sociedade têm que aderir a esse padrão, deste modo excluem e criam um preconceito entre comunidade menos favorecida de sua própria sociedade e nas sociedades dos alunos que queiram aprender esta língua.
Lynn Mario também apresenta teóricos que defendem a heterogeneidade, tais como Williams, este diz que toda a forma de cultura terá elementos dominantes e elementos que co-existe com esses, e ambos entraram em conflito, onde o co-existente ao dominante poderá até substituí-lo, dando a cultura novos significados, novos valores e novas práticas. Temos que levar em grande valor esta afirmação de Williams, pois se não fosse sua heterogeneidade e suas variante a língua estaria morta.Vejam o caso da Língua Portuguesa, o Latim vulgar (falado nas classes menos favorecidas da sociedade romana) deu origem a ela e tantas outras línguas.
Portanto, tendo em vista este posicionamento, Lynn Mario ao trazer todos esses teóricos mostra que na dicotomia ordem versus caos a homogeneidade assume o papel de caos. Pensem como seria a nação cuja cultura fosse padronizada e homogênea, todos com um só pensamento e estilo de vida... Seria ótimo? Não! Seríamos iguais às formigas operarias: o mesmo padrão, o mesmo ritmo, todos vivendo em prol de um único objetivo. Assim, hoje, podemos encontrar livros didáticos que tratem, pelo menos, a cultura de forma heterogênea e contextualizada, pois, “Talvez os mortos possam ser reduzidos a formas fixas [...] mas os vivos não podem ser reduzidos[...] (WILLAMES, 1977).
MENEZES DE SOUZA, L. M. Cultura, Língua e Emergência Dialógica. Letras & Letras, Urbelândia, Vol. 26, no 2, jul/dez 2010.